segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O poço e o fosso estão por toda parte!

Uma noite mal dormida, uma palavra mal dita, uma cara feia qualquer... Tudo pode ser motivo para transformar o nosso dia em algo tenebroso. Mas o inverso também é verdadeiro: um sorriso, uma mensagem, um telefonema para perguntar se está tudo bem, uma flor... Há também muitos motivos para retomar o caminho de onde se parou e continuar a jornada da vida com alegria.
Eu nem sabia o que havia acontecido ou não. Só sei que esperava, mas o que quer que fosse que eu esperava não aconteceu. Canalizei minhas melhores energias, ainda que sem saber, porque a ausência de qualquer expectativa permeava meu discurso. Só não estava no meu coração. Sabia e agia como tal, mas não sentia assim. E aí, brigando comigo mesma, desconsiderando uma parte importante de mim, a das emoções, me vi no fundo do poço. Sobrou pouco da moça forte disposta a quebrar todos os paradigmas que encontrasse pela frente.
Quando me dei conta de onde estava, pedi ajuda. E, de novo, tive que me deparar comigo mesma. Não adiantava gritar por quem não me escutava. Pedir ajuda é um ato nobre. Só quem se reconhece e sabe onde está pode gritar por socorro, mas ele nem sempre vem de onde desejamos ou esperamos. Novamente, vi ruir minhas expectativas. A ajuda chegou: na voz que só desligou o telefone depois que eu me acalmei, na vibração de amigos, numa frase bonita e encorajadora no messenger. “Ao invés de procurar entender a natureza dos outros, tente refletir sobre a sua: erros que se repetem, pontos negativos que podem ser melhorados, padrões que se repetem com resultados que não lhe agradam.”
Não há jeito. Lembrei da música de Gilberto Gil: "é preciso estar atento e forte". E o motivo por que escrevo isso não é para me lamentar, mas para abraçar as pessoas que me escrevem com queixas semelhantes. Há fossos e poços por todo lado, caímos neles com nossas próprias pernas, ainda que não percebamos os movimentos que nos levam a essas escolhas. Conseguimos ajuda, e ela chega de todos os lados, mas o impulso de sair do lugar onde estamos terá que ser nosso.
E se compartilho esse momento em que esqueço até da compaixão comigo mesma, porque me cobro uma atitude mais positiva diante da vida, é porque, muitas vezes recebo e-mails e desabafos de pessoas que também sentem estar em um lugar para onde jamais gostariam de ter ido. Foram, assim como eu, com suas próprias pernas e, muitas vezes, ficam a espera de um salvador que não chega nem chegará! Nem sempre escolhemos esses ajudantes queridos, que nos cercam das mais variadas formas. Recarregam nossas energias, mas não podem fazer mais que isso.
Para cada dia que não é fácil, haverá um sem número de outros muito melhores. Eu só tenho a agradecer a todos os seres que cruzam meu caminho nos dias em que estou mais cansada, com um carinhoso "cuide-se", deixando-me com o meu melhor embate. Eu me perdôo por não ser tudo o que eu idealizei de mim e eu sou grata ao Universo por cada oportunidade de aprendizado. Sou grata por poder me aproximar de pessoas amorosas e generosas, sou grata por aprender cada vez mais e sempre e, principalmente, por esse espaço virtual onde posso dividir com pessoas, que assim como eu, visitam os poços da vida aqui e acolá. Sempre saimos, se não desistirmos!

Divino Maravilhoso, na voz das Chicas (É preciso estar atento e forte...)

sábado, fevereiro 26, 2011

Diferentes, todos somos!

