segunda-feira, dezembro 07, 2009

O voo dos pássaros



O passarinho se aproximou. Sua visão é meu deleite. Me aproximo lentamente para não assustá-lo e poder observá-lo bem de perto. Quero ver a cor das penas, o mover nervoso do pescoço e, em seguida, a imobilidade, quando ele também parece querer se apropriar da visão que tem de mim, ali tão perto. Os dois, imóveis, transformam o tempo. Frações de segundos são horas para quem sabe perceber a infinitude da instantâneo. Perdemo-nos, ele e eu, no instante.
Tenho medo até de respirar, porque acho que basta um único movimento para que ele voe em direção a muito longe. E quero-o perto, próximo de mim. Só assim posso captar os seus movimentos, perceber seus sentimentos, arriscar seus pensamentos. Tão perto assim, faço parte da sua vida, ainda que por instantes. Sou pássaro também, metamorfoseando-me sem nenhum temor. Com ele, crio asas, feliz, encontrando a sonhada liberdade. Assim, se ele voar, posso acompanhá-lo por algum tempo. Aproveitamos as portas entreabertas, invadimos pela janela aquelas mantidas fechadas. Rimos do que vemos e comentamos cada nova vida espreitada. Seja de porta ou janela. Vivemos outras vidas, voando com nossas asas.
Tão bom estarmos juntos que – sempre por instantes – esquecemos que devemos voltar. Deixe-me esquecer de tudo, ainda que brevemente. É porque, junto daquele passarinho, agora, avisto tudo o que sonho. Surpreendo-me com a beleza de outros milhares de instantes. Sinto uma felicidade imensa e, vejo nos seus olhinhos nervosos, que também está feliz. Temos a eternidade em nossas vidas tão diversas. E ela é feita de instantes. Como esse de que desfrutamos por ora.
Inspira-me tanto amor, que já não ouso me mexer agora. Pode ser que ele saia voando e eu nunca mais possa alcançá-lo. Agora que está tão perto, deixa eu só admirar – respiração presa, visão congelada. Quero ficar por aqui só amando. Assim, o céu azul nos dará abrigo e a grama do jardim, repouso. Sim, porque haverá hora em que não se poderá mais voar. Estaremos sós, recolhidos ao nosso cotidiano tão igual. Ele estará, então, batendo asas. Mas hoje, nenhuma companhia chegará com tanta satisfação. Nada fará com que ele se esqueça de mim.
Caminho em direção à porta que me espera. Vou sem você, que, em outras direções, bateu asas. Ficarei aguardando um novo encontro, meu e seu. Mulher e pássaro. No azul do céu. Nos milhares de instantes de que é feita a vida.

Um comentário:

Tanya Althea disse...

Uau! Fiquei com a respiração pesa também!!!! Lindo, Grata pela Belza... Tanya

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