domingo, dezembro 12, 2010

Um belo dia resolvi mudar...

Nunca pensei que fosse tão difícil mudar. Não sei como é para a maioria das pessoas, mas deixei de me achar a única quando comecei a me deparar com uma grande quantidade de livros e artigos sobre o assunto. O desejo de mudança nasce, na maioria das vezes – senão em todas-, da percepção de que algo não está bem e de que há algo muito melhor para se viver, empreender, realizar. Há, portanto, um incômodo profundo. Mas a atitude de mudança carece da visão de novas possibilidades, de um futuro promissor e real.
Foi assim comigo. A percepção de que poderia e deveria mudar alguns aspectos da minha vida existia há muito tempo, mas o impulso de mudar deu-se a partir de uma perda, seguida de uma grande decepção e de um mês de muito sofrimento. Até hoje sou grata por aquele momento, vivido há pouco mais de um ano. A partir daquele dia, vislumbrei o que e como poderia viver e decidi mudar. Ainda estou nesse processo, mas o que eu não sabia é que EU representaria pra mim mesma um obstáculo tão grande.
Há movimentos que percebo em mim que não consigo entender e que provocam sofrimento, dor, e um sentimento de perda que tornam o “ir em frente” penoso. Andei atribuindo tudo ao medo do novo. Nunca acho que estou realmente preparada para o que está por vir, mas havia mais. Há uma parte de mim ainda presa a todos os valores e crenças que me compuseram desde que nasci, repassado carinhosamente por pais, parentes e instituições, que resiste bravamente à mudança. A fidelidade ao passado impede que essa parte de mim possa perceber como operar de um outra forma.
Em contrapartida, há uma outra parte. Talvez a que tenha se permitido ver, no ano passado, o quanto eu poderia viver e realizar, a nova pessoa que eu poderia ser. Mais que a coragem de romper, esse movimento de mudança exige a conciliação entre essa parte de mim que tem todos os registros do passado e a parte de mim que está pronta para emergir. Não há como abandonar uma ou outra, já que ambas me integram. É preciso acolher a primeira e seguir a visão da segunda.
Custei demais a me dar conta disso, e comecei a notar toda sorte de esforço de retroceder. O medo de realizar novos projetos; os pensamentos em reviver antigas histórias, como se assim fosse encontrar conforto; o desmerecimento de conquistas alcançadas; e todo o tipo de pequenas ações que inviabilizam o prosseguir. Em psicologia, chamam isso de ciclos de autossabotagem, e eu precisei reler sobre o assunto para me dar conta do óbvio.
O conflito era tão intenso que me afetou fisicamente: além da tristeza e da insegurança, trouxe-me uma exaustão que eu não conseguia compreender. A luta interna acontece de forma tão ampla que o cansaço físico aparece. Era como se tivesse passado várias noites em claro. Hoje, dormi por 10 horas seguidas. Perceber a luta me ajudou a ser compassiva com as diferentes partes de mim, e, principalmente, seguir em frente. Tenho um grande projeto a iniciar e, para minha surpresa, me deparei com um arquivo de texto em que parte dele já está iniciado. É que comecei a projetá-lo tempos atrás. Quando reduzimos o ruído interno, qualquer realização é possível e o melhor: muito mais FÁCIL.

2 comentários:

Christina Castilho disse...

Culturas indígenas têm um conceito interessante: "queimar ponte". Queimar uma ponte às vezes é a única forma de você não voltar atrás e, mais importante, não deixar o que te persegue avançar e alcançar você.
Mas não é fácil... nunca é... queimar ponte é deixar para trás um monte de coisas que achamos que não conseguimos viver sem.
Sem falar nas vezes que NÓS mesmos somos a própria ponte...
Queimar ponte é uma atitude de coragem. É definitivamente para fortes.
Quem consegue sabe que vai carregar dentro de si o bom que construiu e teve que deixar para trás mas, de maneira ainda mais forte, sabe que a vida que começa depois da ponte é a única possível e ela é plena de possibilidades e plenitudes.
Então, que os índios consigam te tocar (porque eu sou muito fraca pra isso... rs): cruze a ponte, queime a ponte e abrace o novo presente. O que realmente importa, está na sua bagagem e segue com você.

Mônica Alvarenga disse...

Chris, obrigada por suas palavras. Aprendo com meus irmãos índios diariamente. Aliás, seus ensinamentos valem pra TODA gente! Vc tem razão quando fala das pontes, elas são muito simbólicas pra mim. A gente esquece que tem que "Morrer pra germinar..."
http://realvalor.blogspot.com/2010/02/tem-que-morrer-pra-germinar.html
Beijo carinhoso, com gratidão e FORÇA!

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