domingo, janeiro 30, 2011

Tem alguém aí?

“Toc, toc. Tem alguém aí?” É isso que muitas vezes queremos saber quando ligamos ou mandamos mensagens e emails pros amigos. Perguntamos se estão bem, com o desejo de que nos peguntem o mesmo. Queremos ter certeza de que estão lá, prontos para nos socorrer em caso de necessidade. O socorro pode mostrar-se desnecessário, mas quando sabemos que ele está lá, nos sentimos mais seguros para seguir em frente, arriscar e simplesmente viver.
Dizem que pessoas felizes, fortes e bem resolvidas dão conta de suas questões. Discordo. E ponto. Por mais feliz, forte e bem resolvida que eu seja, tenho dúvidas, medos, emoções desconhecidas. Na hora em que isso tudo aparece, quero me sentir acolhida. Acho justo. Sou humana e uma das características dos seres humanos é imprescindir da vida em grupo. Mesmo me sabendo amada, há momentos em que preciso de confirmação.
Minha mãe conta que eu e meu irmão, quando menores, costumávamos gritar “mãeeeeeee” quando estávamos brincando em algum lugar da casa. Ela ia até onde estávamos e perguntava “o que foi?” para ouvir “não é nada não. Queríamos saber onde você estava.” É engraçado, porque o tempo passou e eu ainda me pego gritando por alguém. Andei me cobrando isso, como se pudesse chegar ao ponto de ser auto-suficiente. Bem, não posso e não quero!
As minhas fragilidades existem e reconhecê-las me ajuda no processo de aceitação de mim mesma. Aceitar quem sou, para mim, significa abrir espaço para que novos medos, dúvidas e emoções surjam em meu caminho. E eu continuo precisando do outro! De mãos dadas, certamente, alcançamos mais longe.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Tênis x Frescobol

Rubem Alves*
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice? ' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’
Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
* Extraído de "O retorno e terno", p. 51
* Abro mão de qualquer consideração: vou pra praia jogar frescobol.

terça-feira, janeiro 25, 2011

A obra-prima do diálogo e a afinidade

“A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente. Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.” Arthur da Távola
Com quantas pessoas você conversa de verdade? Por que, às vezes, escutamos como se fôssemos surdos? Há palavras que não nos afetam, mesmo quando ditas por pessoas a quem amamos. Parece que falta um ajuste fino. Se o diálogo fosse música, diria que uma obra-prima, com harmonia perfeita, é quase um milagre. Não por acaso, Mozart dizia que conversava direto com Deus. Vai ver que tinha esse dom mesmo, porque quantos compositores do seu calibre, os últimos séculos conceberam?
Então me parece que diálogos plenos são como essas obras-primas: quase um milagre. Meus melhores amigos não são as pessoas com quem tenho mais afinidade, mas são absolutamente imprescindíveis na minha vida. Tenho uma amiga, sem a qual não consigo me imaginar, no entanto, dizemos uma à outra que nossos pontos de encontro são poucos, mantidos e ampliados pelo amor que desenvolvemos em uma relação que dura quase tantos anos quanto temos de vida. Não é uma obra-prima, mas é o que temos e honramos da melhor forma que podemos.
Assim construímos muitas outras relações, inclusive as familiares, onde, muitas vezes, as palavras do que deveria ser um diálogo ricocheteiam em uma espécie de escudo formado por fatores tão subjetivos como interesses, crenças, disponibilidade e outros tantos que compoem nossa identidade. Mas há momentos – raros, penso - em que surge uma obra-prima. Em que o ajuste é perfeito e que as palavras são compreendidas mesmo no silêncio absoluto. Nada passa despercebido e os sentidos não dão conta de todas as percepções.
Nessa ocasiões, o que julgamos limite se dissolve, dando lugar ao vazio. Não há o que transpor: o encontro é perfeito, a aceitação ou compreensão vai realmente além do entendimento. Não sei se o nome disso é afinidade, mas, com certeza, é a essa obra que Artur da Távola se referia. Ela não desmerece as demais, todas tentativas de se atingir a perfeição, mas ganha um destaque que, se música fosse, poderia ser descrita como a harmonia perfeita.

