terça-feira, outubro 19, 2010

Tempo para conversar

Falta de tempo não pode ser um muro capaz
de impedir o aprofundamento humano
(Quadro de Eliane: www.corearte.com)
Eu pedi notícias, ao que ele respondeu, no dia seguinte, quando sequer lembrava da pergunta: “o céu está cinza, o transito caótico e a agenda cheia”. A simplicidade dessa “conversa” me fez dialogar comigo mesma. Que tipo de pessoa pede a alguém com quem troca mensagens com alguma frequência que mande notícias? Eu me respondi: alguém que está carente de boas conversas, daquelas em que a alma se esparrama sem medo, sem defesas, sem vergonha.
Assustei-me diante dessa constatação e, continuando meu diálogo interno, pensei nos amigos que me cercam, na falta de tempo de encontrar alguns deles para um almoço, na dificuldade em compreender o que o outro tem a dizer quando há divergência de pensamentos, e no quanto guardo pedaços de mim quando acho que não serei acolhida. De fato, para a alma se esparramar, é preciso um ambiente propício, construído com amor, confiança e respeito mútuos. Pensando bem, devo estar precisando disso mesmo.
Não bastasse a falta de tempo, que dificulta os bons encontros, como a colocar-nos diante de provas que tornam os momentos de boas conversas ainda mais preciosos; há ainda alguma outra coisa que faz como que esses ambientes, onde a alma pode se despir, tornem-se cada vez mais raros. Não adianta atribuir toda a culpa ao tempo. Há alguma coisa a mais, que ainda não sei exatamente o que é, que faz com que as almas não se toquem. Os cumprimentos efusivos são permitidos, todos somos amigos, mas nada além disso.
Não sei descrever com as palavras, mas sei muito bem quando estou diante de uma dessas possibilidades. Posso dizer que não sinto medo de falar. Também sinto vontade de ouvir, assumo as minhas diferenças sem receio de parecer indelicada, escuto as observações divergentes sem me sentir rejeitada. E isso não é fácil. Mesmo para quem discorre sobre suas próprias emoções em um espaço público como um blog. Há sempre partes de nós que permanecem trancadas, até encontrarem espaços propícios para se revelarem. E, quando se destrancam, surpreendem até seus próprios guardiões. Está certo, não vou culpar o tempo, mas vou negociar com ele uma forma de passar mais tempo com meus amigos.

4 comentários:

Eliane disse...

Boa noite querida Mônica! Lindo texto!
É verdade, para nos esparramarmos em qualquer relacionamento e nas amizades, precisamos de muito amor, confiança e respeito. Eu também acrescentaria: dedicação. Aí, que entra a questão do tempo! Às vezes, colocamos a culpa nele, pois ele não tem como se defender. Mas basta nos organizarmos e querermos para encontrarmos tempo para tudo! Principalmente, se dentro deste tudo, estiver as pessoas que mais amamos!
Obrigada querida por sua amizade! Pra mim, você sempre encontra tempo! Beijos.
Eliane (www.corearte.com)

Anônimo disse...

Boa noite minha miguinha Mônica!
Que coisa mais bonita!Como sempre vc é perfeita nas palavras.Lindo texto.A falta de tempo nos faz perder a oportunidades de destrancar a alma e nos abrirmos e poder ouvir o outro tambem!Se percebo que o outro não tem tempo e tambem me calo,perdemos ambos a oportunidade de sermos mais "amigos" Bjs Dirlene"

Anônimo disse...

Monica,

Texto perfeito. Você conseguiu expor a realidade que acontece mesmo. Em tudo culpamos o tempo.Mas temos que fazer isso negociar com o tempo para nos dedicarmos as pessoas caras que passam pela nossa vida. Muitas vezes deixamos de observar ao nosso redor, pela falta de tempo.
É fácil culpar o tempo, não é mesmo? Temos que aprender a organizar o nosso tempo para mantermos vivos em nós a amizade, o amor....
Parabens.

Odila Garcia

Silvio Freire disse...

Não creio que seja o tempo. Tenho a impressão que este mundo louco nos atemoriza, e quando encontramos uma pessoa com quem aparentemente podemos considerar a hipótese de uma relação, passamos a pisar em ovos. Em outros tempos, se eu quisesse ir em frente em uma relação eu iria, sem pensar nas consequências para mim e para a outra pessoa, que seja eterno enquanto dure. Hoje parece que há uma preocupação maior em não ferir e ser ferido, está mais difícil "deixar a alma se esparramar". E então as almas não se tocam, mas continuamos amigos.
Aí então é que percebemos que perdemos tempo.

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