quarta-feira, setembro 29, 2010

Sentimentos, todos, têm nome?

Não sei se há sentimentos sem nome. Volta e meia me deparo com essas emoções estranhas. Não consigo nominá-las, mas, aos poucos, muito aos poucos mesmo, vou percebendo que não adianta fazer de conta que eu não as conheço. Se as digo irreconhecíveis é porque não as consigo suportar, ou aceitar. Finjo surpresa, compro livros explicativos, entabulo conversas sem fim sobre o que julgo ser o cerne da questão, levo pra terapia. Custo muito a admitir que o tempo todo estava mentindo, pra não ter que encarar a minha consciência e dizer a verdade para mim mesma.
Dizem que “a verdade dói”. Só não completam, com um “então, minta!” Mas nem precisa. É basicamente o que fazemos diante de sentimentos e emoções grandes demais para nossa condição humana. E não falo apenas do que leva a lágrimas inexplicáveis, mas também daquilo que enche a alma e remete-nos a um nível próximo do divino. Em ambos os casos, a falta de explicação é a melhor das explicações. Com ela, isentamo-nos da responsabilidade por estarmos tristes ou felizes demais. Melhor deixar pra lá!
Eu bem que tento, mas não consigo. Quando eu viro as costas a um sentimento e finjo ignorá-lo, ele não demora a me cutucar para lembrar-me de sua existência, dentro da minha própria. Isso tudo é pra dizer que ando às voltas com um desses. E posso garantir que isso não é bom. Choro, e não é de alegria. Tenho o desejo de abandono, mas não o endereço à vida, mas a mim mesma. Penso que ando me cansando de uma parte de mim que faz questão de não se ver, pelo simples medo da imagem não corresponder ao que esperava de si mesma.
Ainda bem que é só uma parte. Porque a outra está aqui teclando freneticamente, na tentativa de descobrir seus medos e tristezas. De discernir a respeito de si. E o mais importante: de ter a coragem simples de se olhar no espelho, seja em que momento for. Sem nome, nada! Meus sentimentos todos têm nome e sobrenome. Se eu faço questão de esconder isso até mesmo de mim, problema meu. Mais cedo ou mais tarde, há portas que se abrem e revelam tudo o que há pra ser revelado, sem se importar com a repercussão. A verdade dói mesmo. Mas tem que ser dita, doa a quem doer, também dizem por aí. E, essa dor, no caso, é minha mesmo. E foi-se. Aborrecida com o espelho em que resolvi me mirar.

domingo, setembro 26, 2010

Uma música? Um mágica?

Foi aquela música. Bastou escutá-la, ainda que na qualidade ruim de um celular, num momento em que estava receptiva a tudo o que o Universo poderia lhe conceder, para mergulhar fundo em si mesma. Às vezes, ela se surpreendia com a capacidade dos seres humanos de se afetarem mutuamente. Ninguém passa pela vida de alguém despercebido. Seja qual for a relação, há uma interação. Percebia o quanto era capaz de impactar a vida das pessoas através de gestos tão simples quanto um olhar, um toque ou uma palavra. Naquele momento, seu corpo tremia e sua mente entorpecia pela música de um celular.
Não acreditava que ela tivesse surgido ao acaso. Imaginava que devia haver algum maestro da vida direcionando situações como essas. O fato é que ela estava com o coração tão aberto que o som passeou dentro dela e conduziu-a um encontro profundo consigo. De repente, ela estava ali, chorando ao lado dele, sem conseguir explicar porque. Embaraçava-se mais em seus pensamentos do que pela presença do outro.
Aquele estava longe de ser um encontro casual. Havia algo de mágico no ar e o enlace das ideias permitiu que ela compartilhasse uma visão singular de si, nova até mesmo para sua mente consciente. Acreditava em momentos poderosos e fantásticos. Aquele era, sem dúvida, um desses momentos: estava envolta por uma energia transformadora e muito amorosa, saboreando da generosidade do Universo em sua inesgotável fonte. Foi isso que lhe permitiu dar-se conta de uma parte importante da sua vida. Tinha a sua chance de mudar. Percebia-se outra mulher. O seu choro foi acolhido; sua viagem interior, compartilhada. Tinha a certeza de que aquele instante ficaria registrado na eternidade.

