quinta-feira, março 31, 2011

Verdade ou mentira?

Fiquei algum tempo me olhando no espelho. Meu corpo não aprendeu a mentir. Ainda que eu tente ensiná-lo com alguns truques que as mulheres conhecem bem, ele permanece alheio a mim e segue no seu ritmo. Ou seria este o ritmo da vida, marcado pelo som do vento, das ondas, da chuva, da música da noite eclética, do choro de crianças, dos gritos adolescentes, dos choros das desilusões? Não sei definir este ritmo, se é que isso é possível; mas sei que, seja ele qual for, é seguido por meu corpo.
Quando saio à noite e ouso marcar mais os olhos, equilibrar-me em saltos e espremer-me em roupas, pergunto-me quem sou eu diante do espelho. Quero sempre ter certeza de que não estou fugindo de mim e de que estou apenas brincando de viver. Mas quem precisa de maquiagem pra mentir quando se tem à volta um mundo inteiro de ilusões? Hoje, diante do indefectível espelho, sem maquiagem, enxerguei sentimentos que fazia de conta não perceber. É por isso que às vezes tento virar-lhes as costas: eles são inconvenientes, estão sempre revelando coisas, tirando véus, sem sequer perguntar: “dá licença, por favor?”
De repente, lá estava eu, brincando de jogo da verdade comigo mesma; importando-me com o que dissera na véspera que não era importante; desejando o que acabara de descartar. Verdade ou mentira? Nem sei se dá pra responder, mas encarar-me no espelho já está bom. É o que me é possível. Afinal, de todas as mentiras, a que me incomoda mais é a que digo pra mim mesma. Se minto pra mim, do que não serei capaz na relação com o outro?
Verdade ou mentira? Acho que, realmente, nunca saberei. Afinal, quem está preparado para viver na verdade?

domingo, março 27, 2011

Na roda das saias

Sempre associei calças compridas a tempo frio. Era a roupa que usava nos dias em que era preciso agasalhar as pernas e, mesmo nesse caso, vestia com moderação. Gostava mesmo é dos shorts e mais ainda das saias. Na minha adolescência, tinha uma vizinha que havia morado parte do tempo em São Paulo. Ela, sim, usava calças em todas as estações: dizia que havia se habituado. Eu não: sempre que podia estava com as pernas de fora.
Saias pra todos os estilos
No entanto, não posso deixar de concordar com a praticidade das calças compridas: levam-nos à qualquer lugar, com a blusa escolhida dando o tom, e sem riscos. Assim, me esqueci do calor e, sem perceber, deixei as saias de lado. As reuniões eram sempre em calças e os vestidos viraram peças raras no guarda-roupa. Os shorts apareciam em casa e nos passeios mais informais, nos dias de muito calor.
Esse preâmbulo todo é pra dizer que, revisando a vida, acabei revisando, também, o guarda-roupa. Na tentativa de resgatar minha essência, senti falta das saias. Há povos ancestrais que dizem que a vestimenta honra a natureza de cada um e que as saias, com sua roda, além de uma representação do feminino, aumentam a conexão com essa energia sagrada. Fui comprando saias e o resultado é que, semana passada, com a queda da temperatura, descobri que não vestia uma calça há, pelo menos, três meses. Até os shorts estão perdendo espaço para as saias no meu dia-a-dia. E as saias têm mesmo algum poder, além do óbvio conforto, sinto-me muito mais feminina e conectada a mim mesma.
De repente, me dei conta de quão fácil é automatizar tudo na vida, incluindo aquilo que deveria ser uma forma de expressão de quem somos: a roupa. Quando consigo sair do automático e fazer de cada momento um instante sagrado, posso tornar o vestir uma forma de aprender mais sobre mim, de comunicar quem eu sou, aos outros e, principalmente, a mim mesma. Se o meu guarda-roupa não me traduz, posso revisá-lo sempre que julgar necessário, e assim estarei me revisando, conectando-me aos desejos, às forças, aos medos e a tantos outros sentimentos que me compõem.

sábado, março 19, 2011

Sexo santo

Fiquei assustada com a matéria que li em O Globo, intitulada Namoro Santo, que trata de um movimento (será isso mesmo?) que estimula as pessoas a deixarem o sexo para depois do casamento em prol de relações mais felizes e estáveis. Há o caso do rapaz que não beija a namorada na boca para “não esquentar em baixo”, da profissional liberal de 29 anos que mantém sua virgindade como um troféu e da ex-atriz que, há oito anos sem namorar, diz que só vai ter vida sexual novamente após um novo casamento.
Fui criada para casar virgem, em uma família católica que ensinou-me a ver o sexo como tabu: fora do casamento, uma transa era considerada pecado. Percorri um longo caminho para ficar de bem com a minha sexualidade. E ainda não coloquei ponto final nessa história porque acho que o caminho do corpo, assim como o do espírito, é contínuo. A conquista do respeito ao próprio corpo passa pelo respeito ao corpo do outro, e o conhecimento de si mesmo permite maior conhecimento do corpo físico. E, pelo pouco que sei, essa jornada acompanha toda a existência, desde a primeira percepção que adquirimos de nós mesmos, ainda na primeira infância.
Por isso fico assustada com os extremos, tanto daqueles que optam por banalizar o sexo quanto dos que tentam enquadrá-lo em padrões rígidos. Respeito todas as opiniões, sei o que desejo pra mim, mas lamento que uma das maiores fontes de prazer, realização e equilíbrio para nós, humanos, ainda seja tratado como tabu. Pergunto-me se um movimento pelo sexo santo, não traria mais resultados à humanidade. Imagino quanta energia densa seria dissolvida se mais pessoas fizessem do sexo um meio para relações mais plenas consigo e com o outro, valendo-se desse maravilhoso recurso para enriquecimento do processo evolutivo que todos nós, independente de escolhas e crenças, temos a cumprir na Terra.

