sexta-feira, dezembro 31, 2010

Obrigada!

Hoje só quero agradecer a cada uma das pessoas que passaram pelo blog Coisas de Valor durante este ano. Não sei se alguém pode imaginar o que esse espaço na rede significou para mim, mas comemorar o primeiro ano de postagens regulares foi uma conquista muito além dos números. Em primeiro lugar, resgatei o prazer de escrever e aprendi a me reconhecer como uma pessoa que escreve (ainda não ouso a palavra escritora) além dos textos jornalísticos e profissionais.
Com certeza, a cada texto, ganhei novos insights e elaborações sobre a vida, mas isso é nada perto da compreensão dos ganhos advindos do pensar em grupo e do compartilhar, vislumbrando novas e melhores realidades. Através da escrita, alcancei pessoas que se tornaram leitores e amigos, a quem, de outra forma, me seria impossível alcançar. Tive minha vida modificada e modifiquei outras tantas, algumas vezes, quando dialogava em comentários, e-mails e tweets sobre os textos publicados. Meus posts misturaram-se a minha vida e o resultado foi um viver mais pleno e feliz.
Sou muito grata a cada pessoa com quem interagi, num fluxo amoroso e positivo. Encerro esse ano com um domínio próprio (www.coisasdevalor.com.br), para onde migrarei em breve e com a promessa linda de uma leitora de reunir os textos em um e-book, que, quiçá, sairá também em papel! A intenção é alcançar mais gente e interagir com um número cada vez maior de pessoas, animada pela crença de que. quanto mais nos transformamos e nos conhecemos, mais contribuímos para um Universo melhor.
Feliz 2011!

terça-feira, dezembro 28, 2010

A boa energia que chega de todos os lugares

Todos os anos escrevo uma mensagem pessoal para desejar Boas Festas aos amigos. Meu objetivo é que essa mensagem possa alcançar cada um, apesar de ser enviada coletivamente, e que possa estar carregada da minha própria energia. É uma forma de personalizar o envio automático e mecânico, bem adequado a nossa falta de tempo. Pensei bastante e, pela primeira vez, anexei à minha mensagem o cartão da empresa. O fato, para mim, foi significativo, visto que trabalhei durante todo o ano na construção de uma “Mônica” mais coerente e integrada em todos os seus papéis.
Mas o que mais me surpreendeu foi a forma como a mensagem alcançou pessoas distantes e o efeito que suas respostas, agradecimento e votos de sucesso tiveram em mim. De repente, visualizei minha vida como uma partida esportiva com uma grande torcida na arquibancada. Isso me encheu de boas energias e me fez sorrir a cada mensagem. Algumas eram muito breves, mas isso não impedia que carregassem consigo o sentimento do amigo fisicamente distante.
Me surpreendi e gostei da troca de energias via e-mail. Nem sempre estive aberta à tamanha troca de vibrações. Os sinais, as dádivas, o melhor da vida, o amor, entre tantas outras coisas, espalham-se por todos os lugares e chegam a todos, sem exceção, pelos mais variados canais. Pena que nem sempre fazemos a nossa parte. Muitas vezes, nos fechamos na correria cotidiana e nas ideias e expectativas que trazemos conosco, sem percebermos pequenas coisas, como um simples e-mail com a palavra “Obrigado!”, podem fazer a diferença no nosso dia e, às vezes, na nossa vida.
A chuva que cai inesperadamente durante o dia, um aperto de mão, um olhar, uma mensagem no celular, um toque, um sorriso, uma flor que nasce, uma foto no Facebook e mais um sem fim de singelos acontecimentos podem trazer para nossa vida uma energia especial. Tudo o que precisamos é ficar atentos e acreditar que aquele fato aconteceu especialmente para nós. Vamos aproveitar?

domingo, dezembro 26, 2010

Espelho, espelho meu...

