O que mudou? Aceitei a raiva que sentia e compreendi que era uma raiva ancestral, natural e acumulada ao longo dos anos de subjugação de mulheres na nossa sociedade ainda patriarcal. Lembrei-me de que o amor é uma qualidade que transmuta tudo, inclusive a raiva, e tratei-a com o que tenho de melhor e mais amoroso em mim. Fui dormir pacificada. Mas o que mais me assombrou foram as conexões que fui capaz de fazer no dia seguinte, ainda sob o impacto do filme. Pensei no sofrimento de todas as pessoas que não conseguem entender quem realmente são. Eu mesma ainda estou em busca de mim e acho que essa busca é contínua e ininterrupta, mas aproximar-de de minha essência é o que me confere momentos de certeza e de liberdade.Não vou escrever a história do filme, porque cada uma faz sua própria leitura a respeito de tudo que nos cerca, mas fiquei feliz, sobretudo, pelas percepções que tive a respeito de mim mesma. Historicamente frágil, descobri-me femininamente forte, como algumas das mulheres que me antecederam. E muito forte. Minha vontade, quando saí de casa hoje, era de dizer ao mundo: “dá licença que cheguei”. A pergunta que me fiz e que foi o meu argumento para que minha vizinha visse, também, o filme: que mulher sou eu? O diretor disse, em uma entrevista, que seu maior objetivo era levar o espectador a um lugar que ele não conhece. Comigo, aconteceu.
Todos buscamos a plenitude e compreender quem somos em nossa essência é um – senão o único - caminho para alcançá-la. Aceitar a natureza humana, com suas diferenças de gênero, sua sexualidade e seus desejos é integrar-se ao Universo e à natureza da forma mais ampla. Acho que nessa incompreensão reside a principal causa do desequilíbrio que experimentamos hoje em todo o Planeta. Mas, olha só, já tenho aqui um assunto para o próximo post: a ecologia do feminino.