domingo, setembro 19, 2010

Desabafo de mãe

Quem faz terapia acaba se deparando com a mãe. No relacionamento com a mãe, dizem os terapeutas (e eu acredito), residem grande parte das neuroses e conflitos humanos. Mesmo sabendo disso, no entanto, não há muito o que fazer. Nós, mães, acabamos repetindo erros e cometendo outros que nossas mães não cometeram porque não conseguimos fazer diferente. Temos nossas limitações, atenuadas aqui e ali com terapias, rezas, simpatias e o que mais se acreditar capaz de nos ajudar a sermos pessoas (e mães) melhores.
Por isso mesmo, ontem, quando meu filho do meio, que havia passado o dia com mal estar, disse pra mim que eu quase não o via, eu respondi (quase) sem culpa: “vejo-o tanto quanto posso. Pode ter certeza de que passo com você o maior tempo que consigo. Pode ser pouco, mas não tenho conseguido fazer muito melhor”. Esse mesmo filho havia pedido que visse um filme com ele, já que estava doente. Também pediu-me remédio, espaço em minha cama, a compra da passagem do próximo torneio de tênis, água de coco porque havia ficado o dia inteiro sem comer, cafuné e carinho. Eu tinha um trabalho pra fazer, que havia adiado durante a semana e que preciso entregar na segunda-feira, mas aquiesci. É bom estar com os filhos e trocar demonstrações de carinho.
Mas a gota d'água foi escutar dele: “mãe, você tá muito gordinha. Está há quatro ou cinco dias sem caminhar. Queria que você ficasse forte de novo e magrinha”. Pronto, minha vontade foi de desabar! Expliquei que estava trabalhando muito porque nossas despesas aumentaram bastante e que, além disso, estava fazendo cursos, o que me fazia chegar em casa esgotada e sem nenhuma vontade de “malhar”. Mas a explicação não foi suficiente para aplacar em mim o sentimento de “não dou conta”. Durante todo o dia havia ficado com o filho mais novo em uma feijoada para angariar fundos para o seu time de futebol, onde aproveitei para encontrar uma amiga da faculdade com sua família, que não via há muito tempo; conhecer as mães dos outros atletas e “enfiar o pé na jaca”.
Durante o dia recebi três telefonemas de amigos diferentes que estão passando por problemas sérios em suas vidas e precisavam desabafar. Mesmo sem saber sempre o que dizer, sei que ouvir e dizer que faço parte de suas vidas em momentos difíceis faz a diferença nessas horas. Já recebi essa ajuda, era chegada a hora de retribuir. Não havia como somar todas essas variáveis sem chegar à conclusão de que realmente não dou conta. Ou dou, com restrições, alguma culpa e um pouco de frustração por não manter o corpo em forma e passar menos tempo do que gostaria com os meninos.
É um post-desabafo! Quem sabe agravado pelas variações de humor de que fico refém no período pré-menstrual! Ainda tem isso: a TPM. Não devo ser mesmo mãe de três filhos por acaso. Somos desafios, uns para os outros.

sábado, setembro 18, 2010

Que diferença da mulher o homem tem?