“Queria ter a força e a coragem que você tem.” Escutei a frase de uma amiga, porém, mais do que me lisonjear, a afirmação trouxe-me preocupação. Está certo, acho-me sim forte e corajosa (e isso, pra mim, é uma conquista comemorada diariamente), mas será que ela acha mesmo que eu sou assim o tempo todo? Será que ela não percebe o medo, as inseguranças e todos os outros fantasmas que enfrento para acessar a minha força interior? Tentei lhe dizer: “essa força a que você se refere está dentro de você também, acredite”. Ela balançou a cabeça negativamente: “Não sou como você, não tenho essa coragem”.
Diante disso, não adiantava continuar com as minhas afirmações a respeito do que ela tem ou não dentro dela. Sei bem dos processos para desenvolvimento dessa crença e sei que ele não se dá de fora pra dentro. Deixei-a falar, mas desejei que conhecendo minhas dificuldades e vendo o caminho que percorri ela pudesse experimentar caminhar por ela mesma. A dificuldade dela, no entanto, me fez perceber o quanto estamos cercados de oportunidades de aprendizagem, felicidade e evolução. Somos espelhos uns dos outros e estava ali, na minha frente, uma parte de mim que me permitia acessar alguns de meus temores, enfrentando-os e retornando uma imagem mais saudável para que minha amiga pudesse reconhecer também em mim uma parte dela, mais confiante.
Para simplificar esse conceito, basta pensar em um espelho. Quando vejo a minha imagem refletida nele, estabeleço minhas crenças com base em percepções pessoais. Posso me achar gorda e feia, ou dona de um bom corpo e bonita. Serei da forma como me vejo. Esta será minha verdade. Quando percebo minha amiga como uma imagem de mim, tal como a que vejo no espelho, enxergo com os seus olhos a fraqueza e falta de coragem. Se ela é, também, a minha imagem, é uma parte do que existe em mim. Aceitando isso, posso me modificar, buscando em mim uma percepção diferente. Ao se deparar com a minha imagem, se a reconhece como parte de si mesma, minha amiga pode transformar o que vê em realidade para si, acessando a sua própria força.
Parece confuso? Falo por mim e digo que tenho experimentado esse movimento em minha vida. Quando algo do outro chama a minha atenção eu “chego mais perto” e busco que parte de mim está sendo refletida naquele instante. Foi assim que descobri em mim, há alguns dias, uma resistência a bons e novos relacionamentos. A partir do que experimentei em outra pessoa pude acessar uma emoção que estava bem escondida e, nesse caso, vendo o outro como meu espelho, tive a oportunidade de criar uma nova realidade para mim.
E assim sigo: atento ao que me incomoda no outro, porque certamente, é meu reflexo. E, já que não posso modificar ninguém, concentro-me em mim mesma, com a certeza de que, pelo menos, faço a minha parte.

sábado, dezembro 25, 2010

Pra dentro e pra fora...

