domingo, outubro 06, 2013

Parir é natural?

Depois do primeiro banho...
Nasceu Flora! Filha de sobrinha por afinidade e não por consaguinidade, ocupou um espaço no meu coração que sequer sabia existir. Bastou vê-la para que ela marcasse território como minha sobrinha-neta e me relembrasse que amor não depende de regras, de condições, de permissões e pode ser renovado todos os dias. Ainda na barriga da mãe, sentia, daquele jeito que as mulheres sentem sem explicar como nem porque, que ela viria ao mundo tranquilamente, de um jeito que só ela sabia como seria. Pois bem, a mãe aguardou pacientemente umas duas semanas, depois de um alarme falso, o tempo da menina. Vieram as primeiras contrações, a confirmação do início do trabalho de parto, a internação marcada para 20h para acompanhamento pela obstetra e... a mãe foi para sala de parto às19h25m e Flora nasceu às 19h35m do dia 1 de outubro! “Parto meteórico”, conta a mãe.
Eu fiquei maravilhada! Minha sobrinha havia sido agraciada com um parto maravilhoso, tão rápido que mal teve tempo de sentir dor. Por pouco a obstetra perde a chance de acompanhar o nascimento. No dia seguinte, ambas estavam ótimas e a mãe, se não havia conhecido “sofrimento” do parto, também foi poupada de dores no pós-parto. Eu vibrei: tive três filhos e nunca consegui ter um parto normal. Quando engravidei do primeiro filho, achava que parir era uma coisa tão natural que poderia fazê-lo assistida por qualquer médico. Assim foi que não valorizei a escolha do obstetra e acreditei cegamente quando a médica disse-me que não poderia ter o sonhado parto normal e agendou a cesárea de acordo com a disponibilidade de sua agenda.
Descobri depois que a história talvez pudesse ter sido diferente, mas conformei-me porque amamentei meus três meninos que nasceram com muita saúde! Minha sobrinha foi mais esperta e me colocou a par de algo que desconhecia: o quanto é difícil arranjar um obstetra que trabalhe pelo plano de saúde e que faça parto normal. Passou por vários médicos, até achar uma profissional em que tivesse confiança e que trabalhasse respeitando o tempo da vida que suas pacientes gestam. Optou por atendimento particular. Parir, pelo visto, não é mais tão natural, pelo menos aqui no Rio.
Fui visitar Flora na clínica e saí de lá pensando em meu primeiro parto. Se minha sobrinha, inteligente, advogada, não perguntasse aos médicos que visitou, na primeira consulta, a real disposição deles para fazer o parto normal, talvez tivesse perdido a chance de ser abençoada com esse parto “meteórico”, saudável pra mãe e filha. Tivesse ela agendado o parto, como muitas mães fazem modernosamente para comodidade e “alegria” de médicos, familiares e demais envolvidos, teria perdido a oportunidade de fazer essa transição de vida com sua filha, que parece ser tranquila, embora nada me tire da cabeça que esta menina será assertiva, resoluta e de temperamento bem definido.

O pai não teve tempo de filmar direito o nascimento da menina, mas, certamente terá uma filha mais saudável em muitos aspectos somente pelo tipo de parto escolhido. Minha sobrinha ficou pouquíssimo tempo na maternidade, onde entregou às visitas as lembrancinhas que ela mesma fez. Não teve festa, doces especiais e bebidas para recepcionar os convidados na clínica. Nem daria tempo para aderir à “moda” (?) que cerca nascimentos badalados no Rio. Se Flora nasceu de um jeito “fora de moda”, certamente foi pra nos lembrar que a vida é natural e que pagamos um custo alto sempre que esquecemos isso.

terça-feira, outubro 01, 2013

Música para acordar!

