sábado, agosto 21, 2010

Menina ou mulher: de que lado você está?

Uma vestia rosa claro, sapato rasteiro combinando com a roupa e o cabelo preso num rabo de cavalo. A outra vestia bordô, sandálias e, com os cabelos soltos, parecia se atirar pela vida em cada passo quando caminhava. Aparentemente, tinham a mesma idade, pouco mais de 30 anos, mas a voz e o estilo da primeira conferiam-lhe ares de menina. A voz meiga, no entanto, não impedia-na de discutir com a outra em pé de igualdade. Uma dizia que estava apaixonada pelo rapaz que há meses lhe cortejava, mimando-lhe com flores, telefonemas frequentes e lembranças em datas especiais. A outra ria, dizendo que a paixão era uma ilusão que enredava moças tolas impedindo-lhe uma visão de mundo mais ampla.
Homenagem a Eliane @emrismael
www.corearte.com (força!)
De fato, ela não conseguia imaginar-se ansiando por mimos em uma relação. Era óbvio que gostava de presentes, de ser lembrada e de receber telefonemas que lhe diziam o quanto era especial. Mas não se sentia devedora nesses casos, nem transformava o prazer que sentia em ser agradada em seu maior objetivo na vida. Conseguia enxergar através dos mimos e sua alegria não a impedia de ver – - de sua forma muito pessoal – a pessoa e suas intenções. Sim, gostava de namorar – embora estivesse sózinha no momento - e desejava ter um relacionamento longo, ter filhos, talvez casar, não necessariamente nessa ordem. Mas, antes de mais nada, queria sentir-se feliz pelo que era. E, quando falava assim, não se referia somente a trabalho, mas a um conjunto grande de outras coisas a que atribuía valor em sua vida.
“Mas o que poderia ter mais valor do que ter uma família, um marido carinhoso, uma casa e filhos?” Essa era a verdade para aquela mulher, a de vestido rosa, que perdia a cabeça quando engatava um romance apaixonado. Uma vez conhecera, no trabalho, um italiano que jurou-lhe amor eterno e queria levá-la para Europa. Quase foi, porque era do tipo que fazia tudo por amor. Pelo menos daquilo que imaginava sê-lo, porque a paixão durou um mês após o retorno do rapaz para sua terra. Mas não desistia: estava sempre apaixonada, sentindo o coração sair pela boa, relendo cartas de amor.
Observava as duas, tão diferentes a seu jeito e tão mulheres. Tentava tomar um partido naquela discussão, mas não conseguia decidir de que lado ficar. A mulher de bordô estava certa e, sinceramente, não conseguiria, hoje, imaginar a vida de outra forma. Mas virar as costas para a doce mulher com jeito de menina também me parecia impossível. Ela ainda existia dentro de mim. E, provavelmente, dentro daquela resoluta e bela moça de bordô. Abraçamo-nos. Seguimos juntas, apaziguadas.

3 comentários:

Li Balbinno disse...

Não fiz as pazes entre "as meninas". Resolvi usar bordô desde muito. A menina eu mandei para a terapia e daí ela cresceu! (risos!)
Amei o texto!
Bjs e parabéns por todas as postagens!

Eliane disse...

Querida Mônica! Lindo texto!
Obrigada pela homenagem e principalmente pela FORÇA que me transmitiu, e sempre tem me dado, desde o dia em que nos conhecemos!
A família é tudo na vida de gente, é o bem mais precioso que possuímos! E os nossos amigos são as flores que enfeitam e alegram o nosso jardim!
É sempre bom nunca deixarmos morrer a criança que existe dentro de cada um de nós!
Obrigada por tudo Querida! Que Deus te abençoe e guarde todos os dia de sua vida! Beijos
Eliane (@emrismael: www.corearte.com)

Anônimo disse...

Adorei o texto Mônica!
Creio que estou dos dois lados. Sou uma mulher experiente, mas, às vezes, prefiro olhar a vida com olhos de menina. A experiência traz com ela uma precaução que nos impede de viver plenamente algumas situações. Beijos!

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