domingo, agosto 07, 2011

Amor em gotas

As lágrimas escorriam. Eu não conseguia saber exatamente porque. Não eram lágrimas de hoje ou de ontem, mas de muitos, muitos anos atrás. De gerações anteriores, talvez. Pensei em tantas outras mulheres, companheiras do hoje e ancestrais dos tempos mais remotos. As lágrimas eram de todas nós. Não havia culpados, mas assim mesmo eu precisava me perdoar. Era o melhor que podia fazer por mim. Perdoar a mim, pedir perdão ao outro. Fazer diferente de tudo o que me ensinaram ao longo desta existência. O que eu queria era acessar um conhecimento adormecido há séculos, e que, naquele momento, seria curativo e um grande mentor.
Do que estou falando? De relacionamentos: a maior oportunidade que o Universo nos concede de evolução. Em se tratando de homens e mulheres, muitos de nós estamos ainda no primitivismo. Imersos em carências e padrões, esquecendo o tempo todo que, se a razão nos diferencia de todas as demais espécies, é a capacidade de amar que nos iguala, e que a junção dos dois nos torna singulares.
Está certo que não é fácil. Homens caçam, mulheres cuidam. Homens focam e lançam setas ao alvo, mulheres espalham-se e multiplicam-se. Homens ejaculam, mulheres acolhem. E sempre foi assim, certo? Talvez. Se os papéis se misturaram em relação a todas as atividades, em relação à biologia humana, mulheres continuam acolhendo, parindo, amamentando, pelo menos até onde eu sei. Porque nunca se sabe quão longe a ciência pode nos levar. Pode ser que, por isso mesmo, continuemos acreditando em histórias de que deveríamos desconfiar, esperando telefones tocarem, querendo ser carregadas no colo.
As lágrimas continuavam a escorrer. Não escolho mais caminhos fáceis. Se há a oportunidade de aprender, eu me entrego e sigo em frente. Não quero a experiência de ontem, quero o resgate do essencial, do que existe de mais humano e genuíno em todos nós. Quero o amor, que começa dentro de mim. E isso me parece ao mesmo tempo tão ancestral e futurista. De repente, paro de chorar. Escrever é minha cura, e amar é meu dom. A energia que me chega é tão intensa que sorrio, como que em meio a uma chuva de pétalas rosas. Na cama em que escrevo, elas caem apenas sobre mim, enviadas pela generosidade do Universo. Tenho muito a aprender, lágrimas pra derramar, mas uma infinita capacidade de amar.
Não sou de muitas regras, que não aquelas que sinto no meu coração: este centro de força – localizado no centro de peito. Ele me restaura, me energiza, me transborda. É ele quem me comanda agora e me transporta, como num filme de ficção, a um lugar tão sereno e amoroso que as lágrimas escorrem novamente. Choro, de gratidão e amor. Experimento extremos na loucura mais saudável que o ser humano pode ter: a de amar. Sinto-me curada e em profunda paz. Transbordo de amor infinito e, em unidade com muitas outras mulheres, seco as lágrimas de tantas outras que amanheceram com os olhos inundados porque esqueceram que, acima de tudo, está o seu dom de amar. E que este dom começa dentro de cada uma de nós estendendo-se ao infinito, resgatando gerações passadas e futuras.

Um comentário:

Fábio Betti disse...

Lindo e profundo texto. Obrigado

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