Andei um pouco afastada da blogosfera. Deixei de ler os blogs dos amigos e mergulhei em mim. Dei-me conta deste movimento, censurei-me a conduta e reuni meus “eus” para uma conversa. Que movimento é esse? Por que deixar de lado contatos que há algumas semanas eram imprescindíveis? A resposta veio rápido: medo. Interagir com o outro costuma levar a lugares onde nunca estivemos, e, às vezes, preferimos nos resguardar, esquecendo que nesses encontros estão grandes oportunidades de autoconhecimento, evolução e transformação.
Aliás, ando muito atenta a esse medo, que, muitas vezes, me faz recuar ou vacilar diante de boas ocasiões. Uma vez, indagada por um amigo, tentei explicar o medo e não consegui. E ele com uma paciência de Jó continuava me interpelando “Você tem medo de que?”. O amigo não conseguiu muita coisa sobre a definição do meu medo naquele dia, mas sua insistência me fez pensar depois que a minha resistência em esquadrinhar o medo devia-se ao fato de que, uma vez revelado, ele perde toda a sua força e a sua razão de ser.
No caso da minha “falta de vontade de interagir”, quando me confrontei com o meu medo, percebi que o seu maior alimento era a minha certeza de que a partir dos relacionamentos sou munida de energia para dar um passo adiante. Parece estranho que algo tão positivo possa se transformar em medo. É que, dependendo do ambiente em que crescemos e nos constituímos, assimilamos crenças negativas a respeito de felicidade, sucesso e outras coisas boas. Muitos de nós aprenderam muito cedo a associar coisas boas a uma dose necessária de sofrimento.
Hoje eu sei que não é assim e que tudo o que conquistamos é fruto de escolhas e atitudes. Mas uma parte de mim ainda está presa às crenças antigas, resiste à mudança e encara os presentes da vida com desconfiança. Daí surge o conflito e a necessidade de chamar os “eus” para um conversa. O povo da psicologia chama esse movimento de autossabotagem e eu fico atenta a essa minha turma interna, que ainda insiste em frases como “Melhor um pássaro na mão do que dois voando.” e “Não se mexe em time que está ganhando.”
O melhor disso tudo mesmo é me dar conta de que ainda que conflitos, autossabotagens, resistências façam parte da minha vida, há espaço para a felicidade, o amor e o sucesso. Não há fórmulas, senão a de atentar e respeitar os movimentos, determinando por minhas escolhas o caminho que desejo seguir. Bom é aceitar que terei sempre momentos de muitas trocas e outros mais reclusos, repeitando e optando de acordo com os sentimentos que percebo em mim.
Saí da “casca”, fui percorrer os blogs dos amigos e acabei me deparando com um vídeo em que Beto Guedes, entrevistado por Wagner Tiso, fala sobre essas alternâncias de movimento: ora mais exposto, ora mais recluso...

domingo, dezembro 19, 2010

A felicidade de compartilhar

Bull, um grande irmão que, junto com Bill, zela por
essa maravilhosa "aldeia"
Tem gente que diz que falo demais. Pode ser. Sou meio excessiva mesmo, vou fundo no que gosto: livros, trabalho, estudo, lazer, comida... Há sempre uma bola da vez para os meus excessos e uma contínua busca pelo equilíbrio, o caminho do meio. Mas há limites para compartilhar, abraçar, amar, sorrir? Acho que não. Por isso não me canso de dar e receber isso tudo, com o adendo de que cada troca me deixa com uma nova lição, um novo aprendizado.
Na Aldeia do Sol, um sítio voltado para vivências, cerimônias e práticas xamânicas, as trocas (e, consequentemente, os aprendizados) se dão em ritmo acelerado. É um “intensivão” evolutivo. Desde a minha primeira tenda do suor, há cerca de quatro anos, elegi esse lugar para recarregar as baterias e celebrar a vida. Cada vivência me traz muitas surpresas, novos aprendizados e, invariavelmente, retorno com o coração abastecido de amor. Nesse caso, acho que o excesso não faz mal nenhum.
Dessa vez, confesso que senti o coração apertar a caminho de casa. Sabia dos bons combates que me aguardavam e o desejo era ficar, cercada de amor, amigos, paz, canto dos pássaros, lua cheia, fogueira, boa comida, rezas e tambores. Imediatamente lembrei da passagem da bíblia em que, antes da crucificação, durante as últimas horas de liberdade de Jesus, um apóstolo pede para que fiquem acampados no monte, na tentativa de estender os sentimentos de segurança e paz. Lá estava eu querendo a mesma coisa, temendo perder a plenitude que tinha experimentado.
Cheguei em casa e abraçar meu filho mais novo já dissipou o aperto no coração. Havia muito amor para partilhar e senti toda a boa energia que recebi na aldeia tomar conta de mim novamente. Depois, liguei o computador para baixar as fotos e me conectei com alguns amigos de quem me despedira há algumas horas. E aquela energia foi ganhando mais força. Há sentimentos que aumentam quando repartidos, contrariando todas as lógicas. Então, digo mesmo, pra quem quiser ouvir, que estou feliz, conheço um lugar mágico e tenho amigos que me amam muito.
Me dei conta de que a maior mágica da aldeia somos nós, que, regularmente ou não, circulamos por lá! Não teria como contar, por exemplo, quantas horas de abraços (dados e recebidos) experimentei neste fim de semana. Nem quantas vezes senti meu coração vibrar em diferentes direções. Muito menos o poder dos insights que me economizarão muitas sessões de terapia. Aliás, me dei conta de uma coisa muito mais óbvia: de que sempre precisamos aprender (ou reaprender) algo muito simples, posto bem à vista, mas ignorado pela mente racional e “inteligente”. “O essencial é invisível aos olhos”, dizia o Pequeno Príncipe, e eu ainda me esqueço e caio na armadilha de acreditar que eles é que vão me conduzir ao conhecimento.
* Mais sobre o mesmo:
Nem dá tempo de comemorar a vitória - sobre uma vivência com um índio lakota, em maio/2010
Tenda do Suor - Uma breve explicação e alguns links

