domingo, agosto 29, 2010

Os sinais do novo

Olhava no espelho e não se reconhecia. Estranhava o corpo, os seios com formas perfeitas. Preferia assim, mas incomodava-se. Onde estavam as dobras e as estrias adquiridas após cada um dos partos? Era como se parte da sua vida tivesse sumido. Não sabia mais quem era. Aqueles peitos não pareciam ter alimentado três meninos. Eram seus?
A cirurgia plástica havia sido sua escolha. No entanto, agora, perguntava-se a cerca de sua motivação real. Até que ponto deixara-se influenciar pelas amigas, pelas mulheres da academia, pelos comentários do marido? Não podia voltar atrás, mas teria que descobrir essa pessoa com quem se deparava no espelho. Além da nova aparência, estava a sua essência, sem dúvida, mas precisava reencontrá-la.
Precisava juntar a alma aquele corpo, de onde apagara as marcas do tempo e da vida. Era só um corpo, certo? Uma pequena parte de sua existência tão ampla. Precisamente, por isso, incomodava-se. Uma transformação estética tão grande, que exigira-lhe meses de economias e muitas dores. Para que tanto, se agora não sabia quem era?
Sempre ouvira dizer que mudanças deveriam ser bem-vindas, mas, as únicas mudanças que conhecera, não havia escolhido. A morte dos pais, da tia querida, os desencontros amorosos, a perda do emprego de muitos anos, o afastamento da melhor amiga: nada disso fora sua escolha. Sempre deixara-se conduzir pela vida. Adaptava-se bem às situações. Ou será que se acostumava? Não seria essa também uma forma de adaptação?
Com o corpo tinha sido diferente. Optara, ela própria, por um novo corpo. Juntou suas economias; visitou alguns médicos por indicação de amigas; escolheu aquele que inspirou mais confiança; fez os exames pré-operatórios; definiu o tamanho da prótese, o dia e a hora da cirurgia; contratou a enfermeira que a acompanharia; informou ao marido, espantado com a decisão da mulher. E agora estava em frente ao espelho, olhando cada uma de suas curvas, sem saber o que fazer com essa nova mulher que desenhara.
Jamais compartilharia essas dúvidas com alguém. As amigas achariam-na louca, afinal, havia remoçado uns 15 anos, no mínimo. Já o marido, satisfeito com a nova mulher que se deitava diariamente em sua cama, não alcançaria a sua angústia. Restava-lhe entender a mudança. Aceitar a beleza recuperada e continuar perguntando-se quem era e onde estava, para jamais perder-se de si mesma.
Respirou fundo. Sabia que as mudanças, fossem quais fossem, apontavam novos caminhos e, talvez, só talvez, estivesse aí a origem desse incômodo. Tinha medo do que estava por vir. No íntimo, sabia que o corpo era só um corpo, mas, juntos e novos, ventre e seios alimentavam outras histórias. A decisão da cirurgia havia sido um sinal. Comemorava que, pela primeira vez em muitos anos, tivesse conseguido tomar uma atitude tão importante, muito além das compras do supermercado. E agora? O que aconteceria depois? Nunca mais seria como antes. Seu corpo falava por si. A alma agradecia-lhe e abraçava-o. A motivação? Estava muito além das amigas e do marido.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Prazer, felicidade e doce de feijão