A música de Durval Vieira é antiga e anuncia: “Se for reparar direito, tem pouquinha diferença...”. Lendo os últimos posts, um amigo sugeriu que investigasse mais o universo masculino. Não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas, com certeza, tenho muito o que aprender sobre essa parte da vida. Não deve haver outra razão para que uma mulher seja mãe de três homens, senão a de entender melhor sua natureza. Confesso minha ignorância sem pudor, mas, de cara, rejeito os rótulos. A batalha dos sexos chegou ao fim e ambos os lados estão esgotados, sem saber o que fazer, como agir e para onde ir. Não há luta maior do que a que travamos internamente e reduzir nossos conflitos a diferenças de gênero não dá conta da complexidade sócio-cultural em que vivemos.
Cada vez mais, conversando e atentando para o sexo oposto, percebo mais semelhanças do que diferenças. A maior delas? O desejo de descobrir o outro. Dizem que os desafios estimulam, e não há desafio maior do que transpor as dificuldades, culturalmente (e cuidadosamente) construídas ao longos dos últimos milênios, que separam homens e mulheres. Claro que, para algumas pessoas, desafios são intransponíveis, difíceis demais, e, como em qualquer área da vida, há quem desista. Basta olhar ao redor para identificar aqueles que desistiram de transpor barreiras para se acomodar à organização vigente.
Mas, continuo seguindo o conselho do meu amigo, e percebo que homens estão tão em busca de “algo” quanto mulheres. Buscam felicidade, aventura, amor, cuidado, prazer, companheirismo, conversas, compartilhamento de objetivos e propósitos. Não necessariamente nessa ordem, nem com igual intensidade, mas, para mim, grande parte dos homens cansou de prover e de sentir-se só nessa tarefa. Tão só quanto a mulher que cansou de ser a maior (mesmo não sendo a única) responsável pelas roupas, comida, compras do mercado, escola e médico de filhos. Não é mais o sucesso no trabalho que conta, mas o equilíbrio fora dele. O tempo de amar, de transar, de conversar, de manter os amigos.
Há um grupo de pessoas cujo propósito maior é o trabalho – os tais workaholics – ele não se divide em sexo masculino ou feminino, mas em áreas de interesse, crenças e valores. No lado oposto, há outro grupo, que se arrisca pela vida, priorizando experiências pessoais e buscando a emoção em tudo o que fazem, e este também não é exclusividade de um gênero só. E há tantos outros grupos em que mulheres e homens transitam com igual fluência, que “se for reparar direito, tem pouquinha diferença”.

quinta-feira, setembro 16, 2010

Descobrindo Maturana com o coração

Racionalmente não podemos deter um conhecimento a cerca do que não lemos e estudamos horas a fio, certo? Pois é, tenho descoberto que essa afirmação não é exatamente verdadeira. A primeira vez em que ouvi falar de Humberto Maturana foi no ano passado, em um curso na UFRJ, no JPPS. Foi um deslumbre: chorava ao ouvir sobre as ideias do homem. Pouco tempo depois fiz amizade com uma pessoa que frequenta o curso de Biologia Cultural, que acontece no Brasil. Aí ouvi falar mais de Maturana e o sentimento era sempre o mesmo: encantamento e emoção.
Quando perguntei a esse amigo por onde começar a estudar essa "disciplina", ele me indicou livros de outros autores que, além de ampliar o meu conhecimento a cerca de pensamentos correlatos, me permitiram ver como Maturana é percebido e, em todos os casos, deparei-me com a mesma emoção. Claro que fiz o possível para fazer o curso de Biologia Cultural, uma oportunidade única, mas achei absurdo a instituição não abrir mão de me cobrar o ano não cursado. Parecia uma espécie de “luva” pelo certificado, que é o que menos me interessa. E até que fui bem insistente!
Confesso que até hoje não li Maturana. O primeiro livro que comprei ainda não chegou, mas o meu sentimento continua o mesmo. Já vi palestras pela internet, participei uma dinâmica em uma das semanas presenciais do curso, em São Paulo, a convite do meu amigo, li alguns artigos e hoje decidi: eu conheço Maturana. A minha emoção acontece porque tudo o que leio e ouço vai ao encontro dos meus registros internos, que não sei de onde e de quando vêm. E conhecer com o coração é a melhor forma de saber que tem. Não posso falar do pensamento desse cientista com conhecimento técnico, mas falo da Biologia do Amor do melhor jeito que posso: com a alma, com o que chamo de coração, mas que, certamente, pouco tem a ver com esse órgão pulsante que bate no meu peito.
As propostas desse senhor, que trabalha com paixão aos 82 anos (acho que é isso), continuam a me emocionar. Chamo esse eco de reverberação de amor e acho que é essa força que tem me propiciado conexões muito amorosas, possibilitando-me uma nova visão do mundo a começar por mim mesma. Acho que eventualmente estudarei Maturana e sua obra, mas, agora, o sentimento me parece ser o mais relevante.

domingo, setembro 12, 2010

Mulheres inteligentes estão fadadas à solidão?

