sexta-feira, junho 18, 2010

“Ter tempo é questão de preferência.”

Acho que nunca esquecerei o dia em que a diretora da escola onde estudei por 12 anos, entrou na sala de aula, seguiu direto pro quadro negro e escreveu essa frase. Devia estar na 3a. série do Ensino Fundamental. A falta de tempo em questão era a mania recorrente da turma de neglicenciar as tarefas da escola. O engraçado é que a maioria dos meus colegas de então até hoje se lembra desse dia. Tia Norma, como a chamava, deixou boas lembranças para muitos que frequentaram o Educandário Monteiro Lobato, em Campo Grande.
A frase me vem sempre que estou às voltas com as questões de tempo. E, quando me esqueço dela, uma grande amiga, dos tempos de jardim de infância, torna-a atual novamente. Ontem, quando recebi um telefonema de outra amiga, com quem também tenho um relacionamento muito próximo, foi inevitável lembrar de tudo isso. Ela não trabalha fora, mas não lhe faltam ocupações que deixam quase tanto espaço na agenda quanto as minhas, de ordem bem diversa. Há mais de um mês, não sentamos pra conversar e ela lançou, meio séria meio brincando: “Amor precisa de cuidados regulares para não acabar”. É um fato e eu poderia encerrar o texto aqui, mas o meu desejo de expurgar a frustração por ainda não saber lidar bem com o tempo é maior que essa constatação.
Óbvio que me desdobrei em argumentos, contei um pouco da minha vida atual para justificar minha falta de tempo em encontrá-la, mas não houve jeito, acabei caindo na velha questão da preferência, que a diretora da escola escreveu sabiamente no quadro-negro. O que me leva a estar aqui escrevendo, em detrimento de tudo o mais que tenho que fazer? Pensando bem, já fiz loucuras com a minha agenda só por conta desse preferir: desmarquei reuniões, faltei a trabalho, prolonguei almoços... Nunca me arrependi, mas tenho que reconhecer que em todas essas vezes havia um desejo extremo de fazer algo diverso, de estar em outro lugar e a licença concedida a mim por mim mesma de assumir minhas preferências.
Acho que o tempo fica testando nossa capacidade de priorizar e, quando não estamos felizes, ele nos joga na cara: foi você que quis assim. Tenho sentido falta, assim como minha amiga, de conversar. Justo eu que vivo tentando resgatar a importância do “papo”. E nem adianta dizer que sinto falta dos tempos em que não havia celular e internet, quando a conversa era a única forma de relacionar-se. Também não adianta enumerar os benefícios que a tecnologia e as mídias sociais trouxeram para minha vida, permitindo bons relacionamentos com pessoas que sequer conheço pessoalmente. É tudo verdade, mas nada é exclusivo nos tempos atuais. Mais do que nunca, vivemos tempos de inclusão, porque há um sem número de opções em todas as áreas que acabam sendo integradas à nossa vida.
Por isso mesmo, acho que também vivemos um momento de separar o joio do trigo. A mesma tecnologia que oferece o twitter, disponibiliza recursos muito precisos para filtrar relacionamentos, acesso a informações, e-mails, telefonemas. Só que nada disso invalida todas as frases “feitas” que escrevi anteriomente. Quem ama cuida e faz escolhas que incluem esse amor. Já marquei um almoço com a minha amiga, mas preciso confessar que tenho uma dificuldade enorme de fazer escolhas, estabelecer filtros e que, portanto, esse continua sendo um grande desafio e, provavelmente, assunto de outros posts.
Quando acabei esse texto, o celular tocou. Era um amigo querido que, também sem tempo para conversar, aproveitou o intervalo entre dois compromissos pra me encaixar em sua apertada agenda. Lembrei do que escrevera sobre preferências, atenção regular aos afetos, filtros e conexão de pessoas pela tecnologia. No fluxo do tempo (e da vida) há atalhos misteriosos, que, às vezes, chamo de sincronia.
E você? Como faz suas escolhas? Que filtros usa?

2 comentários:

Profº Luciano Pacheco MSc. Coach disse...

Meu pai canta a todo tempo a musica do Zeca pagodinho: "Deixa a vida me levar". Como não sou tanto cuca fresca como o meu pai, vou praticando o meu lema e tema do meu livro Nem Oito Nem Oitenta. Planejo a minha agenda com espaços para poder seguir os sinais que a vida me dá o tempo todo.

Mônica Alvarenga disse...

Claro que gostei do comentário, Luciano, e mais ainda de saber que vou poder ler e comentar aqui mesmo o seu livro! Ansiosa pra fazê-lo passar a frente na fila dos livros que me aguardam! Um abraço.

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