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Hoje eu vou mudar

Nessa onda de questionar as motivações e os impedimentos à mudança e à transformação, encontrei essa música que minha mãe escutava em vinil quando eu era criança. Perfeita e muito atual! Vamos aproveitar o embalo de fim de ano? Há sempre algo a ser modificado, uma gaveta a ser arrumada...

Mudanças
Vanusa e Sérgio Sá

Hoje eu vou mudar
Vasculhar minhas gavetas
Jogar fora sentimentos
E ressentimentos tolos.

Fazer limpeza no armário
Retirar traças e teias
E angústias da minha mente
Parar de sofrer
Por coisas tão pequeninas
Deixar de ser menina
Pra ser mulher!

Hoje eu vou mudar
Por na balança a coragem
Me entregar ao que acredito
Pra ser o que sou sem medo.

Dançar e cantar por hábito
E não ter cantos escuros
Pra guardar os meus segredos
Parar de dizer:

"Não tenho tempo pra vida
Que grita dentro de mim
Me liberta!"

(DECLAMANDO)

Hoje eu vou mudar
Sair de dentro de mim
E não usar somente o coração
Parar de cobrar os fracassos
Soltar os laços
E prender as amarras da razão!

Voar livre
Com todos os meus defeitos
Pra que eu possa libertar
Os meus direitos
E não cobrar dessa vida
Nem rumos e nem decisões!

Hoje eu preciso
e vou mudar
Dividir no tempo
E somar no vento
Todas as coisas
Que um dia sonhei
conquistar,

Porque sou mulher
Como qualquer uma
Com dúvidas e soluções
Com erros e acertos
Amor e desamor.

Suave como a gaivota
E ferina como a leoa
Tranqüila e pacificadora
Mas ao mesmo tempo
Irreverente e revolucionária!

Feliz e infeliz
Realista e sonhadora
Submissa por condição
Mas independente por opinião,

Porque sou mulher
Com todas as incoerências
Que fazem de nós
Um forte sexo fraco!

domingo, dezembro 12, 2010

Um belo dia resolvi mudar...

