segunda-feira, junho 07, 2010

Virando a página

Eu tenho aflição quando tenho que virar páginas. Quando estou lendo um livro, quero logo saber o que vem depois e, às vezes, chego a virar algumas páginas para saber o que acontece mais à frente. Depois volto ao ponto onde parei; ansiedade domada. Em se tratando de revistas, começo pelo meio ou pelo final, o que é mais frequente. E na vida? Não dá pra antecipar a crônica da última página. Há uma ordem cronológica que misteriosamente (e tranquilamente) ignora minha ansiedade. E eu tenho que aguardar.
Fui adquirindo alguma sabedoria com o passar do tempo. De adolescente que não conseguia aproveitar uma festa pensando na que viria depois, passei a mulher que aguarda e tenta respeitar o fluxo da vida. Também, o Universo é sábio e me presenteou com três gestações, onde aprendi o que significa esperar e respeitar a natureza. Na terceira, a tranquilidade era tanta que, sem nenhuma impaciência, pedi que os ultrassonografistas omitissem o sexo da criança. Para que antecipar o presente que a natureza iria me oferecer? Desembrulhei-o a termo: na sala de parto.
Depois vem as fraldas, os dentes, o engatinhar e o andar, o falar, o escrever, chegando ao vestibular e à primeira namorada. Pra nada disso adianta ter pressa. Tudo acontece a seu tempo. E as mães vão tomando lições e aprendendo a esperar. Mas, nem tudo é perfeito, e a ansiedade de ontem deu lugar ao medo do que está por vir. É claro que não estou acomodada com o sentimento e reconhecendo-o vou tratando de enfrentá-lo como a tantos outros medos que aparecem por aí. No entanto, não deixo de me intrigar diante do temor do que a próxima página poderá me trazer. Uma ótima história? Uma página a ser preenchida, ainda sem enredo definido? Um conto triste? Eu não sei. E ninguém pode dizer que sabe. Mas sem virar cada uma delas, não chegaremos ao fim do livro da vida.
Lembro-me de uma sessão de análise; o susto do terceiro filho, que havia motivado o início da terapia, já havia passado; o menino já estava com uns 6 anos; e eu comentei com meu analista que estava descobrindo coisas a meu respeito que sequer imaginara. Estava curtindo o processo e achava cada sessão uma grande oportunidade de autoconhecimento e um privilégio. Ele explicou: “quando vencemos as crises, podemos virar as páginas seguintes com mais tranquilidade, podendo usufruir das surpresas que elas nos reservam”.
É preciso coragem, carinho, amor, compreensão e mais um monte de coisinhas para prosseguir virando as páginas. Umas vezes, estamos sozinhos; outras, acompanhados, mas não importa: virar a página é preciso. O que vem depois, com certeza, é a mais linda continuação da história que é a vida. Vamos embora, vamos virar a próxima...

8 comentários:

Silvio Freire disse...

Que beleza!

Li Balbinno disse...

Eu adorei tudo! O novo visual e seu texto!
Bjs!

Unknown disse...

Moni... amei o texto. E que bom que vocês gostou do layout que eu montei pra vc!

Espero que curta muito seu espaço!

Super beijos e uma semana super produtiva pra vc!

Mônica Alvarenga disse...

Q bom q vcs gostaram! Voltem sempre! A minha sensação é de quem acaba de reformar a casa e está louca pra receber os amigos! Bjs

Patricia Canarim disse...

Parabéns pelo novo lay out, e os textos sempre finíssimos...bjs

Unknown disse...

Gostei muito do texto e do visual.
Parabéns, minha querida. Sucesso pra ti, sempre!

Bjo,

Helcio Maia disse...

Conheço bem essa ansiedade...a quase necessidade de virar páginas, antecipando o que ainda está por vir, é impulso quase irrefreável.
Mas, virando a página, conseguiremos ler uma de cada vez, saboreando o momento que ali está, de braços abertos, esperando que o aceitemos.
Parabéns elo texto, pelo espaço poético.
Abraço!

Mônica Alvarenga disse...

Obrigada pela visita e pelos comentários. Tenho exercitado muito o meu estado de presença para respeitar a ordem do livro da vida. Grande abraço!

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