Preciso descobrir que animal é esse que me acorda de madrugada com o seu som. Acho engraçado.
Pássaros do meu "quintal"
Vivendo numa Cidade como o Rio, poderia ser acordada por muitos barulhos: sirenes, caminhões, batidas de carros, tiros, música alta, gritos... Em vez de aborrecida, fico grata, por poder acordar com o som do que me parece um pássaro. Hoje, levanto-me. Vou aproveitar o momento para agradecer. Desde que comecei a escrever este blog, em 2009, tenho abraçado transformações profundas em minha jornada de vida. Se alguém me pedisse, há cinco anos, uma projeção do futuro, jamais descreveria-o como o meu presente. Sequer imaginaria-o.
Curiosamente, no momento em que experiências vividas passam por mim para encontrar seu lugar, liberando-me para viver o presente, volto-me para a minha ancestralidade. A vida é circular. Reconhecer a importância de cada pessoa que me antecedeu em minha árvore genealógica me dá uma dimensão maior de mim mesma. Sinto a força de pertencer a um grupo familiar e segurança para alçar voos mais altos: a qualquer momento posso voltar às raízes. E sempre volto.
Tenho vivido cada dia de minha jornada intensamente. Não desperdiço um. Nem que a escolha de um determinado dia seja perceber, reconhecer, acolher alguma resistência ao novo que se apresenta sempre, ao medo diante do desconhecido, à raiva oculta e outras tantas emoções que fazem parte da minha vida. Às vezes, vai-se o dia sem que dê conta daquela emoção. Durmo com ela. Não há jeito. Posso acordar e encontrá-la no mesmo lugar. Ou não. Há emoções que misteriosamente diluem-se na noite, enquanto durmo. Nada é perda de tempo porque tudo sou eu. E se volto ao ponto de onde saí, sinto gratidão, porque desse ponto descubro o quanto percorri. É como voltar pra casa, nesse caminho que faço dentro e fora de mim.
Eu não sabia que havia escolhido um período sabático. Podia tê-lo aproveitado melhor, tivesse eu dado-lhe este nome. Palavras mudam a vida. Agora sei disso. Chamei-o de período de transição e tomei-o para mim de forma mais dura do que precisava. Não vou dizer deveria. Porque, em se tratando de vida, “dever” não me parece o melhor verbo. Nem sempre dou conta, com meu corpo e minha emoção, do “dever”. Quando continuo achando que “devo”, o que posso me parece tão pouco. Fiz o melhor que pude ou o melhor que quis, e, se resisti quando poderia simplesmente deixar fluir e aproveitar, talvez tenha sido para experimentar outros sentimentos e colecionar maior diversidade deles. Todos ajudam imensamente no trabalho que conduzo hoje.

Agora, ao som das cigarras, que parecem ter substituído o misterioso e barulhento pássaro, agradeço. Só descobri meu sabático quando ele parece estar chegando ao final. Sinto-me iniciando uma nova fase, uma nova jornada. E me dou conta de que, de novo, não há nada de novo. De verdade, recomeço todos os dias. Pena que, em alguns dias, tão envolvida nos “deveres”, nem me dê conta das novidades que a vida me traz. Como não me dei conta do sabático. Por isso escolhi abrir os olhos e escrever. Não queria correr o risco de deixar essa sinfonia passar despercebida, tornar-se irrelevante. Estão todos acordados: amanheceu e, além das cigarras, outros tantos pássaros juntam-se à sinfonia. Agradeço, desperta, ao Universo generoso. A maior beleza de fazer o que posso é que as possibilidades são sempre infinitas e, a cada dia, posso descobrir novos “poderes”. Bom dia!

segunda-feira, agosto 12, 2013

Gratidão pela vida de um grande amigo

Uma das conversas de acampamento. Gratidão, Flávio!
Ontem, meu caçula fez 16 anos. Antes de apagar o bolo, recebemos a notícia da morte de Flávio
Gameleira. Meus pais entristeceram. Eu, também. “Quem é Flávio?”, perguntou o aniversariante. O irmão mais velho disse logo: “O médico que fez o parto da vovó quando ela teve a mamãe e o tio.” E eu completei: “E que auxiliou no seu nascimento e de seu segundo irmão”. E aí comecei a pensar no que este homem representava pra minha família. Eu o conheci como um amigo dos meus pais, ginecologista da minha mãe. Cresci e ele foi o meu primeiro ginecologista. Como médico, esteve presente em muitas (senão todas) situações difíceis da família. Mas ele também gostava de acampar, de viver, de conversar, de se divertir, de estar com os amigos e com a família. E assim, aproveitamos muito da sua companhia.
Entrei no Facebook. Um dos filhos tinha postado um comunicado e as mensagens não paravam de chegar. Comecei a sentir menos tristeza e uma profunda gratidão de ter convivido com esse homem. Como médico, viu metade dos moradores de Campo Grande (estimativa modesta?) chegarem a este mundo. Suas pacientes não confiavam em outro “doutor”. Como a minha mãe, havia muitas outras que retardaram sua aposentadoria. Como amigo, era igualmente carismático. Tanto que, recém-casada, vi meu marido rapidamente transformar-se em mais um de seus amigos. E foi seu jeitinho de conversar que fez com que eu tivesse meu primeiro trailer e voltasse a acampar, ainda que o marido não gostasse muito da vida de campista. Acho que ele gostava mais das conversas com Flávio do que do camping.

