terça-feira, setembro 29, 2009

Uma lição de amor

A Ana Cristina Garrido, que foi refém do assaltante baleado com precisão na semana passada no Rio, é aluna do meu mestre de Reiki e deu um exemplo de amor ao próximo após o incidente que poderia ter resultado em sua própria morte.
"Ela disse que gostaria de ajudar a família do assaltante Sérgio Ferreira Pinto, que na última sexta-feira foi morto pela polícia depois de passar mais de uma hora usando a comerciante como escudo. Pelo telefone, o professor José Garrido, marido de Ana, disse que ficou surpreso quando leu a história do assaltante. Ele revelou que gostaria de usar o Instituto Fábio Garrido (criado em homenagem ao filho Fábio Garrido, morto em 1992) para dar apoio aos familiares do bandido. E conta com o apoio da mulher...
- A gente queria confraternizar com a família dele. Parece que ele tem um filho de três anos. A gente estaria disposto até a ajudar essa família no nosso instituto. Desde que eles no vejam também como pessoas normais. Nós somos trabalhadores, minha filha e minha esposa estavam ali cuidando do nosso negócio. Perdemos um filho, sabemos o que é isso. Ele foi mais uma vítima da sociedade. O que a gente procura é exatamente isso, tirar crianças da deliquência - explicou ele.
Para o professor, mesmo tendo ameaçado a vida de outras pessoas, inclusive a da própria mulher dele, Sérgio também foi uma vítima:
- A minha esposa foi vítima, dentro da nossa concepção. Mas aquele rapaz também foi vítima, ele foi levado à deliquência por conta do nosso modelo de sociedade. Acho que este rapaz é o resultado do desamor, de uma sociedade deturpada, equivocada, com políticos corruptos. O sustentáculo daquele garoto era a avó. Depois da morte dela a família se rompeu - disse ele, agradecendo o fato da mulher ainda estar viva:
- Deus deu tanto para a gente, que não podemos nos furtar de ajudar a quem precisa. Ele ainda deu mais um favor para a gente, na semana passada. Precisamos prestar conta disso. Não custa nada diminuir a dor alheia." 
Instituto Fábio Garrido 
O Instituto Fábio Garrido (veja o perfil do instituto no Orkut) foi criado em homenagem ao filho do casal, que morreu aos nove anos vítima de uma leucemia, diagnosticada um mês após bandidos invadirem a casa da família, no Vaz Lobo, e ameaçar a mãe dele com uma arma na cabeça. O instituto funciona em um sítio na comunidade Ilha de Guaratiba e atende 120 crianças. Em obras, pretende ampliar o atendimento para 200 crianças já no Natal. Os meninos e meninas terão atendimento de fisioterapia, ginecológico e pediátrico, três salas de dança, uma de inclusão digital e duas para reforço escolar. Será montado ainda um escritório para atendimento jurídico:
- A dificuldade de conseguir emprego muitas vezes leva os jovens para o crime. Vamos oferecer oportunidades para esses jovens e tentar incluí-los no mercado de trabalho - explica Garrido.








domingo, setembro 27, 2009

Com ou sem sol? A minha escolha...

A mulher que se bronzeia ao sol foi tema da Marta Medeiros, hoje, em O Globo. Bom, eu falo por mim: peço licença e procuro manter minha cor, com filtro, o ano todo! Vou à praia no frio e no calor e, se consigo estar “morena” grande parte do ano, é porque escolho fazer parte de minhas atividades físicas (e sociais) ao ar livre: mais precisamente na areia da praia. Corro, caminho com amigos para colocar conversas em dia, bebo minha cerveja, estudo porque sempre há muito o que ler, acompanho meus filhos no surf quando o mar está bom e por aí sigo numa lista enorme, onde a praia faz parte do cenário.
Mas não foi sempre assim. Moro perto da praia há 12 anos e, nos primeiros dois anos, me senti um pouco culpada pelo meu bronzeado. Especialmente no inverno. Olhava para os homens de terno e para as mulheres de salto alto com que convivia durante a semana e me achava uma representante dos desocupados: uma pessoa que se dá ao luxo de passar os fins de semana à beira mar. Isso porque, na minha fantasia, as pessoas bem sucedidas deveriam sempre trabalhar mais do que o necessário, inclusive aos sábados e domingos. E eu, na época velejadora, estava sempre muito bronzeada com aquela aparência de quem não faz outra coisa senão ficar dourando ao sol.
Essa fantasia acabou! A vela também (pelo menos por enquanto)! Mas continuo bronzeada e não me permito mais ficar longe do mar. É lá que carrego e descarrego minhas energias e fico feliz quando o sol fura a barreira do filtro e me deixa um pouquinho mais queimada! É sinal de que a praia estava boa demais! Trabalho muito – e ás vezes fim de semana também – mas, quando posso, levo livros, papel e caneta, dispenso os amigos e fico ali, no sol, entre leituras e textos.
Mais do que exibir minha cor e meu modo de vida sem culpa, aprendi a respeitar as escolhas. Vejo com naturalidade a mulher que, feliz, tosta ao sol o dia inteiro (se usa filtro ou não, esse já não é um problema meu) e aquela que se afasta do sol pra manter a alvura da pele e evitar o envelhecimento precoce. São escolhas. Tão diferentes quanto as pessoas, que eu aprendi a respeitar para me sentir sempre no direito de exercer as minhas próprias escolhas. Sem culpas!

