quinta-feira, dezembro 31, 2009

Eu recebo, aceito e agradeço!

O que você faria se a sua frente surgisse repentinamente um estranho e colocasse nas suas mãos um precioso diamante? Sei que algumas pessoas sairiam correndo com a pedra e levariam-na ao joalheiro mais próximo, mas grande parte das pessoas ignoraria o estranho e desconsideraria o presente, por não acreditar que, do nada, pudesse cair em suas mãos tamanha riqueza.
É que, para recebermos presentes, precisamos estar receptivos. Parece óbvio, mas não é. Há muitas pessoas que reclamam da vida, mas que jamais se abrem a mudanças. Muitas mesmo! A vida está sempre entregando presentes de todos os tipos, mas ainda escuto dizerem que a vida é injusta ou então que tudo que estão passando foi vontade de Deus. Sempre me pergunto o que Deus tem a ver com a desgraça alheia. Acredito que sejamos responsáveis pelo que nos ocorre pelo simples fato de que somos semelhantes à Divindade. E essa afirmação está na Bíblia e em muitos outros livros sagrados. Ora, se somos centelhas divinas, por que haveríamos de estar destinados à tristeza e ao sofrimento? Por que não somos capazes de, a qualquer momento, recriar nossa realidade?
Nesses últimos meses de 2009, aprendi – não sem um pouco de dor – que posso, de fato, criar a minha realidade. Modificando e rompendo com o que não me faz feliz, recebendo diariamente os presentes com que a vida me brinda. Mas pra isso é preciso coragem para descartar o que não me serve mais. As amarras e os pactos, muitas vezes feitos através de crenças e valores que não nos trazem mais felicidade ou que não combinam com a nossa essência, são o grande impedimento para a conquista de novos e melhores dias.
É claro que já li isso em muitos lugares e, se é simples assim, por que ainda duvido muitas vezes? Por que há dias em que olho pro céu e acho que tem algo errado comigo? Nesses momentos, se eu conseguir me acalmar, vou perceber que há uma sombra que me distancia de mim mesma e saberei dissipá-la. A sombra, assim como a luz, está em todos os lugares. Ao percebê-la, tenho o poder de transmutá-la e de voltar a me conectar comigo mesma.
Mas e os presentes da vida? Também descobri que preciso aprender a aceitá-los. Por que desconfiar de presentes preciosos só porque chegaram inesperadamente e sem programação? Muitas vezes, em função de muitas experiências e ensinamentos do passado, julgo-me inelegível ao que a vida me oferta e, sem perceber, rejeito o que recebo. Hoje, com muito esforço, começo a me achar digna de receber todos os ricos presentes a que tenho direito. E tenho certeza de que são muitos.
Aprendi que devo confiar no fluxo da vida e aceitar, receber e agradecer todas as bênçãos que recebo. Recebi muitos convites para um 2010 feliz, mas isso implica em romper com laços que já não tem nenhum significado, mantidos pelo hábito e pelo costume. Muitas vezes, tenho medo da renovação, mas quando reconheço esse sentimento, posso enfrentá-lo com a confiança de que há no Universo presentes preciosos reservados, não só para mim, mas para todos que se acreditam merecedores.
Então, esse é o meu convite à felicidade, nesse novo ano. Porque é preciso renovar sempre. Então, como naquela velha propaganda de desodorante, se um estranho lhe oferecer flores: RECEBA, ACEITE e AGRADEÇA.

domingo, dezembro 27, 2009

O que se pode esperar do outro?



Meu mp3 sumiu. Aliás, um fato totalmente compreensível para quem anda guardando celular em geladeira e procurando, pela casa, chaves que estão no bolso. Daí que as pedaladas na praia ganharam um sabor especial, já que, em vez de músicas e palestras, fico escutando minha própria voz, num engraçado colóquio comigo mesma. Às vezes, sucedem-se perguntas e respostas num diálogo interno divertido.
Um dia desses, depois de algum tempo nesse movimento, resolvi calar todas as vozes e observá-las, como se fosse um espectador externo. Percebi tantas pessoas dentro de mim que eu fui fazendo uma lista de chamada. A menina chorosa e mimada apresentou-se logo, porque adora chamar atenção e faz birra quando contrariada. Mas, em seguida, descobri uma mulher linda e muito vaidosa, outra zen, uma fútil, outra erudita, a popular, a requintada, uma outra forte e poderosa de voz firme e nada manhosa e por aí fomos. Apresentamo-nos umas às outras.
Tudo isso foi para responder a uma pergunta que fizera a mim mesma sobre o que se busca em outra pessoa, que se constitui no ingrediente mantenedor de um relacionamento de qualquer sorte. O que é capaz de garantir o sucesso e o fracasso de uma relação? Por que certas relações deterioram-se com o tempo? E por que muitos esperam que o outro preencha todas as lacunas de que não se acham capazes de preencher por si só?
Bom, depois de me apresentar a tantas pessoas que habitam dentro de mim, pensei que não precisaria buscar coisa alguma em alguém, fossem eles amigos, marido, filhos, pais... Em termos de diversidade, eu sou suficiente para promover uma festa. Lembrei até de Clarice Lispector, que usava o termo de que mais gosto para definir seus/meus múltiplos “eus”: “Sou caleidoscópica.” Mas isso não significa ser autossuficiente.
Pensei que talvez busquemos no outro, o que não temos coragem de buscar em nós mesmos e que talvez seja essa a origem de tantas decepções e assunto de um próximo post. Mas, se reconheço o outro como um ser também múltiplo e completo, talvez o resultado de um bem aventurado encontro seja uma verdadeira festa de “eus”, onde cada um traz a si mesmo de forma integral, buscando apenas o compartilhar do dia a dia e a complementaridade de sua própria existência.
Talvez, só talvez, porque respostas nessa área são sempre imprecisas, possamos reduzir o número de desencontros e as decepções de toda a ordem. Afinal, se me reconheço como pessoa plena e múltipla, libero o outro do encargo de me completar e busco somente o compartilhar das minhas experiências, com menos ansiedade e cobranças. Tudo vira uma grande festa. Talvez...

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Tenda do Suor


Não posso falar do xamanismo com muito conhecimento de causa, mas escrevo com amor pela causa, pois, toda vez que experimento um pouco daquilo que nossos ancestrais assumiam como verdade para suas vidas, entro em contato com a grande energia amorosa que envolve todos os seres da Terra. E foi assim, ontem, ao participar de uma tenda do suor conduzida pelo xamã carioca Carlos Sauer. Como muitos amigos fazem perguntas, resolvi escrever a respeito.
Dizem que, no passado, as mulheres isolavam-se, no período menstrual, na Tenda da Lua, onde rezavam e ensinavam umas às outras, compartilhando suas intuições e conhecimentos e honrando seus dons. Os guerreiros reuniam-se em algo equivalente, que se chamava Tenda do Suor. Com a perda da tradição da tenda feminina, em algum momento, a Sweat Lodge passou a ser adotada como ritual de purificação de mente-corpo-espírito por ambos os sexos.
Nos links e na internet, há farta explicação sobre o que é a tenda, hoje, e de como esse ritual é conduzido. Então, escrevo sobre a minha experiência, pois, para mim, cada tenda é única e cheia de surpresas. Nunca sei o que acontecerá e como sairei depois de suar. Essa última do ano foi especial e cheia de significados. A começar pela escolha do condutor em trabalhar a energia feminina. Foi uma tenda muito suave, onde pude sentir, mais uma vez, energia acolhedora da Mãe Terra.
Desde o momento em que recebi o tabaco para saudar o fogo, senti, no meu ventre, a força da fertilidade e da criatividade feminina, que resgataram dentro de mim a perplexidade que tenho diante do milagre da concepção humana. O sentimento ajudou-me a reintegrar minha condição de mãe e de filha, agradecendo ao Universo os meus dons e a minha capacidade de procriar. Parece engraçado uma mãe de três filhos falar de procriação, mas foi essa a energia que senti muito forte nas primeiras rodadas, como se chamam as sessões de recebimento das pedras que aquecem a tenda. As rodadas assemelham-se a portais, tradicionalmente em número de quatro, segundo os quatro pontos cardeais.
No oeste, propício para trabalhar os medos e as sombras, tive uma visão que se assemelhava a um grande presente do Universo e o aviso de que é preciso desapegar do passado para viver o presente, com todos os significados que essa palavra carrega. Aquilo que chamam, em muitas culturas, de dar lugar ao novo ou de praticar o desapego. Os mestres e guardiões fizeram o seu trabalho, pois renovar-se e renascer exige um desprendimento que nem sempre nos permitimos. Ninguém caminha conservando amarras do passado, mas poucos têm coragem de desfazer os laços dessas amarras.
Com a limpeza feita, senti-me acolhida pela sabedoria de meus antepassados no Norte, pronta para renascer ao sair da tenda, que é a representação do útero feminino, no seio da Mãe Terra. Saí das quatro rodadas sentindo-me a mais abençoada das mulheres. Mas havia mais. Há sempre prêmios para a persistência... Como o grupo era muito grande, haveria mais três rodadas, para possibilitar a participação dos demais. Eu estava muito bem, suave, como já disse, e continuei.
A primeira das rodadas que se seguiram fortaleceu a conexão com o Grande Espírito e possibilitou-me grande esvaziamento da mente e relaxamento, lembrando-me do que a entrega ao fluxo da vida e o desapego a valores que não fazem parte da minha essência podem proporcionar. Em seguida, a Mãe Terra foi o foco e seu acolhimento a mim foi tão intenso que eu cochilei em seus braços, numa viagem de cura. Depois, numa última rodada, foi a vez do coração e das emoções que ele encerra, num convite a reconectá-lo ao coração da Mãe Terra. Assim, saí da tenda muito mais fortalecida e pronta para o novo ano que vem por aí.
Para 2010, convido os amigos a compartilharem dessa experiência comigo.

