quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Numa explosão de emoção... é um caso sério!

Uma epifania. Foi isso o desfilar pela Império Serrano. Há muitos anos não desfilava em uma escola de samba. Na verdade, já havia esquecido da emoção que sinto ao escutar a bateria. É indescritível. Mas já estava acomodada demais pra sentir o coração bater tão forte, as lágrimas querendo brotar e o corpo arrepiar. Emoções fortes não combinam com o torpor que o dia a dia assegura aqueles que não ousam o desenquadre. Não cabem na fotografia 3x4.
Ainda bem que sempre podemos olhar sob novos ângulos. Mas isso não é fácil. Sou uma pessoa comum, acostumada a coisas comuns, e sei o quanto custa arriscar um novo enquadre. Um olhar diferente exige uma habilidade que se esquece com o tempo. Mas que se recupera com vontade, esforço e, às vezes, um pouco de dor. Foi assim com esse retorno à Sapucaí. Todos os movimentos foram precedidos de muita preguiça e não fosse a pressão respeitosa e sutil dos amigos talvez não tivesse visto a escola nem do sofá. Minha indecisão acabou me custando um acréscimo de 30% ao preço da fantasia. Nem liguei, sei que o vacilar, tanto como o ousar, tem seu preço. Aliás, tudo na vida tem seu preço, mas a gente demora a assimilar algumas lições.
Custei a decidir e a fantasia para o desfile que eu nem sabia quando e como seria foi pega por amigos. Nem experimentei antes, numa atitude tão blasé que no dia do desfile saí direto da piscina para o táxi que me levou para a avenida sem grandes produções. Meu filho mais novo que me cobrou: “não vai pintar o olho mãe?” Pintei o olho e a boca e caí direto no mundo dos contrastes: o luxo das escolas de samba versus a pobreza da população de rua do Centro do Rio. Aqui também há que se ter cuidado com o olhar. Cenas como a da criança suja e maltrapilha abraçada a uma alegoria dormindo no barro sob um viaduto podem não causar mais impacto depois que o olhar se entorpece com as agruras do cenário urbano.
Mas com o olhar focado ou desfocado, entrar na avenida é uma experiencia única. Cada um deve ter a sua. Eu não fotografei, por isso resolvi escrever. Madona deve ser estrela de pequena grandeza perto do brilho que senti. Olhava em volta, para as arquibancadas, frisas e camarotes, e me sentia uma rainha. E era, de fato: naquele momento, da minha própria vida! A ala cheia de gente não impediu, em nenhum instante, que me sentisse única. Nem o fato de não saber direito o samba atrapalhou. Ali, naquele tempo de desfile, estava o melhor de mim. Agradecia a cada instante a oportunidade de, figuradamente, chacoalhar, naquele desfile, minhas emoções, minha forma de ver a vida, minha alegria, meu coração... Literalmente, chacoalhei também, mas aí é outra história, contada pelos pés e pernas no dia seguinte.

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