domingo, setembro 20, 2009

Ferreira Gullar na Bienal

Assisti à leitura de trechos da obra de Ferreira Gullar por Mariana Ximenes e Paulo José. Mto bacana. Achei esse poema lindo, afinal quem não esconde dualidades? Para quem gosta, segue:
Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também

quarta-feira, setembro 16, 2009

Abaixando a máquina (e a soberba)

Ultimamente, minhas impressões da vida têm me levado ao extremo da dor. Acredito sim que, em alguns momentos, um pouco de dor é preciso para produção de mudanças, mas, como os fatos me impressionam pela via da emoção, ando mesmo muito exposta: à flor da pele, como se costuma dizer. Um desses bons fatos a cutucar minha alma dolorosamente foi o filme “Abaixando a Máquina: Ética e Dor no Fotojornalismo Carioca”, de Guillermo Planel, que assisti na última reunião do curso JPPS, na UFRJ.
O documentário despretensioso e heroico em sua produção (basta olhar a ficha técnica), premiado em festivais nacionais e apresentado em circuito tão alternativo quanto a sua produção, me fez pensar tanto que deixei a questão da ética jornalística de lado. Não há como dissociar os cidadãos “fotógrafos” dessa imensa rede global que compomos TODOS, necessariamente um/em conjunto, afetando e sendo afetados em cada um de seus nós, não importa a distância das conexões. Vários dos profissionais que gravaram seus depoimentos fizeram parte do início da minha trajetória como jornalista. De alguns, cheguei a conhecer sonhos e anseios, muitos dos quais compartilhava há quase 20 anos.
Sim, o documentário emociona pela exposição da nossa realidade carioca, através das lentes dos fotojornalistas e das escolhas que cada um faz diante do “objeto” de seu trabalho. Mas, para mim, essa não é a principal questão. O que importa, hoje, é reconhecer que faço parte dessa realidade – rede – composta de fotógrafos, jornalistas, marginais, intelectuais, costureiras, ambulantes, rios, animais e tudo o mais que tiver vida nesse planeta. O impacto das minhas atitudes faz grande diferença nessa rede, como a pedrinha pequena, capaz de alterar a superfície do lago. O que vi no documentário, certamente, é resultado das minhas atitudes e é aí que tudo isso me atravessa. É aí que há sempre o que mudar! Somos todos iguais, em algum ponto: bandidos e mocinhos!

terça-feira, setembro 08, 2009

Comunicando assim assim ou Pernil com purê de maçã

Ando fascinada pelo twitter. Acho informativo, segmentado, divertido, lúdico e sei lá mais o que, porque a toda hora descubro uma novidade nessa rede. Talvez, por ser brasileira, seja, como os demais da nação, afeita a essas novidades de rede. Fato é que gosto de ficar conectada ao twitter e, confesso, ele tem sido uma das maiores, senão a maior, fontes de informação pra mim.
Mas aí é que surgem os dilemas. Primeiro, tenho que me policiar para não passar todo o tempo que tenho (e o que eu não tenho também) clicando numa infinidade de links – nem todos realmente interessantes – e lendo as piadinhas e comentários daqueles que sigo. Desconfio, que se contabilizar, acabo me perdendo alguma vezes numa sucessão de hiperlinks. Segundo, porque preciso do olho no olho, da voz com suas inflexões e de tantas outras coisas que compõem a nossa comunicação pessoal.
A praticidade dessa comunicação, tão direta quanto rápida, tem aspectos positivos, mas me pergunto se não contribui para acelerar ainda mais essa roda da vida que faz com que semanas, meses e anos passem tão rápido que mal nos damos conta. Eu, em franca experiência de mim mesma e dessa ferramenta de comunicação, ando meio acelerada demais. E dei para fazer coisas esquistas (rs). Ontem, deixei marido e filhos na mesa de jantar e fui pegar a câmera, não sem antes explicar: “é que fiz uma pequena enquete no twitter para decidir qual seria o acompanhamento do pernil e achei que seria bacana postar uma foto do prato pronto.” O estranho é que eles nem estranharam e ainda ajudaram na produção: tinha que mostrar o purê de maçã, sugestão escolhida e que fez o maior sucesso.
Mas tenho que me controlar porque, dentro em pouco, posso correr o risco de substituir papos por posts, de 140 caracteres, eventualmente linkados ao realvalor.blogspot.com.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Quando vamos, de fato, dizer: BASTA!?