Moti - doce de arroz com feijão japonês
Acabo de comer meu sexto doce de arroz e feijão da tarde. Para quem se sente incomodada com 4kg a mais. a atitude é uma sabotagem do propósito de emagrecer. Mas não consegui controlar o desejo de saborear esses doces que adoro e que dificilmente encontro. Acabei de comprá-los num passeio à Liberdade, bairro paulista que não visitava há mais de 20 anos. O prazer momentâneo me custará caro já que terei que ser mais severa em outras ações rumo à meta do corpo mais magro.
Isso tudo acontece enquanto tento trabalhar num pré-projeto para realizar um grade sonho que é o de cursar um mestrado. Estou empacada. Adoro estudar, a ideia central do projeto faz meus olhos brilharem, mas estruturar tudo o que li e penso implica num trabalho árduo e no retorno a um academicismo do qual me afastei há muitos anos. Tenho que abrir mão do prazer de simplesmente pensar, de unir minhas ideias às de cientistas que considero apaixonantes em viagens imaginárias, para realizar. Colocar no papel significa, para mim, transformar ideias em ações, culminando em realizações o que, certamente, me trará bem-estar e felicidade. Mas trabalho, determinação e o enfrentamento das adversidades (quase todas impostas por mim mesma) são imprescindíveis.
Daí me deparo com o texto do meu amigo Luciano Pacheco, “Prazer ou Felicidade...”, e penso na frequência com que me afastava dos meus propósitos pela dificuldade em abrir mão do prazer que a vida pode me proporcionar. Hoje, consigo realizar muito mais, mas ainda travo batalhas com uma criança interna resistente que não se contenta em ter que administrar o prazer. Aos poucos, ela percebe que, assim, pode obter da vida algo muito maior: a REALIZAÇÃO de si mesmo, através das realizações em diferentes âmbitos de atuação. Amadurecer, em qualquer idade, exige abandono de padrões, reconhecimento de dificuldades, equilíbrio nas escolhas.
Cada um tem suas necessidades, mas com uma criança interna tão forte, tenho que reconhecer que jamais alcançarei a felicidade tornando-me uma workaholic. Preciso de passeios na Liberdade e de doces de feijão. Mas, certamente, não de uma bandeja! Prazer, como tudo na vida, precisa ser utilizado com equilíbrio, caso contrário, entre outras consequências, ficarei com uma baita dor de barriga.

domingo, agosto 22, 2010

O valor das relações

Mulheres de outras tribos
buscam valores
diferentes
Andei lendo alguns textos da antropóloga Mirian Goldenberg e fiquei às voltas com as questões que ela levanta sobre o valor da corpo, do cônjuge e da fidelidade. A pesquisa é ampla, foi publicada recentemente, mas algumas reflexões me dão vontade de gritar: “Para tudo! Quero o novo pra mim!” Não tenho certeza de como se constroem novos modelos de relacionamentos, na sociedade em que vivemos. Sou otimista, no entanto, e em meio a alguns sustos e tropeços, acredito possível um relacionamento que liberte, baseado na partilha e no amor, capaz de contribuir para a emersão de qualidades individuais reveladas pelo afeto de um pelo outro. Brinco com as amigas descrentes, mas sempre concluo: “Se acredito, assim será!”
Acho que precisarei de vários posts para falar o que me intriga nas pesquisas da Mirian e que, para mim, servem de sinal de alerta a me indicarem o caminho que não devo seguir. No blog Feminina Plural li sobre o valor do corpo. Certo que nós, cariocas, especialmente aquelas que vivemos à beira-mar, atribuímos valor diferenciado ao físico. Mas até que ponto esse valor pode sobrepujar outros que trazem satisfação duradoura e crescente? Acontece, e muito, no Brasil. Senão, por que outra razão as cirurgias plásticas se popularizariam a ponto de estarem acessíveis a todas as camadas sociais em até 24 vezes sem juros?
Quando estive na França, há três anos, hospedada numa espécie de pensão familiar, dirigida por pelo casal Jean e Sylvie, uma psicóloga que mantinha seus cabelos grisalhos, o motivo da banalização da plástica foi uma das perguntas que me fizeram. A psicóloga não conseguia entender o que poderia fazer uma mulher recorrer a uma alternativa de risco e invasiva para manter-se jovem. Isso causava tamanha estranheza àquela mulher de mais de 40 anos, que conduzia sua vida de forma simples, sem muito esforço: comida saudável, ida ao trabalho de bicicleta, muito estudo e leitura, vida familiar estável. Com tudo isso, não conseguira manter o corpo dos 20 anos, mas tinha elegância e estilo.
Para quem investe no corpo, não há muito o que fazer. Num país em que o valor desse “bem” é tão alto, vale-tudo para mantê-lo vistoso: remédios para emagrecer, tratamentos caros (parcelados a perder de vista), horas de ginástica, cirurgias etc. Mas isso é pouco, porque se esse valor supera os demais, a valorização e o reconhecimento de quem se é, de fato, ficam comprometidos. Sou um corpo? Então como posso envelhecer e começar a acumular, contra minha vontade, uma teimosa gordura abdominal? Sou um corpo? Então naturalmente serei trocada por outros corpos mais interessantes. Para os homens as questões são similares. Em relação a eles mesmos e a suas parceiras.
Diante desse quadro, faz sentido que a antropóloga tenha verificado em suas pesquisas que as mulheres mais gordinhas tendem a manter relacionamentos mais longos. Penso que essas mulheres e seus pares tenham descoberto outros valores que, certamente, fazem a diferença na hora de construção e manutenção de um relacionamento. O assunto não se esgota, mas, por ora, ponho-me a refletir naquele relacionamento que acredito possível: o corpo não será seu lastro, porque nada é tão transitório quanto ele que, ainda por cima, está inevitavelmente fadado à decadência. Mas tenho outros valores que estão em franca e poderosa expansão. Eles podem – e deverão - ser o lastro de meus novos relacionamentos: autoconfiança, conhecimento, algum humor e muita resiliência. A lista é maior e o investimento tem sido alto na aquisição desses valores, mas paro por aqui porque, em tempos de campanha política, isso poderia parecer mentira.