Ontem à noite fui relembrando os muitos momentos em que ele esteve ao nosso lado como profissional e amigo: firme, leal, sincero, cuidadoso, atencioso, divertido, bom de papo. Há muito pouco tempo, minha mãe, numa internação de emergência, pediu: “liga pra Flávio”. Ele não poderia fazer nada, até porque a área de especialidade era outra, mas ouvi-lo confortava e dava segurança. Difícil é dissociar Flávio de sua companheira Cilu, uma pessoa carinhosa, amiga, acolhedora e, pra mim, um grande exemplo de vida. É pra ela que, agora, desejo que o conforto e o amor que ele nos dispensou em vida retornem e pacifiquem seu coração sereno. E rezo pra que a tristeza de seus familiares possa ser abrandada pela beleza de ver tantas pessoas gratas por terem desfrutado e compartilhado da vida de Flávio Gameleira. Obrigada, Senhor!

segunda-feira, agosto 05, 2013

Tudo novo, de novo!

Há algumas semanas, os dias do lixo reciclável, aqui em casa, são movimentados! Sacos e sacos de
papéis e utensílios plásticos vão para o portão, resultados de uma limpeza que aos poucos acontece por aqui. Junto com ela, uma limpeza interna também vai acontecendo, abrindo tantos espaços que, não raro, acordo mais cedo com a sensação de que sou um pote vazio, pronto para ser preenchido pela vida, com tudo o que desconheço!
Hoje, segunda-feira, começo mais uma semana de vida! Não tenho ideia alguma do que acontecerá, de como me sentirei, mas sinto o frescor do novo até nos lençóis velhos. Honro e agradeço por cada dia que vivi, até hoje, e vou em frente, esta semana, vivendo em um campo de possibilidades que me parecem infinitas.

O recomeço é uma dádiva que nos é concedida pela vida a todo instante. Hoje, passo o dia tranquila, lembrando-me de que tudo que carrego comigo nessa jornada é de minha escolha e de que tudo que me pesa pode ser deixado ao longo do caminho a qualquer momento. Agradeço intensamente ao Universo generoso e desejo que eu, você, nossos pais e nossos filhos possamos perceber e usufruir das abundantes possibilidades com que a vida nos presenteia.

segunda-feira, julho 29, 2013

Você é bom em que?

