segunda-feira, abril 05, 2010

Dourado aprendeu a conversar?

Não vi BBB. Quando passava pela sala de televisão e assistia a parte do programa com os meus filhos, ficava com a certeza de que qualquer coisa que eu pudesse fazer naquele momento seria mais produtiva. Isso até o dia do anúncio do vencedor. Naquela noite, estava angustiada com minhas questões existenciais e decidi ficar com os filhos, na sala de televisão, acompanhada do notebook. Mas já não era possível ficar alheia ao BBB. O twitter foi invadido por tweets sobre o programa e olhar para aqueles “brothers” que exibiam seus dramas pessoais, tirou o foco das minhas questões sobre a existência. Era tudo o que precisava naquele momento!
Emocionei-me com a vitória do Dourado, junto com os meninos. Eles viraram fã, fazer o que? Um deles foi aluno em uma academia; admiração inevitável! Mas quando os flashes do programa começaram a ser exibidos, eu comecei a rever minha opiniões sobre o Dourado. Fiquei impressionada com a evolução, ao longo do programa, desse homem, pouco afeito a conversas mais profundas, que demonstrava arrogância e dificuldade na forma de se relacionar, acostumado a se expressar no mundo do vale-tudo, onde palavras valem menos que a força bruta.
O isolamento inicial a que os colegas o submeteram provocou nele o instinto que o domina nas lutas. Imagino eu que em alguns momento ele deveria repetir pra si mesmo: “Aqui eu me basto”. E não fosse a atuação amorosa de alguns participante e a capacidade que ele teve de rever seu posicionamento reconhecendo a dor que ele se impunha, nada teria acontecido. Ele seria eliminado no primeiro paredão, talvez. Quando decidiu recuar e olhar pra si mesmo, também abriu-se à perspectiva do outro, com muita dificuldade, mas usando um recurso que também deve ter aprendido nos ringues: clareza na comunicação. Nos confrontos, não há espaço para meias-palavras. Dizendo o que sentia e pensava, da única perspectiva que lhe era possível, a sua própria, ele foi conquistando aliados e amigos e construindo relações possíveis e confortantes. Nada ali poderia ser unilateral, dava e recebia na mesma medida, num processo de troca constante.
Óbvio que se não tivesse dinheiro em jogo e que se houvesse a alternativa de sair da casa quando o incômodo acontecesse isso teria acontecido mais cedo com quase todos os participantes. Conviver é muito difícil mesmo, especialmente com pessoas cuja companhia não escolhemos. Mas o BBB tem regras e R$ 1,5 milhão pra quem consegue respeitá-las e sobressair-se.
Por isso admirei-me com a maneira como o atual vencedor adequou-se às pessoas, saindo de uma posição inflexível para outra mais acolhedora, revelando uma natureza que parecia não existir dentro do corpo esculpido pela prática do esporte. Achei bárbaro quando, a despeito de suas dificuldades em lidar com o diferente, ele acolheu uma crítica, dizendo simplesmente: “eu entendi”. Entender o ponto de vista do outro é tudo o que precisamos para viver de forma mais harmônica. Não é preciso concordar, mas ouvir e entender. Isso faz a diferença e foi essa disposição que fez de Dourado um vencedor.
Fiquei pensando na experiencia do confinamento. Talvez seja uma boa ideia para situações de conflito, quando não se consegue mais conversar. Imaginei-me confinada com os meus filhos adolescentes, sem televisão, computador. Nós e nós para resolvermos nossas questões e exercitar a difícil arte do diálogo. Acho que aprenderíamos muito. Talvez seja uma dica para exercitarmos o conversar e reduzirmos nossos conflitos. Confinados, não há como deixar para depois. Já decretei: nas próximas férias voltaremos a acampar. Será mandatório: sete dias pelo menos, sem tecnologia e com muita conversa.

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