sábado, agosto 21, 2010

Menina ou mulher: de que lado você está?

Uma vestia rosa claro, sapato rasteiro combinando com a roupa e o cabelo preso num rabo de cavalo. A outra vestia bordô, sandálias e, com os cabelos soltos, parecia se atirar pela vida em cada passo quando caminhava. Aparentemente, tinham a mesma idade, pouco mais de 30 anos, mas a voz e o estilo da primeira conferiam-lhe ares de menina. A voz meiga, no entanto, não impedia-na de discutir com a outra em pé de igualdade. Uma dizia que estava apaixonada pelo rapaz que há meses lhe cortejava, mimando-lhe com flores, telefonemas frequentes e lembranças em datas especiais. A outra ria, dizendo que a paixão era uma ilusão que enredava moças tolas impedindo-lhe uma visão de mundo mais ampla.
Homenagem a Eliane @emrismael
www.corearte.com (força!)
De fato, ela não conseguia imaginar-se ansiando por mimos em uma relação. Era óbvio que gostava de presentes, de ser lembrada e de receber telefonemas que lhe diziam o quanto era especial. Mas não se sentia devedora nesses casos, nem transformava o prazer que sentia em ser agradada em seu maior objetivo na vida. Conseguia enxergar através dos mimos e sua alegria não a impedia de ver – - de sua forma muito pessoal – a pessoa e suas intenções. Sim, gostava de namorar – embora estivesse sózinha no momento - e desejava ter um relacionamento longo, ter filhos, talvez casar, não necessariamente nessa ordem. Mas, antes de mais nada, queria sentir-se feliz pelo que era. E, quando falava assim, não se referia somente a trabalho, mas a um conjunto grande de outras coisas a que atribuía valor em sua vida.
“Mas o que poderia ter mais valor do que ter uma família, um marido carinhoso, uma casa e filhos?” Essa era a verdade para aquela mulher, a de vestido rosa, que perdia a cabeça quando engatava um romance apaixonado. Uma vez conhecera, no trabalho, um italiano que jurou-lhe amor eterno e queria levá-la para Europa. Quase foi, porque era do tipo que fazia tudo por amor. Pelo menos daquilo que imaginava sê-lo, porque a paixão durou um mês após o retorno do rapaz para sua terra. Mas não desistia: estava sempre apaixonada, sentindo o coração sair pela boa, relendo cartas de amor.
Observava as duas, tão diferentes a seu jeito e tão mulheres. Tentava tomar um partido naquela discussão, mas não conseguia decidir de que lado ficar. A mulher de bordô estava certa e, sinceramente, não conseguiria, hoje, imaginar a vida de outra forma. Mas virar as costas para a doce mulher com jeito de menina também me parecia impossível. Ela ainda existia dentro de mim. E, provavelmente, dentro daquela resoluta e bela moça de bordô. Abraçamo-nos. Seguimos juntas, apaziguadas.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Ouvir estrelas

Acordei com a lembrança dessa música. O soneto é lindo, e, por isso, compartilho. Poesia sempre faz bem à vida!