segunda-feira, março 14, 2011

Sonhar, mas um sonho possível

“Sonhos são totalmente realizáveis? Ou servem apenas para ficarem na mente?” A pergunta foi feita por uma jornalista, em entrevista sobre o workshop Diário do Futuro, que idealizei em parceria com o amigo Fabio Betti. Não pensei duas vezes antes de responder: “Só quem sonha realiza.” Quando afirmo isso, me refiro a tantas provas que já tive, em minha vida e na de amigos, de que nossos pensamentos são poderosos instrumentos, capazes de trabalhar contra ou a favor de nossas próprias realizações.
Mas quem faria mal a si mesmo? Qualquer pessoa que não consiga vigiar seus pensamentos o tempo todo. Assim como eu e você. Se a maioria de nós não consegue pleno domínio das “minhocas” que passeiam em nossa mente, pelo menos podemos – como pessoas comuns – ampliar nossa consciência acerca delas. Quanto mais presença tivermos em nossas vidas, mais protegidos estaremos do poder malévolo dos pensamentos. E poderemos, usá-los a nosso favor.
Quantas pessoas que você conhece que mantêm vigilância constante sobre os pensamentos arredios? Eu não conheço uma, mas isso não ameniza meu desconforto quando me dou conta que estou jogando contra mim mesma. Quase esqueço que sonhos se materializam não porque sou uma boba romântica, mas porque, quando os acredito reais, canalizo para eles uma energia criadora capaz de transformá-los no que chamamos de realidade.
E foi assim que me dei conta de que estava quase desistindo de um sonho. Aceitei quando me disseram que sonhava um sonho impossível. Fiquei triste, mas me resignei. Faz parte da vida. E nesse conflito interno, ao qual estava totalmente alheia, senti minha própria energia ruir. A mente briga em silêncio e quando escutamos algum som, o estrago já foi feito. Percebi a tempo de reverter a luta e recuperar minha melhor posição. Não sei porque, mas, nessas ocasiões, percebo ter mais facilidade de acreditar em “não” do que em “sim”. É, minha amiga jornalista, sonhos são totalmente realizáveis, mas você tem que acreditar de verdade neles!

domingo, março 13, 2011

Como se fosse o último dia da minha vida...

Com amigos na terça-feira do carnaval de 2011
No café da manhã, diante das notícias do jornal, pergunto: “será que é verdade essa história de que o mundo se acaba em 2012?”. A resposta, mesmo num tom irritadiço, me fez sorrir: “e isso importa?” Realmente, não importa. Não há nada que se possa fazer diante das forças da natureza, do inevitável e do desconhecido. Mas há muito o que se pode fazer quando lembramos que nosso espaço de vida é o agora. Se estamos vivendo da melhor forma que podemos, não importa até quando viveremos. E isso vale para todas as áreas da vida. Quando era adolescente, achava que a frase “viva cada dia como se fosse o último de sua vida” fosse sinônimo de bagunça e zoeira. Hoje, já sei que viver o melhor que posso a cada dia inclui relevar o motorista que me xinga; TENTAR não perder a cabeça diante do atrevimento dos filhos adolescentes; desejar bom dia ao presidente da empresa com o mesmo amor com que desejo bom dia ao recepcionista; escutar quando quero ficar em silêncio; e falar quando tudo o que desejava era emudecer.
Sim, estou a cada dia mais convicta de que nascemos pra ser felizes. Embora muitos ainda digam e pensem o contrário, não consigo mais acreditar em frases como “a vida é uma luta”, “cada um com a sua cruz”, “ser mãe é padecer num paraíso”, entre outras tantas. Acredito que cada momento traz as suas lições e que o aprendizado não é sinônimo de sofrimento. Não sei se é porque sempre gostei de estudar, mas não vejo necessidade de tristeza em lições difíceis. Podemos substituir o sofrimento, por força, garra, determinação, otimismo e tantos outros sentimentos mais construtivos.
Hoje, no último bloco de carnaval que pude acompanhar, olhei pro céu e pensei em como podia ser simplesmente feliz. Estava ali, por escolha minha, com amigos, fazendo a parte que me cabia naquele momento: brincar, sorrir, curtir a vida. Encerrei um fim de semana de muita festa, quase um abuso para quem está com muito trabalho pra fazer, mas em cada programa pensava que estava festejando a vida. Amanhã trabalharei com afinco e dedicação com a mesma alegria. Terei reuniões difíceis, mas darei o melhor de mim; me sentirei em algum momento sozinha, mas ligarei pra algum amigo; sentirei um frio na barriga quando for iniciar um novo trabalho com um grupo de executivos, mas seguirei em frente. Estarei o tempo todo solidária com os que sofrem no Japão e em outros países, farei minhas orações, enviarei boas energias; mas viverei cada instante como se fosse o último da minha vida. A gente nunca sabe o que pode acontecer no próximo minuto.