Já parou pra pensar em quão longe você pode chegar? Eu já parei. Vi um caminho que me agradou demais, que me parece bem real, com ações bem sucedidas e de real valor, não só para o cliente-contratante, mas para o mundo em que estamos inseridos. Mas tive medo! Já aconteceu a você de ter medo de ser mais do que é? Temer as consequências de expor o que você tem de melhor e brilhar? Ou então recear colocar em prática uma ideia que, aos olhos dos que te cercam, pode parecer ousada demais?
Aconteceu comigo. Só eu sei o quanto me custou fazer minha primeira formação de coaching, no Instituto Holos. Eu sabia – daquele jeito que a mente não consegue compreender – que este seria um caminho sem volta e, mais, sabia que seria o MEU caminho. Mas tive muito medo. Tive medo de abrir mão dos diplomas, dos títulos, dos cargos, de enveredar por um caminho onde meu registro de jornalista no Ministério do Trabalho não fosse tão importante assim. Quem seria eu, nesse novo caminho?
O medo não era de todo injustificado. O primeiro curso foi uma descoberta feliz e transformadora. Havia, finalmente, encontrado o MEU caminho. Gosto de tudo o que sempre fiz, prezo minhas experiências profissionais, mas como coach acesso algo em mim que eu não conhecera nas atividades anteriores. Uns chamam de dom, outros de talento, mas pouco importa. O que eu sei é que descobri aquele algo mais que todos temos, mas que, às vezes, temos medo de tocar.
A cada sessão de coaching, a cada novo cliente, eu me descubro um pouco mais. O que emerge de cada conversa é o inesperado, mas é, sem dúvida, o que tanto eu quanto o meu cliente (ou o grupo, quando a sessão compreende mais pessoas) precisamos naquele momento. As sensações, de um lado e de outro, vão do bem-estar ao desconforto, mas, em todos os casos, são sinais que nos conduzem pela jornada que coach e coachee empreendemos juntos.
A cada agenda, sinto que fiz o melhor possível, e admitir que não posso entregar respostas, mas buscá-las junto com os coachees, é também meu exercício. O Coaching, como profissão, está ganhando espaço no mercado, tornando-se mais conhecido. No entanto, não sigo a onda. Faço hoje o que nasci pra fazer e aí reside o valor da minha escolha. Trago para minha prática profissional todas as minhas experiências e aprendizados de vida e acho que é exatamente isso que me torna única no que faço. Todos podemos ser únicos no que fazemos e atuarmos de forma brilhante no mundo, sem medo. Há uma razão singular para que eu enfrente meu medo de brilhar: só assim poderei ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo, a começar por meus filhos!
Para me inspirar, lembro do discurso de Mandela, em sua posse, em 1994:
"Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta.
Nos perguntamos: "Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?" Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?...Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você.
E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo".

sexta-feira, maio 31, 2013

Desejos, experiências e conquistas

Alheio a tudo, ele segue seu curso...
A vida tem seu fluxo e absolutamente nada acontece por acaso. O que, a princípio, pode parecer uma experiência ruim, pode ser exatamente o que a gente precisa pra evoluir, andar pra frente, virar páginas, enxergar a vida com todas as suas possibilidades. Recuar, estancar ou avançar são opções individuais, feitas de acordo com as condições pessoais de cada um.”
Postei essa reflexão no Facebook, porque me esqueço com frequência de que a vida é processual e quando me percebo, aqui e ali, reclamando (no meu caso, chorando seria mais adequado, porque sou chorona demais) de algumas experiências, preciso me lembrar de que tudo passa. O caminho do meio é sempre uma busca. Falamos do desapego, mas esquecemos que isso inclui não tentar reter o que é bom, porque as boas experiências também são finitas e, tanto quanto aquelas que não apreciamos, têm a sua função em nossas vidas. Com isso em mente, fica mais fácil viver. Tudo passa sempre.
E essa mesma tecnologia que me permite compartilhar reflexões, maravilhosamente propicia também interações que promovem novas e producentes reflexões e aqui estou a escrever pensando num comentário que fala das “experiências desnecessárias”. Parei pra pensar no que é desnecessário e imediatamente me veio a imagem de um rio, correndo com seu fluxo, em seu leito. Nem ele pode evitar as pedras: às vezes, abraça-as, sem estardalhaço; mas, outras, choca-se produzindo espirros de água, para depois seguir seu curso normalmente. Penso que somos assim. Se a experiência acontece, é porque ainda não podemos evitá-la, precisamos senti-la para aprender algo que nos falta e seguir nosso fluxo de vida.
Há algumas que procuramos, guiados por nossos desejos ou caprichos, alheios às advertências do senso comum ou da nossa própria sabedoria interior. Não conseguimos evitar e, de novo, penso que seja porque ainda temos algo para aprender, e, às vezes, para ensinar, nestas situações a que somos impelidos simplesmente pelo desejo. Não se trata de ver a vida com lentes “cor de rosa”, mas só agimos de acordo com as nossas possibilidades e abrir mão do julgamento a nosso próprio respeito é também um grande e importante aprendizado. Aos poucos, nessa busca, vou me permitindo o inevitável: errar. Ser compassiva comigo é o primeiro passo para exercitar a compaixão com o outro. E se o resultado das minhas ações respingarem como a água do rio que se joga contra as pedras, saberei que cada respingo é precioso, advindo de mais uma necessária experiência.
Fico alerta, rogo por proteção e auxílio, mas meu caminho é construído por cada uma dessas experiências e lá vou eu, como um rio estabanado, seguindo o meu fluxo, esbarrando e abraçando pedras. Dizem que bons pais não furtam aos filhos as experiências da vida, mas acodem-nos quando precisam. Comigo, o Universo generoso tem funcionado assim: não me impede lágrimas, mas seca-as, todas, a seu (ou melhor dizendo, ao MEU) tempo.