Via-Láctea - Soneto XIII
Olavo Bilac


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

domingo, agosto 15, 2010

Caçador de mim

Ando me vasculhando, me revirando do avesso. Num movimento contínuo, cansativo, mas extremamente profícuo. Tenho dito que, na viagem da vida, nunca estive no ponto em que me acho hoje. É como se estivesse recuperando a mim mesma, reconhecendo-me como um ser humano único, pleno de potencialidades. Resgato minha autoconfiança, minhas conexões com um conhecimento que me transcende, a minha intuição, mas sinto-me, em alguns momentos, como um rato de laboratório onde o cientista sou eu mesma ou, talvez, o Universo.
É uma jornada interior onde me pego muitas vezes olhando pros meus sentimentos, todos eles, procurando causas e efeitos. Não tenho nenhuma pretensão de esgotar meus passos ou de chegar a algum lugar, busco sempre estar um ponto a frente de onde estive antes e isso me basta, ou deveria me bastar. Palavras, emoções, visões, olhares. Pouco me leva longe, ou melhor, perto, mais perto da essência de mim. O que pode parecer uma experiência de iluminação, no entanto, é uma trilha de percalços. É como se estivesse despida parte do tempo na multidão, exposta não por vontade, mas por necessidade de SER.
Meu maior desafio é esquivar-me de armadilhas que lanço pra mim mesma, que tornam esse passeio mais difícil, como o autojulgamento, o apego aos momentos, a inquietude da mente. Parte do tempo, sinto-me só, já que ninguém mais, além de mim, pode chegar a esse lugar que sou eu mesma. Outra parte do tempo, sinto-me feliz porque encontro companheiros que me amparam e me acolhem, ainda que em dimensões diferentes da que gostaria. Mas essa é outra armadilha, a do querer. Caçadores e guerreiros nem sempre podem sobrepor o querer momentâneo a propósitos maiores. E o meu, nesse momento, é o do autoconhecimento, do resgate de mim mesma com toda a força interior de que sou dotada.

sábado, agosto 14, 2010

“A Origem” em mim / My perceptions about “Inception”

Ainda estou sob os efeitos de “A Origem”, que assisti ontem. Saí do filme com a mente dando voltas, fazendo muitas conexões, acessando registros antigos. A subjetividade da realidade, como a percebo, sempre atraiu meus pensamentos. Pensar que a pequena parte do que percebo – sim, porque acredito que conhecemos muito pouco das dimensões do mundo – é diferente do que você percebe parece alucinação. E a forma como interagimos co-criando nossas percepções é ainda mais louco.
O filme fala sobre isso. Chamam de sonho aquilo que, de tão real, é capaz de mudar o curso do futuro. Meu filho mais velho, minha companhia nessa jornada, traduziu o filme pro irmão mais novo: “é um sonho, dentro de um sonho, dentro de um sonho, dentro de um sonho. Para voltar, as pessoas acordam de um sonho, em outro sonho, em outro sonho...” Sua descrição, simples e precisa, me fez lembrar daquele efeito dominó e, indo mais além, das interações que fazemos na vida.
Num momento em que corro o risco de me ocupar exclusivamente, de questões objetivas que me mobilizam muito, como a mudança do local de trabalho, a venda da casa, o equilíbrio do meu orçamento doméstico, percebo que tudo isso é nada diante do Universo de que faço parte.
Li pouco a respeito da Física Quântica, mas, por esse pequeno recorte, vejo que a ciência tem comprovado o quanto criamos o que chamamos de realidade. Não sei se ela já deu conta do quanto esse trabalho é feito em conjunto, com ou sem consciência, a partir da interação a que estamos sujeitos por fazermos parte de um imenso organismo vivo em que cada um de nós tem papel fundamental. Parece uma viagem? Mas é a minha crença e, pra mim, o que explica a minha experiência de realidade.
Filmes como “A Origem” começam a popularizar essa discussão, antes dada a alucinados, esotéricos, cientistas ousados. Durante o filme, fui fazendo tantas conexões que acabei tuitando algumas delas. Entre meus “hiperlinks” mentais, lembrei de “O Pêndulo do Foucault”, de Umberto Eco, que li há mais de 20 anos: ficção com proposta de reflexão sobre o que é e como se constrói o real, no mundo dito real. Lembrei também da “Profecia Celestina” (livro e filme), de “Quem somos nós”, e de tantos outros artigos e conversas sobre esse tema, que já atrai a atenção de muita gente.
Não é muito diferente dos conceitos que permearam “Avatar”, que se vale de uma história de amor romântico, para semear boas ideias. Pra mim, está tudo conectado. E, como diz o galã de “A Origem”, Leonardo Di Caprio: “Uma simples ideia da mente humana pode construir cidades. Uma ideia pode transformar o mundo e quebrar todas as regras.”