sábado, dezembro 19, 2009

Completos ou complexos?



Estava pensando, hoje, nas características de um novo e dadivoso acréscimo ao meu rol de relacionamentos. Detive-me no atributo de compartilhar que faz essa pessoa conduzir a vida de uma maneira bem diversa de mim, mais dada à introspecção e às atividades solitárias. Ao dividir ideias, processos de aquisição de conhecimento, experiências e até um blog, que para mim, até então, era uma atividade pessoal, me parece que ela possibilita trocas que enriquecem sua caminhada, em todos os níveis da vida.Cheguei a me perguntar se uma pessoa assim não estaria, por vezes, fugindo de si mesmo e das revelações que a experiência profunda de seu espaço interno poderiam trazer-lhe.
A resposta é: não importa. O importante, penso, é a coragem de se expor, num processo cheio de riscos. Através do partilhar e do encontro com o outro, com certeza, ela obtém imagens de si que a fazem se perceber de forma diferenciada e acessar lugares recônditos de seus ser. Não existe certo ou errado nessa seara. A forma que escolhemos para viver algumas de nossas experiências de vida é propiciada pelos fatos/oportunidades com que nos deparamos, sendo, portanto, a reação que nos é possível diante deles.
O que me encanta, nisso tudo, e a razão deste post, é a capacidade de complementaridade com que somos brindados quando aceitamos o outro em nossa vida sem restrições. De alguma forma, ela, mais afeita a partilhas e eu, ainda aprendiz nessa história de trocas, encontramo-nos pela vida. E, de repente, processam-se novas descobertas, aprendizados e experiências que complementam nossos “viveres”. Deve ser por isso que tenho amigas tão diferentes de mim, o que algumas pessoas insistem em recriminar: “como você pode ser amiga de fulana?”. Complementamo-nos e, assim, transformamo-nos em pessoas mais fortes e inteiras.
O resultado desses encontros é sempre uma surpresa, um risco. Nunca sabemos o que vai nos acontecer quando trilhamos um novo caminho, mas de uma coisa tenho certeza: nunca mais serei a mesma pessoa! A transformação, quando nos deixamos “atravessar” pelo outro, é inevitável e, muitas vezes, inesquecível! Isso faz sentido, também, pra você?

domingo, dezembro 13, 2009

Coisas de valor: Relações e expectativas, sonhos e decepções

Coisas de valor: Relações e expectativas, sonhos e decepções

Relações e expectativas, sonhos e decepções

Demora um tempo (pra não dizer muito tempo) para aprender que as pessoas não são o que gostaríamos que fossem e que nós estamos longe de ser o que elas gostariam que fôssemos. Parece óbvio, mas não é. Tenho observado muito as pessoas e a mim mesma nesse último mês e estou quase certa de que a raiz da grande maioria dos problemas de relacionamento está nas expectativas criadas por um e outro, que nunca correspondem à realidade. Mesmo considerando que a realidade é relativa...
Vejo duas dificuldades importantes. A primeira, reside no reino da fantasia. E aqui, falo pelas mulheres. Qual de nós não sonha com o príncipe encantado nos arrebatando da torre onde nos encastelamos ou das garras da bruxa má? Está no insconsciente coletivo. De minha parte, já vi muita mulher bem resolvida, determinada, independente e inteligente deixando-se levar por histórias singelas, depois de jurar de pés juntos que jamais se deixariam enganar novamente. Não precisava aparecer o Richard Gere num cavalo branco, bastava um símbolo qualquer que detonasse aquela imagem em seu insconsciente para que ela esperasse que o próximo passo do sujeito trouxesse a salvação.
Enquanto o homem estava apenas agindo por instinto e desejo, a mulher estava sonhando e esse conflito de expectativas era mais do que suficiente para alavancar o afastamento dos dois. Sonhos desfeitos de um lado e, do outro, também decepção. Mas quem escreveu os contos de fadas? Não eram homens? Taí uma coisa que não entendo... Esse processo de construção do inconsciente feminino coletivo.
Muitas mulheres estão pedindo socorro, mas não sabem o que fazer quando chega a sonhada liberdade. Para a maioria, o sonho com o cavaleiro encantado faz parte de sua própria estrutura. Há muito o que desconstruir e desmistificar.
Nessa nova ordem social, penso que a segunda dificuldade é a de dialogar. O quanto todos poderíamos aprender se exercitássemos, desde os primeiros sinais de conflito, a arte da conversa, franca, aberta, honesta. Talvez não fôssemos bem-sucedidos da primeira vez, mas a simples tentativa faria de ambos os interlocutores pessoas mais preparadas para relacionamentos futuros. A cada tentativa, um novo aprendizado e um novo passo na direção da construção de um relacionamento mais satisfatório.
Mas poucas pessoas se dão a chance da exposição, que é dolorida e arriscada. A incompreensão e a ridicularização são riscos iminentes daquele que decide jogar com outras armas o jogo dos relacionamentos e visar o seu crescimento pessoal, acima do jogo da conquista e da sedução.