Lembrei de Fernando Pessoa...

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! 

Valeu a pena? 

Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

domingo, abril 07, 2013

O Tigre e as Formigas


Acabei de ver As Aventuras de Pi. Filme lindo, cheio de efeitos belíssimos. Acabado o filme, fui à geladeira e me vi rodeada de formigas enormes. Devem aproveitar a madrugada para se espalharem pela casa. Imediatamente lembrei-me de Pi. Cada um cria um Tigre para se fazer acompanhar durante momentos da vida. Como se desenvolve a relação com esse “tigre”, é escolha pessoal de cada um, mas é fato que demanda tempo, atenção, energia, esforço e, sobretudo, ESPERANÇA. Essa me parece a grande força a mover Pi dia após dia.
E o que tem a ver tigres com formigas? É que insetos e pequenos problemas domésticos têm feito parte do meu dia a dia, de uma forma muito mais intensa do que jamais experimentei. Parece exagero, mas o somatório de pequenos eventos têm me tirado o sono, já que cuido de uma grande casa praticamento sozinha. Daí, quando vi as formigas, na madrugada, pensei no quanto nossa vida é semelhante à jornada de Pi. Há tempestades, ocorrências na vida de todos nós, mas nós é que damos a dimensão do que nos cerca. Posso ver minha formigas como inimigas, mais um problema ou como sinais e aliadas para me trazerem uma noção da vida mais plena.
Só quando o propósito é claro e firme, como a vontade de viver de Pi, pode-se escolher para as ocorrência da vida imagens que nos façam bem e nos tornem mais fortes ao longo da jornada, capazes de chegar aonde se deseja.
Em tempo: A medicina da FORMIGA é a estratégia da paciência. Construtora, agressiva e resistente, elas têm consciência de que sozinhas não são nada, mas, embora muito pequenas, junto com sua comunidade podem exercer força poderosíssima. É o sucesso por meio do esforço, aliado ao exame cuidadoso e à organização.