sexta-feira, agosto 13, 2010

Retomando o controle

Não reconhecer seu poder pessoal é como
navegar sem rumo pela vida.
Eliane @emrismael www.corearte.com
Não vou contar quantas vezes fico de mau humor porque alguém não atendeu às minhas expectativas. Porque nessa hora, nem me dou conta de que aquela pessoa tem seus próprios anseios e humores. Estabeleço o que é bom pra mim e sigo achando que o meu “bom” serve pra todo mundo. Ora, se eu tenho direito de estabelecer os parâmetros que norteiam a minha vida, por que não dar aos demais o mesmo direito? E mais: por que me irritar quando contrariada? Ao me dar conta disso tudo, volto pro meu eixo. Mas não posso deixar de pensar que, ao permitir que que o meu humor varie em função das escolhas de terceiros, estou terceirizando, também, o controle da minha vida, delegando um poder que deveria ser exclusivamente meu.
Ninguém vive sozinho. É fato. Mas conferir a quem quer que seja poderes capazes de mudar o rumo da minha vida é atitude perigosa. Em todos os sentidos. Primeiro porque enfraqueço a mim mesma ao desconsiderar meu poder interior; segundo, porque fico na dependência do outro, atribuindo a ele sucessos e insucessos; terceiro, sem esgotar a lista, porque deposito no outro um peso desnecessário que não lhe pertence, fazendo com que se sinta sobrecarregado.
Assumir a responsabilidade por meus humores, alegrias e decepções tem me feito resgatar esse poder interno. Tem me permitido, também, carregar apenas aquilo que me pertence, ou seja, minhas próprias responsabilidades. Assim como não posso responsabilizar alguém por minha felicidade, também não posso ser responsável pela felicidade do outro. É peso demais! Resta-me aceitar as pessoas como são, fazendo minhas escolhas e conferindo o poder da minha vida a quem de fato o tem: eu mesma. Amigos continuam sendo o que devem ser: companheiros com quem compartilho minha vida, todos donos de suas próprias vidas.
Se suas atitudes são importantes para o meu crescimento, trazendo-me momentos de tristeza ou alegria, contribuindo para que eu tenha novos insights sobre a vida, isso também é minha responsabilidade. A partir do momento em que resgato meu poder, posso administrar conscientemente meus afetos, usufruindo das relações com mais plenitude e evitando as decepções que fatalmente atravessam a vida de quem ainda não consegue dar conta de si mesmo.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Explicando sentimentos

Ando fazendo grande esforço para explicar emoções e sentimentos. Algumas vezes, o intento é bom e me ajuda a compreender e resolver questões que se refletem em diferentes áreas da minha vida. É um bom momento, este, em que sinto que, tornando algum conflito consciente, evito que seus efeitos me incomodem novamente. Outras vezes, no entanto, trata-se de um esforço inútil. Não me faço entender nem ao outro nem a mim mesma e, ao invés de bem estar, ganho a frustração.
Começo a entender que nem tudo pode ser explicado. Por que não me permitir somente sentir? Por que criar expectativas sobre as emoções que brotam a todo momento em decorrência de fatos simples ou complexos, sobre o quais nem sempre tenho domínio? Quem tem alguma experiência com meditação sabe que, às vezes, é difícil lidar com a corrente de pensamentos que “gritam”dentro da mente. Nessa hora, brigar com os pensamentos é a pior atitude para quem deseja usufruir dos benefícios da meditação. Com a prática, aprende-se a aceitar os pensamentos, sem se apegar a nenhum deles, deixando-os ir e vir, sem se julgar por um dia mais tumultuado.
Percebo que posso fazer o mesmo com os sentimentos. Deixo-os vir e ir, sem tentar explicar aquilo que existe apenas para ser sentido. Também não julgo a tristeza que se aproxima, a saudade, a frustração pela expectativa não alcançada. Quase sempre, o melhor que se tem a fazer é reconhecer a emoção e acolhê-la. Vejo-me tentada a considerar alguns sentimentos inadequados ou desprezíveis. Qual o que! Não há certo ou errado no domínio do sentir. Talvez, sem momentos de tristeza, não tivéssemos o contraponto delicioso da alegria; sem a frustração, não aprenderíamos a reduzir as expectativas e viver com mais liberdade. Então, sejam bem-vindos sentimentos, TODOS!

terça-feira, agosto 10, 2010

Ciclo vicioso? Tô dentro!