terça-feira, março 08, 2011

Vamos tirar a roupa hoje? Ainda dá tempo!

Criatividade na fantasia de banheiro químico! Adorei!
Confirmando que despi a alma, mas mantive a roupa...
Carnaval no Rio de Janeiro tem muitas coisas: criatividade, animação, multidões, democracia e, no usual calor de mais de 40º (que este ano deu um refresco), pouca roupa. Homens de sungas e mulheres de biquini são cenas comuns, sem mencionar as “poderosas” que se espalham pelos desfiles na Sapucaí. Vendo as fantasias nos blocos do Rio fico pensando no que cada pessoa quer comunicar e vejo, no Carnaval, uma tentativa que vai muito além da exposição do corpo: a de despir a alma. É uma delícia ver os foliões loucos para deixar de lado preconceitos, crenças, costumes e hábitos que já não servem mais. Ainda que por quatro (ou cinco?) dias, todos querem ser felizes e livres. Quarta-feira de cinzas vem aí, e muita gente veste novamente a tralha deixada de lado no carnaval. Que pena! Há quem fique aguardando o ano todo uma nova oportunidade de se liberar.
Hoje é terça-feira gorda e Dia Internacional da Mulher. Então, desejo a todas, inclusive às mulheres que não estão nem aí pro Carnaval, que tirem a roupa, no sentido figurado mesmo, se assim desejarem. Deixando de lado tudo que nos aprisiona, damos lugar à abundância que o dia de hoje preconiza. Ao invés da abundância de comida, que batizou o dia que antecede o início da quaresma no calendário católico, proponho felicidade em profusão.
Sempre dá tempo, vamos nos cobrir de amor, o que combina muito bem com todas nós, e abrir espaço para tudo o que desejamos e merecemos: alegria, fartura, prazer, prosperidade, auto-confiança, sucesso, paz, amizade, liberdade... É isso que desejo pra mim e pra você também! Se esqueci de alguma coisa, coloque seu desejo aqui também! Vamos fazer uma corrente de desejos que não se acabará na quarta-feira. Deixarei, junto com as fantasias largadas na avenida, tudo de que me despi nesse carnaval! Sem direito à resgate!

quinta-feira, março 03, 2011

Estou viva, obrigada!

Minha área de treino de corrida!
Levei mais de uma hora para calçar os tênis e sair de casa, tamanha a preguiça de correr. Saí com a animação de quem vai ao médico. Mais do que cumprir o programa de treinamento, naquele dia, estava buscando uma dose de endorfina extra, que pudesse aumentar meu bem estar. Há dias em que qualquer leveza pesa e aquele era um desses dias. Na saída do condomínio, encontro um amigo retornando da corrida. Ele me cumprimenta com um sorriso e diz: “Estamos vivos, né? Isso já tá bom demais, hein?” Eu sorri de volta e pensei que era a melhor frase que podia escutar naquela manhã. Ganhei mais alguns sorrisos dos seguranças da portaria, cruzei com conhecidos no calçadão da praia, vi a família de corujas do terreno vazio. Cada detalhe fazia a diferença: era, realmente, maravilhoso estar viva.
Não posso dizer que a corrida foi fácil, mas obrigou-me a sair de casa, vencer o mau humor e observar cada sinal da natureza generosa que me cerca. Mar, sol, montanhas, areia da praia... além das pessoas que faziam o mesmo que eu. Algumas, com certeza, também se desafiaram pra calçar seu par de tênis de manhã.
Lembrei do filho caçula que, diante dos comentários após a rápida leitura matutina do jornal - havia acidentes, mortes, previsões de catástrofes ambientais globais – lançou-me a pergunta: “mãe, por que você me trouxe pra esse mundo horrível?” Eu respondi a ele com muita convicção: “porque é o melhor mundo que eu conheço. Se eu conhecesse outro melhor, com certeza você teria nascido nele.”
Falei com o coração e com gratidão, porque realmente há muito a fazer por aqui. Cada filho é um importante companheiro de jornada. Aprendemos uns com os outros o tempo todo. E isso é minha grande dádiva. E agora, recordo-me de um sábio que pegando dois grãos de areia do mar, colocou nas mãos e disse: “o que são esses dois grãos diante dessa praia? Assim é o planeta, como o conhecemos, diante do Universo. Não sabemos nada da vida, tudo isso aqui é muito pouco frente à grandiosidade que nos envolve.”
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