quinta-feira, dezembro 31, 2009

Eu recebo, aceito e agradeço!

O que você faria se a sua frente surgisse repentinamente um estranho e colocasse nas suas mãos um precioso diamante? Sei que algumas pessoas sairiam correndo com a pedra e levariam-na ao joalheiro mais próximo, mas grande parte das pessoas ignoraria o estranho e desconsideraria o presente, por não acreditar que, do nada, pudesse cair em suas mãos tamanha riqueza.
É que, para recebermos presentes, precisamos estar receptivos. Parece óbvio, mas não é. Há muitas pessoas que reclamam da vida, mas que jamais se abrem a mudanças. Muitas mesmo! A vida está sempre entregando presentes de todos os tipos, mas ainda escuto dizerem que a vida é injusta ou então que tudo que estão passando foi vontade de Deus. Sempre me pergunto o que Deus tem a ver com a desgraça alheia. Acredito que sejamos responsáveis pelo que nos ocorre pelo simples fato de que somos semelhantes à Divindade. E essa afirmação está na Bíblia e em muitos outros livros sagrados. Ora, se somos centelhas divinas, por que haveríamos de estar destinados à tristeza e ao sofrimento? Por que não somos capazes de, a qualquer momento, recriar nossa realidade?
Nesses últimos meses de 2009, aprendi – não sem um pouco de dor – que posso, de fato, criar a minha realidade. Modificando e rompendo com o que não me faz feliz, recebendo diariamente os presentes com que a vida me brinda. Mas pra isso é preciso coragem para descartar o que não me serve mais. As amarras e os pactos, muitas vezes feitos através de crenças e valores que não nos trazem mais felicidade ou que não combinam com a nossa essência, são o grande impedimento para a conquista de novos e melhores dias.
É claro que já li isso em muitos lugares e, se é simples assim, por que ainda duvido muitas vezes? Por que há dias em que olho pro céu e acho que tem algo errado comigo? Nesses momentos, se eu conseguir me acalmar, vou perceber que há uma sombra que me distancia de mim mesma e saberei dissipá-la. A sombra, assim como a luz, está em todos os lugares. Ao percebê-la, tenho o poder de transmutá-la e de voltar a me conectar comigo mesma.
Mas e os presentes da vida? Também descobri que preciso aprender a aceitá-los. Por que desconfiar de presentes preciosos só porque chegaram inesperadamente e sem programação? Muitas vezes, em função de muitas experiências e ensinamentos do passado, julgo-me inelegível ao que a vida me oferta e, sem perceber, rejeito o que recebo. Hoje, com muito esforço, começo a me achar digna de receber todos os ricos presentes a que tenho direito. E tenho certeza de que são muitos.
Aprendi que devo confiar no fluxo da vida e aceitar, receber e agradecer todas as bênçãos que recebo. Recebi muitos convites para um 2010 feliz, mas isso implica em romper com laços que já não tem nenhum significado, mantidos pelo hábito e pelo costume. Muitas vezes, tenho medo da renovação, mas quando reconheço esse sentimento, posso enfrentá-lo com a confiança de que há no Universo presentes preciosos reservados, não só para mim, mas para todos que se acreditam merecedores.
Então, esse é o meu convite à felicidade, nesse novo ano. Porque é preciso renovar sempre. Então, como naquela velha propaganda de desodorante, se um estranho lhe oferecer flores: RECEBA, ACEITE e AGRADEÇA.

domingo, dezembro 27, 2009

O que se pode esperar do outro?



