sábado, julho 31, 2010

Se é o Dia do Orgasmo, vamos falar de prazer?

Não consegui deixar o Dia do Orgasmo passar em branco. Bem que tentei. É que conheço algumas estatísticas, converso com amigas e vejo o quanto o prazer feminino é relegado a segundo plano. Dizem que 40% das mulheres não sabem o que é orgasmo, mas dos 60% que sabem o que é, uma parte ainda pequena se diz plenamente satisfeita. E a culpa não é dos homens. Aliás, vamos combinar aqui que a culpa não é de ninguém. Há uma trapalhada cultural no meio do prazer sexual que eu, por não ser especialista no assunto, nem me atrevo a mencionar. O Google e a Wikipedia estão aí pra isso.
Mas eu fico pensando que o êxtase do sexo tem tudo a ver com a conversa. Com a capacidade que desenvolvemos de, em primeiro lugar, saber o que e como queremos, para depois comunicar ao outro as nossas necessidades. Num diálogo que pode prescindir das palavras, já que os corpos comunicam e muito bem, mas que não pode prescindir da disponibilidade para se expressar e entender o outro. É justamente nesse movimento de dar e receber, escutar e ouvir, que se pode quebrar todas as muitas barreiras existentes no caminho do orgasmo feminino.
A impossibilidade dessa conversa – em todos os níveis – se esvai quando não há uma escuta interior, a única possibilidade de nos entendermos e ajudarmos o outro a chegar até nós, na alma e no corpo. Na minha família, a palavra “prazer” não era mencionada o que dificultou bastante os meus aprendizados. A descoberta real do sexo veio (ou está vindo, já que esse é um processo sem fim) com a busca contínua de mim mesma. Estou sempre me experimentando e me perguntando se estou sendo fiel a mim mesma, a única pessoa a quem não posso mais decepcionar.
Indo pros “finalmentes”, orgasmo é importante sim. E sempre possível. Faz bem pra vida, equilibra o fluxo de energias e mais um monte de outros benefícios. Mas, como não me aventuro mesmo a dizer que entendo desse assunto, só quero aproveitar esse ti-ti-ti do Dia do Orgasmo pra lembrar que ninguém pode se deixar passar em branco. Não há errado ou certo, mas, entre mulheres, que já conquistaram tanta coisa, acho inaceitável que ainda haja tantas incapazes de reconhecer seu direito ao prazer. Quem não se contenta com pouco em tantos âmbitos da vida, não pode se contentar com pouco ou nenhum prazer no sexo. Em todos os casos, a tal da “chave do sucesso” está em nós mesmas. É só pegar e aproveitar!
* Pras mais ousadas, uma dica.
* E se vc tem uma dica, compartilhe aqui.

Preciso de permissão pra ser feliz?

Há coisas que são simbólicas. Unhas, sombrancelhas e depilação fazem parte do universo feminino. Os homens têm seus símbolos também. Ontem, me arrumando para um evento, me dei conta de que estava protelando a pintura do cabelo e de que, há 15 dias, não pintava as unhas. E havia as sombrancelhas também, gritando para serem ajeitadas... Relaxamento? Pode ser, mas, certamente, essa não era a percepção mais importante. Naquele momento, me dei conta do que estava por trás do desse aparente desleixo: um enorme boicote à felicidade. Ou o que a psicologia chama de autossabotagem.
Unhas comunicam:
bossas que invento...
Por que resistimos à felicidade? Há algo de cultural nisso, em alguma associação remota feita entre nobreza e sofrimento, alegria e culpa, liberdade e punição. Não era só a preguiça de ir à manicure, mas uma forma de não me permitir ser feliz, já que o cuidado com o corpo e a aparência, além da busca pelo belo, representa o posicionamento do espaço de cada um no mundo. E, com licença, o meu espaço não é feio nem desleixado. Tem as suas limitações, mas eu não preciso ampliá-las.
Então, porque jogamos contra nós mesmos? Isso é uma história longa e particular. Aprendi muito com um livro chamado Ciclo da Autossabotagem. Cada um tem suas razões, quase sempre inconscientes, para não se permitir ser feliz. E nem adianta pensar em buscar culpados. Ainda que existissem, eles nada resolveriam a nosso respeito. Nesse caminho, o que conta mesmo é a atitude pessoal de cada um quando se percebe cometendo uma sandice contra si mesmo. No entanto, perceber é só o primeiro passo, o mais importante vem depois: na atitude, nem sempre fácil, de vencer a resistência interna e, nesse meu exemplo muito particular e específico, pintar as unhas. E tem mais, claro. Depois de pintar as unhas, o desafio está em continuar a prestar atenção ao que faço comigo mesma, aos meus desejos e ao que anseio comunicar ao mundo. Porque unhas também comunicam!

