domingo, junho 03, 2012

Eu não estou me sentindo ouvida!

Foi mais ou menos isso que eu disse a um grupo de amigos, numa dessas madrugadas recheadas de pinga e papo, num momento em que a a conversa girava em torno das definições que cada um tinha do perfil de homens e mulheres do bairro onde moro. Nada demais. A conversa seguia animada, com muitas discordâncias e piadas, mas alguma coisa me deixou irritada. Justo eu, que quase nunca saio do sério ou me canso de uma boa conversa. Parei, pensei e desabafei.
Um desabafo um tanto quanto inusitado para uma roda de bar. E todos ouviram. Mas discordaram. Era eu, segundo eles, que estava omitindo meu posicionamento e abrindo mão de dar opiniões sobre o assunto. Pode até ser. Mas o fato é que eu não me sentia realmente ouvida. E eu explico aqui o que não consegui na mesa do bar. Não me sinto acolhida quando quem me escuta está encerrado em seus próprios pressupostos. E numa conversa em que você está disposto a colocar o melhor de si, notar que o que você diz é apenas registrado superficialmente, me magoa. E isso passa despercebido, na maioria das vezes, até por nós mesmos. Porque esse tipo de escuta não é o padrão na maioria das relações.
Claro que esse é apenas o meu sentimento. E para o que eu digo aqui há mais cinco ou seis versões, número das pessoas que estavam naquela mesa. Mas a minha reflexão sobre o sentimento de não ser, de fato, ouvido, permanece. Eu me sinto ouvida, mesmo, quando vejo abrir-se a minha frente, um espaço para os meus pensamentos ainda que eles não sejam afins ao que o outro pensa. É como se aquele com quem falo, figuradamente, me abraçasse com tudo o que sou sem deixar de lado as peculiaridades que me tornam única e potencialmente “legal” ou “chata” para aqueles que segmentam o ser humano em estereótipos definidos pela forma com que veem a vida.
Oferecer e receber esse acolhimento é o que há de melhor, para mim, na relação humana. Está muito além do ato físico de escutar e de tantos outros atos. Com certeza, torna todas as minhas experiências de vida muito melhores. Não tem a ver com gostar ou não gostar, mas com estar presente e disponível. E isso é possível na vida? E isso é possível na madrugada em uma mesa de bar? Acredito... Embora meus amigos também tenham razão. Eles são ótimos e estavam escutando... Eu é que, por esses motivos todos (e sabe-se lá que outros), não estava me sentindo ouvida!

6 comentários:

Unknown disse...

Crônica de muita sensibilidade ! Alías , constãncia no seu espaço !

Unknown disse...

E vou compartilhar !

Nara Almeida disse...

É exatamente isso, Mônica! Tão triste que as pessoas se sujeitem a simplesmente somar o pensamento dos outros, sem de fato assimilar nada. A interação entre A e B, somente no pior dos casos pode dar AB. Bom mesmo é quando há espaço para a mudança, nos dois lados e o resultado pode dar C, D, Y!É imprescindível abrir espaço em si para o outro. Parabéns!

Mônica Alvarenga disse...

Luiz, obrigada por compartilhar! Nara, como você tem razão... Só que este exercício - o de abrir espaço para o outro - é constante, eu, muitas vezes, me percebo "surda" e vou, lentamente, abrindo os ouvidos! :)

Profº Luciano Pacheco MSc. Coach disse...

Estar preso aos pressupostos e pré-conceitos e filtrar o que está sendo dito é a regra. A exceção é estar aberto ao outro. É aprender em cada nova oportunidade. Portanto, ouvir é para poucos.

Mônica Alvarenga disse...

Meu amigo, há quanto tempo!!! Concordo com vc, meu sonho é transformar esse mundo, ajudando as pessoas a ouvirem cada vez melhor enquanto eu mesma vou melhorando nesse processo! Grande abraço!

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