Meu mp3 sumiu. Aliás, um fato totalmente compreensível para quem anda guardando celular em geladeira e procurando, pela casa, chaves que estão no bolso. Daí que as pedaladas na praia ganharam um sabor especial, já que, em vez de músicas e palestras, fico escutando minha própria voz, num engraçado colóquio comigo mesma. Às vezes, sucedem-se perguntas e respostas num diálogo interno divertido.
Um dia desses, depois de algum tempo nesse movimento, resolvi calar todas as vozes e observá-las, como se fosse um espectador externo. Percebi tantas pessoas dentro de mim que eu fui fazendo uma lista de chamada. A menina chorosa e mimada apresentou-se logo, porque adora chamar atenção e faz birra quando contrariada. Mas, em seguida, descobri uma mulher linda e muito vaidosa, outra zen, uma fútil, outra erudita, a popular, a requintada, uma outra forte e poderosa de voz firme e nada manhosa e por aí fomos. Apresentamo-nos umas às outras.
Tudo isso foi para responder a uma pergunta que fizera a mim mesma sobre o que se busca em outra pessoa, que se constitui no ingrediente mantenedor de um relacionamento de qualquer sorte. O que é capaz de garantir o sucesso e o fracasso de uma relação? Por que certas relações deterioram-se com o tempo? E por que muitos esperam que o outro preencha todas as lacunas de que não se acham capazes de preencher por si só?
Bom, depois de me apresentar a tantas pessoas que habitam dentro de mim, pensei que não precisaria buscar coisa alguma em alguém, fossem eles amigos, marido, filhos, pais... Em termos de diversidade, eu sou suficiente para promover uma festa. Lembrei até de Clarice Lispector, que usava o termo de que mais gosto para definir seus/meus múltiplos “eus”: “Sou caleidoscópica.” Mas isso não significa ser autossuficiente.
Pensei que talvez busquemos no outro, o que não temos coragem de buscar em nós mesmos e que talvez seja essa a origem de tantas decepções e assunto de um próximo post. Mas, se reconheço o outro como um ser também múltiplo e completo, talvez o resultado de um bem aventurado encontro seja uma verdadeira festa de “eus”, onde cada um traz a si mesmo de forma integral, buscando apenas o compartilhar do dia a dia e a complementaridade de sua própria existência.
Talvez, só talvez, porque respostas nessa área são sempre imprecisas, possamos reduzir o número de desencontros e as decepções de toda a ordem. Afinal, se me reconheço como pessoa plena e múltipla, libero o outro do encargo de me completar e busco somente o compartilhar das minhas experiências, com menos ansiedade e cobranças. Tudo vira uma grande festa. Talvez...

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Tenda do Suor


Não posso falar do xamanismo com muito conhecimento de causa, mas escrevo com amor pela causa, pois, toda vez que experimento um pouco daquilo que nossos ancestrais assumiam como verdade para suas vidas, entro em contato com a grande energia amorosa que envolve todos os seres da Terra. E foi assim, ontem, ao participar de uma tenda do suor conduzida pelo xamã carioca Carlos Sauer. Como muitos amigos fazem perguntas, resolvi escrever a respeito.
Dizem que, no passado, as mulheres isolavam-se, no período menstrual, na Tenda da Lua, onde rezavam e ensinavam umas às outras, compartilhando suas intuições e conhecimentos e honrando seus dons. Os guerreiros reuniam-se em algo equivalente, que se chamava Tenda do Suor. Com a perda da tradição da tenda feminina, em algum momento, a Sweat Lodge passou a ser adotada como ritual de purificação de mente-corpo-espírito por ambos os sexos.
Nos links e na internet, há farta explicação sobre o que é a tenda, hoje, e de como esse ritual é conduzido. Então, escrevo sobre a minha experiência, pois, para mim, cada tenda é única e cheia de surpresas. Nunca sei o que acontecerá e como sairei depois de suar. Essa última do ano foi especial e cheia de significados. A começar pela escolha do condutor em trabalhar a energia feminina. Foi uma tenda muito suave, onde pude sentir, mais uma vez, energia acolhedora da Mãe Terra.
Desde o momento em que recebi o tabaco para saudar o fogo, senti, no meu ventre, a força da fertilidade e da criatividade feminina, que resgataram dentro de mim a perplexidade que tenho diante do milagre da concepção humana. O sentimento ajudou-me a reintegrar minha condição de mãe e de filha, agradecendo ao Universo os meus dons e a minha capacidade de procriar. Parece engraçado uma mãe de três filhos falar de procriação, mas foi essa a energia que senti muito forte nas primeiras rodadas, como se chamam as sessões de recebimento das pedras que aquecem a tenda. As rodadas assemelham-se a portais, tradicionalmente em número de quatro, segundo os quatro pontos cardeais.
No oeste, propício para trabalhar os medos e as sombras, tive uma visão que se assemelhava a um grande presente do Universo e o aviso de que é preciso desapegar do passado para viver o presente, com todos os significados que essa palavra carrega. Aquilo que chamam, em muitas culturas, de dar lugar ao novo ou de praticar o desapego. Os mestres e guardiões fizeram o seu trabalho, pois renovar-se e renascer exige um desprendimento que nem sempre nos permitimos. Ninguém caminha conservando amarras do passado, mas poucos têm coragem de desfazer os laços dessas amarras.
Com a limpeza feita, senti-me acolhida pela sabedoria de meus antepassados no Norte, pronta para renascer ao sair da tenda, que é a representação do útero feminino, no seio da Mãe Terra. Saí das quatro rodadas sentindo-me a mais abençoada das mulheres. Mas havia mais. Há sempre prêmios para a persistência... Como o grupo era muito grande, haveria mais três rodadas, para possibilitar a participação dos demais. Eu estava muito bem, suave, como já disse, e continuei.
A primeira das rodadas que se seguiram fortaleceu a conexão com o Grande Espírito e possibilitou-me grande esvaziamento da mente e relaxamento, lembrando-me do que a entrega ao fluxo da vida e o desapego a valores que não fazem parte da minha essência podem proporcionar. Em seguida, a Mãe Terra foi o foco e seu acolhimento a mim foi tão intenso que eu cochilei em seus braços, numa viagem de cura. Depois, numa última rodada, foi a vez do coração e das emoções que ele encerra, num convite a reconectá-lo ao coração da Mãe Terra. Assim, saí da tenda muito mais fortalecida e pronta para o novo ano que vem por aí.
Para 2010, convido os amigos a compartilharem dessa experiência comigo.