Nunca pensei que fosse tão difícil mudar. Não sei como é para a maioria das pessoas, mas deixei de me achar a única quando comecei a me deparar com uma grande quantidade de livros e artigos sobre o assunto. O desejo de mudança nasce, na maioria das vezes – senão em todas-, da percepção de que algo não está bem e de que há algo muito melhor para se viver, empreender, realizar. Há, portanto, um incômodo profundo. Mas a atitude de mudança carece da visão de novas possibilidades, de um futuro promissor e real.
Foi assim comigo. A percepção de que poderia e deveria mudar alguns aspectos da minha vida existia há muito tempo, mas o impulso de mudar deu-se a partir de uma perda, seguida de uma grande decepção e de um mês de muito sofrimento. Até hoje sou grata por aquele momento, vivido há pouco mais de um ano. A partir daquele dia, vislumbrei o que e como poderia viver e decidi mudar. Ainda estou nesse processo, mas o que eu não sabia é que EU representaria pra mim mesma um obstáculo tão grande.
Há movimentos que percebo em mim que não consigo entender e que provocam sofrimento, dor, e um sentimento de perda que tornam o “ir em frente” penoso. Andei atribuindo tudo ao medo do novo. Nunca acho que estou realmente preparada para o que está por vir, mas havia mais. Há uma parte de mim ainda presa a todos os valores e crenças que me compuseram desde que nasci, repassado carinhosamente por pais, parentes e instituições, que resiste bravamente à mudança. A fidelidade ao passado impede que essa parte de mim possa perceber como operar de um outra forma.
Em contrapartida, há uma outra parte. Talvez a que tenha se permitido ver, no ano passado, o quanto eu poderia viver e realizar, a nova pessoa que eu poderia ser. Mais que a coragem de romper, esse movimento de mudança exige a conciliação entre essa parte de mim que tem todos os registros do passado e a parte de mim que está pronta para emergir. Não há como abandonar uma ou outra, já que ambas me integram. É preciso acolher a primeira e seguir a visão da segunda.
Custei demais a me dar conta disso, e comecei a notar toda sorte de esforço de retroceder. O medo de realizar novos projetos; os pensamentos em reviver antigas histórias, como se assim fosse encontrar conforto; o desmerecimento de conquistas alcançadas; e todo o tipo de pequenas ações que inviabilizam o prosseguir. Em psicologia, chamam isso de ciclos de autossabotagem, e eu precisei reler sobre o assunto para me dar conta do óbvio.
O conflito era tão intenso que me afetou fisicamente: além da tristeza e da insegurança, trouxe-me uma exaustão que eu não conseguia compreender. A luta interna acontece de forma tão ampla que o cansaço físico aparece. Era como se tivesse passado várias noites em claro. Hoje, dormi por 10 horas seguidas. Perceber a luta me ajudou a ser compassiva com as diferentes partes de mim, e, principalmente, seguir em frente. Tenho um grande projeto a iniciar e, para minha surpresa, me deparei com um arquivo de texto em que parte dele já está iniciado. É que comecei a projetá-lo tempos atrás. Quando reduzimos o ruído interno, qualquer realização é possível e o melhor: muito mais FÁCIL.

sábado, dezembro 11, 2010

Quem inventou a palavra saudade?

Fui procurar na wikipedia e descobri que saudade é uma das palavras mais presentes na poesia e na música romântica da língua portuguesa. Aliás, dizem que ela foi cunhada pelos portugueses que deixavam casa e família em busca de novas terras e que foi muito usada no Brasil Colônia. Daí, sua origem latina em solitas, solitatis (solidão). O Aurélio confirma o significado: “Lembrança melancólica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa(s) ou coisa(s) distante(s) ou extinta(s).” É prática comum do ser humano, buscar explicação, comparação ou justificativa para o que sente. Mas nada disso atenua a emoção com que me vejo às voltas.
Saudade é o desejo de voltar?
Sim, há algo de solidão na saudade. Tenho recebido com bastante frequência recados do tipo: “Estou com saudades, mas tenho trabalhado tanto que mal tenho tempo de conversar”. Retribuo, irritada com a falta de tempo generalizada. Ficamos, sós; ficamos com saudades. São todas pessoas queridas, que passo muito tempo sem ver. Parece que, no fim do ano, chega a fatura e a gente se dá conta de que devia ter dedicado mais tempo aos amigos e às boas relações.
Mas a saudade que eu venho sentindo não é bem essa. Ela não se apresenta. Não diz o seu nome. Pelo menos eu não consigo ouvi-lo. Há momentos em que chega a doer no corpo. Por isso, resolvi escarafunchar a saudade. Não gostei do que vi. Como meus antepassados portugueses, estou em constante descobrimento. Novas terras, novos mares... Seria essa saudade um certo medo do novo que está sempre por vir para quem se aventura em descobertas? Uma forma de se lidar com o desejo de voltar ao confortável e acolhedor espaço conhecido, deixado pra trás por quem parte em busca de novos rumos?
Uma amiga disse que tem “saudade boa”, mas eu não acredito. Pra mim, nada que causa dor é bom! E saudade dói! Essa coisa boa a que ela se refere, chamo de lembrança. E quanto a combinar com amor, como diz na wikipedia, fico bem na dúvida. Se o amor é livre, incondicional, supremo, sagrado; não deve ser atravessado pela dor da saudade. Deve entender e respeitar o fluxo da vida, os novos mares por que nos aventuramos, os novos ventos que encontramos...
A saudade tem um quê de teimosia. Instala-se, a despeito das minhas considerações. E, se amar é aceitar, digo pra mim mesma, com todo amor que tenho por mim: fique, saudade; até que eu seja capaz de perceber que a vida tem seu fluxo, que a felicidade está por todo lugar e que o “sentir”, por si só, é uma dádiva.