Todo mundo já ouviu falar em ciclo vicioso, e muita gente passa boa parte da vida tentando sair dele. Mas e quando o ciclo é “do bem”? Aí, tudo o que se quer fazer é permanecer conectado, vigiando cada passo para ir mais fundo nessa sintonia. É a Lei da Ressonância, já comprovada pela Física Quântica, em que modificamos a nossa realidade a partir das ondas energéticas que emitimos. Quem diz que nada acontece por acaso, fala, com ou sem conhecimento de causa, que o destino é consequência direta das energias de cada um.
Tudo certo, não fosse as escorregadas que todos damos vez em quando. Claro que não foi por acaso que o mestre Jesus disse “orai e vigiai”, precedido e sucedido por outros mestres que lançaram mão de afirmações semelhantes para mostrar ao mundo que só a vigilância constante levará à evolução. Tenho experimentado os efeitos dessa corrente positiva na minha vida e sentido os efeitos desse ciclo “viciado” em boas energias. Por isso, vejo-me cada vez mais cercada de pessoas, oportunidades e circunstâncias que me aproximam da minha missão pessoal, que eu chamo de essência.
Quando esqueço essas benesses, e entro em uma sintonia de vibração inferior, a disposição em que me encontro, propicia-me um cuidado extra do Universo. Assim é que ando cercada de pessoas amorosas, dispostas a me ajudar quando cochilo nessa vigilância e baixo a energia. Gostaria de enumerar cada uma, mas corro o enorme risco de ser injusta, porque, a seu jeito, cada uma delas – algumas que sequer conheço pessoalmente – têm compartilhado minhas vitórias e me auxiliado a manter a boa sintonia. São companheiros de jornada que me lembram de que a minha realidade é construída por mim mesma.
Meu irmão diz que ando parecendo um manual de autoajuda, mas isso não me incomoda, porque, se antes conhecia a teoria, hoje experimento, na prática, a abundância e a alegria da ressonância, que se assemelha à Lei da Atração, apregoada em O Segredo. Ando mais vigilante e, mudando meu padrão vibratório, consigo transformar muita coisa à minha volta. A vigilância, no entanto, vai além das palavras, pois é no pensamento que elas se formam. Então, ando a vigiar pensamentos, para que eles possam se materializar em palavras e, posteriormente, na realidade que desejo, abundante, amorosa e feliz.
E agradeço – muito e sempre - ao Universo pelos encontros e desencontros que me “chacoalham” e ajudam-me a manter-me em estado de alerta pra vida, conectada à fonte de amor, alegria e prosperidade. E pensar que essa simples ideia tem vendido milhões de livros pelo mundo. É muito poder, não é mesmo? Vem com o chip instalado em cada um de nós.

domingo, agosto 08, 2010

Cultivando o “milho” na vida, segundo o Caminho Ancestral

Milho era alimento sagrado para os povos primitivos. Fonte de nutrição e, por isso, também símbolo de abundância, fertilidade e prosperidade. Por isso, resolvi usar minhas Cartas do Caminho Sagrado com a Sequência do Milho, uma forma de organizar as cartas tiradas desse “baralho” xamânico. Precisava me reconectar comigo nesse momento especial da minha vida em que preciso estar atenta aos lados espiritual e material, para, pela primeira vez, obter o “milho” por mim mesma. E o “milho”, aqui, significa a concretização das ideias, a realização dos meus potenciais, de forma que, qual a semente do milho, meus talentos possam frutificarem, alimentarem a mim e a outros, e multiplicarem-se. Não é uma missão fácil, mas cada vez mais possível. Tem exigido de mim muita coragem para, sobretudo, olhar a mim mesma.
http://wakanwood.blogspot.com/
Voltando às cartas, gosto dos ensinamentos das tradições ancestrais e resolvi compartilhar, com muito carinho, o que elas me trouxeram hoje. Afinal, se somos todos um, o que serve pra mim, com certeza servirá pra mais alguém! Portanto, segue a sequência, na ordem do pé de milho, com os respectivos significados e as mensagens que vieram pra mim.
* Raiz – Que recursos estão ao meu alcance para que eu possa frutificar, ou seja, resolver situações conflitantes e remover obstáculos ao meu desenvolvimento?
- Cachimbo (paz interior, oração) – A primeira carta das 44 desenvolvidas por Jamie Sams, fala do equilíbrio interno que pode ser resgatado através do reconhecimento da natureza divina de cada um. Ao fazer as pazes com as próprias dualidades, equilibrando o Ser Interior, perguntas como “o que eu sou” e “por que estou aqui” (missão pessoal) são respondidas. Ajudando a si mesmo, pode-se ajudar ao outro.
* Caule – A atitude necessária para caminhar em equilíbrio, que os índios chamam de “caminhar em beleza”.
- Grande espelho de fumaça (reflexos) – Convite a remover a “cortina de fumaça” que esconde quem realmente somos e encontrar a nossa verdadeira imagem. Nesse processo, é imprescindível aceitar o lado sombrio como fator de crescimento e companheiro inseparável do lado luminoso.
* Grão – Sementes do futuro. Frutos que virão com o trabalho, um ponto de apoio para as conquistas almejadas.
- Cesta de carga (autoconfiança) – Todos têm o direito à autoconfiança e as soluções internas para seus problemas; portanto, não podemos carregar o fardo de outros nem permitir que carreguem o nosso. Cada um pode dar conta de seu próprio fardo se acreditar em si, então compartilharemos soluções e respostas. (Essa é a carta que tenho mais dificuldade de assimilar. É a primeira vez que dou conta de meu próprio fardo e isso, por si só, rende outro post.)
* Maná – Propicia reflexão sobre a forma como recolher a abundância da vida, ensina como alinhar-se com o campo da fartura.
- Escudo do Sul (inocência, criança interior) – Sugere equilíbrio de trabalho com lazer, seriedade com humor, desapego para uma vida mais leve e feliz. “Quanto mais a sério você levar o jogo, menos chance terá de ganhá-lo!”, diz o livro. A vida está me dando essa oportunidade. Na verdade, acho que ela sempre deu, eu é que estou tendo a coragem de desfrutar agora.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Passos