sábado, janeiro 22, 2011

Ao sabor do vento: um amor antigo

“É uma impressão de que você está com vida organizada e com idéias a cerca de tudo. Então você estende a mão para as coisas que acredita a seu alcance, mas não daria um passo para ir pegá-las.” (Sartre, in A idade da razão)
Grupo da Flotilha Barra Vela, onde velejei por dois anos
A vela estava ao meu alcance e, mais que isso, guardada no fundo de um baú imaginário e muito pessoal onde depositamos infindáveis objetos de desejo, mais por comodismo do que por impossibilidade de conquistá-los. A Escolinha de Vela do Camping Club do Brasil, que freqüentei junto com meus filhos em janeiro desse ano, deu-me a oportunidade de abrir esse baú. Reconciliei-me com vento, chuva, sol e mar, permitindo que essas forças da natureza instaurassem em mim um novo ponto de equilíbrio. Que bom que a vida é assim! Estamos, forçosamente, em constante processo de mudança, mesmo sem nos darmos conta.
Velejar tem me possibilitado o contato com o que há de mais essencial e verdadeiro em mim mesma. Parece exagero? Mas não é! A emoção que sinto quando consigo controlar meu barco e entender-me entre cabos, bolina e leme, integrando-me ao vento e às ondas é indescritível. Ver o sol se pôr a bordo do Laser e poder velejar em seu reflexo até que ele desapareça por completo produz bem estar tão grande que as idéias por si só vão encontrando seu rumo.
Homenagem que fizeram à única mulher que
velejava regularmente no grupo
No entanto, as horas prazerosas que passo a bordo do meu barco representam um desafio. Sinto-me tentada a persistir e entender cada vez mais o porquê de cada erro e movimento. Tenho a certeza de que os obstáculos me empurram rumo à apuração da técnica; mas, fundamentalmente, representam a possibilidade de auto-superação. Uma fonte inesgotável de alegria, crescimento pessoal e de dor. Sim, porque nem todos os ventos são amáveis. Testam os iniciantes como a aferir-lhes o gosto pelo esporte e acabam resultando em manchas roxas e dores pelo corpo.
O resultado de todo esse blá-blá-blá é uma delícia: aos 35 anos e depois de três filhos, renasço e descubro (ou redescubro) novos horizontes. Revejo valores, posições e objetivos que fazem com que eu sinta orgulho – por que modéstia? - de mim mesma após cada velejada. Vencer as dificuldades de conciliar a vela com a vida pessoal, profissional e familiar tem se justificado. Os novos amigos que faço só reiteram a crença de estar no caminho certo. Nos locais onde tenho velejado – lagoas de Araruama e Marapendi - ainda não descobri como colocar e retirar o barco da água sem ajuda e sem fazer muita força, mas isso virá com o tempo. Com o tempo também virão novas descobertas. Mas, por enquanto, o que me importa é aproveitar ao máximo essa nova paixão que não é nem de longe tão impossível quanto eu imaginara. Já sei velejar...“agora só me resta sonhar!”.


* Quando escrevi esse texto – em 2003 - era sócia do CCB e participei da XXII Transararuama, na categoria Laser Dupla. Publico-o hoje para lembrar que estamos sempre ganhando novas oportunidades de encantamento da vida. Não velejo mais, mas ainda conservo esse amor pelo esporte e um desejo enorme de voltar a praticá-lo.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Além do virtual

