segunda-feira, março 01, 2010

Somos muito inteligentes! ou A visão da águia

Quem sou eu? Quem nunca se fez essa pergunta na frente do espelho? Eu estou sempre me questionando e nem precisa ser na frente do espelho. É uma mania insana, mas inata. Não consigo me desvencilhar dela desde a adolescência, quando minhas crises existenciais pareciam maiores que o mundo. Hoje, posso dizer que me encontro num processo de aquisição contínua de arsenal pra lidar com os meus questionamentos. Só que eles não cessam e acabaram transformando-se na mola propulsora da minha evolução em todos os campos da vida, tranzendo-me, inclusive, momentos de muita felicidade.
A pergunta persiste. “Quem sou eu” vem a todo instante, até porque a cada minuto sou outra e, por isso mesmo, vivo em mutação. Não sou criatura angustiada, apenas curiosa de mim e, ontem, num ambiente que propicia muitos insights – o ritual xamânico da Tenda do Suor – percebi o quanto me escondo de mim mesma. Na escuridão da tenda, tentando permanecer aberta a tudo o que o Universo quisesse me mostrar, olhei pra dentro de mim mesma e vi uma imagem que reconheci. Não era uma boa imagem, trazia dores, carências, desafetos, mas era minha velha conhecida. Sabia o que, naquela mulher, precisava ser curado.
Na tenda, a escuridão é absoluta e o calor dissolve alguns obstáculos e, num segundo olhar, aquela imagem ruiu. Vi outra que não reconheci. Essa, parecia-me mais próxima da minha verdade pessoal. Daí percebi o quanto somos “inteligentes”, ocultando habilmente verdades, onde ninguém pode procurar. Quem pode entrar dentro de mim, senão eu mesma? Pra isso que existem os terapeutas, certo? Pois eu digo que eles ajudam, mas não acessam lugares recônditos da minha alma, se eu decidir trancá-los.
Porque mentimos pra nós mesmos e nos apresentamos como não somos? É isso que eu me indaguei e a resposta imediata foi: ganhos secundários. Se eu sou f'rágil, ganho aconchego; se estou triste, obtenho consolo; se sou incapaz, arranjo quem faça por mim. Reconhecer as máscaras não é fácil. A primeira dor é a de abandonar uma experiência de nós mesmos conhecida e confortável. A segunda é a de não saber como viver sem o que aprendemos a obter com o uso das máscaras.
Não sei como isso soa para outras pessoas, mas, para mim, foi uma dor muito grande e cercada de sentimentos conflituosos. Como, por exemplo, reconhecer-se forte e, ao mesmo tempo, aceitar que é preciso pedir ajuda em muitas curvas do caminho? Tenho a certeza de que ontem encontrei um importante caminho. Não estava sozinha. Em algum lugar do Universo, uma grande águia sobrevoava meu espírito, auxiliando-me a enxergar mais longe, a ampliar meu campo de visão e a expandir minha consciência. E é com ela que voarei, sem medo, pelos próximos meses, até que tenha aprendido o que tem pra me ensinar.

* Em 2008, movida por essa mesma energia curadora, que eu reconheço como a de uma águia, fiz um vôo duplo de asa delta que foi muito terapeutico. Sinto que um novo vôo se aproxima.

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