Tela de Eliane @emrismael www.corearte.com
A distância, o silêncio:
configuraram-se como presentes.
A alma sente, mas cala-se.
Aprende, assim, a conviver consigo.
Conecto-me e sorrio. Naturalmente.
Há verdade no meu sentir. Imenso.
Não há vazio, mas um sentido saudável.
Contar comigo é uma dádiva.
Abandono o querer, consciente de mim.
É a mim que toco agora.
Pergunto-me. Ainda não sei,
mas ouço respostas.
Com ajuda das palavras, construo-me.
Preparo-me. Pressinto o que está por vir.
O entorno, às vezes, me assusta,
porque tudo é novo.
Nesse cenário, só reconheço a mim mesma.
Tudo é novidade.
Agora é preciso só ser.
Não é solidão o que sinto, mas coragem.
Passos firmes.
Não vacilo. Busco dentro.
Sou eu mesma que me guio.
Não é momento de partilha, mas de mergulho profundo.
Gostosa e inédita sensação.

quarta-feira, agosto 04, 2010

O amor está em toda parte

Procurando um arquivo me deparei com o cartão que enviei aos amigos no fim de 2009. Estava começando a me dar conta do que significava a palavra “Nós” e, deslumbrada, desejava compartilhar. Estamos no início do segundo semestre e reflito sobre o quanto caminhei, conquistei, aprendi nesses seis meses! Achar esse cartão me fez lembrar de muitas coisas boas, mas, principalmente, de que nunca estamos sós. A vida nos dá a chance de falarmos “NÓS” o tempo todo. Basta querer!
* Acho que isso é um tal de “estado de amor” a que um amigo se referiu em texto recente.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Estou ficando louca!

