domingo, outubro 06, 2013

Parir é natural?

Depois do primeiro banho...
Nasceu Flora! Filha de sobrinha por afinidade e não por consaguinidade, ocupou um espaço no meu coração que sequer sabia existir. Bastou vê-la para que ela marcasse território como minha sobrinha-neta e me relembrasse que amor não depende de regras, de condições, de permissões e pode ser renovado todos os dias. Ainda na barriga da mãe, sentia, daquele jeito que as mulheres sentem sem explicar como nem porque, que ela viria ao mundo tranquilamente, de um jeito que só ela sabia como seria. Pois bem, a mãe aguardou pacientemente umas duas semanas, depois de um alarme falso, o tempo da menina. Vieram as primeiras contrações, a confirmação do início do trabalho de parto, a internação marcada para 20h para acompanhamento pela obstetra e... a mãe foi para sala de parto às19h25m e Flora nasceu às 19h35m do dia 1 de outubro! “Parto meteórico”, conta a mãe.
Eu fiquei maravilhada! Minha sobrinha havia sido agraciada com um parto maravilhoso, tão rápido que mal teve tempo de sentir dor. Por pouco a obstetra perde a chance de acompanhar o nascimento. No dia seguinte, ambas estavam ótimas e a mãe, se não havia conhecido “sofrimento” do parto, também foi poupada de dores no pós-parto. Eu vibrei: tive três filhos e nunca consegui ter um parto normal. Quando engravidei do primeiro filho, achava que parir era uma coisa tão natural que poderia fazê-lo assistida por qualquer médico. Assim foi que não valorizei a escolha do obstetra e acreditei cegamente quando a médica disse-me que não poderia ter o sonhado parto normal e agendou a cesárea de acordo com a disponibilidade de sua agenda.
Descobri depois que a história talvez pudesse ter sido diferente, mas conformei-me porque amamentei meus três meninos que nasceram com muita saúde! Minha sobrinha foi mais esperta e me colocou a par de algo que desconhecia: o quanto é difícil arranjar um obstetra que trabalhe pelo plano de saúde e que faça parto normal. Passou por vários médicos, até achar uma profissional em que tivesse confiança e que trabalhasse respeitando o tempo da vida que suas pacientes gestam. Optou por atendimento particular. Parir, pelo visto, não é mais tão natural, pelo menos aqui no Rio.
Fui visitar Flora na clínica e saí de lá pensando em meu primeiro parto. Se minha sobrinha, inteligente, advogada, não perguntasse aos médicos que visitou, na primeira consulta, a real disposição deles para fazer o parto normal, talvez tivesse perdido a chance de ser abençoada com esse parto “meteórico”, saudável pra mãe e filha. Tivesse ela agendado o parto, como muitas mães fazem modernosamente para comodidade e “alegria” de médicos, familiares e demais envolvidos, teria perdido a oportunidade de fazer essa transição de vida com sua filha, que parece ser tranquila, embora nada me tire da cabeça que esta menina será assertiva, resoluta e de temperamento bem definido.

O pai não teve tempo de filmar direito o nascimento da menina, mas, certamente terá uma filha mais saudável em muitos aspectos somente pelo tipo de parto escolhido. Minha sobrinha ficou pouquíssimo tempo na maternidade, onde entregou às visitas as lembrancinhas que ela mesma fez. Não teve festa, doces especiais e bebidas para recepcionar os convidados na clínica. Nem daria tempo para aderir à “moda” (?) que cerca nascimentos badalados no Rio. Se Flora nasceu de um jeito “fora de moda”, certamente foi pra nos lembrar que a vida é natural e que pagamos um custo alto sempre que esquecemos isso.

terça-feira, outubro 01, 2013

Música para acordar!

Preciso descobrir que animal é esse que me acorda de madrugada com o seu som. Acho engraçado.
Pássaros do meu "quintal"
Vivendo numa Cidade como o Rio, poderia ser acordada por muitos barulhos: sirenes, caminhões, batidas de carros, tiros, música alta, gritos... Em vez de aborrecida, fico grata, por poder acordar com o som do que me parece um pássaro. Hoje, levanto-me. Vou aproveitar o momento para agradecer. Desde que comecei a escrever este blog, em 2009, tenho abraçado transformações profundas em minha jornada de vida. Se alguém me pedisse, há cinco anos, uma projeção do futuro, jamais descreveria-o como o meu presente. Sequer imaginaria-o.
Curiosamente, no momento em que experiências vividas passam por mim para encontrar seu lugar, liberando-me para viver o presente, volto-me para a minha ancestralidade. A vida é circular. Reconhecer a importância de cada pessoa que me antecedeu em minha árvore genealógica me dá uma dimensão maior de mim mesma. Sinto a força de pertencer a um grupo familiar e segurança para alçar voos mais altos: a qualquer momento posso voltar às raízes. E sempre volto.
Tenho vivido cada dia de minha jornada intensamente. Não desperdiço um. Nem que a escolha de um determinado dia seja perceber, reconhecer, acolher alguma resistência ao novo que se apresenta sempre, ao medo diante do desconhecido, à raiva oculta e outras tantas emoções que fazem parte da minha vida. Às vezes, vai-se o dia sem que dê conta daquela emoção. Durmo com ela. Não há jeito. Posso acordar e encontrá-la no mesmo lugar. Ou não. Há emoções que misteriosamente diluem-se na noite, enquanto durmo. Nada é perda de tempo porque tudo sou eu. E se volto ao ponto de onde saí, sinto gratidão, porque desse ponto descubro o quanto percorri. É como voltar pra casa, nesse caminho que faço dentro e fora de mim.
Eu não sabia que havia escolhido um período sabático. Podia tê-lo aproveitado melhor, tivesse eu dado-lhe este nome. Palavras mudam a vida. Agora sei disso. Chamei-o de período de transição e tomei-o para mim de forma mais dura do que precisava. Não vou dizer deveria. Porque, em se tratando de vida, “dever” não me parece o melhor verbo. Nem sempre dou conta, com meu corpo e minha emoção, do “dever”. Quando continuo achando que “devo”, o que posso me parece tão pouco. Fiz o melhor que pude ou o melhor que quis, e, se resisti quando poderia simplesmente deixar fluir e aproveitar, talvez tenha sido para experimentar outros sentimentos e colecionar maior diversidade deles. Todos ajudam imensamente no trabalho que conduzo hoje.

Agora, ao som das cigarras, que parecem ter substituído o misterioso e barulhento pássaro, agradeço. Só descobri meu sabático quando ele parece estar chegando ao final. Sinto-me iniciando uma nova fase, uma nova jornada. E me dou conta de que, de novo, não há nada de novo. De verdade, recomeço todos os dias. Pena que, em alguns dias, tão envolvida nos “deveres”, nem me dê conta das novidades que a vida me traz. Como não me dei conta do sabático. Por isso escolhi abrir os olhos e escrever. Não queria correr o risco de deixar essa sinfonia passar despercebida, tornar-se irrelevante. Estão todos acordados: amanheceu e, além das cigarras, outros tantos pássaros juntam-se à sinfonia. Agradeço, desperta, ao Universo generoso. A maior beleza de fazer o que posso é que as possibilidades são sempre infinitas e, a cada dia, posso descobrir novos “poderes”. Bom dia!
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