domingo, janeiro 24, 2010

A força que emerge de um clã de mulheres



Parecia que estava numa roda de conversa. Era assim que me sentia em meio às mulheres de diferentes gerações naquela noite. Na cama, em um dos quartos da casa onde passei muitos momentos da minha vida, desde a infância, estava o corpo inerte de minha tia, uma das seis irmãs da minha avó. Nas paredes, nos objetos e nos cantos, lembranças de todos os tipos. Nas conversas, um pouco da história de todas nós.
Éramos só mulheres. A minha bisavó teve oito filhos, sendo que sete mulheres, das quais apenas duas casaram-se. Com essa, que velávamos, apenas uma dentre todos, continuaria entre nós. A geração seguinte à da minha avó também foi de mulheres: minha mãe teve uma irmã e quatro primas. Então era natural que, naquele momento, sentisse uma energia feminina tão forte. Todas ali estávamos ancestralmente juntas, unidas às auxiliares de minhas tias, compartilhando histórias, conhecimentos e sabedorias.
Senti uma força muito grande e, ao mesmo tempo, muita tranquilidade. Era como se tivesse acessando, naquele momento, uma força que jamais havia conhecido, tornando aquela situação surpreendente pra mim. Essa família, que brevemente descrevi, sempre foi muito fechada e cheia de segredos, inclusive aqueles que constam da carteira de identidade. Por isso, durante muito tempo, fiquei procurando curar tudo em mim que era proveniente dessa origem familiar. Esforçava-me por eliminar crenças e valores determinantes de comportamentos e escolhas que, de fato, não me trouxeram felicidade ou favoreceram a conexão com a minha essência.
Só que, nessa busca, esqueci de atentar para as qualidades e para a força que as mulheres da minha família carregam. Nunca tive acesso ao que hoje penso ser minha matriz feminina, as conversas sempre foram restritas e veladas. Era a natureza da minha família. Mas, ao acessar o conhecimento que é transferido por gerações, independente de esforço ou vontade, pude sentir parte integrante dessa teia feminina. Lavei a alma, recarreguei as baterias e curei-me de traumas que imaginava incuráveis. Estou bem: sinto-me parte de um clã de mulheres fortes e capazes.
E ali, ao meu redor, havia exemplos muitos de mulheres que fizeram escolhas e pautaram sua vida por essa força, consciente ou insconscientemente. Eu que, até então, pensara somente em curar padrões negativos familiares, me deparei com padrões admiráveis e com uma força essencial e original capaz de me levar muito longe. E o melhor: de me mostrar que nunca estarei sozinha!

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