quarta-feira, outubro 17, 2012

50 tons e mais um pouco


Fechei o livro no capítulo 14. Maldita hora em que resolvi ler essa “meleca”. A “meleca” em questão é o livro “50 tons de cinza” que estava aguçando minha curiosidade há semanas, dado o número de exemplares vendidos, de amigas e amigos que leram, de estoques acabados nas livrarias, entre outros fatores que costumam atrair a atenção dos curiosos. Até o fim da tarde, recomendava a leitura a quem quer que encontrasse: “experimenta, é uma diversão maravilhosa”, dizia. Mudei de ideia temporariamente. Estou aqui me contorcendo por causa desse livro. E certamente não é pelos atributos literários da obra.
Lidando com esses sentimentos que me forçam, agora, a fazer uma pausa na leitura, percebo que, certamente, eles nada têm a ver com a postura do Sr. Grey. As figuras do controle e da submissão, usadas pela autora em todo o livro, têm mais a ver com uma pergunta que o Sr. Grey faz a todos que cruzam o seu caminho. Têm a ver com entrega, disponibilidade... Têm a ver com conhecer sua escuridão pessoal e seus limites. Têm a ver com a coragem de encarar a si mesmo sem máscaras, véus, maquiagens.
Não, esse não é um livro para inspirar reflexões. Mas eu sempre digo que os livros me escolhem. Foi o caso deste. Raramente leio best sellers e quando já tinha decidido deixar o modismo de lado, um amigo me acena tentadoramente o seu exemplar.
Não resisti. E posso dizer que não deveria mesmo ter resistido. O que acessei em mim está sendo trabalhoso para elaborar e vai além das sessões de sexo não-convencional do casal, chegando ao que, para mim, é o ponto essencial: a entrega nas relações humanas (de todos os níveis). A relação que os personagens experimentam no livro, carregada de erotismo, esbarra o tempo todo no quanto e no que cada um está disposto a entegar de si ao outro. Daí a refletir em minhas relações, foi um passo curto. Discurso doce, aparentemente frágil, encobre algo de que não havia me dado conta: não sou uma mulher muito acessível. As aparências enganam, até a nós mesmos!
Reservo-me, dou pouco de mim e, me escondo (escondia?), sob a capa do controle. Quem se ilude com a ideia de controlar a vida tem medo de viver! Pode parecer normal, estamos cercados de pessoas assim, é a escolha de vida de muitos. No entanto, a descoberta desse lugar sombrio que eu não imaginava existir, me pegou de surpresa. Fiquei perplexa diante de mim mesma! Hoje concluí o livro! Sobrevivi! E a quem interessar possa, estou feliz, porque os segredos da alma, uma vez descobertos, deixam de ser segredos, passam a gozar da liberdade e da luz do domínio público! Refeita, continuo recomendando a leitura! Vamos aos tons mais escuros!  
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