sábado, novembro 14, 2009

Eu e Clarice

Clarice (Lispector) é tema do caderno Prosa e Verso de O Globo de hoje. O “gancho” é o lançamento de uma biografia dessa mulher e as matérias estendem-se por três páginas. Li tudo, provavelmente comprarei o livro, talvez até no dia do lançamento, mas não foi por isso que vim correndo escrever. A minha urgência vem do espanto diante da entrada de Clarice em minha vida. Fiquei emocionada lendo uma matéria sobre uma biografia? Até a entrevista com o biógrafo americano me emocionou. O que é isso?
Essa história começou com Água Viva, um livro envelhecido, há muitos anos na minha estante. Não sei o que me atraiu pra ele, este ano, mas, sem exagero nenhum, esse livro mudou minha vida. Já tinha um certo gosto pela autora, conhecia alguma coisa de sua obra, mas nunca tinha sido arrebatada dessa forma.
A partir da leitura de Água Viva, eu não leio mais Clarice, vivo Clarice, compartilhando com ela emoções tão fortes que me fazem, às vezes, adiar a leitura de um livro por uma semana, para adquirir alguma força para lidar com as emoções que ele suscita. Me dou então, sempre que estou assim, permissão pra escrever, pela urgência que sinto de não conter esse sentimento. Aí me espanto – para não usar a palavra assustar, que tenho evitado ultimamente porque não quero mais ter medo de nada. Não entendo muito como pode-se ler a si mesmo em outro (no caso, Clarice) de uma forma tão inteira e completa. Não, não há nada completo em Clarice, só uma imensa busca, um turbilhão de desejos e uma certa dor diante da vida.
Não sou profunda conhecedora de sua obra, mas posso me dizer uma profunda “sentidora”, porque sinto visceralmente o que escreve. Verdadeiramente. Uma vez li que a arte só cumpre sua função quando consegue atravessar as pessoas, então Clarice cumpre a sua, comigo: me atravessa, como nenhum outro escritor jamais o fez. Sinto-me, muitas vezes, em carne viva, exposta como nunca estive. E o pior é que eu gosto. Porque me enxergo, porque sinto e porque me concedo, por meio dela, permissões que jamais me concedi. Num movimento que me revira do avesso e, depois, me tranquiliza. Uma espécie de terapia literária, um encontro dela e de mim mesma. E que encontro!

2 comentários:

Patrícia Gonçalves disse...

Conheço esse sentimento, se ver lida no texto de outro. Comigo aconteceu com Caio Feranndo Abreu.
Gostei da expressão ser atravessada.... Gostei da intensidade de suas emoções. Parece alguém que conheço. bjs

Mônica Alvarenga disse...

Contribuição da amiga Ana Brito

"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"

Não te amo mais.

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

EU TE AMO!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais...



Clarice Lispector

Postar um comentário

Compartilhe o que você pensa sobre o que acabou de ler! Ficarei feliz em podermos "conversar" um pouco!

Web Statistics