terça-feira, julho 27, 2010

Uma grande conquista

Quadro de Eliane @emrismael www.corearte.com
Para tudo que eu vou escrever! Tenho muita coisa pra fazer; hoje, o filho do meio comemora 15 anos, mas priorizei estar aqui, no blog, agora! Simplesmente, porque me dar conta de mim é muito importante e porque – e isso também é ultra importante – tenho certeza de que muitas pessoas já sentiram o mesmo que eu.
Hoje, acordei sem vontade de levantar da cama. Acontece! Muito trabalho, frustrações por desejos que terei que adiar, alterações de humores em virtude de uma TPM (ou SPM?) severa... Tudo muito normal nesse fluxo contínuo que é a vida! Mas levantei, meditei e precisei de menos de 10 minutos para me alinhar novamente com a energia do Universo e me encher de energia para um dia que será muito bom!
Voltando no tempo, lembrei de mim há alguns anos atrás, quando cheguei a fazer um blog para postar minhas tristezas. Resgatei um texto de 15/11/2004:
“Estou procurando um novo terapeuta, voltei a tomar todos os remédios que tomava antes para depressão e todos as terapias esotéricas e alternativas que faço parece que deixaram de dar resultado. (…) A minha vida continua quase no mesmo rumo e eu morro de medo de dar qualquer passo porque todas as certezas me abandonaram. Mas o que é isso? Há um quase no início da frase e se o que se escreve num blog é uma possibilidade concreta, devo regozijar-me com esse "quase"? Há ainda a esperança da mudança? Mais grave ainda a pergunta seguinte: há ainda o desejo REAL de mudança? Por que tanto medo de erguer a cabeça e caminhar? Por que a dificuldade em escutar a voz que vem do coração?”
Essa era eu! Sem coragem para viver, mas cheia de possibilidades. Fico muito feliz comigo de ver no que me transformei. O caminho não para, o processo é contínuo, mas o melhor é que a alegria de viver está disponível pra todos em absolutamente todos os momentos da vida. Há um estoque inesgotável dela no Universo e tudo o que precisamos fazer é “pegar” o quanto quisermos. Fácil? Eu precisei de cerca de sete anos, desde o momento em que comecei a me dar conta de quem eu poderia ser (o “despertar”) até hoje, quando posso afirmar que eu sou o que sou!
Há pessoas mais rápidas e outras que não se desconectam dessa energia vital. Cada um tem seu tempo e seus desafios, mas o que vejo é que há muita gente buscando o seu caminho, que necessariamente passa pela conexão com o “eu”. Todos podemos (e devemos) ser felizes! A chave, o segredo, a mágica, o milagre... Tudo está dentro de nós!

domingo, julho 25, 2010

Dor ou êxtase?

“Precisa doer pra aprender?”, foi a pergunta de uma amiga no twitter. Pensei nos meus aprendizados. Naquilo que chamava de dor. Aos poucos, tenho reformulado esse conceito, até pra evitar atrair, por ressonância, a dor de verdade, que, hoje, me remete a episódios de muita luta de uma amiga contra o câncer, que acompanhei de perto. Ali havia, de fato, dor física e emocional; mas, também, uma enorme vontade de viver.
Então anuncio que desisti da palavra dor. Descobri que aquilo que chamava de “dor de viver” é uma espécie de sensibilidade que se adquire quando se percebe a vida, em sua variedade de nuances. É como se expor ao sol forte: mesmo com filtro solar, após exposição prolongada, fica um certo ardor. Assim é a vida! Ninguém se expõe a tudo o que ela oferece sem efeitos colaterais. As grandes belezas, as maiores emoções, os aprendizados mais importantes exigem a coragem da exposição e esta, de alguma forma, em algum momento, causa incômodo.
Palavras não dão conta de descrever. É preciso mais do que cinco sentidos para compreender o que se sente nesses instantes de rara beleza. Hoje sei que isso está longe de ser dor. É uma conexão com o desconhecido, capaz de provocar lágrimas de alegria, apertos no coração, entre outros sentimentos inexplicáveis. Às vezes, acho que essa impossibilidade da compreensão plena desses momentos é proposital, uma proteção divina. Não fosse assim, talvez não soubesse lidar com o êxtase das pequenas e grandes possibilidades e descobertas da vida e ficasse perdida para sempre naquele que não é senão mais um entre tantos outros momentos de que a vida é feita.
Refiro-me à vida de verdade, que, de tão sentida, me faz perguntar onde estou. Não raro, o cotidiano me perturba, apresentando-me “lugares” tão desconhecidos que eu tenho que apurar os sentidos para perceber se são reais. Mas não adianta, porque é preciso muito mais para se sentir esses deslumbres da vida. Nessas horas, me vem o choro, a inquietação de não saber a direção exata para onde devo ir, e emoções que, por ignorância, chamava de dor. Agora sei que o choro não é de tristeza e que o incômodo é natural quando se está em terreno desconhecido. Então, todos os movimentos acontecem apesar de mim. E minha alma demonstra saber exatamente o que fazer nesses terrenos tão estranhos quanto generosos. Isso também me parece proposital. Diante do espanto com que sou tomada em algumas situações da vida, não fosse minha alma a me conduzir, talvez eu estancasse por puro medo. Perderia, então, a chance de recolher dádivas do Universo. Certamente, isso tudo está longe de ser dor!

sábado, julho 24, 2010

Sempre sabemos o que fazer?