As redes sociais mudaram minha vida e, provavelmente, a sua também. Sem dúvida, as ferramentas digitais ampliaram muito as possibilidades de conhecer novas pessoas, manter contato com velhos amigos, discutir ideias e mobilizar em torno de uma causa. Cheguei ao ponto de achar que isso bastava. Afinal, há momentos em que sequer temos tempo de dar conta de toda essa rede. Para isso, há meios rápidos de dizer para nossos amigos que nos lembramos deles. Tudo pode ser resolvido com um clique. No Facebook, é só clicar em Like (Gosto) e, no Twitter, dar um RT. Dessa forma simples, dizemos “olá, estou aqui”. E isso é bom. Mas há muito mais nos relacionamentos humanos.
Se por um lado, as redes sociais atendem às nossas agendas cheias, ampliam nossa capacidade de contato, por outro, nos limitam à superfície das relações. Sem lembretes constantes, corremos o risco de esquecer que nada substitui o olhar que entrega a alma, o tom da voz que expressa muito mais do que as palavras proferidas, os gestos que fazem conhecer as intenções, o aperto de mão que revela a personalidade, o abraço que acolhe, o diálogo que aprofunda relações. Aliás, aprofundar é a palavra-chave diante da superficialidade a que, às vezes, nos restringimos.
O momento atual é de integrar: todas as vertentes contêm benefícios e possibilidades de aprendizados, mas nunca é demais lembrar que a vida está além da superfície. Ela se esconde (ou se mostra) na profundidade das relações com o outro e conosco mesmo. Sei que é possível conduzir relações com msn, skipe e todas as demais ferramentas e redes sociais. Gosto e me utilizo de tudo isso. Mas fico sempre com a impressão de que tanto avanço tecnológico ainda não dá conta de substituir olhares e abraços!

domingo, janeiro 16, 2011

Vivo ou morto?

"Declaro-me vivo!" A frase foi postada no Facebook, por um amigo muito querido. Não me causou estranheza, afinal, tanto eu quanto ele acreditamos no poder das declarações. Só pra exemplificar: há três meses resolvi testar esse poder com a minha TPM e declaro, todos os meses, quando os sintomas surgem, que eu estou livre dela. Há dias em que minha crença ativa o poder da declaração, mas, há outros, em que nada acontece. Continuo tentando e aprendendo. É sempre uma forma de me conhecer melhor.
No caso da declaração do meu amigo, o que me chamou atenção foi o número de comentários, após o post. Vários conhecidos escreveram mensagens declarando-se igualmente vivos, ou, como eu, convidando a uma celebração por essa vida. Naquele dia, pensei: “qual a necessidade que temos de nos declararmos vivos?”. Estamos vivos, pois não? Registro que meu primeiro impulso ao post do amigo foi dizer-lhe que eu nunca pensei que ele estivesse morto.
Acontece que vivo ou morto não é uma só uma questão de sinais vitais. Nossa referência, aqui, é ao estado em que nos encontramos diante da vida, determinado sempre por nossas escolhas – conscientes ou não. Então, “mortos” seriam aquelas pessoas que parecem adormecidas ou vivem como zumbis. Não sentem o prazer de viver, o pulsar de vida singular que move cada um de nós. Assím, só porque vivemos, muitas vezes, à semelhança de mortos, inconscientes de nosso presente e de nossas emoções, é que precisamos nos lembrar de declarar: “Estamos vivos, sim!”
E vamos tratar de aproveitar, porque, falando de sinais vitais, aqueles que dão conta de que estamos biologicamente vivos, ainda que sejamos incapazes de sentir a alegria da vida, eles podem sumir a qualquer hora. Basta olhar em volta e ver o que está acontecendo a muitas pessoas. Portanto não deixe nada depois. Ame, perdoe, emocione-se, compartilhe, abrace, beije... seja feliz. Declaro-me viva também, e, com muita alegria, compartilho esse post com você!

terça-feira, janeiro 11, 2011

Os filhos erraram e culpa é de quem?

