quinta-feira, março 31, 2011

Verdade ou mentira?

Fiquei algum tempo me olhando no espelho. Meu corpo não aprendeu a mentir. Ainda que eu tente ensiná-lo com alguns truques que as mulheres conhecem bem, ele permanece alheio a mim e segue no seu ritmo. Ou seria este o ritmo da vida, marcado pelo som do vento, das ondas, da chuva, da música da noite eclética, do choro de crianças, dos gritos adolescentes, dos choros das desilusões? Não sei definir este ritmo, se é que isso é possível; mas sei que, seja ele qual for, é seguido por meu corpo.
Quando saio à noite e ouso marcar mais os olhos, equilibrar-me em saltos e espremer-me em roupas, pergunto-me quem sou eu diante do espelho. Quero sempre ter certeza de que não estou fugindo de mim e de que estou apenas brincando de viver. Mas quem precisa de maquiagem pra mentir quando se tem à volta um mundo inteiro de ilusões? Hoje, diante do indefectível espelho, sem maquiagem, enxerguei sentimentos que fazia de conta não perceber. É por isso que às vezes tento virar-lhes as costas: eles são inconvenientes, estão sempre revelando coisas, tirando véus, sem sequer perguntar: “dá licença, por favor?”
De repente, lá estava eu, brincando de jogo da verdade comigo mesma; importando-me com o que dissera na véspera que não era importante; desejando o que acabara de descartar. Verdade ou mentira? Nem sei se dá pra responder, mas encarar-me no espelho já está bom. É o que me é possível. Afinal, de todas as mentiras, a que me incomoda mais é a que digo pra mim mesma. Se minto pra mim, do que não serei capaz na relação com o outro?
Verdade ou mentira? Acho que, realmente, nunca saberei. Afinal, quem está preparado para viver na verdade?

Um comentário:

Valéria disse...

É preciso muita coragem para viver a verdade... Muito bom! Parabéns.

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