segunda-feira, dezembro 21, 2009

Tenda do Suor


Não posso falar do xamanismo com muito conhecimento de causa, mas escrevo com amor pela causa, pois, toda vez que experimento um pouco daquilo que nossos ancestrais assumiam como verdade para suas vidas, entro em contato com a grande energia amorosa que envolve todos os seres da Terra. E foi assim, ontem, ao participar de uma tenda do suor conduzida pelo xamã carioca Carlos Sauer. Como muitos amigos fazem perguntas, resolvi escrever a respeito.
Dizem que, no passado, as mulheres isolavam-se, no período menstrual, na Tenda da Lua, onde rezavam e ensinavam umas às outras, compartilhando suas intuições e conhecimentos e honrando seus dons. Os guerreiros reuniam-se em algo equivalente, que se chamava Tenda do Suor. Com a perda da tradição da tenda feminina, em algum momento, a Sweat Lodge passou a ser adotada como ritual de purificação de mente-corpo-espírito por ambos os sexos.
Nos links e na internet, há farta explicação sobre o que é a tenda, hoje, e de como esse ritual é conduzido. Então, escrevo sobre a minha experiência, pois, para mim, cada tenda é única e cheia de surpresas. Nunca sei o que acontecerá e como sairei depois de suar. Essa última do ano foi especial e cheia de significados. A começar pela escolha do condutor em trabalhar a energia feminina. Foi uma tenda muito suave, onde pude sentir, mais uma vez, energia acolhedora da Mãe Terra.
Desde o momento em que recebi o tabaco para saudar o fogo, senti, no meu ventre, a força da fertilidade e da criatividade feminina, que resgataram dentro de mim a perplexidade que tenho diante do milagre da concepção humana. O sentimento ajudou-me a reintegrar minha condição de mãe e de filha, agradecendo ao Universo os meus dons e a minha capacidade de procriar. Parece engraçado uma mãe de três filhos falar de procriação, mas foi essa a energia que senti muito forte nas primeiras rodadas, como se chamam as sessões de recebimento das pedras que aquecem a tenda. As rodadas assemelham-se a portais, tradicionalmente em número de quatro, segundo os quatro pontos cardeais.
No oeste, propício para trabalhar os medos e as sombras, tive uma visão que se assemelhava a um grande presente do Universo e o aviso de que é preciso desapegar do passado para viver o presente, com todos os significados que essa palavra carrega. Aquilo que chamam, em muitas culturas, de dar lugar ao novo ou de praticar o desapego. Os mestres e guardiões fizeram o seu trabalho, pois renovar-se e renascer exige um desprendimento que nem sempre nos permitimos. Ninguém caminha conservando amarras do passado, mas poucos têm coragem de desfazer os laços dessas amarras.
Com a limpeza feita, senti-me acolhida pela sabedoria de meus antepassados no Norte, pronta para renascer ao sair da tenda, que é a representação do útero feminino, no seio da Mãe Terra. Saí das quatro rodadas sentindo-me a mais abençoada das mulheres. Mas havia mais. Há sempre prêmios para a persistência... Como o grupo era muito grande, haveria mais três rodadas, para possibilitar a participação dos demais. Eu estava muito bem, suave, como já disse, e continuei.
A primeira das rodadas que se seguiram fortaleceu a conexão com o Grande Espírito e possibilitou-me grande esvaziamento da mente e relaxamento, lembrando-me do que a entrega ao fluxo da vida e o desapego a valores que não fazem parte da minha essência podem proporcionar. Em seguida, a Mãe Terra foi o foco e seu acolhimento a mim foi tão intenso que eu cochilei em seus braços, numa viagem de cura. Depois, numa última rodada, foi a vez do coração e das emoções que ele encerra, num convite a reconectá-lo ao coração da Mãe Terra. Assim, saí da tenda muito mais fortalecida e pronta para o novo ano que vem por aí.
Para 2010, convido os amigos a compartilharem dessa experiência comigo.

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