
Sim, em cerca de 40 minutos, começaria Nabucco, de Verdi, e ainda havia ingressos disponíveis. Avaliei, olhei bem para a imponência do Teatro Municipal, ainda mais majestoso quando iluminado, dei meia volta e fui embora. Estava muito cansada para voltar para casa dirigindo muito mais tarde, quando o programa se encerraria. Mas estava feliz. Não assisti à ópera, mas dar-me conta de que aquela era uma possibilidade real para mim, encheu-me de contentamento. Com certeza, não posso fazer tudo o que desejo, mas a consciência de todas as possibilidades que a vida me oferece já é motivo de celebração.
Conheço pessoas que, tristemente, não conseguem enxergar essas muitas possibilidades, restringindo-se ao cotidiano massacrante, à rotina; muitas vezes, de forma automática e inconsciente. Resolvi brindar às possibilidades realizando um pequeno desejo. Desde o dia anterior, sonhava com um sanduíche de carne assada ou rosbife, desses em que a carne é cortada na hora, no balcão do botequim. Sentei num boteco, pedi uma cerveja pra acompanhar, e sorri diante do enorme prazer que me concedia naquele momento. Estava cansada demais para ópera, mas não para um sanduíche de carne com cerveja. Caminhei até o carro; o momento crítico do trânsito já havia passado. Estava feliz por conseguir enxergar minha vida e suas muitas possibilidades, e por poder escolher entre os variados itens do cardápio da vida.
*** Encerrando esse texto, dou-me conta do quanto botequim e ópera são díspares. Acho graça dessa ambivalência tão tipicamente geminiana...
Um comentário:
Você já alcançou um estado de consciência que poucas pessoas alcançam, que lhe permite tomar da vida não somente o mais caro ou o mais difícil, mas simplesmente o melhor.
E se a foto é do sanduiche do botequim, ela é prova disso.
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