segunda-feira, dezembro 07, 2009

O voo dos pássaros



O passarinho se aproximou. Sua visão é meu deleite. Me aproximo lentamente para não assustá-lo e poder observá-lo bem de perto. Quero ver a cor das penas, o mover nervoso do pescoço e, em seguida, a imobilidade, quando ele também parece querer se apropriar da visão que tem de mim, ali tão perto. Os dois, imóveis, transformam o tempo. Frações de segundos são horas para quem sabe perceber a infinitude da instantâneo. Perdemo-nos, ele e eu, no instante.
Tenho medo até de respirar, porque acho que basta um único movimento para que ele voe em direção a muito longe. E quero-o perto, próximo de mim. Só assim posso captar os seus movimentos, perceber seus sentimentos, arriscar seus pensamentos. Tão perto assim, faço parte da sua vida, ainda que por instantes. Sou pássaro também, metamorfoseando-me sem nenhum temor. Com ele, crio asas, feliz, encontrando a sonhada liberdade. Assim, se ele voar, posso acompanhá-lo por algum tempo. Aproveitamos as portas entreabertas, invadimos pela janela aquelas mantidas fechadas. Rimos do que vemos e comentamos cada nova vida espreitada. Seja de porta ou janela. Vivemos outras vidas, voando com nossas asas.
Tão bom estarmos juntos que – sempre por instantes – esquecemos que devemos voltar. Deixe-me esquecer de tudo, ainda que brevemente. É porque, junto daquele passarinho, agora, avisto tudo o que sonho. Surpreendo-me com a beleza de outros milhares de instantes. Sinto uma felicidade imensa e, vejo nos seus olhinhos nervosos, que também está feliz. Temos a eternidade em nossas vidas tão diversas. E ela é feita de instantes. Como esse de que desfrutamos por ora.
Inspira-me tanto amor, que já não ouso me mexer agora. Pode ser que ele saia voando e eu nunca mais possa alcançá-lo. Agora que está tão perto, deixa eu só admirar – respiração presa, visão congelada. Quero ficar por aqui só amando. Assim, o céu azul nos dará abrigo e a grama do jardim, repouso. Sim, porque haverá hora em que não se poderá mais voar. Estaremos sós, recolhidos ao nosso cotidiano tão igual. Ele estará, então, batendo asas. Mas hoje, nenhuma companhia chegará com tanta satisfação. Nada fará com que ele se esqueça de mim.
Caminho em direção à porta que me espera. Vou sem você, que, em outras direções, bateu asas. Ficarei aguardando um novo encontro, meu e seu. Mulher e pássaro. No azul do céu. Nos milhares de instantes de que é feita a vida.

sábado, novembro 28, 2009

Dando nome aos bois

Há alguns dias me peguei pedindo autorização para enviar um longo e-mail. Tive muita sorte, porque minha interlocutora não só fez o óbvio – autorizou o envio – quanto sinalizou a estranheza de alguém pedir autorização para falar. Imediatamente produzi um discurso que defendia o cuidado com as relações, o respeito às pessoas e a insegurança diante de uma forma, para mim, inusitada de comunicar sentimentos.
Enviei o e-mail, falei o que desejava, mas fiquei com essa pergunta: por que me preocupar tanto com o outro a ponto de pedir autorização para uma ação tão corriqueira? Até porque o receptor da mensagem pode escolher entre ler ou não, responder ou não, de acordo com seus próprios interesses e desejos. O fato é que demorou alguns dias até eu ter a coragem de admitir que minha ação foi motivada, de fato, pelo receio de não ser aceita. O que eu queria dizer mesmo era: tenho medo de ser rejeitada! Reconheci que confundo aceitação com afeto e, ao confessar isso pra mim mesma, pude começar a tratar esse sentimento.
Acho até bonito: olhar a emoção de frente, reconhecê-la e, simplesmente, dizer que ela pode dar lugar a uma outra mais saudável. Lembrei-me da música: “nem mesmo Cristo agradou a todo mundo”. E nos relacionamentos, de todas as ordens e níveis, não é diferente. Agradamos ou não e isso nada tem a ver com afeto, pois mesmo os amigos mais queridos podem se aborrecer com minhas ideias e atitudes vez por outra.
Acessar esse sentimento foi como parar de mentir pra pessoa com que mais converso: eu mesma. E isso foi bom demais. Desde aquele dia, tenho procurado dar nomes aos bois, sem medo. E, é claro, que os bois são minhas emoções, invariavelmente enormes. Se sinto vontade de chorar ou rir, só pela evocação de um fato, procuro dentro de mim aquilo que realmente causa a dor e me surpreendo não só pelo reconhecimento da verdade desse sentimento, quanto pela responsabilidade que assumo por ele. Denominando-o, reconheço que ele me pertence, qualquer que seja sua origem. Raiva, medo, desejo, curiosidade, preguiça, carência, sentimento de posse e insegurança são alguns dos bois que nominei recentemente.

sábado, novembro 14, 2009

Eu e Clarice

Clarice (Lispector) é tema do caderno Prosa e Verso de O Globo de hoje. O “gancho” é o lançamento de uma biografia dessa mulher e as matérias estendem-se por três páginas. Li tudo, provavelmente comprarei o livro, talvez até no dia do lançamento, mas não foi por isso que vim correndo escrever. A minha urgência vem do espanto diante da entrada de Clarice em minha vida. Fiquei emocionada lendo uma matéria sobre uma biografia? Até a entrevista com o biógrafo americano me emocionou. O que é isso?
Essa história começou com Água Viva, um livro envelhecido, há muitos anos na minha estante. Não sei o que me atraiu pra ele, este ano, mas, sem exagero nenhum, esse livro mudou minha vida. Já tinha um certo gosto pela autora, conhecia alguma coisa de sua obra, mas nunca tinha sido arrebatada dessa forma.
A partir da leitura de Água Viva, eu não leio mais Clarice, vivo Clarice, compartilhando com ela emoções tão fortes que me fazem, às vezes, adiar a leitura de um livro por uma semana, para adquirir alguma força para lidar com as emoções que ele suscita. Me dou então, sempre que estou assim, permissão pra escrever, pela urgência que sinto de não conter esse sentimento. Aí me espanto – para não usar a palavra assustar, que tenho evitado ultimamente porque não quero mais ter medo de nada. Não entendo muito como pode-se ler a si mesmo em outro (no caso, Clarice) de uma forma tão inteira e completa. Não, não há nada completo em Clarice, só uma imensa busca, um turbilhão de desejos e uma certa dor diante da vida.
Não sou profunda conhecedora de sua obra, mas posso me dizer uma profunda “sentidora”, porque sinto visceralmente o que escreve. Verdadeiramente. Uma vez li que a arte só cumpre sua função quando consegue atravessar as pessoas, então Clarice cumpre a sua, comigo: me atravessa, como nenhum outro escritor jamais o fez. Sinto-me, muitas vezes, em carne viva, exposta como nunca estive. E o pior é que eu gosto. Porque me enxergo, porque sinto e porque me concedo, por meio dela, permissões que jamais me concedi. Num movimento que me revira do avesso e, depois, me tranquiliza. Uma espécie de terapia literária, um encontro dela e de mim mesma. E que encontro!

quinta-feira, novembro 12, 2009

Compartilhando amor



Hoje acordei especialmente encantada com a vida. É um sentimento comum depois de um fim de semana na Aldeia do Sol. Penso em tudo o que aconteceu nesses dois dias e, por instantes, acho que sonhei. Olho as pessoas na rua e vibro amor; vejo o azul do céu e fico emocionada. Tudo bem, foi apenas uma vivência de fim de semana como tantas de que já participei. Chegamos às 9h da manhã no sítio em Sacra Família, Rio de Janeiro. Conversamos, tomamos café e seguimos para as práticas da manhã, que incluíam meditação e técnicas xamânicas de cura e autoconhecimento, que preparariam corpo e alma para o ritual da Tenda do Suor, no fim da tarde. Nada de muito novo pra mim, mas tudo muito fundamental.

Respirar, abrir o coração, o pulmão e os poros para a natureza, as pessoas e tudo o que delas pode emanar deveria fazer parte do nosso dia a dia. Afinal, todos respiramos e estamos o tempo todo nos relacionando com muitas pessoas... A verdade, no entanto, é que a maioria de nós, imersos na correria cotidiana, não nos damos ao luxo de muitas reflexões. Não dizemos eu te amo nem para nós mesmos, quem dirá para outras criaturas que passam por nós ao longo do dia. Assim, vamos colocando o que é mais vital em nossas vidas em segundo plano. E aí, nada nos satisfaz. Dinheiro, casa, filhos, companheiro ou companheira, emprego: nada fará de nós pessoas realmente felizes...
É preciso despertar sempre. Aliás, não só uma vez por dia, no despertar matutino, mas várias, para lembrarmos a nossa essência divina e podermos manter a conexão ao amor essencial. Eu só não entendo porque algo tão simples pode ser tão difícil. Muitas vezes amanhecemos “adormecidos” e, assim, passamos o dia. Fico imaginando (e lembro da música do John Lennon) como seria o mundo se os corações vivessem conectados como essa rede (internet) que faz parte de nossas vidas. Mas, enquanto isso não acontece, precisamos nos retirarmos do cotidiano para despertar. E, dependendo de quão adormecidos estamos, esse processo não se faz sem dor ou incômodo.
Foi isso que aconteceu no fim de semana passado: um compartilhar de amor sem fim com todos os seres. Eu poderia escrever quilômetros sobre cada uma das experiências vividas, mas não sei se interessaria a alguém. Estão registradas em meu coração. O que importa é que, dessa vez, criei alguns mecanismos de “despertamento” pra mim, que vou compartilhar. São fotos e vídeos que vou rever sempre que me sentir “adormecida”. Há também os muitos companheiros de jornada, que encontro quando menos espero, que acordam a minha alma com sorrisos, palavras, textos, músicas, abraços... num fluxo sem fim.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Relações virtuais... e especiais!

