sábado, fevereiro 27, 2010

O sagrado feminino em Anticristo

Há meses recomendaram-me que visse Anticristo, o último filme de Lars Von Triers. Lá fui eu. Vi até o fim, mas, ao final, fui tomada por uma raiva tão grande que eu não conseguia entender. Chorei de raiva e jurei pensar duas vezes antes de aceitar outra dessas dicas enfáticas de amigos. Com algum esforço, consegui dormir. O que aconteceu à noite eu não sei, mas ao final da minha corrida, no dia seguinte, peguei o filme e deixei na casa da minha vizinha, com mil recomendações para que não deixasse de assisti-lo.
O que mudou? Aceitei a raiva que sentia e compreendi que era uma raiva ancestral, natural e acumulada ao longo dos anos de subjugação de mulheres na nossa sociedade ainda patriarcal. Lembrei-me de que o amor é uma qualidade que transmuta tudo, inclusive a raiva, e tratei-a com o que tenho de melhor e mais amoroso em mim. Fui dormir pacificada. Mas o que mais me assombrou foram as conexões que fui capaz de fazer no dia seguinte, ainda sob o impacto do filme. Pensei no sofrimento de todas as pessoas que não conseguem entender quem realmente são. Eu mesma ainda estou em busca de mim e acho que essa busca é contínua e ininterrupta, mas aproximar-de de minha essência é o que me confere momentos de certeza e de liberdade.
Não vou escrever a história do filme, porque cada uma faz sua própria leitura a respeito de tudo que nos cerca, mas fiquei feliz, sobretudo, pelas percepções que tive a respeito de mim mesma. Historicamente frágil, descobri-me femininamente forte, como algumas das mulheres que me antecederam. E muito forte. Minha vontade, quando saí de casa hoje, era de dizer ao mundo: “dá licença que cheguei”. A pergunta que me fiz e que foi o meu argumento para que minha vizinha visse, também, o filme: que mulher sou eu? O diretor disse, em uma entrevista, que seu maior objetivo era levar o espectador a um lugar que ele não conhece. Comigo, aconteceu.
Todos buscamos a plenitude e compreender quem somos em nossa essência é um – senão o único - caminho para alcançá-la. Aceitar a natureza humana, com suas diferenças de gênero, sua sexualidade e seus desejos é integrar-se ao Universo e à natureza da forma mais ampla. Acho que nessa incompreensão reside a principal causa do desequilíbrio que experimentamos hoje em todo o Planeta. Mas, olha só, já tenho aqui um assunto para o próximo post: a ecologia do feminino.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Em sintonia com as mulheres do mundo e de todos os tempos

Círculo da Lua Nova é o nome do grupo do qual fui convidada a participar no domingo à noite. No céu, uma lua linda completava o cenário composto por uma fogueira cuidadosamente alimentada e pela mata exuberante do Alto da Boa Vista. Eram cerca de 30 mulheres entre 3 e 70 anos, entre elas eu, cheia de muitas expectativas por nunca ter participado de algo semelhante.
Foram rituais muito simples de agradecimento ao Universo Criador, de dança, de compartilhar de histórias e energias, que duraram mais de quatro horas. Predominavam as práticas de origem xamânicas, mas havia também uma pitada de outras tradições, como a céltica. Participei de tudo, mas minhas expectativas atrapalharam, devo confessar. Esperava algo semelhante ao que vi em filmes e histórias sobre o que acontecem quando mulheres e bruxas reúnem-se. Saí até um pouco frustrada.
O que me deixou curiosa, no entanto, foi uma estranha irritação que sentia. E uma certeza das coisas da vida, que também não sabia explicar. Naquela noite, estava muito receptiva às mensagens do Universo, mas eu não sabia. Só descobri no dia seguinte, quando acordei como se estivesse de ressaca. A energia das mulheres é transformadora e chegou a mim, além e apesar das minhas expectativas fantasiosas.
Já venho experimentando, há alguns meses, a percepção dessa energia amorosa que une as mulheres do mundo de todas as gerações. Como acredito em sincronicidade, esse foi mais um passo do processo, vindo num convite ocasional e reforçado pelo comentário de um amigo. O fato é que, desde esse dia, sinto um poder que faria inveja a qualquer heroína de filme. E tenho certeza de que ele não é exclusividade minha, mas pertence a todas as mulheres. A reunião em grupos, como o Círculo da Lua Nova, ajuda-nos a lembrar quem somos. E mais, faz com que a soma de todas as energias despertem e fortaleçam aquela que já temos em nós.
Sincronicamente, resolvi acatar uma recomendação no dia seguinte: vi o filme Anticristo, de Lars Von Triers. Posso me apresentar a você, hoje, como uma nova mulher. Mas, sobre o filme, conto no próximo post.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Numa explosão de emoção... é um caso sério!

