Elas, sempre elas.
Grandes companheiras. Insistem em me tomar pela mão. Em me
conduzirem para o espaço interno em que sou senhora de mim. Eu
resisti. Numa teimosia tão tola e preguiçosa, quanto dolorida. Às
vezes, a gente se acostuma a dores. Acomodação. Inércia. Há
sempre algo que nos resgata. No meu caso, as PALAVRAS.
Começamos uma
conversa de mãe e filho. Eu: Acordei desanimada. Ele: Eu hoje também
estava assim. Eu: Passou como? Ele: Depois que eu treinei. Eu: Também
treinei de manhã, ajudou, mas agora o desânimo voltou. É chato.
Ele: É mesmo. Eu: A maior batalha que travamos nesta vida é conosco
mesmo. Ele: É mesmo. Mas passa...
Saí dessa breve
conversa mais confortada. Pela escuta. Pelo compartilhar de
sentimentos. E pela certeza de que há sempre algo que nos resgata.
No caso do filho, o esporte; no meu, as palavras. Eu já estava me
achando louca. Elas insistiam em me conduzir, mas eu resistia. Entre
a piscina, onde me encontrava, e a minha rendição às palavras,
havia o café, o panetone, um livro iniciado, uma bolsa para arrumar
e duas caixinhas que ficam sobre a mesa do corredor, onde bagulhos
amontoam-se: parafusos, tampas de caneta, papéis e notinhas de
mercado. Foi preciso dar conta de todos esses obstáculos para que
finalmente chegasse ao notebook. E as palavras, a mim.
Respiro
profundamente. Bastam alguns parágrafos de palavras soltas para que
me sinta alividada. Já conheço tanto e tão bem esse caminho que me
pergunto porque me abstive dele? Por que escolher caminhos mais
tortuosos quando há um mais reto, claro, limpo, que é o meu? Às
vezes, pareço carregar uma culpa ancestral que me faz acreditar não
ser merecedora da felicidade. Pareço? Pode ser mesmo que carregue
emoções de gerações anteriores somente para curar, purificar,
superar e permitir que meus descendentes não passem pelas mesmas
aflições.
Lembro dEle, o
Cristo, encarnado humano, com chagas suficientes para curar a
humanidade inteira. Sendo eu parte deste mesmo reino divino, não é
de surpreender que carregue também algo para transmutar nesta
jornada terrena. Humildemente, reconheço-me parte deste Universo,
com tantas e muitas imperfeições. Mas a cada uma delas, um
propósito para mim e para o outro. E de repente, só por causa das
benditas palavras, reconheço minha porção divina, identifico-me
com aquele que sabia tanto de amor, que era Ele próprio o Amor.
Por elas, pelas
palavras, renasço agora, como poderei renascer todos os dias em que
parte de mim morrer. Renasço com parte nova, transmutada, para
cuidar da próxima ferida que apontará para uma outra cura, dentre
muitas tantas que ainda processarei, por graça divina, nesta vida.
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