sábado, novembro 28, 2009

Dando nome aos bois

Há alguns dias me peguei pedindo autorização para enviar um longo e-mail. Tive muita sorte, porque minha interlocutora não só fez o óbvio – autorizou o envio – quanto sinalizou a estranheza de alguém pedir autorização para falar. Imediatamente produzi um discurso que defendia o cuidado com as relações, o respeito às pessoas e a insegurança diante de uma forma, para mim, inusitada de comunicar sentimentos.
Enviei o e-mail, falei o que desejava, mas fiquei com essa pergunta: por que me preocupar tanto com o outro a ponto de pedir autorização para uma ação tão corriqueira? Até porque o receptor da mensagem pode escolher entre ler ou não, responder ou não, de acordo com seus próprios interesses e desejos. O fato é que demorou alguns dias até eu ter a coragem de admitir que minha ação foi motivada, de fato, pelo receio de não ser aceita. O que eu queria dizer mesmo era: tenho medo de ser rejeitada! Reconheci que confundo aceitação com afeto e, ao confessar isso pra mim mesma, pude começar a tratar esse sentimento.
Acho até bonito: olhar a emoção de frente, reconhecê-la e, simplesmente, dizer que ela pode dar lugar a uma outra mais saudável. Lembrei-me da música: “nem mesmo Cristo agradou a todo mundo”. E nos relacionamentos, de todas as ordens e níveis, não é diferente. Agradamos ou não e isso nada tem a ver com afeto, pois mesmo os amigos mais queridos podem se aborrecer com minhas ideias e atitudes vez por outra.
Acessar esse sentimento foi como parar de mentir pra pessoa com que mais converso: eu mesma. E isso foi bom demais. Desde aquele dia, tenho procurado dar nomes aos bois, sem medo. E, é claro, que os bois são minhas emoções, invariavelmente enormes. Se sinto vontade de chorar ou rir, só pela evocação de um fato, procuro dentro de mim aquilo que realmente causa a dor e me surpreendo não só pelo reconhecimento da verdade desse sentimento, quanto pela responsabilidade que assumo por ele. Denominando-o, reconheço que ele me pertence, qualquer que seja sua origem. Raiva, medo, desejo, curiosidade, preguiça, carência, sentimento de posse e insegurança são alguns dos bois que nominei recentemente.

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