Uma epifania. Foi isso o desfilar pela Império Serrano. Há muitos anos não desfilava em uma escola de samba. Na verdade, já havia esquecido da emoção que sinto ao escutar a bateria. É indescritível. Mas já estava acomodada demais pra sentir o coração bater tão forte, as lágrimas querendo brotar e o corpo arrepiar. Emoções fortes não combinam com o torpor que o dia a dia assegura aqueles que não ousam o desenquadre. Não cabem na fotografia 3x4.
Ainda bem que sempre podemos olhar sob novos ângulos. Mas isso não é fácil. Sou uma pessoa comum, acostumada a coisas comuns, e sei o quanto custa arriscar um novo enquadre. Um olhar diferente exige uma habilidade que se esquece com o tempo. Mas que se recupera com vontade, esforço e, às vezes, um pouco de dor. Foi assim com esse retorno à Sapucaí. Todos os movimentos foram precedidos de muita preguiça e não fosse a pressão respeitosa e sutil dos amigos talvez não tivesse visto a escola nem do sofá. Minha indecisão acabou me custando um acréscimo de 30% ao preço da fantasia. Nem liguei, sei que o vacilar, tanto como o ousar, tem seu preço. Aliás, tudo na vida tem seu preço, mas a gente demora a assimilar algumas lições.
Custei a decidir e a fantasia para o desfile que eu nem sabia quando e como seria foi pega por amigos. Nem experimentei antes, numa atitude tão blasé que no dia do desfile saí direto da piscina para o táxi que me levou para a avenida sem grandes produções. Meu filho mais novo que me cobrou: “não vai pintar o olho mãe?” Pintei o olho e a boca e caí direto no mundo dos contrastes: o luxo das escolas de samba versus a pobreza da população de rua do Centro do Rio. Aqui também há que se ter cuidado com o olhar. Cenas como a da criança suja e maltrapilha abraçada a uma alegoria dormindo no barro sob um viaduto podem não causar mais impacto depois que o olhar se entorpece com as agruras do cenário urbano.
Mas com o olhar focado ou desfocado, entrar na avenida é uma experiencia única. Cada um deve ter a sua. Eu não fotografei, por isso resolvi escrever. Madona deve ser estrela de pequena grandeza perto do brilho que senti. Olhava em volta, para as arquibancadas, frisas e camarotes, e me sentia uma rainha. E era, de fato: naquele momento, da minha própria vida! A ala cheia de gente não impediu, em nenhum instante, que me sentisse única. Nem o fato de não saber direito o samba atrapalhou. Ali, naquele tempo de desfile, estava o melhor de mim. Agradecia a cada instante a oportunidade de, figuradamente, chacoalhar, naquele desfile, minhas emoções, minha forma de ver a vida, minha alegria, meu coração... Literalmente, chacoalhei também, mas aí é outra história, contada pelos pés e pernas no dia seguinte.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

"Tem que morrer pra germinar"

Tem que morrer pra germinar. Ia escrever sobre isso depois, mas uma conversa com amigos me fez acelerar reflexões que começaram com a compra de três pares de sapatos em uma semana. Gostar de compras, sapatos e, mais ainda, de liquidações não me distingue de quase nenhuma mulher. Mas eu já havia me prometido que não ia mais embarcar no apelo dos sapatos pela metade do preço que depois empilham-se no meu armário porque não combinam com as roupas ou apertam os pés. Mas, esta semana, não resisti. Meu argumento pra mim mesma foi a promessa de que limparia a sapateira, pra onde corri assim que cheguei em casa. Vi o sapatos velhos e não consegui me livrar de nenhum. Afinal, eles ainda podem ser úteis.
Depois, parei pra pensar na minha dificuldade de fazer escolhas. Assim como todos os sapatos me parecem úteis, acumulo roupas, amizades, hábitos, entre outras coisinhas, que não me servem mais. É apego. Não consigo me desvencilhar facilmente das coisas, elas é que se desvencilham de mim. Preciso limpar a casa, os armários, a vida e fico dando voltas. Talvez seja preguiça, porque cada sapato velho que jogamos fora traz a necessidade de adequação ao novo. Novas formas de uso, novas combinações e o risco daquele sapato desconhecido machucar o pé em algum lugar. Assumir riscos, ainda que seja o de uma bolha, ainda me assusta.
Daí que, quando escutei hoje “tem que morrer pra germinar”, fiquei incomodada. Como a criatura que não se desvencilha dos sapatos vai renascer? Aí as associações começaram: a aparente morte da lagarta, pra virar a linda borboleta; a semente e lá vamos nós numa sucessão de exemplos. Tenho pensado muito sobre isso. Mas morrer? Será que não dá pra segurar um pouco de mim? Eu mesma me respondo: não! Por mais difícil que seja, não há como mudar e ficar igual, crescer e ficar pequeno, numa linguagem meio tosca, mas que – a meu ver - traduz os processos de evolução da vida.
Corro pra sapateira. Será mais fácil começar por eles. Tirei as velharias todas do armário e coloquei num saco. Já encaminhei. Quem sabe o descartar dos sapatos não se irradia para outras áreas da vida? O propósito é o mesmo: sapatos mais novos e bonitos, uma vida mais plena e feliz, trabalhos mais gratificantes e prósperos, equipe mais motivada e integrada. Só não posso dizer que isso é indolor.
* Esse casulo que fotografei já deve ter sido rompido por uma linda borboleta.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O brilho das estrelas