Nos últimos meses, meu maior desafio pessoal tem sido entender e aceitar o fluxo da vida. Vejo quanta beleza há nesse fluir, e me encanto. Leio sábios que falam da não ação, das conexões possíveis quando se abandona o pensar. Experimento. Sinto. Aprendo. Faço da frase “recebo, aceito e agradeço”, um quase mantra. E tudo acontece. Minha vida vai sendo transformada e eu vou experimentando a felicidade em momentos que, outrora, me pareceriam adversos.
Mas, hoje, acordei inquieta. Depois de passar uma semana muito focada em superar desafios que impunham ação e realização, acordei pensando no meu papel diante das muitas ofertas da vida. A chuva cai forte e eu penso na escolha que tenho em me molhar ou não. Em perceber seu barulho e ficar feliz por estar viva ou lamentar a impossibilidade da praia. Tinha me planejado para passar o dia na areia, lendo sob o sol de inverno. A verdade é que sinto alegria porque vou ficar em casa, ler e escrever.
Estar feliz agora, por exemplo, implicou em uma sucessão de ações, que começaram depois que passei um tempo escutando a chuva, dando-me conta de tudo o que ela representa para mim, hoje. Levantei-me da cama sem acordar os meninos, porque adoro o silêncio da casa, peguei o notebook e os livros que quero ao meu lado. Voltei pro quarto. Pergunto-me sobre outras percepções e oportunidades que tenho tido. Preciso de um tempo, sim, para entender do que se trata, numa espécie de contemplação. Mas percebo, cada vez mais, que também preciso dedicar-me ao trabalho árduo para aproveitar o que então havia se descortinado à minha frente como uma bênção.
Então recordo-me das descobertas que tenho feito – e são tantas – e vou listando mentalmente todo o trabalho que preciso ainda fazer para mergulhar em cada uma delas. Alguma são oportunidades maravilhosas que só dependem de mim para virar felizes realizações. Outras não. Nessas últimas, a minha tranquilidade e alegria vem de ter feito todo o possível, com erros e acertos, para que uma possibilidade de “presente” se realizasse. Se não aconteceu, tenho a certeza de que era um processo de aprendizado e repasso a lição aprendida. Tem sido assim, a minha vida.
Inquieto-me porque, escutando o cair da chuva, penso em uma das muitas possibilidades que que me surgiram recentemente. Tão cheia de implicações e, ao mesmo tempo, plena de aprendizados. Um verdadeiro presente. Apronto-me para deixá-la ir. E, quando penso em entregá-la à corrente do Universo, escuto uma voz dizendo "ainda não". Surpreendo-me. Escuto a chuva. Penso nas possibilidades: molhar-se, escutar o barulho, correr para fugir dos pingos grossos... Vejo um guarda-chuva à minha frente. Abri-lo mudará toda a minha experiência desse dia chuvoso.

domingo, julho 18, 2010

O amor está em todo lugar


Há pouco tempo escrevi que seres humanos não caem do céu. Um leitor contou uma história linda pra me dizer que caem sim, e eu tive que rever minha afirmação. Ele está certo: caem do céu e nós, muitas vezes, nem nos damos conta do presente que recebemos do Universo. Esquecemos de agradecer. Empreendendo uma nova jornada em minha vida, reconheço que tenho recebido pessoas maravilhosas em meu caminho. Cada uma, a seu jeito, me dá um pouco de si e se mistura ao que sou, tornando-me mais forte e inteira.
Essas “aparições” chegam com um sorriso, uma mensagem carinhosa, a indicação de um livro, um comentário, um telefonema, um café, um abraço forte, a possibilidade de compartilhar um trabalho, a companhia para um caminhada, entre muitas outras formas. Em comum, o sentimento amoroso que fica em meu coração, e a força que transmitem. De fato, sinto-me “mais grande” a cada um desses presentes que recebo.
Tenho encontrado respostas que procurava há muito tempo, sentimentos que considerava inexistentes, ajuda para continuar quando estou muito cansada e conexões que sequer imaginava possíveis. Estou mais inteira e não me divido mais em duas, três, quatro para atuar em meus diferentes papéis. Cada vez mais, ajo com inteireza, seja como profissional, mãe, amiga, escritora (começo a aceitar esse novo papel), entre tantas outras “atuações”. Acolhendo os presentes da vida, conheci um novo tipo de amor, que se reflete no meu interior, de forma que, às vezes, me pego enlevada de mim. No início, achava que era narcisismo; hoje, acho que é amor próprio.
Confesso que esse transbordamento de amor não é contínuo: há momentos em que dá lugar ao vazio, às expectativas que não se realizam, à vontade de desistir do caminhar, à sensação de solidão. Mas é só uma questão de olhar. Acontece quando me esqueço de quem sou! Relembrando, agradeço e continuo recebendo os presentes da vida e a possibilidade de me sentir tão plena de amor!
*O quadro é da amiga e leitora Eliane @emrismael www.corearte.com , uma das pessoas amorosas que cruzaram meu caminho recentemente.

sábado, julho 17, 2010

De onde vem esse poder?

“Uma mulher bem vestida se sente + poderosa.” Acabei de ler em um anúncio no jornal. Imediatamente pensei: mentira. Se roupa tornasse alguém, de fato, mais poderoso, não conheceria mulheres que, portando uma linda bolsa Louis Vuitton, não têm ideia do que fazer de suas vidas. Mas isso é um detalhe, que só me chamou atenção porque ando tentando responder às perguntas “o que me motiva a trabalhar?”, “o que é o sucesso?”, “o que me faz sentir especial?”. Pode ser que isso tudo esteja muito bem resolvido para algumas pessoas, mas para mim não está.
Andei atrelando o sucesso à minha conta bancária: seria tão bem sucedida quanto o crescimento de minhas receitas. Acho que não. Já tive receitas muito maiores e nenhum sentimento de sucesso. Na verdade, a crença de que dinheiro é sinônimo de sucesso e a grande motivação para o trabalho alinha-se com o slogan que acabei de ler no tal anúncio. E se o que nos move a acordar todos os dias está fora de nós, corremos o sério risco de um dia não ter razão para levantar da cama. Já aconteceu comigo há cerca de sete anos e, desde então, venho, de alguma forma, buscando respostas que só hoje começo a encontrar.
Então o que me move a trabalhar? Lembrei-me de como me sentia, há cerca de 15 anos, em uma oportunidade de trabalho que acabou transformando minha vida, quando descobri que poderia usar o que aprendera na faculdade para ajudar organizações a se comunicarem com seus colaboradores. Cada vez que entrava naquela empresa, sentia-me cheia de luz e (pretensiosamente?) imaginava-me iluminando o trabalho daquelas pessoas. O resultado foi maravilhoso, pra mim e pra empresa, e cheguei a escrever a história daquela indústria, que fazia 25 anos, reunindo depoimentos, textos e fotos num livro que, infelizmente, nunca foi publicado. E o dinheiro? Naquela época, (coincidentemente?) tinha todas as minhas necessidades financeiras preenchidas.
Acho que minhas respostas passam por aí. Tudo muda e cada pessoa tem seus momentos, suas crenças, suas habilidades, mas acredito, sinceramente, que todos nós temos um potencial transformador dentro de nós. E que nascemos pra brilhar. Não importa qual seja a escolha: há os que brilham em casa, no palco, em palanques, em pequenas ou grande empresas, em escolas, em associações. O importante é iluminar. É isso: preciso sentir aquela luz dentro de mim. Irradiar será uma consequência, assim como o aumento do saldo no banco.