sábado, dezembro 19, 2009

Completos ou complexos?



Estava pensando, hoje, nas características de um novo e dadivoso acréscimo ao meu rol de relacionamentos. Detive-me no atributo de compartilhar que faz essa pessoa conduzir a vida de uma maneira bem diversa de mim, mais dada à introspecção e às atividades solitárias. Ao dividir ideias, processos de aquisição de conhecimento, experiências e até um blog, que para mim, até então, era uma atividade pessoal, me parece que ela possibilita trocas que enriquecem sua caminhada, em todos os níveis da vida.Cheguei a me perguntar se uma pessoa assim não estaria, por vezes, fugindo de si mesmo e das revelações que a experiência profunda de seu espaço interno poderiam trazer-lhe.
A resposta é: não importa. O importante, penso, é a coragem de se expor, num processo cheio de riscos. Através do partilhar e do encontro com o outro, com certeza, ela obtém imagens de si que a fazem se perceber de forma diferenciada e acessar lugares recônditos de seus ser. Não existe certo ou errado nessa seara. A forma que escolhemos para viver algumas de nossas experiências de vida é propiciada pelos fatos/oportunidades com que nos deparamos, sendo, portanto, a reação que nos é possível diante deles.
O que me encanta, nisso tudo, e a razão deste post, é a capacidade de complementaridade com que somos brindados quando aceitamos o outro em nossa vida sem restrições. De alguma forma, ela, mais afeita a partilhas e eu, ainda aprendiz nessa história de trocas, encontramo-nos pela vida. E, de repente, processam-se novas descobertas, aprendizados e experiências que complementam nossos “viveres”. Deve ser por isso que tenho amigas tão diferentes de mim, o que algumas pessoas insistem em recriminar: “como você pode ser amiga de fulana?”. Complementamo-nos e, assim, transformamo-nos em pessoas mais fortes e inteiras.
O resultado desses encontros é sempre uma surpresa, um risco. Nunca sabemos o que vai nos acontecer quando trilhamos um novo caminho, mas de uma coisa tenho certeza: nunca mais serei a mesma pessoa! A transformação, quando nos deixamos “atravessar” pelo outro, é inevitável e, muitas vezes, inesquecível! Isso faz sentido, também, pra você?