“Se sua estrela não brilha, não venha apagar a minha.” A frase é de para-choque de caminhão, eu sei, mas lembrei dela ao pensar no que chamamos de “estrela” pessoal. Para mim, uma metáfora de momentos especiais da vida, em que temos a certeza de que estamos indo na direção certa e obtendo o que objetivamos. E a estrela foi o símbolo desses momentos iluminados ao longo da história, pontuando, por exemplo, várias passagens da bíblia. Ela também brilha no universo dos contos infantis.
Acredito em luz pessoal, em momentos especialmente “iluminados” por clarões que nem sabemos de onde vem. Tenho certeza de que somos aquilo que acreditamos ser e de que temos o poder de transformar nossa realidade, começando por nossa transformação pessoal. Somos energia, sim, e a física quântica tem encontrado evidências de que, realmente, há muito mais entre o céu e a terra do que podemos supor.
Portanto, se as nossas emoções e intenções podem modificar, entre outras coisas, moléculas de água; o que não fazem conosco e com os outros seres com quem interagimos? Se a atenção dispensada em doses adequadas faz bem a plantas e animais, o que não fará por pessoas? Pensei nisso tudo ao me dar conta do quanto afetamos negativa ou positivamente a vida dos outros.
Muitas vezes, minhas dificuldades no mundo dos afetos, fazem-me sentir uma devedora. Infelizmente, acontece ainda de me achar em dívida com pessoas que me ajudaram em algum momento, dispensaram-me uma atenção especial ou surpreenderam-me com um cuidado inesperado. Uma grande besteira! Quando afetamos a vida do outro, temos, também nós, nossa vida modificada na mesma sintonia vibratória. E mesmo os mais céticos podem ter provas disso.
Por isso, se a sua estrela brilha, poderá ajudar outras pessoas a terem também sua estrela brilhando, criando uma energia muito melhor à sua volta. Se a sua não brilha, aproxime-se. Basta desejar, estar aberto e se deixar afetar. O brilho da minha estrela, ninguém – além de MIM - é capaz de apagar. E, para manter essa luz mais forte, conto com o brilho da sua estrela! Você acredita?