Ando muito conectada atualmente, no sentido WEB da palavra. E, antes que alguém pense que eu estou feito os meus filhos, a travar contatos pela internet, digo que é isso mesmo. Sim, é por meio da internet que tenho estreitado ou mantido laços com amigos queridos que hoje se encontram longe de mim (fisicamente, apenas). Também tenho conhecido pessoas novas nas redes de que faço parte e alguns encontros são agradáveis surpresas, que classifico como presentes do Universo.
Mas ainda fico um pouco constrangida diante desses encontros e, por isso mesmo, resolvi escrever sobre eles. Meu constrangimento talvez se deva ao fato de que a minha geração assistiu ao boom das relações virtuais, vendo crescer a procura por salas de chat para relacionamentos virtuais de todo o tipo, que jamais seriam reais. Eu nunca fui adepta (é sério), mas ouvia as histórias com o preconceito inerente à minha educação conservadora.
Não é sem dificuldade que transito no meio virtual, mas, cada vez mais, vejo meus preconceitos caindo por terra. Aprendi com os meus meninos a usar o msn, que se transformou num excelente aliado profissional, por me facilitar o alcance a clientes e fornecedores de todos os lugares, e pessoal, por me permitir conversar com novos e velhos amigos que também estão por todo o Brasil (e, muitas vezes, fora dele). Depois veio o orkut, recentemente o twitter – responsável pelo ressurgimento deste blog – e o facebook (a que ainda não me afeiçoei).
Com toda essa modernidade, ainda resisto diante de relações que acontecem exclusivamente no meio virtual (e por meio dele). Mas há algumas que me surpreendem e fico achando, até, que o Divino anda operando também por meio virtual. Pela internet, emociono-me, espanto-me e vejo que minhas palavras fazem eco em algum ponto distante dessa teia invisível que é a vida.
Se me lembro dos conceitos dos irmãos indígenas, que entendem os seres vivos TODOS como integrantes de uma imensa rede, que nos unifica; virtual ou real, tudo isso faz sentido. E, aí, a tecnologia é só uma nova forma de ver o mesmo e uma coadjuvante nesse processo milenar de intrincadas relações. Já começo mesmo a concluir que não há mais fronteiras entre o real e o virtual. Temos, apenas, que mudar a forma de assimilar, ajustar o olhar.
Afinal, se “somos todos um”, ninguém será autossuficente a ponto de não precisar do outro e esses encontros (que, dizem, estão programados) podem, sim, aproveitarem-se da rede. Agora, diante desse cenário, não sei – e também não quero descobrir – como me expressar em 140 caracteres, como o twitter e o sms exigem! Sou prolixa demais!

terça-feira, outubro 27, 2009

Desconstruindo ilusões


Meu dia hoje será dedicado à desconstrução. Há pouco tempo me perguntava porque sempre temos que desconstruir para reconstruir sobre os escombros. Me parece que eu entendo, agora. Não construímos sobre bases sólidas e vivemos a fazer castelos de ilusão, não importa o quanto já tenhamos vivido e aprendido. Não raro, nos apegamos a uma ideia confortável, que encobre providencialmente dores, faltas, carências, complexos, neuroses e, bingo, temos a base necessária para construção de um bonito, mas frágil, castelo.
Até nos contos de fadas vemos referência a esse sádico prazer humano, veja a história dos três porquinhos. Por isso vivemos a desconstruir. E esse processo nunca é indolor. Mas, além da dor, há que se ter o aprendizado, porque a dor por si só não nos garante dias melhores. Há inclusive o risco de se buscar uma nova ilusão para aplacá-la e lá vamos nós construir novos castelos. Hoje, quero sentir de verdade cada parede que cai, experimentar os sentimentos com a resignação de quem tem verdadeiramente muito o que aprender. Desejo enxergar a mim mesma sem véus, sofismas, prismas. Alcançar, se possível, algumas das faltas e desejos (porque outras, de tão fundas, requerem ainda um trabalho arqueológico de mim mesma) que me impelem a buscar ilusões.
O mundo é maravilhoso e nos atende em nossos desejos verdadeiros. Se antes buscava o inexistente e me comprazia achando-o possível, hoje busco a destruição de tudo em mim que se assemelha à casinha de palha do porquinho da história. Para aplacar essa dor, que me vem ondas, conto com uma ajuda linda desse imenso Universo, que pontua o meu caminho de anjos, amigos queridos ou queridos desconhecidos, que me ensinam pouco a pouco o que é viver. E eu gosto de cada etapa desse aprendizado! Mãos à obra!

quinta-feira, outubro 22, 2009

Porque contar parece com não morrer...

Há uma urgência em mim, agora. É a de escrever. Sou uma mulher de urgências. Cheia delas. Tantas são que às vezes esqueço todas, só para não ter que dar conta de tantas. Mas o fato é que andava sem vontade de escrever. Uma discussão na internet sobre blogs me fez pensar no porque de postar meus textos. Achei que esse meu aventado prazer de postar o que vejo e o que sinto era vão e de falsa motivação. Pensei, por dias, que meu desejo real talvez não fosse o de me experimentar ou me conhecer. Que a motivação, que eu pensara ser tão genuína e pura, fosse talvez a mera exposição do ego e por aí foram se enveredando meus pensamentos.
Mas a vida não exige tanto de nós e, felizmente, hoje, ao retornar para o grupo de meditação que frequentei durante anos, me veio a resposta. Bem que me disseram que “quando conseguimos nos conectar a nossa essência, abrimos uma porta para uma conexão maior” e nos conectamos com tudo a nossa volta. A resposta veio em forma de música, que, parafraseada, ficaria assim: "Porque contar/blogar parece com não morrer, é igual a não se esquecer que a vida é que tem razão".
E a vida tem razão mesmo. É só deixar ela acontecer.
Tenho aprendido muito nos últimos meses e, quando apuro minha conexões, vou aprendendo com mestres de todas sorte e recebendo, com imensa gratidão, os muitos presentes que a vida me oferta. São tantos, que às vezes duvido da generosidade do Universo e reclamo. Faço questão de não entender os sinais e dou algumas cabeçadas desnecessárias na vida. Sim, mas com tudo isso, escrever é necessário. Assim, elaboro meu aprendizado e no compartilhar aprendo muito mais do que me seria possível sozinha. Tenho lembrado de uma frase que escuto do meu mestre de reiki há pelo menos uns 5 anos: “não desperdice nenhuma oportunidade de crescimento.” E esse blog é uma delas.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Mais milagres: experiências que valem a pena e possibilidades