Quem não tem uma particularidade, uma característica que ninguém mais tem? No entanto, muitas vezes rejeitamos nossas singularidades por medo. Tememos nosso poder pessoal, a força que nos faz brilhar. É perceptível aquele que se aceita seu brilho interior. Essa pessoa sorri de si mesmo, compreende seus deslizes, reconhece as próprias dificuldades e singularidades com alegria. Mas não é o mais comum. O que mais se vê é a briga interna de cada um para ser menos do que é. O discurso pró-evolução e desenvolvimento pessoal, algumas vezes, é uma desculpa para domar seu lado genial. Chego a pensar que os dons mais especiais causam desconforto e são tratados como fardos. O resultado não poderia ser outro: instaura-se a dissonância pelo conflito de atitudes e pensamentos. E, se há sofrimento para as pessoas ao redor daquele que vive nesse conflito, ele em nada se compara ao que experimenta o próprio sujeito, pela rejeição de parte de si.
Porém, o pior mesmo é a impossibilidade de realização que advém desse sentimento. Se cada um tem seu dom, tem também seu caminho, sua missão, seu trajeto, e deixar isso de lado dificulta a vida de muitos. É como se esmerar no plantio de um trigal e não colher, deixando as espigas de milho apodrecerem e secarem ao sol sem que sirvam de alimento para uma comunidade de famintos. Não importa quem somos ou de onde viemos: todos temos dons. Se ainda não os achamos é porque não nos permitimos encontrá-los. Cada pessoa tem algo que a torna única e que é sua forma de alimentar o mundo e deixar “pegadas” por onde passar. Mas que nos incomoda a ponto de rejeitarmos o que temos de mais especial? Não deveria haver sofrimento na realização de si mesmo. A única explicação possível que encontro é a falta de confiança. E, para isso, o único remédio é seguir em frente até conquistar essa confiança e conseguir distribuir ao mundo suas “espigas de milho”. De cabeça erguida.
Para combater a rigidez que nos imobiliza em alguns momentos, experimente um coração frouxo, aberto. Deixe-se conduzir. Pense na vida como um balé, onde cada um pode dançar com leveza. Não há sofrimento no fluir. Permita-se. Entregue-se. Destrave cada parte de você que o/a impede de prosseguir. Tudo isso dá trabalho? É preciso dedicação intensiva? Nada nos é pedido que não sejamos capazes de realizar. Como seria o mundo se nenhum “fruto” (dom) fosse sonegado? Quem dá de si nunca está só, ainda que pareça estar entregando o bem mais precioso que tem.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Joelhos tremendo de raiva ou de que?

Senti os joelhos tremerem e achei que fosse pelo nervosismo de, pela primeira vez, falar em público, ainda que para um grupo de menos de 10 pessoas, sobre a vivência Diário do Futuro, trabalho novo voltado para indivíduos que desenvolvi com um amigo. Descobri, depois, que estava enganada. “No palco, os sentimentos ficam exacerbados”, disse uma amiga, completando: “pode ser que você tenha se incomodado com o colega do grupo que acabou de sair, depois de um discurso longo, sem escutar o que os demais tinham a dizer”. Bingo! Ela estava certa. Meus joelhos tremiam de raiva e não de insegurança ou medo. A atitude do moço havia me incomodado muito, de fato.
Já senti os joelhos tremerem inúmeras vezes, mas quantas delas consigo relacionar os efeitos sentidos no meu corpo à verdadeira causa? Poucas, talvez. Na maioria das vezes, encarar sentimentos exige coragem e o abandono das máscaras sociais a que nos atamos tão fortemente. A minha experiência com esse grupo deu-me o que pensar, afinal, havia passado o dia tentando dar conta de um desânimo que pode estar muito além do ponto onde o encontrei.
Está certo que sentimentos existem para serem vividos e que, em muitos casos, o melhor é largar de mão causas e efeitos e simplesmente viver. Mas sinto que a cada vez que dou conta de algum deles aprendo mais sobre a vida e sobre mim mesma. Fica mais fácil lidar com os próximos que surgem de todo lado e nas mais impensáveis ocasiões. Não tem jeito: quanto mais preparados, mais tranquilos seguimos pela vida.
Essa preparação passa pelo reconhecimento daquilo nos causa as palpitações, o excesso ou a falta de sono, o tremor nos joelhos, a enxaqueca e tantos outros sintomas. O corpo fala e, se a gente não entende, ele grita. Mesmo sabendo que não se pode explicar tudo e que algumas questões são tão profundas que podemos levar uma vida para desembaraçá-las, ainda assim é preciso escutar a voz do corpo. Ele parece agradecer quando entendo o que está dizendo e respeito a sua expressão.
Por isso, acabei dando um desconto enorme para o tremor no joelho e a irritação com o amigo... Tudo era verdadeiro, mas, na verdade, meu corpo também alertava que os hormônios começavam sua dança mensal!

