sábado, dezembro 26, 2015

Palavras que resgatam

Elas, sempre elas. Grandes companheiras. Insistem em me tomar pela mão. Em me conduzirem para o espaço interno em que sou senhora de mim. Eu resisti. Numa teimosia tão tola e preguiçosa, quanto dolorida. Às vezes, a gente se acostuma a dores. Acomodação. Inércia. Há sempre algo que nos resgata. No meu caso, as PALAVRAS.
Começamos uma conversa de mãe e filho. Eu: Acordei desanimada. Ele: Eu hoje também estava assim. Eu: Passou como? Ele: Depois que eu treinei. Eu: Também treinei de manhã, ajudou, mas agora o desânimo voltou. É chato. Ele: É mesmo. Eu: A maior batalha que travamos nesta vida é conosco mesmo. Ele: É mesmo. Mas passa...
Saí dessa breve conversa mais confortada. Pela escuta. Pelo compartilhar de sentimentos. E pela certeza de que há sempre algo que nos resgata. No caso do filho, o esporte; no meu, as palavras. Eu já estava me achando louca. Elas insistiam em me conduzir, mas eu resistia. Entre a piscina, onde me encontrava, e a minha rendição às palavras, havia o café, o panetone, um livro iniciado, uma bolsa para arrumar e duas caixinhas que ficam sobre a mesa do corredor, onde bagulhos amontoam-se: parafusos, tampas de caneta, papéis e notinhas de mercado. Foi preciso dar conta de todos esses obstáculos para que finalmente chegasse ao notebook. E as palavras, a mim.
Respiro profundamente. Bastam alguns parágrafos de palavras soltas para que me sinta alividada. Já conheço tanto e tão bem esse caminho que me pergunto porque me abstive dele? Por que escolher caminhos mais tortuosos quando há um mais reto, claro, limpo, que é o meu? Às vezes, pareço carregar uma culpa ancestral que me faz acreditar não ser merecedora da felicidade. Pareço? Pode ser mesmo que carregue emoções de gerações anteriores somente para curar, purificar, superar e permitir que meus descendentes não passem pelas mesmas aflições.
Lembro dEle, o Cristo, encarnado humano, com chagas suficientes para curar a humanidade inteira. Sendo eu parte deste mesmo reino divino, não é de surpreender que carregue também algo para transmutar nesta jornada terrena. Humildemente, reconheço-me parte deste Universo, com tantas e muitas imperfeições. Mas a cada uma delas, um propósito para mim e para o outro. E de repente, só por causa das benditas palavras, reconheço minha porção divina, identifico-me com aquele que sabia tanto de amor, que era Ele próprio o Amor.

Por elas, pelas palavras, renasço agora, como poderei renascer todos os dias em que parte de mim morrer. Renasço com parte nova, transmutada, para cuidar da próxima ferida que apontará para uma outra cura, dentre muitas tantas que ainda processarei, por graça divina, nesta vida.  
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