segunda-feira, outubro 25, 2010

Meu direito ao não-voto

Fui criada em meio à política. Minha família era representante de uma corrente política tradicional no bairro onde morava, na Zona Oeste do Rio. Desde pequena, participava dos movimentos de campanha e de conversas sobre os rumos do bairro, da cidade e do país. Participante ativa dos movimentos sociais da Igreja Católica, estudante de jornalismo, militante política... A motivação era sempre o desejo e a crença de poder transformar o mundo, através da minha contribuição pessoal. E esse movimento era tão forte, que aspirava candidatar-me a um cargo eletivo.
Não sou mais militante, não faço discursos inflamados, respeito toda e qualquer opinião alheia e diversa, continuo acreditando que cada um de nós pode contribuir para um mundo melhor; mas essa introdução toda é pra justificar – como se precisasse – que, nesta eleição, exercerei meu direito de não-voto! Neste momento da minha vida, quando concentro esforços para alinhar desejos, discursos e práticas, transformando-me em uma pessoa mais inteira, não acho justo me obrigar a apoiar alguém que me causa repulsa e indignação pela oratória vazia, pela falta de respeito por si mesmo e pelos outros e pela incoerência de atitudes. Não quero um nem outro! Sei que um dos dois assumirá a gestão do País, com sua equipe, indiferente à negação do meu voto, mas não quero me sentir (e não serei) cúmplice.
No fundo, ainda pairam sobre mim os resquícios do meu próprio discurso de anos atrás, quando acusava aqueles que se abstinham de votar de abrirem mão de seu papel no processo democrático. Hoje, estou mais complacente, com os outros e comigo mesma. Sei que a democracia não me obriga a compartilhar, e assinar embaixo, através do voto, pensamentos de que discordo e que ferem alguns dos meus princípios mais caros. Não acredito, sinceramente, que aqueles que não respeitam a si mesmos, possam ser capazes de me respeitar. E é o que tenho visto, tristemente, ao longo da campanha.
A democracia deve comportar também pessoas que não desejam participar do processo eletivo, seja porque motivo for. Não se promove consciência política através do voto obrigatório e temos comprovado isso com os resultados das eleições em todo o País. Portanto, não voto, em paz com a minha consciência, mas triste pelo rumo da política brasileira.

3 comentários:

Fábio Betti disse...

Agradeço pelo corajoso post, que expressou em poucas palavras muito do que eu sentia e me fez também criar coragem para declarar meu não-voto. Nenhum dos dois candidatos que aí estão representam, minimamente, minhas crenças e valores. Não merecem, portanto, o meu respeito, quanto mais o meu voto.

Silvio Freire disse...

Considero e respeito, e em circunstâncias normais nem consideraria postar um comentário além de um "Parabéns pela atitude".
Mas acontece que a vitória de um dos candidatos pode legalizar neste país um estado de exceção semelhante ao que vemos na Venezuela, ou pior, em Cuba. O desespero evidente do mentor da idéia me confirma isso, porque perder, nessa altura dos acontecimentos, tiraria da legalidade o que parece que se pretende fazer.
Eu já vivi sob ditadura e vi o que o poder provoca no mais simples seguidor do líder, pelo exemplo. Não quero isso novamente para ninguém.
E agora não é mais o caso de ser cúmplice, mas de marcar, inclusive a nível internacional, o que somos e o que queremos como povo, repudiando esse indivíduo de baixos princípios e tornando ilegal qualquer atitude que ele e sua "equipe" queiram tomar.
Desculpe-me opinar em algo tão pessoal.
Seu amigo Silvio.

Mônica Alvarenga disse...

Não se desculpe, meu amigo! Trabalhamos muito para nos descobrirmos e fazer valer quem somos! Eu agradeço e respeito o seu comentário. Como diz o Fabio, em um diálogo, 1 + 1 = 3. Somamos assim, pois! Abraços.

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