domingo, abril 25, 2010

Por Relações Sustentáveis

Afetamos sobremaneira a vida dos outros e somos afetados por eles. Não importa o tipo de relação que estabelecemos com os que nos rodeiam: amigos, professores, alunos, subordinados, chefes, colegas de trabalho, cônjuges, namorados, vendedores de pipoca, funcionários de banco: todos têm impacto em nossa vida e são impactados por ela. A medida desse impacto é que caracterizará a relação. E eu já estou aqui pensando em um gráfico que analise qualidade e continuidade do impacto, criando uma matriz de relações. Muito técnico? Talvez. No entanto, penso, de fato, que enquanto não nos dermos conta das verdadeiras consequências de nossas relações, estaremos contribuindo para despejar mais lixo emocional num mundo que já está poluído em demasia.
E isso é muito palpável. Eu, por exemplo, ando preocupada com as guimbas de cigarro. Fumo muito esporadicamente e, quando essa vontade eventual acontece de vir num engarrafamento, jogo a ponta pela janela. Sinto-me mal e imediatamente fico pensando naquele filtro de cigarro somado a tantos outros, que juntos demorarão cerca de cinco anos pra se desfazerem. Na rua, já não jogo no chão, mas no carro ainda não encontrei uma solução, senão a de não fumar mais no trânsito.
O mesmo acontece com as nossas relações. Se deprecio o meu filho, posso estar contribuindo para criar nele sentimentos e crenças a respeito de si próprio que, às vezes, exigem muita terapia para serem eliminados. Se desrespeito a pessoa que me atende no mercado ou no banco, estou lançando sobre ela e sobre quem está à volta um sentimento de desamor – sob a forma de desrespeito, intolerância, arrogância, entre outros – que, somado a outras ondas de vibração igualmente ruim, poluem emocionalmente o mundo em que vivo. Exatamente como a pequena guimba de cigarro.
Nada de novo, se pensarmos que alguém, há muito tempo, começou a falar “Faça aos outros apenas o que gostaria que fizessem a ti”, o que se transformou em sabedoria popular. E quem deseja para si o que deseja ao outro? Há pouco tempo, um dos meus filhos me disse que achava esse ditado “furado”. “Quem faz isso, de verdade?”, perguntou. “Se estou em uma partida de tênis, quero que o meu adversário perca e não eu”, acrescentou. Tive que pensar para responder que o fato dele querer ganhar era bom, mas não implicava em desejar o mal ao oponente; bastava pensar em jogar o melhor possível, a ponto de conseguir ganhar o jogo. Também disse que pensar dessa forma não é fácil. Muitas vezes, todos nós, sem nos darmos conta, estamos desejando que aconteça algo de mal com o outro em nosso benefício. É questão de consciência e de prática, mas não de auto-punição. Porque esse é um longo aprendizado.
Como as guimbas de cigarro, que muitos fumantes automaticamente jogamos no chão, nossos pensamentos e ações negativas em direção ao outro também somam-se a muitos outros que partem de outras pessoas, criando o lixo emocional que reveste o planeta. E o contrário também acontece. Toda vez que amamos alguém, sem demandar um retorno na mesma medida, simplesmente por amar, geramos um sentimento que se une a outros de igual sintonia criando uma força capaz de neutralizar um pouco desse lixo a que me refiro. É assim quando somos gentis, atenciosos e solidários, num movimento contínuo, vivo, que exige nossa atenção e presença constantes
Sacolas plásticas e latas de alumínio não são os únicos elementos recicláveis do Planeta. As emoções também são. Todas podem ser transformadas, recicladas. E há muita gente fazendo isso. Vejo pessoas que perdem seus filhos, fazendo de sua dor a propulsora de ações amorosas; outras que aprenderam a pedir desculpas para reparar erros cometidos; ou ainda aquelas que desenvolveram tolerância para não revidar com xingamentos e mau humor as atitudes corriqueiras do trânsito ou de atendentes de telemarketing. E por aí seguimos numa lista infindável.
Proponho, então, uma análise do impacto das relações. De todas. O objetivo é sempre eliminar e minimizar o potencial negativo da cada uma delas, evitando o “envenenamento” do meio emocional em que vivemos. E como falamos a partir de uma perspectiva individual, podemos ter a certeza de que, em todos os casos, no positivo e no negativo, seremos os primeiros a sentir os efeitos de nossas ações. Ainda que não percebamos. Por isso, cada vez mais, entendo os irmãos indígenas que pronunciam, na linguagem lakota, uma forma de saudação, Aho Mitakuye Oyasin, que significa “por todas as minhas relações”. Eles acreditam que nossa vida é determinada pelas relações que estabelecemos com os demais seres. Eu também!

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