terça-feira, janeiro 11, 2011

Os filhos erraram e culpa é de quem?

A cena de Passione que me fez refletir sobre mães e filhos
Ele nasceu com o nariz tão afilado e torneado que chamava a atenção das pessoas na maternidade. Mas tinha um senão, queria olhar logo a vida de frente e levantava o pescoço sem nenhuma firmeza ainda, esfregando o nariz no travesseiro. Aquilo me enlouquecia. Aquela pontinha de nariz afundando na cama, porque ele queria ficar de pescoço em pé logo que nasceu. E chorava, chorava muito e sem parar. Foi em julho, mas tinha que ficar com o ar ligado quase o dia inteiro, porque bastava a temperatura subir um pouco para ele começar a gritar. Isso sem falar nas madrugadas, quando berrava pra mamar, pra arrotar, pra dormir. E eu, estranhamente, nem ligava. As madrugadas eram o meu momento de ter ele só pra mim, sem ter que deixar o mais velho de lado. Amamentava, feliz e paciente, a noite inteira. Nem eu mesmo acredito nisso, mas era verdade. Quando a babá chegava, por volta das 8h, entregava a criança e ia tirar um cochilo.
Lembrei disso tudo porque sábado resolvi ver um capítulo de novela – coisa muito inusitada pra mim – e assisti, em Passione, a uma cena bonita entre Fernanda Montenegro e Vera Holtz. Ambas dialogavam sobre os filhos, culpando-se e questionando-se sobre o porquê de eles serem tão diferentes daquilo com que sonharam. Não sei se foi o texto de Sílvio de Abreu ou o talento das duas atrizes ou as duas coisas misturadas, mas acabei pensando na minha relação com os meninos.
Vejo que cada um dos três nasceu com sua própria personalidade e traços pessoais e singulares que se manifestaram desde o dia do nascimento. O do meio, além do nariz afilado, conserva essa inquietude diante da vida e o problema do calor. Se eu não reclamar, passa o dia no ar condicionado. Ainda é o filho que mais me demanda emocionalmente, como em sua fase de bebê, quando devia acordar de madrugada para ter a mãe só pra ele.
O mais velho foi um pouco injustiçado. Primeiro filho, deu-me de presente sua calma e tranquilidade. Dormia a noite inteira e, durante o dia, quase não dava trabalho. Podia ficar horas deitado no berço. Mas eu reclamava do menino que acordava às 5h da manhã. Não sabia, que normalmente eles (os filhos bebês) exigem muito mais do que isso. O tempo passou e até hoje, esse menino – já feito homem – conserva a mesma tranquilidade. Pode ficar horas em seu quarto sem que ninguém se dê conta sequer de que está em casa.
O mais novo evitou os extremos. Dormia bem, mas era levado; regrado, mas brincalhão. Talvez por conta de ser o terceiro, acabou se tornando independente mais cedo. Hoje, mantém essa essência: busca o equilíbrio no que faz. Se exagera por um lado, compromete-se a equilibrar do outro. Na escola, por exemplo, deixa os afazeres de lado, até que as notas caiam. Quando isso acontece, faz o que for preciso, sem recorrer à ajuda, para elevar a nota e ficar na média, que é o suficiente para ele. No futebol, é diferente. Já federado, pensando na profissionalização, dá o seu melhor o tempo todo, mas compensa os excessos com a disciplina dos tratamentos fisioterapêuticos, dieta e sono regular.
Então, voltando à cena da novela, não fico buscando em mim as razões para as ações deles. Sei que cada um veio ao mundo com características próprias e desafios pessoais que eu tento respeitar. Ressalto que tento, porque eu também vim ao mundo com minhas características e desafios que eles devem aprender a respeitar. Há reclamações e incompreensões de todos os lados, mas eu administro a minha culpa, reconhecendo os meus erros e afirmando que estou fazendo o meu melhor. Nenhum deles vive os meus sonhos, têm os deles próprios, e a mim cabe apenas o suporte para que sigam em frente, seja qual for o caminho que escolherem. Digo pra eles que a felicidade vem de assumirem as consequências por suas escolhas e a liberdade de refazê-las a cada instante. Eles ainda não entenderam muito bem essa parte e ainda querem dividir comigo mais do que posso suportar.
Assim como não sou responsável por suas essências, não posso ser responsável pelas escolhas que fazem. Também faço as minhas que incluem, inclusive, errar no meu papel de mãe. Aprendo sobre a vida junto com eles, todo o tempo. Sem culpas, mas com responsabilidade.

Um comentário:

Silvio Freire disse...

E nos sentimos recompensados porque eles deram certo...

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