O mito do romance é capaz de garantir a
felicidade a homens e mulheres?
Acabei de ler a coluna da Marta Medeiros em O Globo de hoje. Menciona uma Pesquisa de Harvard que revela que mulheres com mais estudo evoluem na carreira, mas têm dificuldade de conseguir um companheiro. A colunista faz vários comentários sobre o retrocesso que isso significa. Inevitavelmente, lembrei do texto de ontem sobre a peça que vi na sexta e que recebeu tantos aplausos e elogios das presentes. A maioria abanava a cabeça afirmativamente a cada quadro que caricaturizava a mulher em busca de um homem. A pesquisa é de Harvard, então deve estar certa. Daí pensei na minha vida e na de tantas outras mulheres que conheço. Muitas histórias que, por mais modernas que sejam, não deixam de comprovar a tal pesquisa.
Falo por mim. Cursei uma excelente faculdade de Jornalismo, que, na época em que fiz vestibular, tinha uma proporção maior candidato/vagas que qualquer outro curso. Passei para o primeiro semestre e no meio do curso casei. Era um sonho! Sempre quis ter uma família. Para falar a verdade, em meu primeiro teste vocacional, desenhei, em uma dinâmica de grupo, uma família inteirinha na frente de uma igreja. Realizei essa etapa com louvor, mas, profissionalmente, “dei pro gasto”, como dizia uma tia ao falar de coisas “mais ou menos”.
Ano passado, voltei a estudar, a buscar novidades na minha área de interesse e novos interesses. A linda família que formei teve que se adaptar e está ganhando novos contornos. Mas, de certa forma, ao contrário de outras tantas amigas, executivas de sucesso que viajam o mundo liderando equipes, eu conquistei algo que me era muito caro: uma vida em família com, hoje, três adolescentes chatos e divertidos (esses dois adjetivos combinam?). Agora, sinto-me mais livre para experimentar e ousar profissionalmente e nunca é tarde para isso. Mas, realmente, os dois sonhos, no meu caso, e no de minhas amigas não conseguiram se compatibilizar.
Sempre digo que as mulheres ainda têm um longo caminho a seguir, mas acho que os homens também. Vejo alguns – raros ainda – que cansaram do tradicional papel de provedor. Nem todos encontram essa compreensão por parte de suas companheiras que ainda desejam ser cuidadas. Há também aqueles que não sabem exatamente como agir para se desincumbir dessa missão que lhes é tão pesada e, para alguns, até injusta. O que buscamos, todos já sabemos: independente de gênero, queremos ser amados e felizes. Temos aí um aprendizado a compartilhar e nada mais gostoso do que aprender juntos.
Pensando bem, eu, uma colecionadora de histórias de mulheres, abrirei novo espaço: começo hoje a colecionar, também, histórias de homens. Bom domingo!
* Se alguém tiver referência da pesquisa de Harvard, por favor, compartilhe.
* Mais sobre o mesmo assunto:
- Meninas ou mulheres: de que lado você está?
- Retomando o controle
- O valor das relações
- Ele simplesmente não está a fim de você
- Super-mulheres existem?

