terça-feira, maio 25, 2010

Alguma coisa acontece em meu coração e já me lanço em novas descobertas

Ontem, comecei a ler As paixões do ego, de Humberto Mariotti. Ouvi falar muito desse livro em um curso que fiz ano passado e sempre de pessoas cujas ideias pareciam ressoar dentro de mim. Finalmente, me dispus a lê-lo. Deslumbrei-me nas primeiras páginas. Uma sensação de que todo aquele conhecimento formalizado e elaborado já me pertencia. Era como um resgate de algo que havia perdido.
Pode ser que isso não faça sentido pra muita gente, mas acredito mesmo que tenhamos muito mais conhecimentos do que aqueles que declaramos ter. Somos seres adormecidos. E a emoção de despertar uma parte de nós que está, digamos, anestesiada; considero profunda. O que me pergunto é porque tantas vezes dependemos de estímulos externos para mergulhar dentro de nós mesmos. Pergunta boba. O próprio autor, logo na introdução, me diz: “Ninguém faz nada sozinho. Precisamos do outro desde que nascemos: é ele quem confirma nossa existência e a recíproca é verdadeira. Não se vive sem ajuda e a ajuda vem de alguém.”
E aí surgem outras perguntas, claro, porque esse tipo de encontro comigo vem acompanhado de uma porção delas. A primeira que faço diz respeito às prisões sociais, que aceitamos e acolhemos em muitos casos. Sinto que nos deparamos o tempo todo com momentos como esse que tive ao iniciar a leitura do livro. Às vezes, através de um bicho que encontramos na rua; outras, através de flores que aparecem em nosso caminho, ou pequenos presentes que chegam às nossas mãos. Frases, pessoas de todo o tipo, gentilezas, paisagens, gostos e quitutes... a lista é sem fim. O que é finita é a nossa (minha?) capacidade de me deixar levar por esses encontros até sentir o mesmo êxtase que tive quando comecei a ler o livro.
Há sempre restrições. E eu entendo. As normas de conduta organizam nossa vida social. Muitas delas, no entanto, perpetuam a cegueira coletiva (e, aqui, acabo lembrando do Ensaio de Saramago). E aprisionam, porque nos impedem de acessar tudo o que temos dentro de nós. Então conformamo-nos, e aos nossos filhos, e aos nossos netos, esperando que alguém possa romper com o que nos incomoda. Acessando isso que tenho de genuíno dentro de mim, posso dizer que sou livre. O que me causa incômodo, assim o faz, porque assim escolhi. Há sempre a opção de, por mim mesma, me libertar. Algo como a força dos cavaleiros Jedi, o pensamento positivo dos livros de auto-ajuda, as afirmações da PNL, numa outra lista infinita de como as pessoas descrevem esse sentimento.
Nomenclatura não importa. Importa o momento e como escolho vivê-lo. Posso me deixar impactar por todas as possibilidades que vida me oferece, ou escolher a conformação, do tempo, das atividades cotidianas, da vida, das relações. Depois atribuo a infelicidade ao excesso de tarefas e informações, à tecnologia, à perversidade do mundo, numa outra lista sem fim. O pior é que isso é transmitido por gerações, até que alguém tenha coragem de fazer diferente.
Não sou uma grande revolucionária e provavelmente não teria a coragem de tantas mulheres que se lançaram contra uma sociedade inteira na história que me precede. A novidade, pra mim, consiste em fazer pequenas escolhas diárias que me permitam acessar novos lugares internos. E aí posso experimentar algo como um êxtase. Algumas dessas escolhas são complexas e exigem de mim mais tempo e atitude, outras não. Parar para ver a beleza da paisagem por onde eu passo todos os dias, por exemplo, me demanda minutos e quase nenhuma coragem. Em todos os casos, no entanto, é preciso que eu me permita atravessar. E o impacto, ainda que seja maior do que o observar de uma flor, é sempre positivo. Pode ser que quem receba os efeitos de algumas dessas ondas (ou tsunamis?) emocionais também seja afetada positivamente. Ainda que a primeira impressão seja bem diversa. De qualquer forma, procuro arriscar, na certeza é de que meus filhos, netos e bisnetos ousarão mais, depois de mim. Será que esses riscos também fazem sentido pra você?

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