Sei que a vida está cheia de “pequenos milagres” que a gente não se dá ao luxo de perceber, mas aquele dia da pedalada, pra mim, teve um sabor especial. Lembrei de experiências importantes. E pude avaliá-las tão melhor. Recordei-me, por exemplo, de um momento especial da minha vida, há bem mais de 10 anos, em que tinha tanto prazer trabalhando numa empresa que, quando chegava, me sentia como um raio de sol a iluminar aquele meio tão burocrático. Na época, eu era a única profissional de comunicação naquele lugar. Descobria o universo da comunicação corporativa e me apaixonava por tudo o que conhecia. Não por acaso, o serviço transcorria maravilhosamente bem, era elogiado e reconhecido. Uma mudança de diretoria interrompeu bruscamente o trabalho, depois de alguns anos, mas, até hoje, tenho um carinho especialíssimo por aquela empresa (e por suas pessoas), onde aprendi tanto e onde me sentia como um raiozinho de sol.  
Lembrar-me de como me sentia há anos, me faz pensar que posso voltar a enxergar as coisas daquela mesma forma, já que ando me propondo mudanças, simplesmente porque preciso estar entusiasmada com o que faço para me sentir feliz. Talvez esteja me faltando coragem para enfrentar novos desafios, já que eles se apresentam todos os dias. Mas tudo isso pode ser revertido. Tenho que (e posso) buscar o que faça meus olhos brilharem. E, se não consigo fazer isso sozinha, tenho amigos que podem me ajudar.
Recordei-me, também de outra experiência, essa mais recente. Foi a POSSIBILIDADE de realização de um projeto, com que a vida me acenou. A proposta era bacana e parecia proveitosa. Tanto que achei que fosse uma alternativa a essa minha atual (e passageira!) falta de entusiasmo. Fiquei surpresa ao perceber que minhas expectativas não se realizaram. Preciso dizer que surpresa é a palavra que uso hoje, mas, a verdade é que, quando percebi que estava vivendo uma ilusão e que o mercado e mundo real funcionavam além dos meus sonhos, sofri e sofri e sofri. E não posso descrever aqui tudo o que me passou pela cabeça. Quantas vezes me achei incapaz, incompetente e tantos ins..... que, ao fim de uma madrugada sem dormir, eu estava um trapo emocional. E o pior, com a auto-estima no chão!
Mas, como todos os dias têm um novo amanhecer, o sol – sempre ele – trouxe a luz pros meus pensamentos. Consegui enxergar o outro lado de uma situação que me parecia indigesta. Vi as oportunidades que tive, os sentimentos que experimentei, a alegria e a emoção que cada passo daquela aventura me proporcionaram. Por conta da POSSIBILIDADE de realização de um novo trabalho, li livros que jamais lera, ouvi músicas que não conhecia (só pra espairecer enquanto curtia a preparação da proposta hehe), saboreei textos, escrevi muito... não, realmente, não há do que me lamentar. Vi que tudo tinha sido bom demais. Era só uma questão de ver, uma opção de viver. Aí compreendi que ser feliz é só, MESMO, uma questão de escolha.

terça-feira, outubro 20, 2009

Concerto Místico

Recebi esse convite e achei interessante. Para quem gosta, fica a opção FREE.


domingo, outubro 18, 2009

"Blogar é ouvir a si mesmo"

Esse exercício de escrever e blogar é um dos meus maiores prazeres atuais. Mas não é só isso, tem funcionado como uma terapia, revelando partes desconhecidas de mim. O processo não é fácil, porque, se há momentos em que me alegro por simplesmente existir, há outros em que a dor de viver é tão grande que nem sei como suportar. Mas, quero me explicar bem aqui: esse não é um movimento propiciado pelo blog, mas um modus vivendi.
Os conflitos entre o “ser ou não ser” me acompanham desde a infância. É o meu “jeitinho”. A diferença é que, agora, com essa história de blog, eu me permito registrar os meus diálogos internos. E mais, mesmo correndo o risco de as minhas palavras não interessarem a ninguém, ouso e desejo compartilhar. Tenho amigos queridos – do mundo real e do mundo virtual – que fazem o mesmo. E quando leio seus posts - alguns me deliciam -, vejo que não é fácil conquistar leitores ou suscitar comentários.
Mas números não são tudo. Um amigo postou no twitter que “é bom ter público, mas o melhor em blogar é poder ouvir a si mesmo”.  É verdade. Tenho tido umas dores de alma. Se é que se pode chamar de dor essa existência revelada, essa perda da proteção da pele curtida, que nos torna muito sensíveis a tudo o que existe na vida. Hoje, cheguei ao ponto de fechar um livro, porque a emoção não cabia em mim. Não era tristeza. Era um transbordar em forma de choro convulsivo, que me deixa sem saber o que fazer. Não sei se saio correndo ou se fico. Das duas formas, sinto isso que nem sei se é dor.
Ás vezes, também me sinto só. Quisera pode falar na rua, pra qualquer amigo, que a minha existência está dolorida hoje e ser perfeitamente alcançada. Não, não seria. E falo por experiência. Poderia dizer que estou à flor da pele, um termo mais banalizado nas músicas e poesias que eu acho que deve traduzir o mesmo sentimento. Mas já experimentei: não deu muito certo. Mas escrever tem dado certo. Até a amenizar esse sentimento de solidão, o ato de blogar tem me ajudado. Algumas vezes, nas ondas da rede, alguém me alcança e aí ocorre, numa troca profícua e gostosa, o que alguém já chamou de “uma pequena epifania”.
Nesses encontros, me percebo singular e comum e me conforto, no eco que escuto do outro. Quando consigo expressar o que não entendo, começo a compreender alguma coisa. E quando consigo traduzir, a ponto de ecoar em alguém, a emoção que me assusta e me faz rir, estou vivendo uma vida mais plena e caminhando lentamente na direção de mim. Se ninguém entende ou atende, apuro os ouvidos e escuto a mim mesma!

sexta-feira, outubro 16, 2009

O sol iluminando novos lados



Há sempre uma forma diferente de se pensar sobre alguma coisa. Mas, muitas vezes, (aqui eu falo apenas por mim) fixo-me em uma das facetas da questão esquecendo de que há tantas outras e experimentando um sofrimento desnecessário. Muito comum, isso, pra mim! Mas estou aprendendo. Hoje posso me dizer mais consciente de muitas coisas que sequer sabia existir há menos de 10 anos. E com essa consciência, ainda muito pequena, consigo perceber coisas importantes através de acontecimentos banais.
Belo “nariz de cera” para dizer que, quando fui a praia pedalar hoje, aproveitando o fato de que não tinha que levar as crianças à escola, pensei por uns intantes o quanto a vida era chata me obrigando a ir trabalhar. Olhava o mar que estava sereno e lindo, sentia o sol queimando a minha pele, via a areia ainda vazia e aí me dei conta de que, na verdade, estar ali para uma pedalada de pouco mais de 1 hora era um grande presente da vida.
Pensei em tantas pessoas que eu conhecia que não poderiam ter esse prazer, apreciar aquela vista, sentir o vento gostoso da orla. Naquele instante, deu-se um pequeno milagre. Deve ter iluminado meu rosto, porque senti como se um pouco daquela luz do sol tivesse tomado meu corpo e me pareceu que dele saía uma luz gostosa e brilhante. Rsrs Metáfora, sim, mas não duvido da energia do sol! E me senti, de fato diferente. Era uma alegria que me transbordava e que fazia estranhos me cumprimentarem e receberem de volta o meu sorriso. Estava integrada com as pessoas, com a praia, com o sol.
Podia simplesmente ter me lamentado pelo dia maravilhoso que estava perdendo, por não poder ficar na praia com os meninos. No entanto, quando vi diferente tudo mudou. E – sei que é piegas demais –, literalmente, vi a luz. Caramba, perdi a conta de quantas vezes sofro por me esquecer de que há sempre uma forma diferente de encarar uma experiência. Mas acho que estou aprendendo, gradativamente, alguma coisa. E isso me faz muito feliz. Não fosse assim, não teria conseguido enxergar, numa simples pedalada a beira-mar.
Ah, e isso continua. O pequeno milagre teve desdobramentos que eu vou contando aos poucos...

quinta-feira, outubro 15, 2009

Capacidade de estar só e de amar

Demorei anos para entender Osho. Detestei os primeiros textos a que tive acesso, mas com o passar do tempo, eles foram me ajudando a enxergar questões importantes da vida por um ângulo diferente daquele que me fora ensinado. E isso foi libertador. Recebi hoje esse texto... é sempre bom lembrar que o nosso eixo central está em nós mesmos.
"A capacidade de estar sozinho é a capacidade de amar. Isso pode parecer paradoxal a você, mas não é. Essa é uma verdade existencial. Somente pessoas que são capazes de estar a sós e se sentirem confortaveis consigo mesmas, são capazes de amar, de compartilhar. De ir até o âmago da outra pessoa sem possuí-la, ou sem se tornar dependente do outro, reduzindo o outro a uma coisa, e sem ficar viciado no outro.
Permitem ao outro liberdade absoluta, pois sabem que se o outro for embora eles serão tão felizes como são agora. A felicidade deles não pode ser tirada pelo outro porque não foi dada pelo outro. Então porque eles querem ficar juntos? Isso não é mais uma necessidade, é um luxo! Eles apreciam compartilhar, possuem tanta alegria que gostariam de derramar sobre alguém.
Eles sabem como tocar a vida deles como um instrumento solo. O tocador de flauta solo sabe como desfrutar de sua flauta sozinho. E se ele chega e encontra um tocador de tabla solo, ambos irão gostar de ficar juntos e criar uma harmonia entre a flauta e a tabla." (Osho)

domingo, outubro 11, 2009

A beleza e a dor de crescer!