sábado, fevereiro 06, 2010

Quando encontramos uma alma gêmea

Foi num curso. Não gostei muito de tirar minha bolsa da cadeira ao lado para que ela pudesse ocupá-la. Mas, para minha surpresa, não demorou para que os assuntos extra curso fossem surgindo. Muitas afinidades preencheram os coffee-breaks, o almoço e, se eu não tivesse tão interessada no curso, teriam invadido as palestras também. Desejos, conflitos, dúvidas, interesses, medos: tudo em comum. É como se a conversa rompesse todas as barreiras de tempo e espaço: quem fala é o coração. Uma fala direta, compreendida até na ausência de palavras. É muito piegas, mas a verdade é que, entre nós, a comunicação acontece de alma pra alma.
No fim do dia, mais papo e a executiva, também esotérica, me diz que todos têm seis (ou seriam sete?) almas gêmeas, espalhadas, mas propícias ao encontro, cujo objetivo é a ajuda mútua na aceleração da evolução pessoal da cada um. Sim, foi um típico caso de amor à primeira vista. No dia seguinte, liguei e fiz a minha declaração: “Acho que somos almas gêmeas, mas isso não é uma cantada”. Sim, essa minha alma gêmea – ou seja lá que nome tem – é uma mulher e acabamos ficando amigas. Ela sente o mesmo que eu e ambas chegamos à conclusão de que a vida presenteia com bons encontros aqueles que buscam dentro de si mesmos o caminho pessoal e exclusivo de cumprir sua trajetória.
Ela acredita – e eu passei a acreditar também – que alma gêmea não carrega sempre o conceito desgastado de complemento romântico homem-mulher. O fato é que, ao darem-se as mãos, a vida de ambos os seres recebe um upgrade. E, nesse sentido, descobrir isso foi alentador. Ajudou-me a entender encontros que dizemos inexplicáveis, mas carregados de tantos sinais que muitas vezes nos pegam de surpresa e provocam perguntas do tipo: o que isso tudo quer dizer?
Foi assim com essa minha nova amiga. Nos vemos pouco, mas, quando conseguimos conversar, é fácil partilharmos a vida. Os laços que nos ligam parecem ancestrais. Talvez sejam. Não penso em tempo ou espaço. Não me importa a duração dessa relação. Tudo pode acontecer. Apenas tenho a certeza de que nos conectamos por algum motivo muito especial e de que esse encontro é pleno, relevante e oferece oportunidades de aprendizado, além de apoio para transpor desafios que ambas enfrentamos em nossos momentos de vida. Juntas ficamos felizes e isso é o que importa. Sem nenhuma outra conotação. É o que diz meu coração. O dela diz que a recíproca é verdadeira.
Seguimos com nossos conflitos, tentando tornarmo-nos mulheres mais fortes, mães mais resolvidas e, sobretudo, felizes e em paz. Com certeza, encontrar uma alma gêmea facilita tudo e confere às nossas vidas um brilho especial. Desejo que você também encontre AS suas.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Uma oportunidade e muito aprendizado

Deixar a escola aos 14 anos. Decisão difícil. Impensável para 99% dos pais que conheço. Um dilema para mim até ontem, quando, de fato, decidi: João Vitor não vai voltar este ano para escola. É claro que a concordância do pai pesou muito na minha aquiescência, mas o “sim” só foi dado mesmo quando decidi escutar o meu coração, a despeito das opiniões de amigos. Ele (o coração) ensurdeceu pra falta de grana para investimentos mais dispendiosos, como torneios pelo país e fora dele, e gritou: “deixa, vai!”
Os argumentos eram incontestáveis e eu cedi, feliz. Mas, no auge da tensão, ouvi um conselho: “defina, como mãe e não como amiga, aquilo de que você abre mão e aquilo de que você não abre mão, que a decisão sai.” Defini: quero muito ensinar meus filhos a procurarem a sua felicidade, esteja ela onde estiver. É isso!
Na verdade, sei que não posso dizer se João, hoje com 15 anos, será ou não um tenista de destaque no cenário internacional, que é o que, de fato, ele deseja. Mas posso assegurar que estou dando a ele o incentivo que posso para realizar seu sonho. Porque nada, nada mesmo, é impossível para aqueles que têm sonhos e acreditam-se capazes de realizá-los. Sendo assim, ele terá que aprender, agora, o que eu ainda estou aprendendo: que todos temos que fazer a nossa parte, mesmo quando a vida é generosa.
De toda forma, a vida já me mostrou, também, que toda as vezes que nos permitimos ousar obtemos resultados inimagináveis. Só não brilham mesmo aqueles que empacam, seja por medo de errar ou por preguiça de descer das nuvens para arregaçar as mangas e trabalhar por suas realizações. Sim, porque tudo é possível, mas do céu só cai chuva, neve e afins.
Conversamos muito para que ele entendesse as nossas limitações financeiras (afinal, ele tem outros irmãos); a necessidade da disciplina para organizar a vida de uma forma alternativa, sem o modelo pronto e fechado das escolas; a retomada dos estudos em outras bases; o cuidado com a alimentação. Ele terá que aprender a focar no seu desejo, avaliar suas conquistas e tentar entender, com nossa ajuda, que o seu maior inimigo em quadra é ele mesmo. Eu ainda estou aprendendo isso na vida e, vez em quando, me pego fazendo cara feia pra afastar os meus fantasmas. Portanto, se o meu filho conseguir levar o aprendizado dessa experiência para as outras áreas da sua vida, já estarei recompensada. É claro que ele quer ir muito além e, nessa viagem, estamos juntos.
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