quinta-feira, julho 15, 2010

Super-mulheres existem?

Às vezes, tenho vontade de gritar e avisar aos homens que me cercam, especialmente aos meus três filhos, que sou uma mulher normal. Antigamente, adorava quando alguém me chamava de super-mulher; hoje, penso duas vezes antes de agradecer o “elogio”. Porque heróis não cansam, não dormem, têm poderes especiais para lidar com situações que ninguém mais consegue e existem para sanar os problemas da humanidade.
Eu gosto da parte dos poderes especiais, mas, há momentos (e muitos), em que eu desabo e preciso da ajuda de algum ser “super-poderoso” também. Quisera eu ser autossuficiente e viver em voos solos pronta para salvar o mundo. Mas nem de mim dou conta sempre. Às vezes, resisto, mas acabo por aceitar minhas limitações e entrego-me ao cansaço, às frustrações. Preciso dizer que não sou fraca, mas, antes de encontrar minha força, tenho que desabar um pouquinho: depois da queda eu arremeto.
O problema é que minhas criaturinhas, os homens da minha vida, esquecem da minha normalidade. Talvez quisessem mesmo ter uma mãe capaz de salvar o mundo, pelo menos o deles. E isso nem sempre é possível. É claro que há momentos em que eles também querem ser “normais” e dar com os burros n'água como os demais seres humanos, como eu mesma. Mas nem sempre é assim e, por isso, o meu desabafo. Quando eles decidem que não dão conta, nem sempre estou pronta para ajudar.
Revelar-me normal deve frustrá-los e, de certa forma, a mim também. Eles, por acreditarem que a mãe é mesmo uma super-mulher e terem que desmistificar a crença conforme amadurecem. Eu, pelo mesmo motivo! Pensando bem, quem disse que não tenho superpoderes? Até acredito que tenho mesmo! Esse jeitinho de contornar os conflitos e as demandas desses aspirantes a adultos deve ter alguma coisa a ver com uma fonte de energia em um país distante. Ou, quem sabe, em um país que existe mesmo em algum lugar dentro de mim. Mas, também quero ter a licença de ser “normal”, e, pra isso, às vezes, é preciso gritar que trabalhei o dia inteiro, estou cansada e não posso dar contas de questões que estão absolutamente ao alcance deles.
O que tenho visto é que todas as mulheres têm muito de super, inclusive eu, mas que nada lhes confere o dever de lutar contra o mundo sozinhas e em nome de filhos, pais, maridos. Talvez, a maior tarefa das mães seja exatamente a de se revelar como são para si mesmas e para seus filhos, na esperança de que também eles possam, em algum momento, utilizarem-se de seus poderes mágicos.

segunda-feira, julho 12, 2010

Será que sabemos aceitar ajuda?

Na noite de sábado, fiquei triste. Nenhum motivo especial e muitos motivos ao mesmo tempo. Para resumir, acabei a noite sozinha no casarão, com a certeza de que isso se repetirá outras vezes daqui pra frente. Não consegui ler um livro, nem ver um filme e liguei o computador. Também não consegui escrever. Tuitei, meio sem vontade, mais por falta do que fazer (ao lado). Imediatamente, surgiram duas amigas solidárias. Uma delas, disponível para um papo. Só que eu não queria conversar. Ia fechar o computador, quando decidi fazer um esforço para falar o que sentia. Bastaram alguns minutos de conversa para eu mudar o foco e conseguir analisar a tristeza por um outro ângulo.
Como ando colecionando “ferramentas” pra vida, resolvi compartilhar algumas que adquiri, com essa experiência:
  • Nunca estamos sós, nem precisamos estar. - Todo mundo tem medo da solidão, inclusive eu, mas, muitas vezes, a gente se impõe a solidão, por acreditar que não há outra opção. Assim, com essa crença, mergulhamos em nós mesmos quando o que gostaríamos era de poder compartilhar o sentimento, abraçar um amigo. Fazemos o movimento inverso ao que desejamos, talvez para, inconsciente, nos punirmos por algo, porque todos nós também temos nossos cantinhos de culpa. A novidade – pelo menos pra mim – é que podemos fazer diferente. Podemos dizer pra alguém que não queremos ficar sós, que precisamos de uma conversa, ainda que o papo possível seja por telefone ou internet.
  • Compartilhando sentimentos, ganhamos novas possibilidades. - Quando conseguimos dizer o que sentimos para alguém, estamos nos abrindo ao olhar do outro. Essa diversidade nos enriquece porque acabamos enxergando nossas emoções com outros olhos e, portanto, sob novas perspectivas. Além de trazer amorosidade para a vida de ambos, de quem fala e de quem escuta, essa partilha tem efeitos terapêuticos imediatos.
  • É preciso aceitar o outro em nossas vidas. - Nem sempre é fácil aceitar ajuda. De novo, acredito que haja alguma intenção de punição inconsciente, porque nem sempre estamos abertos para as “ajudas” que aparecem em nossas vidas. Resistimos, reclamamos e nos fechamos para depois dizer que estamos sós. Nós sempre recebemos o que precisamos, só nos resta aceitar. Escrevi sobre isso aqui.
* Post inspirado por duas amigas tuiteiras @analimabrava e @lagioconda