“Você é uma criança!” Escutei a frase na semana passada, do meu professor de canto, dono de uma sensibilidade e afeto enormes. Não era uma crítica, mas eu me apressei em responder: “Já sou uma mulher!” Ele retrucou dizendo que essa era a prova de que era uma criança, os adultos não precisam dizer que o são. Brincamos um pouco com a questão, mas a frase ficou na minha cabeça. Porque, de fato, tenho resistido a crescer em algumas coisas, mas PRECISO.
A infância que trago dentro de mim não é de todo ruim. Gosta de andar descalço, ri das coisas muito simples da vida e se emociona com um olhar carinhoso. E tudo isso é bom! Mas essa mesma criança faz birra quando é contrariada, por muito pouco se sente rejeitada e detesta limites. A lista de ambos os lados é enorme, mas se a vida consiste em aproveitar ao máximo as experiências que nos são proporcionadas, vou aproveitar o feriado para me esbaldar com o meu lado criança. Vou fazer brigadeiro, esquecer a dieta, comer pipoca com os meninos, andar descalço, brincar com a vida, fazer castelo de areia.
Depois, na terça-feira, retomarei meus esforços para encontrar o equilíbrio, fazendo com que esses meus dois lados coexistam pacificamente. Agora penso na minha infância, quando, tão séria, achava que tinha que salvar o mundo, tomando para mim uma responsabilidade muito maior do que aquela que deveria protagonizar. E todos achavam bonitinho, uma menina tão precoce! Talvez, por isso, hoje a adulta séria tenha que fazer birra e bater pé! Lei das compensações...
Mas não há de ser nada. Ainda há tempo para crescer, muito o que aprender e tenho só 42 anos.

terça-feira, outubro 06, 2009

A música religando tudo


Quando vi a programação das mostras de filmes dedicados à música no Festival do Rio fiquei com dor de cotovelo. Havia filmes que eu sequer sabia que foram lançados sobre artistas cuja obras gostaria de conhecer melhor. E olha que leio os segundos cadernos de vez em quando... Não consegui ver, mas estão devidamente anotados para o circuito ou a locadora. Mas acabei lembrando de um filme que vi acidentalmente em NY, que me arrebatou.

Vi Throw Down your Heart  (www.throwdownyourheart.com) porque estava muito cansada, adoro cinema e... aproveitei para passar um par de horas sentadinha curtindo um festival do IFC. O resultado foi pura emoção. O filme – um documentário bem dirigido e sensível – acompanha viagem do músico Béla Fleck pela África, onde tenta resgatar as origens pouco conhecidas do banjo. A jornada resultou na gravação de um CD com participações especiais de músicos talentosos, mas pouco conhecidos fora de suas aldeias.
O instrumento banjo não é muito popular entre nós, mas me emocionei ao ver a arte transpondo obstáculos como a cultura, a língua e a raça, estabelecendo relações onde só posso dizer que consigo enxergar a presença do amor. Não foi por acaso que o filme ganhou prêmios por aí.

Sem falar de Deus e de religiões, o filme me remeteu aos conceitos de irmandade que ouvimos em tantos discursos. Ver aquele homem branco – Béla é um típico americano em sua aparência – misturar-se a moradores de pequenas aldeias africanas e ser tratado como irmão, comunicando-se muitas vezes quase que exclusivamente através da música, renovou minhas crenças nas possibilidades de um mundo melhor. A música é um caminho. A arte é um caminho. E abrir o coração para as emoções é, para mim, o único caminho. Em Throw Down Your Heart, a música de Béla é a chave para a eliminação de fronteiras de todo o tipo.

É difícil escrever sobre esse filme sem deixar meu coração transbordar, mas me senti parte dele e parte importante do mundo em que estou inserida. De nada adianta ignorar as milhares de aldeias e raças com todos os seus problemas, mas com inestimável riqueza cultural . Eu sou parte de tudo e a prova disso vem através de situações como esse filme de Béla Fleck, que me chegou inesperada e felizmente.

Não há como ficar indiferente ao banjo de Béla, mas também é impossível manter a indiferença diante da africana, quase sem dentes, que faz de seu corpo e de sua boca uma verdadeira orquestra. Não dá pra ignorar homens que fazem da música uma tradição familiar e celebram com ela todos os momentos de sua vida e de seus familiares, do nascimento à morte. Impossível não se emocionar diante de pessoas para quem a música é tão vital quanto a farinha que faz o pão das refeições diárias.

terça-feira, setembro 29, 2009

Uma lição de amor

A Ana Cristina Garrido, que foi refém do assaltante baleado com precisão na semana passada no Rio, é aluna do meu mestre de Reiki e deu um exemplo de amor ao próximo após o incidente que poderia ter resultado em sua própria morte.
"Ela disse que gostaria de ajudar a família do assaltante Sérgio Ferreira Pinto, que na última sexta-feira foi morto pela polícia depois de passar mais de uma hora usando a comerciante como escudo. Pelo telefone, o professor José Garrido, marido de Ana, disse que ficou surpreso quando leu a história do assaltante. Ele revelou que gostaria de usar o Instituto Fábio Garrido (criado em homenagem ao filho Fábio Garrido, morto em 1992) para dar apoio aos familiares do bandido. E conta com o apoio da mulher...
- A gente queria confraternizar com a família dele. Parece que ele tem um filho de três anos. A gente estaria disposto até a ajudar essa família no nosso instituto. Desde que eles no vejam também como pessoas normais. Nós somos trabalhadores, minha filha e minha esposa estavam ali cuidando do nosso negócio. Perdemos um filho, sabemos o que é isso. Ele foi mais uma vítima da sociedade. O que a gente procura é exatamente isso, tirar crianças da deliquência - explicou ele.
Para o professor, mesmo tendo ameaçado a vida de outras pessoas, inclusive a da própria mulher dele, Sérgio também foi uma vítima:
- A minha esposa foi vítima, dentro da nossa concepção. Mas aquele rapaz também foi vítima, ele foi levado à deliquência por conta do nosso modelo de sociedade. Acho que este rapaz é o resultado do desamor, de uma sociedade deturpada, equivocada, com políticos corruptos. O sustentáculo daquele garoto era a avó. Depois da morte dela a família se rompeu - disse ele, agradecendo o fato da mulher ainda estar viva:
- Deus deu tanto para a gente, que não podemos nos furtar de ajudar a quem precisa. Ele ainda deu mais um favor para a gente, na semana passada. Precisamos prestar conta disso. Não custa nada diminuir a dor alheia." 
Instituto Fábio Garrido 
O Instituto Fábio Garrido (veja o perfil do instituto no Orkut) foi criado em homenagem ao filho do casal, que morreu aos nove anos vítima de uma leucemia, diagnosticada um mês após bandidos invadirem a casa da família, no Vaz Lobo, e ameaçar a mãe dele com uma arma na cabeça. O instituto funciona em um sítio na comunidade Ilha de Guaratiba e atende 120 crianças. Em obras, pretende ampliar o atendimento para 200 crianças já no Natal. Os meninos e meninas terão atendimento de fisioterapia, ginecológico e pediátrico, três salas de dança, uma de inclusão digital e duas para reforço escolar. Será montado ainda um escritório para atendimento jurídico:
- A dificuldade de conseguir emprego muitas vezes leva os jovens para o crime. Vamos oferecer oportunidades para esses jovens e tentar incluí-los no mercado de trabalho - explica Garrido.








domingo, setembro 27, 2009

Com ou sem sol? A minha escolha...

