domingo, novembro 27, 2011

Uma tarde de “comadres”

"Conversa de Comadre", arte naïf de Wilson Pessoa
Todo momento é único, mas o que experimentei ontem com um grupo de amigas que veio passar uma tarde comigo foi mágico. Ando tão empenhada no resgate das “conversas de comadres” que, há muitos e muitos anos atrás, eram a razão da força e da magia feminina, que ver isso acontecendo espontaneamente em minha casa foi um deleite, não só pelo prazer da companhia, mas também por me demonstrar na prática o quanto essas reuniões são saudáveis.
O que fizemos? Falamos, comemos, rimos; falamos, comemos, rimos; falamos, comemos, rimos. E o mais incrível, ao contrário do que dizem por aí que nós mulheres adoramos falar dos outros, falamos apenas de nós mesmas. Não me recordo de um momento em que uma pessoa de fora daquele círculo fosse objeto importante de nossa atenção. Estávamos todas felizes e partilhando experiências, comuns ou não, mas extremamente unidas pelo desejo de absorver a sabedoria umas das outras. Óbvio que isso se deu de forma natural. Sempre digo que essa capacidade de enlace faz parte da nossa natureza, mas há um ingrediente imprescindível pra essa “coisa” funcionar: o amor. A única condição para que essas conversas fluam naturalmente trazendo tantos benefícios para cada uma é o desejo genuíno de estar ali, presente, inteira e interessada em todo o grupo. E assim foi.
Por isso mesmo, a tal da “fofoca” não compareceu. Havia tanto a falar de nós. O rol de assuntos não tem fim e uma reunião entre amigas também não tem hora. Começamos às 17h e acabamos perto das 24h. Um observador externo teria nos confundido com adolescentes, embora as faixas etárias também fossem muito diversas (e superiores), mas ele não teria errado. Quem se derramava em assuntos em volta da mesa eram meninas, aquelas que conservamos alegremente dentro de nós. E elas tinham tudo o que, por momentos, depois de anos, e afastadas das “conversas de comadres”, podemos achar que perdemos: alegria, divertimento, sagacidade, amorosidade, intuição, curiosidade, espontaneidade, paciência, tolerância, fome (quem estava de dieta esqueceu desse assunto), inteligência, perspicácia, malícia, honestidade, coragem, ousadia.
Foram horas mágicas, energizantes, terapêuticas, rejuvenescedoras... Hoje, quando acordei, olhei para o meu rosto e me senti mais jovem! Agradeci a Deus. Não apenas pela alegria das horas passadas, mas por experimentar de forma tão gostosa aquilo que venho aplicando e replicando em meu trabalho. Precisamos, urgentemente, de espaços de confiança, onde possamos derramar nossas almas, livrar-nos de máscaras, exercitarmos a liberdade de ser. Necessitamos resgatar as reuniões de mulheres, que gradativamente foram extintas a partir da Inquisição. Apoiada pelas “comadres”, a vida fica mais plena e feliz; e os aprendizados, mais ricos e eficazes. Amor compartilhado é amor multiplicado!
++ Comadre em espanhol significa, segundo Clarissa Pinkola Estés, “Eu sou sua mãe e ao mesmo tempo você é minha mãe”, identificando mulheres que cuidam umas das outras em uma relação em que a alma está sempre incluída.

quarta-feira, novembro 16, 2011

A energia das mulheres no Circuito Vênus de corrida

Circuito Vênus - Aterro do Flamengo
Lá estava eu em meio a um monte de mulheres. Era minha primeira corrida e aquela energia de mulheres de todos os tipos, idades e cores fazia a diferença. Dizem que quando a gente decide trilhar um caminho, basta dar o primeiro passo e o Universo se encarrega de nos impulsionar. Eu acredito. Há anos queria participar do Circuito Vênus de corridas, mais motivada pelos brindes e pela estrutura do evento, todo voltado para mulheres, do que pela corrida em si. Este ano, não só participei, como inaugurei com ele minha história de corridas de rua. Tudo isso, por si, já é bom demais, mas não evitou que durante a corrida eu refletisse sobre o que isso representa em um ano em que retomo meu trabalho com mulheres.
Eu e minha medalha de participação
Digo retomar, porque, há mais de 20 anos, tentei fundar uma Pastoral de Assistência à Mulher (PAM) na igreja católica que frequentava. Lembro-me muito bem que criei toda a documentação da PAM em um velho computador que usava o processador de texto Carta Certa. A pastoral existiu durante um tempo com atendimento jurídico, mas depois extinguiu-se. Havia poucos voluntários e eu trabalhava, estudava e já cuidava de filhos.
Pra mim, o interessante é perceber que há caminhos dos quais não se consegue fugir. Atualmente, começo a retomar o trabalho com mulheres, maravilhada pelos resultados que temos alcançado em grupos de coaching. Animada por esses empurrões que recebo do Universo, tenho aperfeiçoado a metodologia e começo a divulgar esse novo pedaço do meu trabalho. A medida em que, de alguma forma, contribuo com o fortalecimento da energia das participantes do grupo, sinto que fortaleço a minha própria energia.
E isso tem tudo a ver com o que experimentei naqueles 5 km de percurso e em toda a programação do evento. Mulheres sós acompanhavam-se, trocando ideias e dicas sobre tudo, inclusive corridas, nas filas para os serviços oferecidos pelos patrocinadores. Maridos, namorados e filhos vibravam não só pleas mulheres que acompanhavam, mas por todas as demais. Emocionei-me ao ver alguns homens acompanhados de crianças gritando por todas nós na reta final. Havia acompanhantes que fotografavam, corriam junto, incentivavam, seguravam filhos, mães acompanhando filhas e filhas acompanhando mães, e isso só aumentava a energia daquele grupo, em que o feminino manifestava-se intensamente. Tenho certeza de que todas chegamos ao final mais fortes, felizes, energizadas por aquela onda feminina, exatamente como acontece após as reuniões dos grupos de mulheres!
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