A cena de Passione que me fez refletir sobre mães e filhos
Ele nasceu com o nariz tão afilado e torneado que chamava a atenção das pessoas na maternidade. Mas tinha um senão, queria olhar logo a vida de frente e levantava o pescoço sem nenhuma firmeza ainda, esfregando o nariz no travesseiro. Aquilo me enlouquecia. Aquela pontinha de nariz afundando na cama, porque ele queria ficar de pescoço em pé logo que nasceu. E chorava, chorava muito e sem parar. Foi em julho, mas tinha que ficar com o ar ligado quase o dia inteiro, porque bastava a temperatura subir um pouco para ele começar a gritar. Isso sem falar nas madrugadas, quando berrava pra mamar, pra arrotar, pra dormir. E eu, estranhamente, nem ligava. As madrugadas eram o meu momento de ter ele só pra mim, sem ter que deixar o mais velho de lado. Amamentava, feliz e paciente, a noite inteira. Nem eu mesmo acredito nisso, mas era verdade. Quando a babá chegava, por volta das 8h, entregava a criança e ia tirar um cochilo.
Lembrei disso tudo porque sábado resolvi ver um capítulo de novela – coisa muito inusitada pra mim – e assisti, em Passione, a uma cena bonita entre Fernanda Montenegro e Vera Holtz. Ambas dialogavam sobre os filhos, culpando-se e questionando-se sobre o porquê de eles serem tão diferentes daquilo com que sonharam. Não sei se foi o texto de Sílvio de Abreu ou o talento das duas atrizes ou as duas coisas misturadas, mas acabei pensando na minha relação com os meninos.
Vejo que cada um dos três nasceu com sua própria personalidade e traços pessoais e singulares que se manifestaram desde o dia do nascimento. O do meio, além do nariz afilado, conserva essa inquietude diante da vida e o problema do calor. Se eu não reclamar, passa o dia no ar condicionado. Ainda é o filho que mais me demanda emocionalmente, como em sua fase de bebê, quando devia acordar de madrugada para ter a mãe só pra ele.
O mais velho foi um pouco injustiçado. Primeiro filho, deu-me de presente sua calma e tranquilidade. Dormia a noite inteira e, durante o dia, quase não dava trabalho. Podia ficar horas deitado no berço. Mas eu reclamava do menino que acordava às 5h da manhã. Não sabia, que normalmente eles (os filhos bebês) exigem muito mais do que isso. O tempo passou e até hoje, esse menino – já feito homem – conserva a mesma tranquilidade. Pode ficar horas em seu quarto sem que ninguém se dê conta sequer de que está em casa.
O mais novo evitou os extremos. Dormia bem, mas era levado; regrado, mas brincalhão. Talvez por conta de ser o terceiro, acabou se tornando independente mais cedo. Hoje, mantém essa essência: busca o equilíbrio no que faz. Se exagera por um lado, compromete-se a equilibrar do outro. Na escola, por exemplo, deixa os afazeres de lado, até que as notas caiam. Quando isso acontece, faz o que for preciso, sem recorrer à ajuda, para elevar a nota e ficar na média, que é o suficiente para ele. No futebol, é diferente. Já federado, pensando na profissionalização, dá o seu melhor o tempo todo, mas compensa os excessos com a disciplina dos tratamentos fisioterapêuticos, dieta e sono regular.
Então, voltando à cena da novela, não fico buscando em mim as razões para as ações deles. Sei que cada um veio ao mundo com características próprias e desafios pessoais que eu tento respeitar. Ressalto que tento, porque eu também vim ao mundo com minhas características e desafios que eles devem aprender a respeitar. Há reclamações e incompreensões de todos os lados, mas eu administro a minha culpa, reconhecendo os meus erros e afirmando que estou fazendo o meu melhor. Nenhum deles vive os meus sonhos, têm os deles próprios, e a mim cabe apenas o suporte para que sigam em frente, seja qual for o caminho que escolherem. Digo pra eles que a felicidade vem de assumirem as consequências por suas escolhas e a liberdade de refazê-las a cada instante. Eles ainda não entenderam muito bem essa parte e ainda querem dividir comigo mais do que posso suportar.
Assim como não sou responsável por suas essências, não posso ser responsável pelas escolhas que fazem. Também faço as minhas que incluem, inclusive, errar no meu papel de mãe. Aprendo sobre a vida junto com eles, todo o tempo. Sem culpas, mas com responsabilidade.

domingo, janeiro 09, 2011

Era um biquini de lacinho, tão pequenininho...