domingo, fevereiro 20, 2011

Uma história de muito amor

Soube da chegada da Luisa dentro da piscina. Acompanhei um pouco do desejo de seu pai, meu professor de natação, e sua esposa por um filho, que seria a estreia dele como pai. A menina nasceu e trouxe pro meu professor uma oportunidade de ver a vida por novos ângulos. Eu podia notar que ele, em pouco tempo, tornara-se uma pessoa melhor. Ficou mais flexível, amável, compreensível e sensível, entre outras qualidades que eu não saberia pontuar. Não convivia com a família, parei de nadar alguns anos depois do nascimento da menina, mas reaproximei-me de seu pai, pelas vias do caminho espiritual. Tornamo-nos companheiros de jornada, com respeito e grande afeto.
A notícia da morte repentina de Luisa, justamente dentro de uma piscina, ambiente em que foi criada, me chocou (e a tantas outras pessoas). Primeiro, achei que fosse uma piada de mau gosto, depois soube da toda a história e revoltei-me. O que o Universo queria dizer com tudo isso? Queria abraçar o meu amigo e sua família, mas não sabia o que dizer. E aí comecei a repetir pra mim mesma: vou aprender com a dor dele. Revisitando os fatos, tão carregados de simbolismo, eu me vi diante de duas opções: acreditar que para tudo na vida havia um propósito Divino, crença que eu compartilhava com meu amigo, ou esquecer tudo a que havia me dedicado nos últimos anos, no campo espiritual, e declarar a crueldade dos fatos.
Fiquei com a primeira opção e, uns dias depois de ter recebido a notícia, um e-mail de uma amiga mostrava-me que o pai da Luisa tinha feito a mesma escolha. Em meio a toda a sua dor, lutando contra sua humanidade, que chorava a perda, reuniu amigos e falou que gostaria que essa experiência fosse marcada tão somente pelo amor. Não havia outro sentido para a morte da sua filha, a quem tanto amara, que este: “A sua breve vida foi pontuada de sorrisos, alegria e amor, e agora não poderia ser diferente”.
A tradicional “missa de sétimo dia” foi substituída por um encontro fraterno com a manifestação de várias religiões, homenagens dos amigos (da criança e de seus pais), e a leitura de uma mensagem psicografada recebida pela família, assinada pelo avô materno já desencarnado. Estava tudo bem. Luisa fora acolhida, cumprira sua missão, que seus pais ficassem em paz.
O pai abriu e encerrou o evento agradecendo aos amigos, a quem abraçou carinhosamente durante longo tempo, porque eram muitos. E, nas duas oportunidades, ressaltou o amor como a principal dádiva da vida da filha que se fora. Seu pedido, era que a passagem de Luisa levasse uma mensagem de amor ao coração de cada pessoa. Que todos refletissem no quanto estavam sendo amorosos com seus filhos, com seus companheiros e amigos. Ele, certamente, aprendeu muito sobre o amor com sua primeira filha, tanto que teve mais uma alguns anos depois: “ela tem nos ajudado muito a superar esse momento, com a sua alegria e leveza”.
Não se vive, chora, ama ou ri sozinho. Meu amigo e sua família não estão só e conseguiram transformar o triste episódio em uma história de amor, uma bonita mensagem de vida. A saudade será permanente, mas o amor curará as feridas dessa família, apresentando novos sentidos à vida. Amor é uma energia que não conhece limites. O amor verdadeiro é infantil e generoso, como Luisa; reverbera, derrama-se, contagia. Cada um ama como pode, é verdade. E eu sempre digo que, mesmo com muitos defeitos, amo da melhor forma que posso. Mas, para amar, é preciso sentir o coração de criança. E se há mesmo um propósito para tudo sob o sol, talvez por isso, Luisa tenha ido tão cedo: para nos lembrar de amar como crianças que somos e sempre seremos. Ela adormeceu para nos acordar!

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Amor para sempre?

De repente, sentiu-se com 15 anos. Lembrou-se do primeiro namorado. Das frases que copiava em seu diário descrevendo o amor. Uma delas, vinda dos cartões com que perdia horas nas papelarias, era particularmente inesquecível: “o amor nunca se acaba”. Várias vezes havia jurado que era para sempre e o mesmo número de vezes vira o fim “do amor que nunca se acaba”. A lembrança transformou suas lágrimas em sorriso. Naquela época, achava que amar era prometer que ficariam juntos para sempre, com o coração descompassado e as pernas bambas de emoção, trocando declarações e juras eternamente.
Tantos anos haviam se passado e ela continuava sem saber o que era o amor. A diferença era que agora podia senti-lo e ele não se parecia em nada com aquele que povoara seus sonhos de adolescente. Na Bíblia, que lera e relera na sua juventude, estava escrito: “No princípio, era o verbo...” É a descrição do amor. Não existe força mais milagrosa ou sentimento mais pleno do que esse que simplesmente é.
Olhou-se no espelho, entre as lágrimas, sorria. Lembrou-se de agradecer com muita reverência ao Amor Supremo, que chamava de Deus. Sabia que fora agraciada com o dom de amar, que havia sido cuidadosamente despertado. Não precisava de mais. Ou melhor, precisava aceitar e agradecer pelo presente que podia carregar consigo – agora, sim – para sempre!
Quanto ao homem, pouco lhe importava onde estava, o que fazia, se ficaria por perto ou não. Em seu íntimo, sentia que essa força também o transformava e que ele, a seu modo, também aprendera muito com ela sobre o amor. Ambos haviam se tornado guardiões dessa força cósmica, além de divulgadores ou multiplicadores. Não sei ao certo, mas, por onde andavam, emanavam essa energia que despertavam um no outro. “Acreditem, ele existe e é poderoso!” poderia ser uma frase comum – ainda que cliché - no discurso de ambos, se eles aceitassem...
A verdade, e eu digo isso porque, estando de fora, pude observá-los com imparcialidade. Nenhum deles compreendia, de fato, esse amar. Era como se, por inexplicável que fosse, o sentimento não fizesse sentido. Perdiam-se ao tentar racionalizar, explicar e compreender; essa energia que haviam despertado estava além disso tudo. Simplesmente era.

