domingo, dezembro 26, 2010

Espelho, espelho meu...

“Queria ter a força e a coragem que você tem.” Escutei a frase de uma amiga, porém, mais do que me lisonjear, a afirmação trouxe-me preocupação. Está certo, acho-me sim forte e corajosa (e isso, pra mim, é uma conquista comemorada diariamente), mas será que ela acha mesmo que eu sou assim o tempo todo? Será que ela não percebe o medo, as inseguranças e todos os outros fantasmas que enfrento para acessar a minha força interior? Tentei lhe dizer: “essa força a que você se refere está dentro de você também, acredite”. Ela balançou a cabeça negativamente: “Não sou como você, não tenho essa coragem”.
Diante disso, não adiantava continuar com as minhas afirmações a respeito do que ela tem ou não dentro dela. Sei bem dos processos para desenvolvimento dessa crença e sei que ele não se dá de fora pra dentro. Deixei-a falar, mas desejei que conhecendo minhas dificuldades e vendo o caminho que percorri ela pudesse experimentar caminhar por ela mesma. A dificuldade dela, no entanto, me fez perceber o quanto estamos cercados de oportunidades de aprendizagem, felicidade e evolução. Somos espelhos uns dos outros e estava ali, na minha frente, uma parte de mim que me permitia acessar alguns de meus temores, enfrentando-os e retornando uma imagem mais saudável para que minha amiga pudesse reconhecer também em mim uma parte dela, mais confiante.
Para simplificar esse conceito, basta pensar em um espelho. Quando vejo a minha imagem refletida nele, estabeleço minhas crenças com base em percepções pessoais. Posso me achar gorda e feia, ou dona de um bom corpo e bonita. Serei da forma como me vejo. Esta será minha verdade. Quando percebo minha amiga como uma imagem de mim, tal como a que vejo no espelho, enxergo com os seus olhos a fraqueza e falta de coragem. Se ela é, também, a minha imagem, é uma parte do que existe em mim. Aceitando isso, posso me modificar, buscando em mim uma percepção diferente. Ao se deparar com a minha imagem, se a reconhece como parte de si mesma, minha amiga pode transformar o que vê em realidade para si, acessando a sua própria força.
Parece confuso? Falo por mim e digo que tenho experimentado esse movimento em minha vida. Quando algo do outro chama a minha atenção eu “chego mais perto” e busco que parte de mim está sendo refletida naquele instante. Foi assim que descobri em mim, há alguns dias, uma resistência a bons e novos relacionamentos. A partir do que experimentei em outra pessoa pude acessar uma emoção que estava bem escondida e, nesse caso, vendo o outro como meu espelho, tive a oportunidade de criar uma nova realidade para mim.
E assim sigo: atento ao que me incomoda no outro, porque certamente, é meu reflexo. E, já que não posso modificar ninguém, concentro-me em mim mesma, com a certeza de que, pelo menos, faço a minha parte.

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