domingo, junho 20, 2010

Futebol é assim mesmo!

A primeira vez a gente nunca esquece. É o que dizem né? E com os filhos temos uma primeira vez quase que diariamente. Desde que saem da barriga da gente, vamos acostumando com a primeira mamada, o primeiro xixi, a primeira consulta ao pediatra, numa lista sem fim. Se com o tempo deixamos de registrar nos álbuns as primeiras vezes, jamais deixamos de guardar em nossas mentes a primeira pergunta embaraçosa, a primeira namorada que cruzou o batente da porta de casa, a primeira chamada na escola... e a primeira “demissão” ou dispensa ou seja lá como se fala em futebol.
Meu filho mais novo joga futebol desde muito pequeno. E bem. Tanto que participou de um seleção do Flamengo, quando ainda frequentava escolinhas, e foi jogar em Portugal pelo clube. Há pouco mais de um ano, foi federado pela primeira vez. Foi uma grande alegria. Não tinha salário, mas tinha compromisso de profissional, apesar da pouca idade. E pressões que eu não imaginava que uma criança pudesse suportar. Ganhou habilidade e técnica com o treinamento. Tudo ótimo, até hoje quando soube, em uma reunião com os pais, que o time foi extinto, fundindo-se a um time maior e que ele, junto com outros colegas, havia sido dispensado. Foi a primeira dispensa e, pra mãe, acostumada a ver o filho passar em testes, peneiras e sobressair-se em campo, uma grande decepção.
Eu não entendo nada mesmo de futebol, mas sei que é assim mesmo. Nesse meio, todo mundo sabe que nem todas as decisões são técnicas e que os critérios são, muitas vezes, subjetivos; mas eu fui pega de surpresa. Caí do cavalo. Como assim? Dispensarem meu menino? Foi o meu primeiro sentimento. Saí da sala assim que ouvi o nome dele. Transtornada. Não pensei que me sentiria assim diante de algo que simplesmente “acontece”.
A primeira vez não se esquece mesmo. Acho que transferi para aquele momento toda a minha dificuldade com recusas e negações. Tomou conta de mim a menina mimada que não sabe o que fazer quando contrariada, levando a questão para o lado pessoal e alimentando um grande complexo de rejeição. Desabei por minutos. Era com ele, mas talvez chorasse mais por mim mesma. Uma mistura confusa e insconsciente de sentimentos. Custei a separar o que era meu do que era do filho.
Mas havia mais. Essa mania de mãe achar que filho não vai dar conta da vida. Logo eu que incentivo todo mundo a ter suas experiências, tomar suas próprias decisões, arcar com a responsabilidade de suas atitudes, estava lá na linha de frente do bloco “deixa eu sofrer por você, porque essa dor é minha”. Mães, às vezes, sãs tontas e, na ânsia de proteger a cria, arvoram-se com super-poderes que jamais terão. Não se pode sentir dor de filho. Ainda que se queira. Cada passo da vida deles pertence só a eles, mas tem horas – como hoje – em que eu esqueço. Como meu “bebê” estava longe, em um campeonato de futebol, só fui vê-lo à noite. Eu arrasada, ele me consolando: “Futebol é assim mesmo, mãe! E, se eu quiser, poderei escolher entre dois clubes pra começar a treinar já na próxima semana.”
É assim, então? Eu sofrendo e você, preparadíssimo para as rasteiras da vida, tirando essa decepção de letra? Será que eu e o pai dessa criança fizemos um bom trabalho? Acho que sim! Mas custo a me convencer de que nossa tarefa seja só a de estar por perto, observando o fluxo da vida, apoiando quando necessário e aprendendo, como hoje, com cada primeira vez. Obrigada, filho!
* E assim que tiver novidades, posto aqui a nova camisa do menino!

Um comentário:

Helcio Maia disse...

Mônica,
futebol imita a vida e ela (a vida) é atravessada por encontros e desencontros, acolhimentos e rejeições.
Muitos craques foram dispensados, de seus primeiros clubes...persistiram, não deram muita bola para quem não os percebeu e...venceram.
Noutros campos, não é diferente: olhares que são negados, abraços que não aconecem, cumplicidades despedaçadas...mas a gente sofre, cresce, esquece e, a volta por cima acontece...
Abraços futebolísticos.

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