domingo, fevereiro 13, 2011

Luz, sombra e Cisne Negro

Quando era criança tinha medo do escuro. Morava em casa com quintal grande e, muitas vezes, quando precisava pegar algo do lado de fora, à noite, saía correndo ou pedia para meu pai me olhar da porta. Nunca entendi direito o que eu temia. Cresci um pouco e dizia que tinha medo de extraterrestres ou de alguma espécie de monstro que se escondesse no escuro. Hoje, acho que aquele sentimento era medo do que a noite escondia. E, numa confissão muito pessoal, ainda hoje me pego fugindo do quintal da casa, nos dias em que a lua não ilumina o caminho, e me lembro da menina medrosa de muitos anos atrás.
Hoje, sei que lidar com o escuro não exige somente coragem, mas um profundo amor por mim mesma e por tudo o que está ao meu redor. Na luz do dia, não havia medo, tudo estava ali, já revelado. Árvores e arbustos da casa onde cresci não ofereciam perigo. À noite, qualquer coisa podia sair das folhagens, inclusive monstros e extraterrestres. Temia o que estava dentro de mim, os monstros que eu mesma criava, sem jamais imaginar que todos estavam sob minha direção.
Cresci mais e, tive alguns arremedos de rebeldia, sempre associados a causas como política e obras sociais, movida por paixão e ideologia desde muito cedo. O que predominava, no entanto, no meu jeito de ser, era a cordialidade, a amorosidade, a meiguice e a obediência às normas. Era uma adolescente modelo, com boas notas, frequentadora das missas e do programas da igreja, comportada nos namoros. Algumas amigas zombavam de mim porque não falava palavrões, não mentia pros meus pais e era incapaz de namorar escondido. Não andava no escuro. Tinha medo e, por conta disso, mantive as mesmas atitudes durante muitos anos.
Até que me vi impelida a encarar meus medos. O medo imobiliza e eu não queria passar a vida no mesmo lugar, com medo do “escuro”. Assim, descobri em mim energias que desconhecia. Sofri ao reconhecer a raiva, a mesquinharia, a descrença, a soberba e tantos outros sentimentos. E isso ainda não era suficiente, era preciso aceitar todos esses sentimentos e acolhê-los como parte imprescindível de mim. O meu lado escuro é inerente a mim, mas não precisa me dominar. Ele só quer receber atenção, revelar-se, ser integrado a quem sou.
Foi assim que acordei com vontade de rever Cisne Negro. Sob a emoção do suspense que permeia o filme, não pude perceber que ele, na verdade, exibe a luta interna de cada um de nós. Estamos presos às dualidades, mas esquecemos que um oposto depende do outro para sobreviver. É o caso da luz e da sombra. Como existiria um sem o outro? Mas ninguém nos ensina que podemos ter raiva da pessoa que nos despediu, do homem que nos enganou, da amiga que contou uma história mentirosa para as demais. Não só podemos, como dificilmente conseguiremos domesticar nossos sentimentos. Da tensão equilibrada entre os opostos é que nos constituímos de forma plena e saudável.
Para mim, era mais fácil seguir as regras e assumir um papel de Cisne Branco. Para outros, a facilidade está em mergulhar no desconhecido, vivendo o papel de Cisne Negro. Difícil é olhar pra dentro de nós mesmos e aceitar que ambos precisam conviver, se quisermos ser inteiros.

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Fernando Pessoa
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