segunda-feira, abril 16, 2012

As flores

Era uma das rotinas na casa daquela mulher. Todas as semanas, no mesmo horário, uma carro da floricultura da cidade estacionava em frente ao portão. O entregador saltava, tocava a campainha e a empregada da casa recebia rosas vermelhas e lírios brancos que se juntavam a algumas folhagens do quintal para formar belos arranjos. Na maioria das vezes, as jarras eram enfeitadas pela própria dona da casa. Era realmente um grande prazer entrar naquela casa, onde tudo era arrumado com muito gosto e as flores davam um toque especial com suas formas, cores e aromas.
Passaram-se os anos, a floricultura da cidade fechou, a empregada que recebia as flores no portão resolveu mudar de emprego e as flores deixaram de adornar aquela casa. Não se sabia o real motivo, pois na cidade vizinha havia uma outra loja de flores que bem poderia fazer o serviço. A empregada recém-contratada também poderia continuar a receber as flores no portão. Mas nada disso aconteceu. A casa ficou sem as flores.
Não que não houvesse capricho na sua arrumação. Tudo continuava em seu devido lugar, mas ao mesmo tempo algo mudara. Qualquer pessoa acostumada a frequentar aquela casa, na época em que as flores chegavam semanalmente, notava a diferença. Tudo estava mais triste. Era como se parte da vida tivesse saído pelo portão. Assim, passou-se muito tempo e eu não saberia dizer quanto, porque nessa matéria, dias podem ser anos e anos viram dias, facilmente.
Foi uma surpresa para os vizinhos, e para própria senhora, quando um carro de floricultura estacionou em frente ao portão. De dentro dele, saiu um rapaz que carregava uma linda cesta de rosas vermelhas, como aquelas que um dia enfeitaram regularmente a casa. Entrega feita, recebida pela própria dona. Havia um cartão, mas nunca se soube o que estava escrito nele. Talvez o responsável por aquilo que certamente seria um presente também jamais tenha sabido dos efeitos reais do seu agrado. A alegria da senhora foi óbvia, mas não se pode dizer o mesmo sobre o que aquele arranjo representou.
Recuperar a alegria das flores na sala, o ritual da entrega no portão, trouxe de volta todos os sentimentos que fizeram com que o serviço da floricultura fosse mantido por tantos anos. Não seria difícil retomar. Havia telefone e endereço naquele belo arranjo e este detalhe não escapou à senhora, que retirou a etiqueta cuidadosamente do arranjo e guardou-a com cuidado na gaveta próxima ao telefone. Seria muito útil na próxima semana, quando as flores começassem a perder a sua vitalidade. Quanto à pessoa que enviou o presente, dessa nunca se teve outra notícia, que o cartão, guardado em algum lugar da casa, novamente florida!

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo! Flores são sempre bem vindas!Enfeitam a vida e alegram a casa!
Bjs Monica!
Dirlene"

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