    domingo, julho 11, 2010

    Entre um lado e outro

    Sim e não, risos e lágrimas, certo e errado, bom e ruim, grande e pequeno. A vida é cheia de polaridades. E isso faz parte do equilíbrio do Universo, independente de nossas crenças. Em qualquer área da vida, um polo não existe sem o outro. Basta pensar em claro e escuro, para reconhecermos que não haveria vida possível exclusivamente em um extremo ou outro. Buscamos, então, instintivamente e naturalmente, o equilíbrio, que inclui a compreensão ou a experiência das muitas nuances existentes entre um polo e outro e uma dose equivalente de ambos. Acho que acaba sendo assim com tudo na vida. Não entendo, portanto, porque a maioria de nós evita e, às vezes, teme o escuro.
    Agora falo de mim, que sempre evitei gritos, caras feias, confusão, maldade, negações, decepções e tudo o mais que pudesse me fazer chorar ou trazer-me algum incômodo. No fundo, achava que mantendo-me no lado do bem, estaria segura e protegida. E assim fiz minhas escolhas, evitando os obstáculos e as partes sombrias do caminho da vida, aquelas que, na verdade, tinha dificuldade de aceitar. O que eu não sabia é que esses obstáculos fazem parte da vida e integrar o claro e o escuro dentro de mim é parte da minha missão de vida, provavelmente, compartilhada por todos nós.
    Pode parecer óbvio, mas levei algum tempo, para aceitar que todas as polaridades habitavam em mim. Não era uma questão de escolha. Estão todas aqui. Só compreendendo o escuro, posso usufruir realmente do claro e assim, sucessivamente, com os outros extremos que co-existem em mim. Está sendo um processo longo e, pelo visto, contínuo. Hoje, em coisas corriqueiras, como um não, percebo uma oportunidade de amadurecer e me pergunto: por que não passei por isso antes? Evitando confrontos, não se deixa de sofrer, deixa-se de viver.
    Agora, vejo que cada negativa me fortalece; cada fracasso me prepara para o sucesso e cada desencontro me conduz ao verdadeiro encontro ou a mais um bom encontro. Também me pergunto se isso é hora de aprender. Acho que estou atrasada para uma moça de 43 anos, mas então me dou conta de que estou de novo em um dos polos da vida e de que há muito mais entre os conceitos de tarde e cedo do que “possa supor a minha vã filosofia”.


    “Não desanimo, porque cada tentativa errada que descarto é mais um passo a frente.” Thomas Edison
    * O quadro é da amiga e leitora Eliane @emrismael www.corearte.com

    sábado, julho 10, 2010

    Palavras, onde estão?

    Hoje as palavras não estão do meu lado. Não esvaziam o meu peito e a minha mente. Ia brigar. Travar com elas a luta dos desesperados que, por não saberem o que fazer, procuram o embate. Veio a lucidez. Não vou brigar. Vou saborear as palavras que me chegam como presentes. As de hoje não são muitas, mas estão aqui. Aparecem lentamente. Esvaziam-me vagrosamente.
    Possível, possibilidades, multiplicidades. Sigo em meu imenso caleidoscópio colorido. Sim, sou multicor. Não me venha reclamar de excessos. Ao menos não tenho a monotonia. Leve, plumas pairam sobre o ar. Balançam à minha volta. Transportam-me. Sou eu, agora, pairando pelo ar. Viajo sem tocar os pés no chão. Às vezes, é preciso. As palavras aproximam-se, minhas amigas.

    sexta-feira, julho 09, 2010

    Para que mais?

    Os excessos têm sido a causa de muitos males. Talvez neles resida a maior parte dos problemas da humanidade atual. Exagero? Não! Basta refletir sobre o que as pessoas têm feito em prol de si mesmas para obterem mais e mais. Em todas as esferas da vida, há quem queira mais e mais. O que ocorre é que, quando se tem mais do que precisa, tira-se algo de alguém. Desequilibra-se uma balança que rege o fluxo da vida. Quando desequilibrada, essa balança dá origem ao caos social que se experimenta hoje.
    Que excessos há em sua vida? Eles começam com o simples uso irracional de recursos naturais. Hoje corre-se o risco de habitar-se um planeta desprovido de águas limpas, busca-se novas fontes de energias e vê-se a deterioração de belas paisagens naturais pelos excessos cometidos contra a natureza de onde ainda se extrai mais e mais.
    Nas relações humanas, vemos o mesmo tipo de abuso que gera um sentimento corrente de desconfiança. Isso para não falar daqueles que à custa de práticas desonestas, em qualquer proporção - pois não há diferença entre “se dar bem” com um real ou com um milhão - acumulam bens que deveriam estar nas mãos de outros.
    Há muito o que se refletir, porque todos nós, em alguma medida, cometemos excessos que contribuem para desequilibrar essa balança pojetada pelo Criador. Se não gostamos das consequências que experimentamos hoje, que tal fazermos nossa parte? Pode ser que perdendo algo estejamos ganhando e contribuindo para um mundo mais fraterno.
    * Texto/mensagem enviado por um amigo

    quinta-feira, julho 08, 2010

    Os amigos imaginários de Ana Luiza (e de todos nós)