sábado, setembro 11, 2010

Homens são de Marte, tanto quanto de Vênus

Mônica Martelli é autora e a excelente
atriz da peça "Homens são de Marte é
pra lá que eu vou!"
Você acredita que as mulheres são todas iguais? Eu não acredito, mas me sinto uma vaca marcada em série cada vez que leio, escuto ou assisto obras que nos caricaturizam. Acho graça, claro, das piadas sobre a espera do telefonema que nunca vem e os encontros que deixam a sensação de que aquele “é o homem da minha vida”. Afinal, não conheço espécime feminino que não tenha passado um dia olhando pro telefone, esperando uma ligação que não chega; ou que tenha se entristecido diante do sumiço daquele que achava ser a resposta à busca pelo par perfeito. Depois das risadas, no entanto, fico sempre pensando: mas é só isso?
Ontem fui ver a peça “Homens são de Marte e é pra lá que eu vou...”, mais um desses trabalhos que enquadram o comportamento feminino diante do sexo oposto e transformam-no em comédia, provocando a risada de muitas mulheres (e homens, claro!). Fui com uma amiga, rimos muito, mas saímos com uma sensação de “é só isso mesmo?”. Sabe aquela história de quem vem primeiro, o ovo ou a galinha? Pois bem, eu também não sei se as mulheres agarramos telefones porque nascemos assim ou porque crescemos imersas nesse universo cheio de referências à necessidade de se encontrar a “cara metade”.
Realmente acho que há muito mais dentro de nós. Todos queremos uma companhia; a vida compartilhada é muito melhor. É bom conversar e descobrir afinidades; passear de mãos dadas; sentir-se amada e amado pelo olhar do outro; achar em outro corpo formas de dar e receber prazer; contar sonhos e projetos sem receio de se sentir tolo ou tola e ainda ter a sensação de que se ganhou um aliado. Mas isso vale pra homens e mulheres. Esta semana, escutei de um amigo a sua angústia por estar sozinho, queria encontrar uma companheira e confessou que entrava todos os dias em sites de relacionamento em busca desse par. Todos, independente de gênero, queremos ser amados. Isso sim é da nossa natureza e nisso, talvez, sejamos mesmo todos iguais.
Relacionar-se requer aprendizado e ele se dá de forma única para cada um. Conheço histórias tão bonitas de encontros que vão muito além do imediatismo de encontrar alguém feito sob medida para nossas necessidades. Nem sempre têm final feliz, mas inevitavelmente trazem a seus protagonistas experiências humanas incríveis e muitas lições que ficam registradas (quiçá em um arquivo coletivo) para serem aproveitadas em outras histórias. Por isso irrito-me um pouco com os estereótipos. Somos iguais no amor, mas, paradoxalmente, o que nos une, também nos torna singulares, únicos nas experiências de vida. Daí a necessidade de partilhar e a força que vem dessa prática. Afinal, somando singularidades com a unidade do amor, seremos muito mais fortes (e humanos!).

terça-feira, setembro 07, 2010

Pra que sofrer por amor?

Há algumas semanas, escutei com carinho o choro de uma grande amiga. A caminho do aeroporto, ela temia reencontrar um homem com quem se envolvera há alguns meses em contatos diários virtuais e alguns poucos presenciais. Deveria estar contente, mas sabia que esse encontro seria apenas para confirmar o que ambos já haviam conversado de tantas outras formas: continuariam apenas amigos. E ela chorava como menina, pelas expectativas frustradas, porque estava certa de que havia tido um encontro especial e conhecido um novo tipo de sentimento, que às vezes chamava de “amor”.
Diante daquela emoção, que eu, como ouvinte, não conseguia alcançar plenamente, apeguei-me a tudo o que ela acabava de relatar para consolá-la e ajudá-la, quem sabe, a enxergar seus sentimentos com mais clareza. Apelei pro amor que ela dizia ter conhecido. Não era ele verdadeiro? Diferente de tudo o que já havia sentido? Então, por que tristeza? Não deveria ela estar feliz por ser capaz de tal sentimento? Poderia contentar-se apenas por senti-lo e por ser correspondida ainda que de forma diferente da que desejava.
Estava claro pra mim, mas não pra ela, que misturava aquele amor que chamava de “sublime”, à rejeição que sentira ao ser deslocada para o papel de amiga. Divorciada há vários anos, bonita e cuidadosa com a sua aparência, minha amiga estava acostumada a relacionamentos onde o corpo era o atributo mais importante e o gatilho para romances fortuitos. Dessa vez tinha sido diferente. O corpo não era o mobilizador daquele envolvimento. Havia muito mais e o suficiente para uma amizade sincera, rara.
Perguntei-lhe se acreditava que um amor, da forma como ela descrevia, era excludente, exigente e dominador. Era uma provocação, porque já a ouvira falar o oposto muitas vezes. Agora era a ocasião de experimentar esse amor em cuja defesa ela discursava para as amigas mais próximas. Se tinha vontade de chorar, que chorasse. Mas que se sentisse, ao menos, grata por tudo o que esse amor tinha lhe trazido. E havia sido tanto que até eu – na condição de amiga – secretamente invejava as trocas, os aprendizados, a evolução e uma certa nobreza que parecia emanar daquele estranho relacionamento que acompanhava de perto.
Ela fez sua viagem. Retornou ilesa, mais segura de si. Mas, ainda hoje, chorou no meu colo, sem saber o porquê. Amigos servem pra isso também! Abracei-a e ela sorriu. Acha que sua tristeza tem a ver com aquele sentimento grande demais para se dar conta ou entender, mas muito bonito. Ela não gosta que eu o chame de platônico. Seca as lágrimas e conta novas histórias: está aprendendo a controlar suas expectativas e a usufruir das relações que surgem em seu caminho com mais liberdade e alegria. Diz que fica triste, como hoje, porque, nas suas palavras, “um encontro tão perfeito de almas” não acontece todos os dias e porque gostaria que aquele sentimento, que ela não conseguia explicar, evoluísse. Bom, de alguma forma, ele deve ter evoluído.
Quando ela consegue olhar pra dentro de si, reconhece que aprendeu a amar-se e que isso tem sido o melhor motor para sua vida. E, mais importante, aprendeu a amar tudo o que está a seu redor, tornando-se uma amiga melhor. Chora no meu colo, mas escuta, também, as minhas histórias. E eu tenho tantas. Também choro com ela. Aprendemos e caminhamos juntas!