A mulher que se bronzeia ao sol foi tema da Marta Medeiros, hoje, em O Globo. Bom, eu falo por mim: peço licença e procuro manter minha cor, com filtro, o ano todo! Vou à praia no frio e no calor e, se consigo estar “morena” grande parte do ano, é porque escolho fazer parte de minhas atividades físicas (e sociais) ao ar livre: mais precisamente na areia da praia. Corro, caminho com amigos para colocar conversas em dia, bebo minha cerveja, estudo porque sempre há muito o que ler, acompanho meus filhos no surf quando o mar está bom e por aí sigo numa lista enorme, onde a praia faz parte do cenário.
Mas não foi sempre assim. Moro perto da praia há 12 anos e, nos primeiros dois anos, me senti um pouco culpada pelo meu bronzeado. Especialmente no inverno. Olhava para os homens de terno e para as mulheres de salto alto com que convivia durante a semana e me achava uma representante dos desocupados: uma pessoa que se dá ao luxo de passar os fins de semana à beira mar. Isso porque, na minha fantasia, as pessoas bem sucedidas deveriam sempre trabalhar mais do que o necessário, inclusive aos sábados e domingos. E eu, na época velejadora, estava sempre muito bronzeada com aquela aparência de quem não faz outra coisa senão ficar dourando ao sol.
Essa fantasia acabou! A vela também (pelo menos por enquanto)! Mas continuo bronzeada e não me permito mais ficar longe do mar. É lá que carrego e descarrego minhas energias e fico feliz quando o sol fura a barreira do filtro e me deixa um pouquinho mais queimada! É sinal de que a praia estava boa demais! Trabalho muito – e ás vezes fim de semana também – mas, quando posso, levo livros, papel e caneta, dispenso os amigos e fico ali, no sol, entre leituras e textos.
Mais do que exibir minha cor e meu modo de vida sem culpa, aprendi a respeitar as escolhas. Vejo com naturalidade a mulher que, feliz, tosta ao sol o dia inteiro (se usa filtro ou não, esse já não é um problema meu) e aquela que se afasta do sol pra manter a alvura da pele e evitar o envelhecimento precoce. São escolhas. Tão diferentes quanto as pessoas, que eu aprendi a respeitar para me sentir sempre no direito de exercer as minhas próprias escolhas. Sem culpas!

domingo, setembro 20, 2009

Ferreira Gullar na Bienal

Assisti à leitura de trechos da obra de Ferreira Gullar por Mariana Ximenes e Paulo José. Mto bacana. Achei esse poema lindo, afinal quem não esconde dualidades? Para quem gosta, segue:
Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também

quarta-feira, setembro 16, 2009

Abaixando a máquina (e a soberba)

Ultimamente, minhas impressões da vida têm me levado ao extremo da dor. Acredito sim que, em alguns momentos, um pouco de dor é preciso para produção de mudanças, mas, como os fatos me impressionam pela via da emoção, ando mesmo muito exposta: à flor da pele, como se costuma dizer. Um desses bons fatos a cutucar minha alma dolorosamente foi o filme “Abaixando a Máquina: Ética e Dor no Fotojornalismo Carioca”, de Guillermo Planel, que assisti na última reunião do curso JPPS, na UFRJ.
O documentário despretensioso e heroico em sua produção (basta olhar a ficha técnica), premiado em festivais nacionais e apresentado em circuito tão alternativo quanto a sua produção, me fez pensar tanto que deixei a questão da ética jornalística de lado. Não há como dissociar os cidadãos “fotógrafos” dessa imensa rede global que compomos TODOS, necessariamente um/em conjunto, afetando e sendo afetados em cada um de seus nós, não importa a distância das conexões. Vários dos profissionais que gravaram seus depoimentos fizeram parte do início da minha trajetória como jornalista. De alguns, cheguei a conhecer sonhos e anseios, muitos dos quais compartilhava há quase 20 anos.
Sim, o documentário emociona pela exposição da nossa realidade carioca, através das lentes dos fotojornalistas e das escolhas que cada um faz diante do “objeto” de seu trabalho. Mas, para mim, essa não é a principal questão. O que importa, hoje, é reconhecer que faço parte dessa realidade – rede – composta de fotógrafos, jornalistas, marginais, intelectuais, costureiras, ambulantes, rios, animais e tudo o mais que tiver vida nesse planeta. O impacto das minhas atitudes faz grande diferença nessa rede, como a pedrinha pequena, capaz de alterar a superfície do lago. O que vi no documentário, certamente, é resultado das minhas atitudes e é aí que tudo isso me atravessa. É aí que há sempre o que mudar! Somos todos iguais, em algum ponto: bandidos e mocinhos!

terça-feira, setembro 08, 2009

Comunicando assim assim ou Pernil com purê de maçã

Ando fascinada pelo twitter. Acho informativo, segmentado, divertido, lúdico e sei lá mais o que, porque a toda hora descubro uma novidade nessa rede. Talvez, por ser brasileira, seja, como os demais da nação, afeita a essas novidades de rede. Fato é que gosto de ficar conectada ao twitter e, confesso, ele tem sido uma das maiores, senão a maior, fontes de informação pra mim.
Mas aí é que surgem os dilemas. Primeiro, tenho que me policiar para não passar todo o tempo que tenho (e o que eu não tenho também) clicando numa infinidade de links – nem todos realmente interessantes – e lendo as piadinhas e comentários daqueles que sigo. Desconfio, que se contabilizar, acabo me perdendo alguma vezes numa sucessão de hiperlinks. Segundo, porque preciso do olho no olho, da voz com suas inflexões e de tantas outras coisas que compõem a nossa comunicação pessoal.
A praticidade dessa comunicação, tão direta quanto rápida, tem aspectos positivos, mas me pergunto se não contribui para acelerar ainda mais essa roda da vida que faz com que semanas, meses e anos passem tão rápido que mal nos damos conta. Eu, em franca experiência de mim mesma e dessa ferramenta de comunicação, ando meio acelerada demais. E dei para fazer coisas esquistas (rs). Ontem, deixei marido e filhos na mesa de jantar e fui pegar a câmera, não sem antes explicar: “é que fiz uma pequena enquete no twitter para decidir qual seria o acompanhamento do pernil e achei que seria bacana postar uma foto do prato pronto.” O estranho é que eles nem estranharam e ainda ajudaram na produção: tinha que mostrar o purê de maçã, sugestão escolhida e que fez o maior sucesso.
Mas tenho que me controlar porque, dentro em pouco, posso correr o risco de substituir papos por posts, de 140 caracteres, eventualmente linkados ao realvalor.blogspot.com.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Quando vamos, de fato, dizer: BASTA!?