sexta-feira, março 08, 2013

Violetas em casa: cuidando e nutrindo a vida


Já tive uma coleção linda de violetas. Aquela planta que a gente compra baratinho no supermercado, coloca na mesa e quando morre joga fora, com vaso e tudo. Pois é, eu gosto delas a ponto de, quando a minha coleçãozinha estava no auge, comprar livros pra me instruir. Multiplicava, adubava, entre outros cuidados. Até que uma praga bobinha exterminou algumas. Fiquei tão chateada, sem tempo para os cuidados que a tal da praga exigia, que descuidei nas regas, e, assim, perdi minhas plantinhas. No ano passado, resolvi voltar a cuidar do meu jardim, que andava muito abandonado. Na onda, comprei novos vasinhos de violeta, comecei a regar, a replantar e elas estão indo. A primeira mudinha nova já começa a vingar. Olho pra elas todos os dias, rego alguns dias e fico muito feliz com os resultados, que me fazem pensar que as violetas reproduzem exatamente o que acontece nos demais aspectos da minha vida.
Sucesso profissional, por exemplo, carece da mesma gama de cuidados que as minha violetas. Contínuos, regulares, em volume e intensidade adequados. A aquisição de conhecimentos nutre a nossa carreira, tanto quanto bons contatos e conversas que deixam nossas mentes mais férteis. Transferência do que se aprende, é como a multiplicação das minhas violetas, só amplia o que já se tem. Participar de palestras e demais eventos que tenham afinidade com a área de atuação escolhida, são tão saudáveis quanto ler livros e revistas, acompanhar sites e ler artigos sobre assuntos que trazem frescor ao que o já sabemos. Exige tempo, é claro, assim como as minhas plantas, no entanto, mais importante que o tempo é a regularidade. Quando incorporamos esses cuidados à nossa rotina, os efeitos aparecem imediata e significativamente em nosso desempenho profissional.
E o que dizer dos relacionamentos? Filhos, amigos, cônjuges, pais, namorados: para manutenção de relacionamentos prazerosos, profícuos e satisfatórios, todos demandam cuidados, nos mesmos padrões das violetas. Não há forma de ver uma relação crescer e vingar senão pelos cuidados regulares. Digo aos meus filhos, diariamente, como um mantra, que os amo. E, ás vezes, pergunto se eles já sabem desse amor. São todos homens, mas, nessa hora, olham-me com ternura, fingindo aquele enfado próprio da adolescência, e dizem, “claro, né mãe”. Mas penso que esta é uma forma de não deixá-los esquecer e de alimentar esse amor, para que eles possa multiplicá-lo pela vida. Com seus amigos e com as figuras femininas que passarem por suas vidas: das namoradas às avós.
Há relacionamentos que começam despretensiosamente, mas que recebem tantos cuidados que vão crescendo, estruturando-se, ganhando corpo e quando vemos já estão lá, ocupando uma parte importante da nossa vida. Só porque foram regados e adubados, tal qual minhas violetas. Parece bobagem dizer “eu te amo” todos os dias, ligar pra saber como foi a reunião ou o trajeto de casa pro trabalho, se o outro chegou no horário na consulta de rotina. De novo, não é o tempo, mas a regularidade, que promove o crescimento saudável. A falta deles é exatamente como a falta da rega para as plantas: faz as relações murcharem até se deteriorarem de vez.
Poderia falar de tantos outros aspectos da vida, como o espiritual, o físico e o financeiro cuja vitalidade depende de cuidados com as mesmas características. Em nenhum aspecto, no entanto, tanto cuidado impede o surgimento de pragas. Elas estão por toda a parte e podem dizimar não só uma coleção de plantas, mas também uma carreira ou uma relação. Nessa hora, não tem jeito: há que se priorizar e dedicar mais tempo aquilo que se pretende recuperar. Aceitando o fato de que, às vezes, o caminho é simplesmente deixar ir e aceitar a transformação... da carreira, do emprego, da relação, da planta, da própria vida. A despeito de nossos cuidados, a despeito de nossos quereres.

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

As tiriricas e a criança birrenta

Na natureza, até as tiriricas falam...

Definitivamente, os acontecimentos na vida não são como imaginamos, mas, como creio que há uma condução universal no fluxo da vida que atua ao lado do meu livre arbítrio, penso que em tudo há um propósito e, certamente, uma oportunidade de aprendizado e evolução. O preâmbulo é pra dizer que apesar de saber disso tudo, ainda me entristeço, como “criança birrenta”, esquecendo que confiar, aceitar e agradecer são os melhores antídotos para qualquer dor. Nessa hora, distrair a mente qual uma “criança birrenta”, evitando o foco no indesejado, ajuda a recuperar o eixo. E foi assim que encontrei as tiriricas do meu jardim.
Lembro que minha mãe aproveitava os dias de chuva para limpar o gramado e como a fruta nunca cai muito longe do pé, aqui estou eu às voltas com as tiriricas e outros “matinhos”. Procurar a origem da plantinha, arrancar pela raiz, sujar as unhas de terra, ajudar com a pá a retirar a raiz profunda, observar as plantas ao redor, ver a grama limpa, sentir as gotas da chuva da noite. Pronto: estou longe de estar bonita, neste momento, mas estou mais inteira. A “criança birrenta” acalmou-se. Por ora, estou apaziguada. O jardim está mais limpo. E eu agradeço por ter descoberto, nas indesejáveis tiriricas, uma forma de me reconectar. A vida é sempre mais simples do que penso. O melhor está sempre próximo de mim. Através das tiriricas, redescobri um pouco de mim mesma. Olho, agora, para as borboletas...

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Tática e estratégia


Minha tática é
olhar-te
aprender como és
querer-te como és

minha tática é
falar-te
e escutar-te
construir com palavras
uma ponte indestrutível

minha tática é
ficar em tua lembrança
não sei como nem sei
com que pretexto
mas permanecer em ti

minha tática é
ser franco
e saber que és franca
e que não nos permitimos
simulações
para que entre nós dois
não haja cortinas
nem abismos

minha estratégia é
em outras palavras
mais profunda e mais
simples

minha estratégia é
que um dia qualquer
não sei como nem sei
com que pretexto
por fim me necessites.