segunda-feira, setembro 06, 2010

Eu, sim!

Perceber o quanto temos limitado nossa vida em suas diferentes áreas porque, inconscientemente, não acreditamos ser merecedores de coisas boas é só o primeiro passo para a mudança. Mas é o mais importante. A partir do momento em que nos damos conta de que as maravilhas do mundo estão ao nosso alcance, começa a batalha interior para atentar para as autossabotagens cotidianas. Como estou nesse processo, resolvi compartilhar o que tenho feito.

  • Amor próprio - Quem não gosta de si, não gosta de mais ninguém e perde a chance de viver uma vida mais feliz. Só através do amor próprio podemos perdoar nossas falhas inevitáveis e acreditar que, porque somos especiais, acabaremos por acertar mais na frente. Como desenvolver isso? Olhando muito pra dentro de si, reconhecendo-se com virtudes e defeitos. Também ajuda cercar-se de pessoas positivas que acreditam nelas mesmas e em você. O contrário também é verdadeiro. Se está procurando desenvolver sua autoconfiança, fuja de quem diz que a vida está uma droga, e vive a ressaltar defeitos e derrotas. Ela será a primeira a dizer-lhe que não deve confiar em você e nunca lhe dará muito crédito. Não poderá ajudar-lhe nessa empreitada.
  • Cara feia pro medo – O medo aparece em diferentes momentos e pra todo mundo. Ninguém o descarta. O melhor que se pode fazer é aprender a lidar com ele, sem permitir que ele seja paralisante. Reconhecendo-o, pode-se escolher entre permanecer com ele ou prosseguir, apesar dele. E, quando vamos em frente, ele desiste de nos assombrar e desaparece.
  • Conversar – Falar sobre o que se sente faz um bem enorme. Quando identificamos pessoas que compartilham dos nossos sentimentos, sentimo-nos mais fortes. A fantasia de que somos inferiores, cai por terra ao nos descobrirmos parte de um grupo maior. A força vem da ideia de que, se outros conseguem lidar com suas limitações, nós também podemos fazê-lo.
  • Descobrindo o caroço – Esse é o nome que eu dou para aquilo que me atrapalha, mas que eu não identifico de imediato. Todos temos algum caroço, que, muitas vezes, faz com que pareçamos estar numa situação limítrofes. Mas nada pode ser limitante para quem carrega dentro de si um potencial transformador. Portanto, quando em situações que produzem desconforto, o melhor que se tem a fazer é uma jornada ao centro de si mesmo. Descobrindo onde está o ponto de incômodo, indo tão fundo quanto se conseguir. Com a prática, conseguimos não só desfazer o caroço, mas também ter visões a respeito do caminho que devemos seguir.
  • Potencial criador – Lembro a todo instante de que tudo o que vivo e experimento é fruto das minhas escolhas. Eu creio que posso criar minha realidade e se não o faço como idealizei é porque ainda não me acredito capaz de alcançar aquele objetivo, então começo a trabalhar os meus pensamentos a respeito do que desejo.
  • Pedindo ajuda - Há situações em que simplesmente não conseguimos detectar o que nos assusta ou nos impede de seguir em frente. Ou ainda, detectando, persistimos em velhos hábito sem perceber que eles nos levam ao ponto de partida. Daí o sentimento de se andar em círculos. Nessa hora, o melhor que se tem a fazer é procurar ajuda. Amigos, terapeutas ou quem mais a intuição indicar. Quando estamos abertos, essa ajuda pode vir de onde menos se espera.
  • Agradecer – O Universo é abundante e generoso, mas muitas vezes não aceitamos suas ofertas. Aprendi a receber o que me chega com gratidão. Presentes nem sempre tem o embrulho que idealizamos, mas podem ser preciosos. Então, eu recebo, aceito e agradeço o que me chega, ainda que, aparentemente, não seja o que desejava.

