sábado, novembro 06, 2010

Normal? Eu?

É normal curtir bons momentos em
cemitérios? Pra algumas pessoas, é!
Sábado a noite. Pergunto-me se é normal alguém ficar em casa sozinha por sua própria escolha. E, além disso, ver um filme, comer pipocas, beber um vinho e comer azeitonas, simplesmente feliz. Deve ser. Afinal, esta sou eu e acabo de me olhar no espelho: vi uma carinha com uns princípios de rugas, aparentemente muito tranquila e saudável. Portanto, declaro-me normal.
Agora, questiono sinceramente, e com muito amor, todas as pessoas que sempre se preocuparam em me dizer o que era normal. Claro que todas sempre quiseram meu bem e talvez percebessem que eu, de fato, não me encaixava bem em suas histórias. Penso que esse é um movimento inconsciente: de alguma forma tentamos enquadrar tudo às nossas convicções, mas, no fundo, não fazemos isso pelo outro, mas por nós mesmos, na tentativa de mantermos o que chamamos de estabilidade ou de “normalidade”.
Eu nunca entendi mesmo essa minha obsessão por enquadramento. “É normal sentir isso? É normal sentir aquilo?” Já fiz essa pergunta pra mim e pros outros inúmeras vezes. Movida, talvez, por uma necessidade enorme de pertencer a um grupo ou de ser reconhecida, já que eu própria não conseguia reconhecer a mim. Tudo bem que sou do signo de gêmeos, mas desde a adolescência era o próprio paradoxo encarnado. Uma das histórias mais marcantes que conservo de mim é a de eu ser “zoada” por um amigo porque não conseguia decidir a cor da mochila que ia comprar e pensei em ligar pra minha mãe pra perguntar o que ela achava. O contexto? Eu tinha 17 anos e estava prestes a embarcar para um programa de intercâmbio de 12 meses onde moraria com uma família americana. O amigo querido, claro, não acreditava que eu não pudesse dar conta de uma escolha tão simples.
Preciso dizer que acabei de ver o filme “Tudo pode dar certo”, de Woody Allen. O homem é absolutamente perturbado e perturbador, mas deu certo graças ao seu talento de perceber (e cutucar) a condição humana. Fosse ele “normal”, faria comédias românticas ou outro tipo de filme, e talvez obtivesse até mais sucesso. Vai saber. O filme caricaturiza, mas emociona ao mostrar que todos podem ir além dos estereótipos humanos (ou não) e terem momentos felizes entre suas escolhas, independente de quais sejam.
Não estou presa ao passado, mas acho importante perceber que passei minha vida quase toda tentando me enquadrar a um modelo em que jamais me encaixei. Não culpo ninguém e, por isso, uso essa experiência nas minhas escolhas atuais e, mais importante que tudo, naquilo que transmito aos meus três filhos. Se eles perceberem meu esforço para viver de acordo com o que acredito, já me dou por muito satisfeita. No entanto, o mais impressionante, realmente, é que é justamente por assumir minha complexidade, minha vida ficou infinitamente mais simples.
** Este post continua. Mas, antes disso, me diga, o que é ser normal?

Um comentário:

Silvio Freire disse...

Ser normal é ficar em casa sozinho por sua própria escolha, num sábado à noite. E às 21:30 do mesmo sábado resolver sair para comprar um livro no shopping e tomar um capuccino. Ainda sozinho.
Acredito que as pessoas que discordarem disso estarão, na verdade, espelhando suas próprias vidas na minha com uma certa inveja, até, pois elas talvez não tenham coragem para tanto.

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