segunda-feira, novembro 22, 2010

Violência e resignação

“O que eu mais tenho medo é da violência. É muito chato o que anda acontecendo por aí. Esta semana vi um assalto de dentro do ônibus”, disse-me um filho ontem. Hoje, abro os jornais e vejo a notícia de mais uma arrastão na Linha Vermelha, lugar por onde circulo sempre. Não houve mortes, mas os bandidos roubaram e queimaram carros na hora do almoço. As vítimas relatam o sentimento de impotência. Eu digo a meu filho que não há o que fazer, que não podemos nos isolar em casa e que temos que pedir proteção a Deus. Mas será que é só isso?
Talvez eu esteja errada ao engrossar o grupo dos conformados, daqueles que vão adequando suas vidas ao contexto até que alguma tragédia aconteça e mude todo o cenário. Pelo menos do seu mundo pessoal. Morando na Zona Oeste do Rio, próximo à Barra da Tijuca, passo pelos túneis com receio (depois de resistir muito) para ir a programas na Zona Sul; uso as linhas Vermelha e Amarela com frequência para ir ao Centro, ao Aeroporto Internacional ou à Baixada. Em todos esses casos, corro riscos como todos os cariocas, mas não deixo de fazer tudo o que quero.
Confesso que, por meu desejo, iria mais vezes aos teatros e shows da Zona Sul e Centro, frequentaria assiduamente a Lapa; mas restrinjo esses programas, para reduzir o risco. Optei por morar numa bolha, que chamo de paraíso, encravada entre o mar e a montanha, com uma excelente estrutura de segurança, mas hoje perguntei-me se isso tudo não é sinal de conformação. Não sei o que pode ser feito, mas dizer aos taxistas paulistas, que sempre me perguntam sobre a violência carioca, que “cidade grande é assim mesmo”, “a mídia assusta e aumenta muito” e “há que se ter cuidado em qualquer lugar do mundo”, não é o melhor caminho.
Assumi passivamente a posição de refém, como tantos outros cariocas. Instalei-me num reduto de segurança de onde saio raramente e vou vivendo “como Deus permite”. Assim, não tenho melhor resposta ao comentário do meu filho, senão a de restringir ainda mais suas idas e vindas, aumentar o meu trabalho de motorista nos “leva e busca” da vida. A conformação é a mesma quando leio, no mesmo jornal, sobre a redução dos investimentos do Governo brasileiro em educação e saúde. Eu devo ser capaz de reações melhores do que a resignação.

Um comentário:

Li Balbinno disse...

Amiga...
É tão difícil tratar desse assunto.
Eu compreendo você totalmente. Meu filho sai de casa para trabalhar na Tijuca e a única coisa que posso fazer é pedir a Deus proteção.
Eu também vivo isolada na ilusória segurança dos condomínios, mas não há como viver trancada...
Eu não me conformo com essa situação, mas pior que a violência vivida em TODAS as capitais brasileiras é o "deixa pra lá" das pessoas.
Está tudo errado! Outro dia vi na TV as cenas de uma aluna de 17 anos jogando uma CADEIRA em um professor.
O que estamos vivendo é o reflexo do comportamento de toda a sociedade. Triste, muito triste isso.
A EDUCAÇÃO é a única saída. Educadores como VOCÊ são a esperança de um país melhor.
Bjs e parabéns mais uma vez! Muito bom os seus textos. Adoro!

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