Você conhece o Ricardo Semler? Preciso falar com ele urgentemente. Se ele pretendia motivar as pessoas com o livro “Você está louco?”, tenho que dizer a ele que, em mim, o efeito foi quase o oposto. Por pouco não fiquei deprimida. Além de administrar um império que cresce cerca de 40% anualmente, a criatura vive uma vida de aventuras, conhecendo lugares do planeta que poucos se atrevem a visitar, arrisca-se como artista e escritor, participa ativamente de instituições de classe por acreditar que tem muito a fazer no processo de construção de um mundo melhor, criou um instituto que pretende revolucionar a educação, desenvolvendo uma metodologia que está modificando a vida de crianças da comunidade de Lumiar e ainda arranja tempo pra ser pai.
E tem mais: já estava esquecendo que ele cuida da sua qualidade de vida, mantém uma intensa vida social e cultural, além de ter sido colunista e radialista, e viajar o mundo buscando novas oportunidades, novos modelos de negócios e palestrando sobre tudo isso que faz. Fiquei sem fôlego, mas não o suficiente para não notar que esse ser humano, ainda por cima, parece atraente. Isso se o photoshop não tiver caprichado muito na capa do livro!
“Você está louco?” deveria ter uma tarja daquelas que vemos nos cigarros com uma advertência do Ministério da Saúde: “Não tente fazer o mesmo, sob o risco de destruir sua vida normal”. Eu dou conta de muitas coisas, mas vivo esbarrando com as limitações impostas pelo tempo, tendo que me perguntar, como na poesia de Cecília Meireles, ou “Isto ou aquilo”. Se invisto muito no trabalho, deixo de lado amigos que ficam insatisfeitos; se resolvo levar a sério a atividade física, falta tempo para o trabalho; abandonei a vela, uma grande paixão na minha vida, por tempo indeterminado; não participo mais ativamente de uma instituição filantrópica à qual sou associada. No meio disso tudo, não posso deixar de ser dona de uma casa e mãe, papéis em que estou sempre tentando melhorar. É preciso ser equilibrista mesmo. Aí vem esse Ricardo e diz que tira isso tudo – e muito mais - de letra. Me desculpem, mas ou ele é mentiroso ou tem poderes superespeciais. Há uma terceira hipótese, mas essa me deixaria realmente deprimida: ele é igualzinho a mim, mas tem organização e foco absurdos, conseguindo realizar absolutamente tudo o que planeja. É isso: preciso conhecer essa criatura! Alguém tem o e-mail dele?

domingo, agosto 01, 2010

Ele simplesmente não está a fim de você

É o título de um livro que eu não recomendo, por ser mais que óbvio e banal. Mas muita gente deve ter lido e gostado, porque virou um filme, que não é uma obra prima, mas é engraçadinho de ver. Parece ridículo uma mulher ler (e gostar de ler): “Ele não ligou porque não quis. Desista.” Mas só parece. O fato é que tenho uma amiga que tem ido ao banheiro com o celular, com medo que o cara lindo e inteligente que ela conheceu numa festa retorne a sua ligação e desista se ela não atender. E atire a primeira pedra quem nunca grudou num celular, perguntando-se ligo ou espero ele ligar?
Daí lembrei desse livro porque fiquei com vontade de dizer a minha amiga: “desencana, vai conhecer outro, tem tanto homem nesse mundo e, além de tudo, ele pode ter chulé!” Brincando assim, acabei de lembrar de uma conversa com um amigo, sobre relacionamentos, e ele me falou da importância do cheiro. Fiquei horrorizada quando me confessou que deixou duas mulheres sem nenhuma explicação porque não gostava do cheiro. Eram bonitas, boas de cama, mas tinha alguma coisa no cheiro delas que lhe incomodava. Quase chorei, pensando nessas mulheres agarradas no telefone, esperando ele ligar, querendo entender porque ele tinha desaparecido depois de uma noite maravilhosa.
Elas jamais saberão a razão, porque esse meu amigo pode ser qualquer coisa, mas não grosseiro a ponto de dizer: “querida, não gostei do seu cheiro”. Se bem que eu acho que devia. Assim, elas não chorariam pelo sumiço do moço. Mas talvez fosse pior. Afinal, quantos de nós estamos preparados para ouvir a verdade? Queremos tanto ser amados, e isso vale para os dois sexos, que nem sempre sabemos lidar com o fato, muito normal, de que não podemos agradar a todos. Tentando entender porque fomos rejeitados por um, esquecemos que podemos agradar e despertar o amor de tantos outros.
Isso só fica difícil por causa das faltas e carências que carregamos dentro de nós. Já aprendi e experimentei o poder do amor-próprio e da autoconfiança. Quando me invisto de quem realmente sou, fico mais inteira. Se o telefone toca ou não, passa a ser irrelevante, até porque eu acho que eu também posso ligar a qualquer hora. Não acredito muito em regras de relacionamento e procuro seguir o coração. Se o outro não estiver receptivo, ou não gostar do meu cheiro, aí é assunto dele e não meu. Haverá quem goste e quem entenda aquilo que meu coração diz. Mas não acontece todo o tempo. Há vezes em que fico como a minha amiga, querendo tanto ser amada, que me esqueço da minha plenitude, reduzindo minhas possibilidades de ser feliz ao retorno de um telefonema. Acho que vou ligar logo pra ela e dizer: “Querida, esquece! Ele simplesmente não está a fim de você!”. Será que ela vai acreditar em mim?
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