domingo, agosto 22, 2010

O valor das relações

Mulheres de outras tribos
buscam valores
diferentes
Andei lendo alguns textos da antropóloga Mirian Goldenberg e fiquei às voltas com as questões que ela levanta sobre o valor da corpo, do cônjuge e da fidelidade. A pesquisa é ampla, foi publicada recentemente, mas algumas reflexões me dão vontade de gritar: “Para tudo! Quero o novo pra mim!” Não tenho certeza de como se constroem novos modelos de relacionamentos, na sociedade em que vivemos. Sou otimista, no entanto, e em meio a alguns sustos e tropeços, acredito possível um relacionamento que liberte, baseado na partilha e no amor, capaz de contribuir para a emersão de qualidades individuais reveladas pelo afeto de um pelo outro. Brinco com as amigas descrentes, mas sempre concluo: “Se acredito, assim será!”
Acho que precisarei de vários posts para falar o que me intriga nas pesquisas da Mirian e que, para mim, servem de sinal de alerta a me indicarem o caminho que não devo seguir. No blog Feminina Plural li sobre o valor do corpo. Certo que nós, cariocas, especialmente aquelas que vivemos à beira-mar, atribuímos valor diferenciado ao físico. Mas até que ponto esse valor pode sobrepujar outros que trazem satisfação duradoura e crescente? Acontece, e muito, no Brasil. Senão, por que outra razão as cirurgias plásticas se popularizariam a ponto de estarem acessíveis a todas as camadas sociais em até 24 vezes sem juros?
Quando estive na França, há três anos, hospedada numa espécie de pensão familiar, dirigida por pelo casal Jean e Sylvie, uma psicóloga que mantinha seus cabelos grisalhos, o motivo da banalização da plástica foi uma das perguntas que me fizeram. A psicóloga não conseguia entender o que poderia fazer uma mulher recorrer a uma alternativa de risco e invasiva para manter-se jovem. Isso causava tamanha estranheza àquela mulher de mais de 40 anos, que conduzia sua vida de forma simples, sem muito esforço: comida saudável, ida ao trabalho de bicicleta, muito estudo e leitura, vida familiar estável. Com tudo isso, não conseguira manter o corpo dos 20 anos, mas tinha elegância e estilo.
Para quem investe no corpo, não há muito o que fazer. Num país em que o valor desse “bem” é tão alto, vale-tudo para mantê-lo vistoso: remédios para emagrecer, tratamentos caros (parcelados a perder de vista), horas de ginástica, cirurgias etc. Mas isso é pouco, porque se esse valor supera os demais, a valorização e o reconhecimento de quem se é, de fato, ficam comprometidos. Sou um corpo? Então como posso envelhecer e começar a acumular, contra minha vontade, uma teimosa gordura abdominal? Sou um corpo? Então naturalmente serei trocada por outros corpos mais interessantes. Para os homens as questões são similares. Em relação a eles mesmos e a suas parceiras.
Diante desse quadro, faz sentido que a antropóloga tenha verificado em suas pesquisas que as mulheres mais gordinhas tendem a manter relacionamentos mais longos. Penso que essas mulheres e seus pares tenham descoberto outros valores que, certamente, fazem a diferença na hora de construção e manutenção de um relacionamento. O assunto não se esgota, mas, por ora, ponho-me a refletir naquele relacionamento que acredito possível: o corpo não será seu lastro, porque nada é tão transitório quanto ele que, ainda por cima, está inevitavelmente fadado à decadência. Mas tenho outros valores que estão em franca e poderosa expansão. Eles podem – e deverão - ser o lastro de meus novos relacionamentos: autoconfiança, conhecimento, algum humor e muita resiliência. A lista é maior e o investimento tem sido alto na aquisição desses valores, mas paro por aqui porque, em tempos de campanha política, isso poderia parecer mentira.

4 comentários:

Christina Castilho disse...

Acredito em pouquíssimos relacionamentos duradouros que se baseiam no amor, no respeito, na autoconfiança, na troca permanente. Acredito em muitos relacionamentos que duram pq um ou ambos dos cônjuges mantêm relacionamentos extraconjugais rasos (sem criar laços com os/as amantes). Nesse balaio todo, mesmo só como observadora, já que sou avulsa convicta (ou por imperativo da vida), acredito sobretudo que o indivíduo precisa estar na relação de cara limpa e sem buscar ser o simples espelho do que acredita que o outro espera/quer. Não são retardamentos artificiais do envelhecimento do corpo que farão esse espelho durar pra sempre. Se a base for só essa, ele vai se quebrar, mais cedo ou mais tarde. Então, fazer o quê? Ser seu próprio espelho e acreditar que o cosmos vai te rodear com pares que pensem parecido.

Unknown disse...

Moni, como falei e como vc citou o assunto é vasto e ainda precisará de muita linha para expressarmos tudo o que pensamos.

Nunca acreditei numa fórmula mágica para o amor e para os relacionamentos, mas acredito que quando uma pessoa vê a si mesma somente como um pedaço de 'carne' é assim que os outros a verão também. Acho que isso que as entrevistadas da Mirian relataram: muitas relações sem companheirismo, porém, acho que elas mesma se rotularam assim e assim foram tratadas.

Adorei seu texto, que complementou o meu e o do Marcelo. Beijos!

Mônica Alvarenga disse...

Cristina, acredito e desejo relacionamentos em bases bem diferentes das que experimentei até agora. Não sei como serão, mas busco a verdade, a liberdade e a partilha como premissas para uma relação saudável e feliz. Só saberei como essas coisas se juntam pela experiência, ensaio e erro... Vou compartilhando meu laboratório. Espelhar a imagem q o outro deseja é muito comum e é o que faz ruir muitas relações, assim como fundamentos fracos como o do corpo, uma castelo de areia!
Agradeço a Ana por ter estimulado essa reflexão!
Beijos.

Silvio Freire disse...

A pedidos, um comentário masculino.
Na minha adolescência, as pontas das clavículas salientes nos ombros me deixavam muito incomodado. Estão comigo até hoje, o que é um sinal senão de magreza, pelo menos de um corpo que tento manter um pouco mais leve e esbelto. Ou seja, nenhum incômodo.
Simples exemplo que uso para confirmar que, na minha opinião, o que vale mesmo é a auto-estima. Se está alta, não ficamos nos preocupando se ela ligou ou vai ligar (vejam o post "Ele simplesmente não está a fim de você", o primeiro post de agosto deste blog). Se está baixa, os resultados são desastrosos para qualquer relacionamento: "onde você estava? porque demorou tanto?".
Mesmo havendo amor, a insegurança com esses fatos corriqueiros provoca o questionamento inconsciente, muitas vezes não racionalizado e quase sempre não verbalizado. E isso é o demônio à espreita da próxima discussão do casal, quando aflora a insegurança e ocorrências são então verbalizadas da pior forma possível. E nossas reações quase sempre nos deixam envergonhados por dentro, ao perceber a irracionalidade de tudo, mas agora é tarde, diz o orgulho, e haja desgaste.
Em toda relação, nova ou antiga, não é difícil perceber a presença desses fatores, que vão aflorar quando a guarda for baixada. Ou aceitamos e nos preparamos para preservar o amor que temos ou caímos fora, superando a necessidade de ter alguém e aceitando o risco de passarmos mais um período sozinhos. A escolha é nossa, e fique claro que manter essa situação sem solução é viver uma vida infeliz.
Acredito ainda que não existem valores que substituam os valores originais. Se amo essa pessoa, é com amor que vejo nela os sinais do tempo.

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