    "A minha imaginação é minha melhor amiga; meus animais nunca me deixam sozinha." A frase é de Ana Luiza, 5 anos, filha de uma amiga do trabalho. Ficou ao meu lado enquanto eu trabalhava no notebook e quando perguntei se gostaria de desenhar pra passar o tempo, ela disse que não. Afirmou que preferia brincar com sua imaginação. Daí em diante, surgiram, em uma sala de 12 metros quadrados, cavalos, um cachorro chamado Pluto que fez cocô na minha cabeça porque estava muito apertado, ratos amigos que saem da mesa e sobem pelo braço, um macaco que se balança no lustre, entre outros animais.
    Nada de tédio ou reclamações. A menina estava acompanhada de seus melhores amigos com quem divertia-se e conversava. Fico pensando que todos nós, em algum instante de nossas vidas, já colecionamos amigos imaginários. É o recurso que, crianças, usamos para enfrentar momentos em que simplesmente não há muito o que fazer, senão deixar a vida passar. Sem angústia com solidão ou a falta do que fazer. Como Ana Luiza, quando estava ao meu lado, esperando paciente e criativamente a mãe aplicar provas aos alunos para levá-la pra casa.
    O que me pergunto é porque a maioria de nós perde, quase  completamente, a capacidade de imaginar. Os fatos reais tornam-se a única possibilidade de nossas vidas, ainda que a ciência esteja produzindo provas cada vez mais contundentes de que a realidade. como a maioria de nós concebe, pode ser recriada a partir de nossas crenças e sentimentos. Quando crianças, conservamos a capacidade de recriar o nosso mundo. Está certo que faz parte do amadurecimento e da transformação em seres adultos o desenvolvimento de competências internas para lidarmos com a realidade de forma saudável, embora nem sempre agradável. No entanto, estou certa de que conservar uma pouco da imaginação infantil – habilidade inata - para recriar momentos e evitar sofrimentos desnecessários seria um recurso saudável e ao alcance de todos nós. Agora, paro de escrever porque o macaco da Ana Luiza joga baseball pela sala e eu vou brincar com ele também!

    terça-feira, julho 06, 2010

    Príncipes e princesas: quem são?


    Vi ontem, sem poder fazer muita coisa, uma amiga com idade pra ser minha mãe chorar por causa de um namorado recém-arrumado que não responde há 15 dias às ligações telefônicas. Também ouvi as queixas de uma outra que há cinco anos mantém um casamento cujo pano de fundo é a total indiferença do marido e a consequente ausência de vida sexual. Em comum, ambas têm a falta de consciência de quem realmente são. Uma delas, inclusive, confessa que se acha horrível – embora seja uma mulher atraente – e desinteressante, incapaz de atrair o olhar de alguém.
    Sei que as duas histórias replicam-se aos milhares no nosso universo feminino e isso me entristece. Até porque já fiz parte do grupo daquelas que não acreditam em si, do qual saí com muito esforço. Porque é tão difícil reconhecermo-nos como pessoas singulares com defeitos e inúmeras virtudes que podem atrair um sem número de pessoas, inserindo-nos em uma rede de amigos sinceros? Porque a maioria das mulheres acreditam, bem lá no fundo de si, que a felicidade virá com um gentil cavalheiro montado em um cavalo branco, como no filme “Uma Linda Mulher”? Eu também gostaria de ver Richard Gere, mesmo grisalho, com uma rosa vermelha aos meus pés, mas juro que não preciso dele nem de nenhum outro príncipe pra ser feliz.
    A tristeza das minhas amigas, que é compartilhada por muito mais mulheres do que eu posso imaginar, é a razão da existência de um sem número de livros de auto-ajuda com títulos do tipo “Porque os homens amam as mulheres poderosas”, “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?”, “O que os homens dizem, o que as mulheres ouvem”, “O que os homens querem e as mulheres precisam saber”, que encontrei numa busca rápida numa loja virtual. Só que nenhum deles, por melhor que seja, responderá à questão mais básica: por que as mulheres não confiam em si mesmas? Por que acreditam, muitas vezes, que só serão felizes quando estiverem ao lado de seus príncipes, ou de algum substituto que o valha?
    Longe de ser autoridade no assunto, acabei descobrindo, depois de 22 anos de relacionamento com o mesmo homem, que não há mágica maior do que a descoberta de si mesmo. Tenho amigas que desconfiam dessa afirmação e afirmam que uma boa conta bancária é suficiente para uma vida feliz. Mas eu nem levo isso à sério, porque essas, invariavelmente, deixam de pensar para se dizerem felizes e, quando começam a pensar, jamais recuperam o tempo perdido. Mas não há outro jeito. Estou convencida de que a busca de si é o que vai render a cada uma das mulheres (e aos homens também) a autoconfiança necessária para descobrir-se feliz, mesmo longe do príncipe (ou da princesa).
    E tem mais: se o príncipe, por ventura, aparecer, a mulher que se reconhece como tal, independente da idade, do tipo de corpo, da conta bancária e da classe social, terá muito mais chance de desfrutar de um bom relacionamento. Sapo ou príncipe é uma questão de ponto de vista, acho eu. Do contrário, acabará como Gata Borralheira, vendo o seu príncipe procurar a felicidade ao lado de outras Cinderelas. Mas isso é assunto prum outro post.

    segunda-feira, julho 05, 2010

    Cartas pra Julieta: quem está à procura de um Romeu?