domingo, dezembro 13, 2009

Coisas de valor: Relações e expectativas, sonhos e decepções

Coisas de valor: Relações e expectativas, sonhos e decepções

Relações e expectativas, sonhos e decepções

Demora um tempo (pra não dizer muito tempo) para aprender que as pessoas não são o que gostaríamos que fossem e que nós estamos longe de ser o que elas gostariam que fôssemos. Parece óbvio, mas não é. Tenho observado muito as pessoas e a mim mesma nesse último mês e estou quase certa de que a raiz da grande maioria dos problemas de relacionamento está nas expectativas criadas por um e outro, que nunca correspondem à realidade. Mesmo considerando que a realidade é relativa...
Vejo duas dificuldades importantes. A primeira, reside no reino da fantasia. E aqui, falo pelas mulheres. Qual de nós não sonha com o príncipe encantado nos arrebatando da torre onde nos encastelamos ou das garras da bruxa má? Está no insconsciente coletivo. De minha parte, já vi muita mulher bem resolvida, determinada, independente e inteligente deixando-se levar por histórias singelas, depois de jurar de pés juntos que jamais se deixariam enganar novamente. Não precisava aparecer o Richard Gere num cavalo branco, bastava um símbolo qualquer que detonasse aquela imagem em seu insconsciente para que ela esperasse que o próximo passo do sujeito trouxesse a salvação.
Enquanto o homem estava apenas agindo por instinto e desejo, a mulher estava sonhando e esse conflito de expectativas era mais do que suficiente para alavancar o afastamento dos dois. Sonhos desfeitos de um lado e, do outro, também decepção. Mas quem escreveu os contos de fadas? Não eram homens? Taí uma coisa que não entendo... Esse processo de construção do inconsciente feminino coletivo.
Muitas mulheres estão pedindo socorro, mas não sabem o que fazer quando chega a sonhada liberdade. Para a maioria, o sonho com o cavaleiro encantado faz parte de sua própria estrutura. Há muito o que desconstruir e desmistificar.
Nessa nova ordem social, penso que a segunda dificuldade é a de dialogar. O quanto todos poderíamos aprender se exercitássemos, desde os primeiros sinais de conflito, a arte da conversa, franca, aberta, honesta. Talvez não fôssemos bem-sucedidos da primeira vez, mas a simples tentativa faria de ambos os interlocutores pessoas mais preparadas para relacionamentos futuros. A cada tentativa, um novo aprendizado e um novo passo na direção da construção de um relacionamento mais satisfatório.
Mas poucas pessoas se dão a chance da exposição, que é dolorida e arriscada. A incompreensão e a ridicularização são riscos iminentes daquele que decide jogar com outras armas o jogo dos relacionamentos e visar o seu crescimento pessoal, acima do jogo da conquista e da sedução.


segunda-feira, dezembro 07, 2009

O voo dos pássaros



O passarinho se aproximou. Sua visão é meu deleite. Me aproximo lentamente para não assustá-lo e poder observá-lo bem de perto. Quero ver a cor das penas, o mover nervoso do pescoço e, em seguida, a imobilidade, quando ele também parece querer se apropriar da visão que tem de mim, ali tão perto. Os dois, imóveis, transformam o tempo. Frações de segundos são horas para quem sabe perceber a infinitude da instantâneo. Perdemo-nos, ele e eu, no instante.
Tenho medo até de respirar, porque acho que basta um único movimento para que ele voe em direção a muito longe. E quero-o perto, próximo de mim. Só assim posso captar os seus movimentos, perceber seus sentimentos, arriscar seus pensamentos. Tão perto assim, faço parte da sua vida, ainda que por instantes. Sou pássaro também, metamorfoseando-me sem nenhum temor. Com ele, crio asas, feliz, encontrando a sonhada liberdade. Assim, se ele voar, posso acompanhá-lo por algum tempo. Aproveitamos as portas entreabertas, invadimos pela janela aquelas mantidas fechadas. Rimos do que vemos e comentamos cada nova vida espreitada. Seja de porta ou janela. Vivemos outras vidas, voando com nossas asas.
Tão bom estarmos juntos que – sempre por instantes – esquecemos que devemos voltar. Deixe-me esquecer de tudo, ainda que brevemente. É porque, junto daquele passarinho, agora, avisto tudo o que sonho. Surpreendo-me com a beleza de outros milhares de instantes. Sinto uma felicidade imensa e, vejo nos seus olhinhos nervosos, que também está feliz. Temos a eternidade em nossas vidas tão diversas. E ela é feita de instantes. Como esse de que desfrutamos por ora.
Inspira-me tanto amor, que já não ouso me mexer agora. Pode ser que ele saia voando e eu nunca mais possa alcançá-lo. Agora que está tão perto, deixa eu só admirar – respiração presa, visão congelada. Quero ficar por aqui só amando. Assim, o céu azul nos dará abrigo e a grama do jardim, repouso. Sim, porque haverá hora em que não se poderá mais voar. Estaremos sós, recolhidos ao nosso cotidiano tão igual. Ele estará, então, batendo asas. Mas hoje, nenhuma companhia chegará com tanta satisfação. Nada fará com que ele se esqueça de mim.
Caminho em direção à porta que me espera. Vou sem você, que, em outras direções, bateu asas. Ficarei aguardando um novo encontro, meu e seu. Mulher e pássaro. No azul do céu. Nos milhares de instantes de que é feita a vida.
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