domingo, fevereiro 20, 2011

Uma história de muito amor

Soube da chegada da Luisa dentro da piscina. Acompanhei um pouco do desejo de seu pai, meu professor de natação, e sua esposa por um filho, que seria a estreia dele como pai. A menina nasceu e trouxe pro meu professor uma oportunidade de ver a vida por novos ângulos. Eu podia notar que ele, em pouco tempo, tornara-se uma pessoa melhor. Ficou mais flexível, amável, compreensível e sensível, entre outras qualidades que eu não saberia pontuar. Não convivia com a família, parei de nadar alguns anos depois do nascimento da menina, mas reaproximei-me de seu pai, pelas vias do caminho espiritual. Tornamo-nos companheiros de jornada, com respeito e grande afeto.
A notícia da morte repentina de Luisa, justamente dentro de uma piscina, ambiente em que foi criada, me chocou (e a tantas outras pessoas). Primeiro, achei que fosse uma piada de mau gosto, depois soube da toda a história e revoltei-me. O que o Universo queria dizer com tudo isso? Queria abraçar o meu amigo e sua família, mas não sabia o que dizer. E aí comecei a repetir pra mim mesma: vou aprender com a dor dele. Revisitando os fatos, tão carregados de simbolismo, eu me vi diante de duas opções: acreditar que para tudo na vida havia um propósito Divino, crença que eu compartilhava com meu amigo, ou esquecer tudo a que havia me dedicado nos últimos anos, no campo espiritual, e declarar a crueldade dos fatos.
Fiquei com a primeira opção e, uns dias depois de ter recebido a notícia, um e-mail de uma amiga mostrava-me que o pai da Luisa tinha feito a mesma escolha. Em meio a toda a sua dor, lutando contra sua humanidade, que chorava a perda, reuniu amigos e falou que gostaria que essa experiência fosse marcada tão somente pelo amor. Não havia outro sentido para a morte da sua filha, a quem tanto amara, que este: “A sua breve vida foi pontuada de sorrisos, alegria e amor, e agora não poderia ser diferente”.
A tradicional “missa de sétimo dia” foi substituída por um encontro fraterno com a manifestação de várias religiões, homenagens dos amigos (da criança e de seus pais), e a leitura de uma mensagem psicografada recebida pela família, assinada pelo avô materno já desencarnado. Estava tudo bem. Luisa fora acolhida, cumprira sua missão, que seus pais ficassem em paz.
O pai abriu e encerrou o evento agradecendo aos amigos, a quem abraçou carinhosamente durante longo tempo, porque eram muitos. E, nas duas oportunidades, ressaltou o amor como a principal dádiva da vida da filha que se fora. Seu pedido, era que a passagem de Luisa levasse uma mensagem de amor ao coração de cada pessoa. Que todos refletissem no quanto estavam sendo amorosos com seus filhos, com seus companheiros e amigos. Ele, certamente, aprendeu muito sobre o amor com sua primeira filha, tanto que teve mais uma alguns anos depois: “ela tem nos ajudado muito a superar esse momento, com a sua alegria e leveza”.
Não se vive, chora, ama ou ri sozinho. Meu amigo e sua família não estão só e conseguiram transformar o triste episódio em uma história de amor, uma bonita mensagem de vida. A saudade será permanente, mas o amor curará as feridas dessa família, apresentando novos sentidos à vida. Amor é uma energia que não conhece limites. O amor verdadeiro é infantil e generoso, como Luisa; reverbera, derrama-se, contagia. Cada um ama como pode, é verdade. E eu sempre digo que, mesmo com muitos defeitos, amo da melhor forma que posso. Mas, para amar, é preciso sentir o coração de criança. E se há mesmo um propósito para tudo sob o sol, talvez por isso, Luisa tenha ido tão cedo: para nos lembrar de amar como crianças que somos e sempre seremos. Ela adormeceu para nos acordar!

7 comentários:

Anônimo disse...

Mônica, que história maravilhosa! Somente pessoas especiais conseguem transformar a dor em amor.
Adorei!
Bom domingo.

Silvio Freire disse...

Que lindo, que profundo, amei.

Mônica Alvarenga disse...

Que bom! Meu desejo é compartilhar com o mundo, porque, se todos conseguirmos seguir o exemplo do meu amigo e de sua família, com certeza, teremos um mundo melhor! Vamos multiplicar isso!

Patricia Canarim disse...

Que história triste e linda ao mesmo tempo. Um aprendizado para o saber viver.

Dafne disse...

FUNDAMENTAL é mesmo o AMOR!!!!!

Rosane Carneiro disse...

Parabéns Monica,
vc escreveu lindamente sobre esse encontro que eu tb tive a graça de ter participado. Confesso que tb estava muito sensibilizada com o que aconteceu, Luiza é uma lembrança de momentos muito agradáveis. Me confortou o fato de saber que eles, os pais, aceitaram bem os desígnios de Deus e ao invés de pensarem na dor, eles tranformamram seu pensamento no amor que contstruíram em família. Estão certos que Luiza veio para ensiná-los esse amor e escolheram o caminho da felicidade. Devemos conservar na lembrança o seu sorriso angelical que conquistava a todos por onde passava e afinal, ela sempre foi uma criança feliz, bondosa, que não sentia raiva, nem se aborrecia por nada, como relatado por sua mãe. Bem que as pessoas sempre dizem que quando vão embora cedo são especiais. Tenho certeza que muitos, como eu, saíram dalí outra pessoa, acho que fui "aluizada". Na minha vida agora tenho sempre refletido antes de tomar algumas atitudes ou reclamar de algo.
Fica com Deus.
Rosane Carneiro.

Amadinha disse...

Que Nosso Amado Pai Celeste continue sustentando todos em amor e compaixão.
Paz de Cristo Jesus e Beijinhos docins em seus corações.

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