Poesia do uruguaio Mario Benedetti, uma dessas expressões alheias que simplesmente falam por mim

sábado, janeiro 19, 2013

Conversa com a prima


Quero me desculpar. Um dia desses, disse a você que estamos errando na arte de viver. Mentira. Acertamos tanto que chegamos ao ponto de nos avaliarmos profundamente, revendo nossos padrões familiares, nossas escolhas afetivas e rumos profissionais. Por isso (e só por isso!) nos questionamos e revemos onde e como podemos fazer ainda melhor. Quando saímos do caminho da acomodação, corremos riscos, experimentamos o novo e, consequentemente, nos perdemos, como acontece nos novos caminhos.
Não precisamos nos cobrar tanto. Precisamos, sim, estarmos advertidas de que, se a novidade é o que nos leva à evolução, exige novos aprendizados e o aprender é exatamente assim: dá-nos – muitas vezes - a sensação de que jamais daremos conta de tanto “conteúdo”. No entanto, a persistência faz com que esse sentimento seja substituído, depois de algum tempo, pelo prazer de ter aprendido uma nova lição. Lembra quando tivemos que inserir química e física em nosso estoque de conhecimentos? Eu me lembro bem desse momento! De um lado o orgulho e a alegria e de estar diante da novidade que representavam as novas disciplinas, os livros com assuntos dos quais jamais ouvira falar. De outro, as dificuldades diante de assuntos tão complexos. Para entender Química, tive que estudar horas e horas diariamente, sozinha.
Em outras áreas da vida, não é muito diferente! Escolhemos evoluir, aprender mais, aumentar nossa “grade curricular” e, pronto, isso basta para que experimentemos novas situações numa velocidade que parece além da nossa capacidade. Nos colocamos em cheque com muita frequência e, por isso, ficamos assim: quase perdidas diante de pequenas grandes decisões. Basta olharmos um pouco pra trás para vermos que, depois que assimilamos o novo, ficamos mais fortes e felizes. Hoje, eu peço a Deus: “Não me deixe cair na tentação da acomodação e me dê ânimo para ser tudo o que posso ser nesta vida”. Ah, preciso agradecer, também, por ter sempre companhias como a sua para me apoiar nesta jornada maravilhosa.

terça-feira, janeiro 08, 2013

Quando os olhos falam

Olhares... tão particulares!

Meus olhos falam. Mesmo quando eu não quero. Eles me denunciam covardemente, a ponto de um cliente mais atento perceber meu desagrado diante de uma decisão, ainda que tente disfarçar. Não é privilégio meu. Todo mundo sabe que os olhos são o espelho da alma e tantas outras coisas que enjoamos de escutar. Talvez, por isso mesmo, sabedores que somos de que os olhos falam por si, rejeitemos o olhar para não correr o risco da delação dos nossos desejos e sentimentos mais íntimos.
Evitamos, pois, o olhar. E olho no olho é coisa mútua. Não adianta oferecer sem receber de volta: é ato regido pela reciprocidade. Desvenda a alma do seu dono se sente-se percebido e confiante.
Passamos os dias evitando olhares. Ainda que sem sentir. Cumprimentamos, conversamos e nos expressamos das mais diferentes formas durante toda a nossa existência, mas muitos recusam o olhar. Por desconfiança. Quem confiaria num delator? Mas não é bem assim! O olhar é, na verdade, generoso e esperto. Se delata a alma, sua dona, é porque busca outra alma para trocas. Desvenda também a outrem.
Não nego que tudo isso é assustador. Num mundo de tantas máscaras sociais, como oferecer-se sem elas a alguém? O olhar faz isso e derruba máscaras. De minha parte, regojizo-me quando vejo olhos falarem. Pra olhos que falam, a boca emudece sem desconforto. Sabe, sabiamente, que é incapaz de traduzir uma alma com palavras. É preciso mais, um quê de nuances e cores que vão se mostrando de acordo com os sentimentos de uma alma. Por isso, todo o meu ser comemora quando olhos falam. E, hoje, os seus falaram!
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