sábado, dezembro 04, 2010

Aprendendo a falar, aprendendo a escutar

Tenho me referido ao silêncio como uma condição importante para a compreensão humana. Não tenho dúvidas a esse respeito, mas tenho descoberto em mim uma dificuldade de silenciar de que eu não suspeitava. Caio facilmente em armadilhas de palavras que eu mesma construo. E não é porque falo demais, mas porque, muitas vezes, falo o que não devo. Tenho atribuído esses deslizes à baixa qualidade da minha escuta, que tenho exercitado com afinco.
Minha mãe sempre me disse que sinceridade demais é falta de educação. Eu dizia que não. E defendia que todos deveriam dizer o que pensavam e sentiam. Cresci e vi que isso nem sempre funcionava, mas ainda tenho muito o que aprender. Meu mundo dos sonhos ainda é aquele em que as pessoas podem expressar o que pensam e sentem. Sem filtros. A realidade, no entanto, é bem diferente.
Poucas pessoas sabem lidar bem com o que escutam. Interpretam e julgam, para o bem ou o mal, o que ouvem, e isso eu não posso evitar. “Quem fala o que quer ouve o que não quer”, é um dito verdadeiro. Não me melindro com o que escuto, mas fico numa tremenda “saia justa” quando vejo pessoas reagirem ao que falo, por se sentirem afetadas pessoalmente.
O estrago tem todas as dimensões. Num exemplo extremo, afetei negativamente um bom relacionamento por achar que, entre bons amigos, pode-se dizer tudo. Cometi uma grande gafe, ignorando o tamanho do estrago porque não conseguia detectar que há pontos sensíveis que devem ser respeitados. No meu afã de esvaziar os pensamentos, ignorei o sentimento do outro.
Recentemente, em um grupo de amigos, fiz algo semelhante e não medi as consequências que poderiam advir de um comentário sobre a energia predominante naquele dia, entre nós. Uma das pessoas sentiu-se afetada e passou muito tempo justificando-se e interrogando-me, criando um mal estar entre os presentes que poderia ter sido evitado.
Poderia citar muitos exemplos da minha grande lista, já que interagimos e afetamos uns aos outros todo o tempo. Estamos todos conectados e, falando ou não o que pensamos, teremos nossa cota de impacto nas pessoas que passam por nossas vidas. Sendo assim, o exercício de perceber o outro pode tornar essas interações muito mais ricas. Hoje, sei que não se trata de calar ou de falar; tudo é possível e permitido, mas aqueles que sabem escutar melhor descobrem que há momentos em que o silêncio vale mais do que muitas palavras, e que, mesmo as palavras que saem do coração, têm seu tempo para serem ditas. Escutar também é um ato de amor!
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