domingo, setembro 05, 2010

Por que não eu?

Assisti a uma entrevista do Eike Batista na televisão, no programa Roda Viva, agora sob a batuta de Marília Gabriela. Confesso que esse homem sempre me intrigou, pelo empreendedorismo e pelo sucesso nos negócios. Tanto que as empresas X estão na minha lista de organizações para as quais quero trabalhar. Durante a entrevista, o que mais me chamou atenção foi a autoestima do sujeito. Nada o impede de ir em frente rumo ao sonho de ser o homem mais rico do mundo.
Não entrarei no mérito dos sonhos e das ações do Eike. O que me interessa é sua autoestima, que faz com que acredite no sucesso mesmo depois de uma derrota. Ele não me parece uma pessoa imune às opiniões alheias, nem ao amargo gosto do fracasso. Muito pelo contrário! Sendo vaidoso, atenta a tudo a sua volta. Mas não se abala a ponto de desistir de seus projetos ou de focar no revés ou naquilo que o incomoda. Segue em frente, com sua visão de que o sucesso é inevitável!
Há quem diga: “Mas pra ele tudo é fácil! Já nasceu em berço de ouro!”. Discordo. Conheço histórias de pessoas que nasceram em meio a fortunas e morreram cheios de dívidas, e de outras que, no caminho inverso, transformaram a pobreza em riqueza. Para mim, o que diferencia os atores de um e outro caso é justamente a autoestima. Só quem gosta e acredita em si pode achar-se merecedor do sucesso e da abundância.
Se é só isso qualquer pessoa pode ser uma versão do Eike Batista, no que se aplica à prosperidade e ao sucesso nos negócios? Certo. Se não conquistamos o que desejamos é porque ainda não acreditamos o suficiente em nós mesmos. E eu não falo apenas de dinheiro, mas de conquistas pessoais e profissionais de toda ordem. Cada um tem suas histórias e eu, aos poucos, vou descobrindo a minha, mas, normalmente, é nessa história que encontramos os registros que nos impedem de nos acreditarmos SEMPRE capazes.
Inconscientemente, num processo muito poderoso, vamos norteando nossos caminhos de acordo com aquilo que pensamos suportar. Restringimos nossas conquistas porque sequer ousamos pensar naquilo que julgamos estar fora de alcance. “Isso é muita areia pro meu caminhão”, já ouvi e disse um sem número de vezes. Mas quem decide o tamanho desse caminhão somos nós. E podemos preenchê-lo como quisermos, se nos acreditarmos capazes de conduzi-lo.
Falando por mim, agarro-me a padrões muito antigos para limitar minhas conquistas. Percebo que o medo permeia todos eles. Restrinjo-me aos padrões familiares pelo receio infundado de ser rejeitada; limito minhas ações porque a ousadia e a inovação podem me custar o erro e o julgamento dos outros. Mas o pior de tudo é, quando à revelia dos meus medos, recebo uma oportunidade maravilhosa do Universo e não aproveito. Inconscientemente, repito: “isso não é pra mim!” Essa percepção, muito recente, tem me feito romper barreiras, num processo que chamo de “resgate de mim”. Fiz uma lista de coisas que não posso esquecer, nessa missão de “resgate”, que compartilho amanhã.
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