Olhares... tão particulares! |
Meus olhos
falam. Mesmo quando eu não quero. Eles me denunciam covardemente, a
ponto de um cliente mais atento perceber meu desagrado diante de uma
decisão, ainda que tente disfarçar. Não é privilégio meu. Todo
mundo sabe que os olhos são o espelho da alma e tantas outras coisas
que enjoamos de escutar. Talvez, por isso mesmo, sabedores que somos
de que os olhos falam por si, rejeitemos o olhar para não correr o
risco da delação dos nossos desejos e sentimentos mais íntimos.
Evitamos,
pois, o olhar. E olho no olho é coisa mútua. Não adianta oferecer
sem receber de volta: é ato regido pela reciprocidade. Desvenda a
alma do seu dono se sente-se percebido e confiante.
Passamos
os dias evitando olhares. Ainda que sem sentir. Cumprimentamos,
conversamos e nos expressamos das mais diferentes formas durante toda
a nossa existência, mas muitos recusam o olhar. Por desconfiança.
Quem confiaria num delator? Mas não é bem assim! O olhar é, na
verdade, generoso e esperto. Se delata a alma, sua dona, é porque
busca outra alma para trocas. Desvenda também a outrem.
Não nego
que tudo isso é assustador. Num mundo de tantas máscaras sociais,
como oferecer-se sem elas a alguém? O olhar faz isso e derruba
máscaras. De minha parte, regojizo-me quando vejo olhos falarem. Pra
olhos que falam, a boca emudece sem desconforto. Sabe, sabiamente,
que é incapaz de traduzir uma alma com palavras. É preciso mais, um
quê de nuances e cores que vão se mostrando de acordo com os
sentimentos de uma alma. Por isso, todo o meu ser comemora quando
olhos falam. E, hoje, os seus falaram!
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