Acho que todos nós estamos interligados, nessa imensa teia que é a vida! Não somos vidas isoladas e cada ação, de um sorriso a um "vai tomar no cu" no trânsito, tem o seu efeito. Eu sou parte tanto do morador do morro do Alemão, quanto daquele da Vieira Souto. Portanto, penso duas vezes antes de acusar o governo pela violência com que convivemos. Estou certa de que todos podemos fazer a nossa parte, ainda que isso implique apenas em não jogar nenhuma guimba de cigarro no chão.
Transcrevo o depoimento do amigo jornalista, Roberto Ferreira:
“Ainda estou sob o impacto do que assisti hoje. Às duas da tarde, na Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana, bem em frente à estação do Metrô, vi uma mulher ter a garganta cortada por um ladrão armado de faca numa tentativa de roubo de celular.
Por sorte, o ferimento foi superficial, embora ela tivesse sangrado muito. Meia dúzia de seguranças do Metrô conseguiram, com muito custo, deter o assaltante.
A mulher falava ao celular, distraidamente sentada num banco da praça, quando foi surpreendida pelo ladrão. Foi uma cena sangrenta que você acha que só vai ver em filmes. Mas foi real.
Há muito tempo eu não atendo ligações no meio da rua. Se estiver perto de uma loja, eu entro e retorno a ligação. Ou espero que a pessoa deixe recado na caixa postal ou me ligue novamente. Se for importante e urgente, ela ligará de novo.
Façam o mesmo. É uma precaução mínima que pode salvar sua vida. Se aquele infeliz tivesse atingido a carótida da vítima, dificilmente ela teria sobrevivido.”

terça-feira, setembro 01, 2009

Prazo de Validade

Ainda bem que acredito na eternidade do espírito, porque o corpo, ah, esse é finito e tem prazo de validade que nunca julgamos longo o suficiente. O enfarte do meu pai deu no que pensar... Pra ele e pra mim! Ele anunciou que vai jogar fora as quinquilharias que guarda há mais de 40 anos. Coisas do tipo agendas dos anos que se foram, artigos e revistas de anos mais anteriores ainda e por aí vamos numa lista sem fim! A afirmação dele me soou como o sinal dos tempos; mas soou bem! Afinal, livrar-se de excessos, sejam eles qual forem, é sempre bom!
Q
uanto a mim, renovei minha lista de ambições: a maior delas, agora, é ser mais tranquila e feliz. Mas também tem aquela ambição de só comer comida saudável (sem abrir mão da cerveja, claro!), de meditar diariamente, de sorrir mais... Vou parar por aqui porque não quero correr o risco de repetir as frases dos ppt de auto-ajuda; poderiam me cobrar direitos autorais (rs).
M
as o que mais tem me inquietado esta semana é notar a apresentação do prazo de validade de nossos corpos. Com 42 anos, tenho acompanhado – com alguma resistência – as evidências da passagem do tempo no meu corpo. Mas, ao longo desses dias, tenho observado muito o meu pai e constato o que a correria do dia-a-dia não me permitira constatar: o tempo dele está passando... E isso é totalmente natural! São 74 anos maravilhosos, que ainda se estenderão muitoooo, mas, como os anéis dos troncos das árvores, cada ano vai deixando uma pequena marquinha. Enquanto isso, seu espírito demonstra mais tranquilidade para lidar com situações que, anos atrás, pareciam inconcebíveis. Ainda bem que acredito...

(Antes que me perguntem: O meu pai colocou 3 stents e deve sair do hospital amanhã!)

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