sábado, dezembro 04, 2010

Aprendendo a falar, aprendendo a escutar

Tenho me referido ao silêncio como uma condição importante para a compreensão humana. Não tenho dúvidas a esse respeito, mas tenho descoberto em mim uma dificuldade de silenciar de que eu não suspeitava. Caio facilmente em armadilhas de palavras que eu mesma construo. E não é porque falo demais, mas porque, muitas vezes, falo o que não devo. Tenho atribuído esses deslizes à baixa qualidade da minha escuta, que tenho exercitado com afinco.
Minha mãe sempre me disse que sinceridade demais é falta de educação. Eu dizia que não. E defendia que todos deveriam dizer o que pensavam e sentiam. Cresci e vi que isso nem sempre funcionava, mas ainda tenho muito o que aprender. Meu mundo dos sonhos ainda é aquele em que as pessoas podem expressar o que pensam e sentem. Sem filtros. A realidade, no entanto, é bem diferente.
Poucas pessoas sabem lidar bem com o que escutam. Interpretam e julgam, para o bem ou o mal, o que ouvem, e isso eu não posso evitar. “Quem fala o que quer ouve o que não quer”, é um dito verdadeiro. Não me melindro com o que escuto, mas fico numa tremenda “saia justa” quando vejo pessoas reagirem ao que falo, por se sentirem afetadas pessoalmente.
O estrago tem todas as dimensões. Num exemplo extremo, afetei negativamente um bom relacionamento por achar que, entre bons amigos, pode-se dizer tudo. Cometi uma grande gafe, ignorando o tamanho do estrago porque não conseguia detectar que há pontos sensíveis que devem ser respeitados. No meu afã de esvaziar os pensamentos, ignorei o sentimento do outro.
Recentemente, em um grupo de amigos, fiz algo semelhante e não medi as consequências que poderiam advir de um comentário sobre a energia predominante naquele dia, entre nós. Uma das pessoas sentiu-se afetada e passou muito tempo justificando-se e interrogando-me, criando um mal estar entre os presentes que poderia ter sido evitado.
Poderia citar muitos exemplos da minha grande lista, já que interagimos e afetamos uns aos outros todo o tempo. Estamos todos conectados e, falando ou não o que pensamos, teremos nossa cota de impacto nas pessoas que passam por nossas vidas. Sendo assim, o exercício de perceber o outro pode tornar essas interações muito mais ricas. Hoje, sei que não se trata de calar ou de falar; tudo é possível e permitido, mas aqueles que sabem escutar melhor descobrem que há momentos em que o silêncio vale mais do que muitas palavras, e que, mesmo as palavras que saem do coração, têm seu tempo para serem ditas. Escutar também é um ato de amor!

2 comentários:

Dagui disse...

Agradeço muito por compartilhar seus momentos, sabe o quanto me serve de exemplo...
Bom saber que faço parte de um mundo onde as pessoas tem as mesmas dúvidas e os mesmos medos,aprendo a cada dia um pouquinho mais,adoro você!Bjo

Christina disse...

eu falo tudo errado e escuto o que não quero o tempo todo... acho que não tem cura... nem se eu desacelerar uns 900km por hora vou falar com palavras mais justas e ouvir com menos dor.

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