    Me acabei de chorar vendo o filme Cartas pra Julieta. Tão lindinho, o romance com direito a happy end. Adorei! Era o que precisava mesmo. Não queria um filme denso que me revirasse do avesso, mas pra mente inquieta qualquer motivo é motivo e saí do cinema com os olhos inchados pensando no que leva as pessoas a desacreditarem da felicidade. Tema recorrente na semana passada, aqui no Coisas de Valor, essa história de busca da felicidade tem me dado assunto pra pensar. Como se eu precisasse de algo mais pra preencher a mente.
    Não sei onde começou essa história de que a felicidade não existe, mas vou confessar que, depois de refletir muito, decidi por acreditar que a felicidade existe. Pra mim, ela é concedida aos que se acreditam merecedores, mas por períodos controlados, de acordo com a capacidade de cada um. Se fosse distribuída sem critérios e controle de dosagem, acabaria se transformando no novo mal do século, porque causaria dependência e alucinações. Portanto, ela existe e é ministrada em doses precisas e individuais.
    A descrença, no entanto, na existência desse sentimento sublime e simples, é o que leva a maioria das pessoas a desperdiçarem suas doses. O filme fala um pouco disso quando mostra mulheres que recorrem aos conselhos de uma apaixonada Julieta shakespeariana para lidarem com suas relações. É de apavorar, considerando que Julieta suicidou-se por amor. Mais apavorante ainda é reconhecer que nós, como seres em pleno processo de evolução, também agimos muitas vezes como Julieta, abdicando da própria vida por algo que acostumamos a chamar de amor.
    Talvez, essa também seja a causa da popularização de ditos do tipo: “ruim com ele, pior sem ele”, “melhor um pássaro na mão do que dois voando” entre outros que, graças a Deus, esqueci. Afinal, se não podemos ter muito, devemos nos contentar com pouco, certo? Não sei quem incutiu isso na humanidade, limitando nossas potencialidades. Às vezes, me pego duvidando e repito: “quem tudo quer nada tem”. Será? Então para que sonhar com voos mais altos? Chega! Decidi acreditar que posso fazer diferente, embora ainda trema diante das muitas vozes contrárias que escuto. Alguém disse que a unanimidade é burra; desculpe-me, não faço parte dela!

    domingo, julho 04, 2010

    A menina e o pato - Parte II

    Quando chegava da escola, ia correndo chamá-lo com um assobio que só ele atendia. E, durante o resto do dia, era ao lado dele que ficava. Almoçava com ele ao pé, depois fazia as lições de casa no quarto ou no quintal, sempre em sua companhia. Nos dias de calor, gostava de ficar na sombra das árvores do lago, onde lia seus livros de histórias. Às vezes, lia em voz alta e o pato parecia entender. Quando nadava no lago, ele também acompanhava. Precisavam da companhia um do outro, apesar de terem seus amigos e familiares. Sim, porque o pato também tinha o seu grupo: pais, irmãos e amigos. Era com eles que ficava boa parte do tempo, mas, quando possível, largava tudo para estar na companhia da menina.
    A menina, por sua vez, não deixava de lado os amigos da vizinhança. Brincava, passeava, catava frutas no pomar do vizinho, ia à igreja para as aulas da catequese, mas, quando podia, fazia-se acompanhar de seu novo amigo. Já tentara levá-lo à igreja, para a missa de domingo. Ele demonstrara, naquela ocasião, bom comportamento, mas o padre e os demais fiéis não suportaram dividir o sagrado momento da missa com um pato. Rejeitaram o bicho e o padre pediu gentilmente à menina que não o levasse mais à igreja. Ela nem retrucou. Sabia que as pessoas achavam esquisita aquela amizade com o pato. Fosse ele cachorro ou gato, talvez não reclamassem tanto, mas um pato? Era a pergunta que faziam. Como alguém pode querer andar com um pato?
    Ela queria! Gostava da atenção que o pato lhe dava. Não lhe importava que os outros achassem-na diferente. As críticas não a incomodavam, desde que estivesse ao lado do pato. E foi exatamente assim que a menina cresceu, entre a companhia do pato e dos amigos que, com o tempo, acostumaram-se com aquilo que chamavam de esquisitice. Inúmeras vezes, o pato sentava-se nas rodas de amigos, como bom ouvinte das conversas de adolescentes. Nem o primeiro namorado, nem o noivado vindouro afastaram a menina da ave.
    Sofreram um pouco, inicialmente, a menina-mulher e o pato, ao afastarem-se para dar lugar ao recém-chegado companheiro. Mas este também afeiçoou-se. Não se sabe se o próprio animal conquistou o rapaz ou se foi aceito por amor à moça; o fato é que os três eram vistos juntos na beira do lago e até na praça da cidade.
    * Fim. Pensei em continuar contando que eles foram felizes para sempre, criaram os filhos com o pato até que ele morreu de morte natural (o pato vive até 28 anos e amado desse jeito deve viver mais). Depois pensei em matar o pato, assá-lo e servi-lo em família sem que ninguém soubesse que era o tal pato, obra de uma cozinheira psicopata empregada pela moça. Na dúvida, coloquei o ponto final.