Acabo de ver a foto de uma amiga no Facebook, onde ela, linda, refere-se a si mesma como uma baleia. Não exagero no adjetivo: ela malha todos os dias, pega muito sol, tem abdome e pernas definidas em muitas aulas de local, mas considera-se UMA BALEIA. Tudo bem, cada um sabe onde seu calo aperta, mas no outro extremo, está uma outra amiga que não tem corpo escultural, não malha e nem está dentro dos padrões da boa forma carioca, que diz pra mim: “me acho linda”. Ela chega ao ponto de desfilar pra mim com suas roupas justas, dizendo: “olha como estou gostosa”. Pode ser difícil de acreditar, mas a verdade é que a amiga sarada quase nunca está com namorado, enquanto a outra sempre está com alguém, geralmente homens mais novos e apaixonados.
Eu, que não estou num pólo nem no outro, me ponho a pensar diante desses contrastes. Fico em cima no muro, o que não significa ainda o caminho do meio (do equilíbrio e do bom senso). Às vezes, penso em largar de mão minha tentativas tímidas de melhorar a forma física e investir mais naquilo que certamente levarei pra sempre: o equilíbrio do espírito. Outras, penso em seguir os conselhos dos filhos, atletas e muito exigentes, e voltar (sim, porque já fui marombeira) a malhar pesado; quem sabe aderir ao silicone, opção de mais de 80% das minhas amigas; ou, talvez, uma lipo...
A bem da verdade, olho-me no espelho e nem enxergo a “baleia” a que meus filhos se referem; assim como olho a foto da minha amiga no Facebook e acho que está muito bem. Ando em busca de outros atributos, sem desprezar os benefícios saudáveis da atividade física. Mas confesso que tamanha pressão me deixa confusa. Marco e desmarco consultas com cirurgiões plásticos, faço dieta até me dar conta de que adoro tomar chopp com os amigos e comer eventualmente um bolo de chocolate tem o seu valor.
Por conta desse conflito, adiei a estreia do biquini novo até este fim de semana. Como não fiquei com o corpo que eu própria esperava, resolvi estreear o tradicional biquini de lacinho como estou: com alguns quilos acima do peso. Os filhos olharam de cima abaixo. Um pediu uma lipo urgente, o outro emendou com a sugestão do silicone e eu respondi: claro que posso melhorar, mas não me pressionem. Queria estar com abdome mais enxuto, os músculos mais rijos, mas estou feliz e é o que importa. O resto, continuo tentando obter, afinal não se pode ter tudo.
Confesso um pouco de preguiça para me dedicar com mais intensidade aos exercícios físicos, mas há também uma questão de prioridades. Em 2010, optei pela meditação, pelo estudo e me dediquei mais ao trabalho. Vi mais filmes, li muito e passei bastante tempo com amigos. Só que essas escolhas, não me livram da pressão que a grande valorização da estética feminina ainda exerce sobre mim. Essa falta de imunidade deve ser culpa da proximidade da praia e dos benditos biquinis de lacinhos. Eu sigo no conflito. Talvez bote um silicone, talvez não. Talvez invista num novo tratamento estético, talvez não. Por hoje, fico comigo, do jeito que sou nesse exato momento, com minhas tensões e alegrias. Assenhorear-me de mim é o primeiro passo para fazer escolhas, ainda que elas mudem a cada dia.
PS: Gostaria de ilustrar esse post com o meu biquini novo de lacinho, mas ainda não me assenhoreei de mim a este ponto. Infelizmente.

