terça-feira, janeiro 25, 2011

A obra-prima do diálogo e a afinidade

“A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente. Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.” Arthur da Távola
Com quantas pessoas você conversa de verdade? Por que, às vezes, escutamos como se fôssemos surdos? Há palavras que não nos afetam, mesmo quando ditas por pessoas a quem amamos. Parece que falta um ajuste fino. Se o diálogo fosse música, diria que uma obra-prima, com harmonia perfeita, é quase um milagre. Não por acaso, Mozart dizia que conversava direto com Deus. Vai ver que tinha esse dom mesmo, porque quantos compositores do seu calibre, os últimos séculos conceberam?
Então me parece que diálogos plenos são como essas obras-primas: quase um milagre. Meus melhores amigos não são as pessoas com quem tenho mais afinidade, mas são absolutamente imprescindíveis na minha vida. Tenho uma amiga, sem a qual não consigo me imaginar, no entanto, dizemos uma à outra que nossos pontos de encontro são poucos, mantidos e ampliados pelo amor que desenvolvemos em uma relação que dura quase tantos anos quanto temos de vida. Não é uma obra-prima, mas é o que temos e honramos da melhor forma que podemos.
Assim construímos muitas outras relações, inclusive as familiares, onde, muitas vezes, as palavras do que deveria ser um diálogo ricocheteiam em uma espécie de escudo formado por fatores tão subjetivos como interesses, crenças, disponibilidade e outros tantos que compoem nossa identidade. Mas há momentos – raros, penso - em que surge uma obra-prima. Em que o ajuste é perfeito e que as palavras são compreendidas mesmo no silêncio absoluto. Nada passa despercebido e os sentidos não dão conta de todas as percepções.
Nessa ocasiões, o que julgamos limite se dissolve, dando lugar ao vazio. Não há o que transpor: o encontro é perfeito, a aceitação ou compreensão vai realmente além do entendimento. Não sei se o nome disso é afinidade, mas, com certeza, é a essa obra que Artur da Távola se referia. Ela não desmerece as demais, todas tentativas de se atingir a perfeição, mas ganha um destaque que, se música fosse, poderia ser descrita como a harmonia perfeita.

Um comentário:

Silvio Freire disse...

Há amigos em que os momentos são maiores. Há outros em que o momentos são melhores.
Gosto dos dois.

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