    sábado, julho 03, 2010

    A menina e o pato - Parte I

    Não se entendia porque, dentre tantos animais, aquela menina elegera justo o pato para objeto de sua afeição. Onde se via a menina, via-se também o pato, que a seguia como um cão daqueles criados dentro de casa. Quando ia à escola, ralhava com a ave para que ela ficasse dentro da fazenda, mas permitia, feliz, que ele o acompanhasse até o portão. Ela mesma sentia-se um pouco mal ao deixar de lado os outros animais de que cuidava, mas a afeição mútua acontecera naturalmente, valendo-se da pureza e da ingenuidade de animal e criança.
    A menina era responsável pelos animais pequenos da propriedade, cuidada pelo pai. Eram três cachorros de raça indefinida, alguns coelhos e galinhas, que ficavam em seus respectivos viveiros. Houve tempo em que o objeto da atenção era um dos cães. Recém-recolhido da rua, o vira-lata conquistou o coração da garota e a acompanhava por onde andava. Mas, como outras relações, essa também foi ficando puída pelo tempo. Gostavam-se, é certo, mas haviam encontrado outros interesses. O vira-lata brincava com as galinhas quase o dia inteiro. As aves pareciam divertir-se com as corridas do cachorro e revidavam com algazarra e pequenas corridas. Enquanto a menina, passava seu tempo com a nova ninhada de coelhos.
    Mas o que acontecia desde o último verão atraía a curiosidade dos vizinhos. Era a amizade entre a menina e o pato. O pato era um dentre vários a quem ela alimentava diariamente. Como tudo começou, nem ela mesma saberia dizer. Talvez numa das manhãs em que cumpria suas tarefas diárias. Trocando água, vistoriando e alimentando os bichos. O fato é que o pato aproximou-se e ela deu-lhe um quinhão a mais de ração. Ele gostou e foi ficando por perto, deixando de lado os seus. Daí em diante, o pato não a deixou mais. E ela passou a dedicar-lhe uma atenção especial.
    Continua no domingo (amanhã)
    * Amigos, volta e meia me aventuro com historinhas, mas fico muito tímida quando penso em mostrá-las. Tomei coragem e, a partir de hoje, publicarei uma delas no fim de semana. Esta já entrou e saiu da tela do meu notebook umas muitas vezes e, por isso, será a primeira da série! Conto com os comentários sinceros.

    sexta-feira, julho 02, 2010

    Balada do Louco

    Hoje escutei de novo a história que me assombrou esta semana, sobre minha insistência em querer ser feliz. Fico me achando mesmo meio louca e me pergunto se não direi mais a frente que eu era feliz e não sabia. Às vezes, sinto medo desse povo ter razão. Fui caminhar na praia, pensando porque a felicidade incomoda tanto a grande parte das pessoas. Escutei essa música, composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee. Sinal de que há outros loucos espalhados por aí!



    Dizem que sou louco por pensar assim
    Se eu sou muito louco por eu ser feliz
    Mas louco é quem me diz
    E não é feliz, não é feliz
    Se eles são bonitos, sou Alain Delon
    Se eles são famosos, sou Napoleão
    Mas louco é quem me diz
    E não é feliz, não é feliz
    Eu juro que é melhor
    Não ser o normal
    Se eu posso pensar que Deus sou eu
    Se eles têm três carros, eu posso voar
    Se eles rezam muito, eu já estou no céu
    Mas louco é quem me diz
    E não é feliz, não é feliz
    Eu juro que é melhor
    Não ser o normal
    Se eu posso pensar que Deus sou eu
    Sim sou muito louco, não vou me curar
    Já não sou o único que encontrou a paz
    Mas louco é quem me diz
    E não é feliz, eu sou feliz

    Somos todos um

    Quando vi o filme Avatar, de James Cameron, gostei muito da referência ao fato de que tudo no Universo está interligado. Cheguei a escrever um artigo pro site da Associação Brasileiro da Comunicação Empresarial (ABERJE) sobre o assunto, citando fontes científicas sobre a teoria de que “somos todos um”. Nem gosto de chamar isso de teoria, porque, desde que comecei a me interessar pelos conhecimentos dos nossos ancestrais, especialmente os indígenas, acredito que essa interligação do todo seja a própria essência da vida.
    No entanto, essa percepção de que tudo nos implica ainda me surpreende. Acho que, quando nos integramos à corrente da vida, abrindo os corações e demais canais sensitivos de que muitas vezes nem nos damos conta, ficamos mais expostos e ampliamos a capacidade de sermos afetados e de afetarmos. Pergunto-me porque muitas pessoas não conseguem ter essa percepção e continuam vivendo desavisadamente, como se a existência estivesse circunscrita ao alcance da visão. Quem sabe não seja essa uma forma de proteção, uma vez que, “abertos”, perdemos a possibilidade de escolher entre alegrias e tristezas. Com o tempo, obviamente, aprendemos a lidar com tudo o que nos chega, mas não há como desenvolver uma exposição seletiva.
    O motivo dessa reflexão foi uma notícia ruim, recebida por uma pessoa querida ontem, sobre a saúde de um parente próximo. A princípio, não tem nada a ver comigo. Sequer conheço o doente. Mas fiquei abalada. Pedi ajuda, de acordo com minhas crenças, e me senti como sintonizada com a pessoa acamada. Não pude evitar um pouco de dor, mas talvez essa seja também uma forma de enviar energias de saúde e amor para quem precisa. Se isso não ocorreu, posso garantir que, de alguma forma, naquele momento, ao menos conectei-me ao sofrimento daquele que conheço e, para ele, fluiram ondas de amor que sempre reverberam por outros lugares. É pouco o que faço, restrita por minhas limitações, mas, se todos somássemos conexões amorosas como essa, teríamos um mundo muito melhor. Com certeza!
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