Acho que todos nós estamos interligados, nessa imensa teia que é a vida! Não somos vidas isoladas e cada ação, de um sorriso a um "vai tomar no cu" no trânsito, tem o seu efeito. Eu sou parte tanto do morador do morro do Alemão, quanto daquele da Vieira Souto. Portanto, penso duas vezes antes de acusar o governo pela violência com que convivemos. Estou certa de que todos podemos fazer a nossa parte, ainda que isso implique apenas em não jogar nenhuma guimba de cigarro no chão.
Transcrevo o depoimento do amigo jornalista, Roberto Ferreira:
“Ainda estou sob o impacto do que assisti hoje. Às duas da tarde, na Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana, bem em frente à estação do Metrô, vi uma mulher ter a garganta cortada por um ladrão armado de faca numa tentativa de roubo de celular.
Por sorte, o ferimento foi superficial, embora ela tivesse sangrado muito. Meia dúzia de seguranças do Metrô conseguiram, com muito custo, deter o assaltante.
A mulher falava ao celular, distraidamente sentada num banco da praça, quando foi surpreendida pelo ladrão. Foi uma cena sangrenta que você acha que só vai ver em filmes. Mas foi real.
Há muito tempo eu não atendo ligações no meio da rua. Se estiver perto de uma loja, eu entro e retorno a ligação. Ou espero que a pessoa deixe recado na caixa postal ou me ligue novamente. Se for importante e urgente, ela ligará de novo.
Façam o mesmo. É uma precaução mínima que pode salvar sua vida. Se aquele infeliz tivesse atingido a carótida da vítima, dificilmente ela teria sobrevivido.”

terça-feira, setembro 01, 2009

Prazo de Validade

Ainda bem que acredito na eternidade do espírito, porque o corpo, ah, esse é finito e tem prazo de validade que nunca julgamos longo o suficiente. O enfarte do meu pai deu no que pensar... Pra ele e pra mim! Ele anunciou que vai jogar fora as quinquilharias que guarda há mais de 40 anos. Coisas do tipo agendas dos anos que se foram, artigos e revistas de anos mais anteriores ainda e por aí vamos numa lista sem fim! A afirmação dele me soou como o sinal dos tempos; mas soou bem! Afinal, livrar-se de excessos, sejam eles qual forem, é sempre bom!
Q
uanto a mim, renovei minha lista de ambições: a maior delas, agora, é ser mais tranquila e feliz. Mas também tem aquela ambição de só comer comida saudável (sem abrir mão da cerveja, claro!), de meditar diariamente, de sorrir mais... Vou parar por aqui porque não quero correr o risco de repetir as frases dos ppt de auto-ajuda; poderiam me cobrar direitos autorais (rs).
M
as o que mais tem me inquietado esta semana é notar a apresentação do prazo de validade de nossos corpos. Com 42 anos, tenho acompanhado – com alguma resistência – as evidências da passagem do tempo no meu corpo. Mas, ao longo desses dias, tenho observado muito o meu pai e constato o que a correria do dia-a-dia não me permitira constatar: o tempo dele está passando... E isso é totalmente natural! São 74 anos maravilhosos, que ainda se estenderão muitoooo, mas, como os anéis dos troncos das árvores, cada ano vai deixando uma pequena marquinha. Enquanto isso, seu espírito demonstra mais tranquilidade para lidar com situações que, anos atrás, pareciam inconcebíveis. Ainda bem que acredito...

(Antes que me perguntem: O meu pai colocou 3 stents e deve sair do hospital amanhã!)

domingo, agosto 30, 2009

O outro lado do enfarte / Um presente!

Meu pai, ontem, teve um enfarte. Está internado em um hospital, com o quadro estável. Junto com o susto, deu-me uma grande lição de vida. Pegos de surpresa, eu e ele, pois levei-o ao hospital para medicar o que ele achava ser uma crise de labirintite, não o vi, em nenhum momento, externar descrença em sua vida, medo ou qualquer outro sentimento negativo. Eu, que há alguns dias vinha lutando contra uma melancolia insistente e exaurida pelo excesso de pequenos compromissos de que enchi minha vida, vi-me curada no momento em que soube do problema do meu pai.
Qual o sentido de problematizar a vida se nada sabemos sobre o que vamos viver no próximo instante? Por que me preocupar com a agenda da semana, se nada me garante que não haverá algum súbito motivo na segunda-feira para cancelar todas as marcações?
Pronto! Lembrei-me, com a enfarte do meu pai, da fugacidade da vida, da necessidade de se viver apenas um momento de cada vez e da infinita beleza de cada instante. Sem saber, meu pai presenteou-me com algo de muito valor, ontem, no hospital: devolveu-me a alegria de viver! Hoje ao fazer café, peguei-me pensando na mágica que é colocar água quente no pó marrom para produzir uma bebida de que gosto tanto. E que me motiva a sentar e conversar com familiares e amigos... Naquele instante, percebi: isso que é viver. Quero estar verdadeiramente presente em cada momento em que me é possível exercitar o existir, com todas as suas intercorrências.
Obrigada, pai! Que toda a FORÇA existente no Universo, esteja com você agora, fazendo chegar ao corpo e ao espírito poderosa energia de CURA e de ALEGRIA, contrariando qualquer outra vibração que possa emanar de uma UTI.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Indignação e revolta

Esses são os sentimentos que me dominam quando leio sobre o momento político brasileiro nos jornais. A minha indignação ultrapassa a falta de limites da falta de ética dos senadores. Ela alcança a população brasileira. Não vejo nos espaços em que circulo, reais ou virtuais, uma movimentação consistente de defesa do nosso país. Agora mesmo, um novo projeto de lei eleitoral está para ser votado e não vejo menção nas redes sociais de que faço parte. Procuro no google e também não acho nada de muito expressivo. Sarney foi absolvido, continua na Presidência do Senado e nada acontece (a não ser o cartão vermelho do Suplicy). Quase ninguém grita e os poucos que gritam não são escutados. Essa é minha maior revolta. E o meu grito será mais um dos vários inaudíveis. A não ser que a ele se somem muitos outros...

quarta-feira, agosto 26, 2009

Tuitando pelo ciberespaço


Num grupo de discussão de profissionais de comunicação de que faço parte, o twitter tem sido assunto recorrente. Um dos último comentários refere-se a uma entrevista a José Saramago, feita pelo Diário Digital, em que o escritor afirma que o twitter "Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido."
Discordo. Para falar a verdade, o dinamismo que a comunicação alcançou hj me faz, entre outras coisas, levantar da cama (como agora) para escrever, ler e pesquisar. A possibilidade de interação e dé disseminação da informação com as novas mídias é fantástica e me assombra. A cada dia conheço novos cases de pessoas físicas ou jurídicas que, se comunicando de forma totalmente impensada há pouco tempo, alcançam uma audiência e, o melhor, um índice de resposta, antes totalmente inimagináveis. Outro fato que julgo imprtante: muitas vezes usam como recurso apenas seu capital intelectual. Mesmo considerando todos os percentuais de acesso à tecnologia, que ainda suscitam programas de inclusão digital, ouso dizer que a informação nunca se disseminou de forma tão democrática.
A dificuldade q se impõe, no entanto, é a capacidade de filtrar (como bem disse a Juliana). E isso vale tto para o receptor qto para o emissor da informação (que alternam seus papéis dianamica e continuamente). Não sou heavy user, mas acho q as possbilidades que essa nova ferramenta me abriu vão mto além do grunhido... Voltei até a escrever um blog, estimulada pela possibilidade de interagir com tantas pessoas e pelo sonho de provocar alguma reflexoes...
Vale a pena ler a última newsletter da Múltipla Comunicação sobre esse assunto.

sábado, agosto 22, 2009

Vida em qualquer idade

A entrevista com Serguei no programa do Jô me fez pensar. Com mais de 70 anos, Serguei – e não faço aqui nenhum juízo de valor – demonstrou vitalidade e disposição pra vida! E foi exatamente isso que me impressionou. Quando tinha 20 e poucos anos achava que aos 30 minha vida estaria acabada (ou quase). Aos 30 descobri havia muito mais a viver. Aprendi que enquanto se tem o desejo e a humildade de aprender, há juventude e paixão pela vida, que no fim das contas é o que faz o olho brilhar em qualquer idade.

Ver o Serguei falar com empolgação de seus projetos, visitando o passado, mas falando de presente e futuro, me fez acreditar – definitivamente - que paixão e emoção estão ao alcance da vida em qualquer tempo.

Hoje, li em O Globo, no caderno Ela, e vi uma foto da Vera Barreto Leite, também conhecida como Vera Valdez, ex-garota Chanel. Com 73 anos, Vera é o centro de uma exposição no Rio sobre a Maison Chanel. Ela também faz uma volta ao passado – a convite do curador da exposição – mas vive intensamente o presente e tem planos para o futuro. Está ensaiando febrilmente um peça teatral que será apresentada no Oficina. Na inauguração da exposição, vestirá Chanel e entrará acompanhada pelos dois bisnetos.

Viva a vida! Sempre!

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