sábado, janeiro 08, 2011

Pelas lentes do amor

Tão paradoxal quanto possa parecer, aprendi muito sobre o amor no meu processo de separação, que ainda se conjuga no gerúndio, num bom relacionamento de 22 anos. Amor é aprendizado de vida, inexplicável, simples, complexo e contínuo. Infinito, talvez. O fato é que ao me dar conta do desgaste e da falta de perspectivas do meu casamento, comecei a perceber do que as relações são constituídas e a experimentar o amor de uma forma mais plena e verdadeira, com filhos, amigos, empregados, parceiros, clientes, estranhos...
Não se trata de uma nova relação homem x mulher, visto que esta, ainda que desejável, não ganhou espaço na minha vida, mas de todas as relações que constituem o meu caminho. Percebendo o quanto afeto e sou afetada por todas as pessoas com quem cruzo, incluindo – claro - meu ex-marido, vou aprendendo a amar e respeitar mais cada uma delas.
Os efeitos que tenho experimentado são notórios. Se por um lado, estou tendo que aprender a viver sem a figura do companheiro, para mim, um complemento importante na jornada da vida; por outro, sou capaz de perceber e receber o amor que vem de todas as outras relações com que sou agraciada. Posso dizer que, ao longo do último ano, construí relacionamentos onde não existe o desamor e onde jamais me senti ignorada ou rejeitada. Sou, sim, contrariada, em minhas vontades e escuto, muitas vezes, o que não gostaria, mas nada poderia ser diferente entre pessoas com constituições distintas. Afetamo-nos mutuamente e com respeito todo o tempo, tornando-nos mais completos, compreensivos e, principalmente, mais capazes de amar.
Eu disse distintas? Nem tanto. Considerando que somos todos humanos e que temos como núcleo uma constituição amorosa e divina, encontramo-nos naquilo que temos em comum: nosso amor essencial. E é justamente isso que nos faz capazes de ouvir o que não queremos, mesmo quando o outro vai de encontro ao nosso desejo; superar a dor (ou seria contrariedade?) de não ter a vontade satisfeita e refazer-se a ponto de perceber o amor do outro. Então posso dizer que tenho me sentido muito amada.
No entanto, essa plenitude não me impede de, algumas vezes, chorar porque minhas expectativas não foram alcançadas (quem disse que eram pra ser?), cerrar os ouvidos aos filhos com suas diferenças tão contundentes e duvidar da amorosidade da essência humana, entre tantos outros “deslizes”. Mas tudo bem, porque, como já disse antes, amar é aprendizado (contínuo, talvez infinito)... e perdão, antes de tudo, a mim mesma.

domingo, janeiro 02, 2011

Um espetáculo de Reveillon

Sonhos, desejos, vontades... Não sei o nome certo dessas aspirações que regem nossas vidas. Mas o fato é que eu, mesmo sendo carioca, nunca tinha visto os fogos de Copacabana. Não interessa que meus pais não tivessem o hábito de ir à Zona Sul para o reveillon ou que, depois de casada, tenha me acomodado com as crianças pequenas ou sei lá mais quantos motivos poderia listar para não ter realizado esse sonho mais cedo. O que me importa é que, este ano, eu fui à Copacabana e assisti ao show de fogos com meu filho mais velho, na areia da praia, em frente à rua Santa Clara.
Levei pra areia o melhor champagne que pudemos achar e juntos nos emocionamos com o show pirotécnico. Mas o show, a queima de fogos deslumbrante, era só uma parte do espetáculo. O melhor era a mistura de todos os ingredientes: shows espalhados pela areia, os acessórios que cada um escolhia pra comemorar a data e a animação de pessoas de todos os tipos, idades, bairros, estados e países que depositavam naquele momento as melhores expectativas para o ano novo. Naquele momento, a minha champagne francesa igualava-se a Sidra da moça ao meu lado. A festa, como outras tantas populares que se espalham por nosso País, irmana a todos os seus participantes.
 A vibração era tão grande que eu nem me dei conta de que os fogos queimaram por 16 minutos, como vi na televisão depois. Abraçada ao filho, fiquei em êxtase e tão imersa naquele momento que só me dava conta da emoção que brotava em cada luz que iluminava o céu, dos gritos de admiração do povo, da energia que emanava das pessoas que estavam na areia. Tudo foi perfeito! Depois do show, mãe e filho deslumbrados, perguntei-me porque demorei tanto tempo para participar dessa festa, gratuita, acessível e espetacular. Não encontrei resposta convincente, só desculpas...
Podia ter bebido um pouco menos, é verdade, mas esse é só um detalhe para quem está aprendendo a realizar sonhos. Todos nós temos muitos deles, mas a vida passa e realizamos muito pouco daquilo que desejamos pra nós. Há sempre muitos motivos: falta de dinheiro, companhia e oportunidade, a educação recebida dos pais, muita ou pouca idade e mais uma lista de desculpas. No entanto, a razão mais forte para a maioria (senão todas) as frustrações está em nós mesmos. Sem nossa própria permissão, não conseguimos realizar nada. É claro que, depois de nos permitirmos, temos que agir para conseguir o que queremos, porque do céu só caem os fogos mesmo!
Então, para começar bem o ano, desejo a todos coragem, determinação e muita alegria, porque sonhos realizados devem ser ser muito celebrados pela vida!
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