terça-feira, abril 13, 2010

O silêncio e as entrelinhas

"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso."
A frase de Clarice Lispector me fez pensar sobre o quanto devemos desenvolver em nós a habilidade de ouvir o inaudível. Eu mesma escrevi sobre isso no último post, pois sei o quanto é importante estarmos abertos e disponíveis para perceber os sinais que vem do outro. Não importa o tipo de relacionamento: pessoal, profissional, familiar, novo, antigo; em todos haverá sempre o não-dito. Portanto, quem compreende o que o outro não consegue dizer transita com mais desenvoltura entre as diferentes relações que estabelece na vida.
Até aqui tudo certo, não fosse uma enorme vontade que acomete alguns de nós, humanos, mais precisamente, humanAs, de sacudir o outro e dizer: você pode ser mais claro? Ler nas entrelinhas cansa e exige uma isenção que nem sempre conseguimos, especialmente quando misturamos emoção à nossa arte de compreensão em desenvolvimento. Nesse minuto, quantas pessoas estarão perdendo noites de sono pensando no que o outro quis dizer e não disse? Muitas, provavelmente. Todas refazem em suas mentes telefonemas, encontros e reuniões, entre outros contatos, para tentarem detectar aquela mensagem que não foi falada. Exigem de si um grande esforço, que, muitas vezes, comprometido pelos pressupostos de cada um, torna-se inócuo.
Então, decidi mudar o discurso. Precisamos ouvir o silêncio, sim, como dizia Clarice; mas também precisamos aprender a falar com todas as letras e pingos. Não há necessidade de tanto desperdício de energia, quando pode-se simplesmente perguntar: “o que você quis dizer com isso?” E isso vale pro não-dito também. Se o outro não sabe, não consegue ou não pode falar, o que há de mal em perguntar: “o que essa testa franzida quer dizer?” Ou então: “por que você não me ligou mais?” A única ressalva que faço é que estejamos todos preparados pra respostas. Quem deseja clareza na comunicação com o outro não pode se sentir melindrado por respostas do tipo: “não liguei porque não estava com vontade de falar com você” ou “não ia dizer, mas já que perguntou, achei a apresentação do seu trabalho horrível”.

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